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Yardbirds

Por Márcio Ribeiro
Postado em 06 de abril de 2006

Uma das bandas mais pesadas e barulhentas de sua época, The Yardbirds criaram a mentalidade de volume e peso que seria explorado no hard rock da segunda metade da década de sessenta, além de serem um dos precursores do rock psicodélico. The Yardbirds, embora tendo um vocalista com uma voz fanhosa e sem muito carisma, tem nos seus guitarristas carisma de sobra. De fato, o tempo faria o nome Yardbirds sinônimo de grandes guitarristas. Infelizmente, a banda é mais lembrado hoje em dia, basicamente por ser aquela que nos ofereceu Eric Clapton, Jeff Beck e Jimmy Page, três dos guitarristas mais criativos e importantes da segunda geração do rock.

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A história desta banda começa em 1963, quando os Rolling Stones se tornam banda residente no Crawdaddy Club, um clube localizado no longínquo subúrbio de Richmond, apresentando-se lá todo domingo. Inadvertidamente, os Stones tornam-se o olho de um furacão, atraindo um grande número de jovens de várias camadas sociais com sua musica. Entre os vários músicos que mais tarde se tornaram conhecidos, estão Paul Samwell-Smith e Jim McCarty, que juntos formam a cozinha (baixo e bateria) do Metropoliton Blues Quartet, um grupo de blues que tocavam em Norbiton. Eram um quarteto acústico que tocava o blues rural de Robert Johnson e afins. Ao ouvirem os Rolling Stones, logo passaram para instrumentos elétricos.

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Paul Samwell-Smith sempre que podia chegava cedo aos shows dos Stones e procurava ajudar Bill Wyman a montar e depois desmontar seu equipamento, conseguindo no processo, algumas dicas sobre o instrumento e o feeling certo para o blues. Paul e Jim acabam conhecendo e convidando outro freqüentador assíduo do Crawdaddy para montar uma banda. Ele se chama Keith Relf, que por sua vez, convida seu colega de sala do Art Collage, Chris Dreja para unir-se ao grupo. Com mais a assistência de um jovem e promissor guitarrista de 16 anos chamado Anthony ‘Top’ Topham, formam em junho de 1963, The Yardbirds.

Paralelamente, outra banda de blues tocava no Marquee Club, em Londres. Era Cyril Davies & the All Stars que entre sets, tinha o habito de permitir jam sessions, que tinham em Jimmy Page, um constante participante. Ao assisti-lo tocar neste período, outro aluno de Art College, um jovem guitarrista de uma banda pouco conhecida, chamado The Roosters, se apresenta a Page como sendo Eric Clapton e faz questão de elogiá-lo. "Você soa como Mathew Murphey", então guitarrista do Memphis Slim, um elogio bem aceito. Quando Cyril Davies veio a falecer no inicio de 1964, Page desencantou com o palco e acabou sendo atraído por um convite de Glyn Johns para se tornar um sessionman, um músico de estúdio, trabalhando em discos alheios, acabando por conseguir boa fama nesta profissão.

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O repertório inicial dos Yardbirds passou a espelhar o fascínio pelos Rolling Stones, tocando como eles, basicamente músicas de Bo Diddley, Howlin' Wolf e Jimmy Reed. Fazem isto porém, com a distinta preocupação de tocar versões que não pertencem ao repertório dos Stones. Preocupada em tocar estritamente rhythm & blues, a banda consegue cativar fãs e manter uma certa constância de gigs semanais. Com a crescente demanda para o blues na Inglaterra e consequentemente o aumento de shows que os Yardbirds passam a ter, em outubro de 1963, Top Topham, ainda um garoto, é obrigado pelo pai a deixar a banda para dar mais atenção aos estudos. Os demais membros, todos já com vinte anos, não quiseram influenciar o rapaz e respeitaram sua decisão.

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Keith conhecia Eric Clapton do Art College, que a esta altura já havia sido expulso da faculdade por aparecer embriagado à aula. Sua banda, The Roosters, havia acabado, e Clapton foi então parar em setembro junto ao Casey Jones & the Engineers, amargando sua decisão e largando a banda depois de sete gigs. O momento não poderia ser mais propício para Keith convida-lo a entrar.

Pouco depois, The Yardbirds é convidado pelo dono do Crawdaddy, Giorgio Gomelsky, a substituir os Rolling Stones, uma vez que eles estavam agora, deixando de tocar nos clubes menores. Embora ainda puristas e sem estarem totalmente maduros, a banda assume o publico do Crawdaddy, órfão dos Stones e, aos poucos, os transformam em seu público também. Gomelsky, perdendo a oportunidade de empresariar os Rolling Stones, agarra a chance com os Yardbirds. É Gomelsky quem cria o apelido Slowhand para Eric Clapton, como também é ele que cria o famoso slogan da banda, "The five live Yardbirds" utilizado em suas apresentações.

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Quando Sonny Boy Williamson (2) voltou a tocar em Londres pela ultima vez, Gomelsky consegue encaixar os Yardbirds como sua banda em alguns eventos. Williamson, que na década de trinta havia tocado com Robert Johnson, Howlin’ Wolf e Robert Jr. Lockwood, faz esses brancos ingleses sofrerem. Ele ensaia com a banda de uma maneira e propositadamente modifica os arranjos durante a apresentação. Embora a atitude de Williamson pudesse ser interpretado como a de quem está de má vontade com seus músicos, não havia como negar que o homem representa o blues em sua maior autenticidade. A experiência do encontro com o autêntico blues negro de Sonny Boy Williamson, que teve sua apresentação realizado no dia 8 de dezembro de 1963 gravada, foi um aprendizado extremamente benéfico para todos e, embora saindo chamuscados, amadurecem como banda.

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A experiência leva Gomelsky a procurar um estúdio e um patrocinador para bancar a gravação da banda. Então, ainda em dezembro, os Yardbirds, patrocinados por Horst Lippmann, entram no RG Jones Studio em Surray para gravar pela primeira vez. Gomelsky atuando como produtor e ajudando no backing vocal, vai aprendendo enquanto faz. Gravam "Boom, Boom" de John Lee Hooker. Keith Relf depois é levado a compor "Happy In Your Hips" especialmente para que Lippmann possa ganhar algum dinheiro como o editor da canção. A banda grava tudo praticamente em um take, permitindo com a sobra de tempo que gravem mais uma, "Talkin’ ‘Bout You" de Chuck Berry. Satisfeitos com a sessão, Gomelsky passa a visitar as gravadoras com a fita. Decca Records demonstra interesse e a banda é convidado a fazer outra gravação que serviria como teste, para que seu representante Mike Vernon, possa levar para seus superiores e tentar um contrato. Essa sessão é realizado também em dezembro, antes do ano acabar, onde gravam "Baby, What’s Wrong?".

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Não havendo ainda um conjunto de composições próprias e com um número ainda limitado de músicas no repertório, coube a Paul a idéia de aumentar o tamanho das canções com uma improvisação no miolo do tema. O conceito desta improvisação não seria da forma jazzista, onde cada músico vai tocando atrás de um solista, mas que a banda toda junta começa a criar um crescendo que quando em ápice, explode de volta para o refrão final. O estilo ou conceito foi batizado também por ele de "rave-up".

Rapidamente the Yardbirds se tornam falados no circuito de R&B, ganhando a fama de serem eletrizantes, graças aos seus rave-up's, forma diferente com que eles apresentam seu blues, bem mais pesado e selvagem. A popularidade da banda deslanchou a partir daí. É por volta desta época que surgem pichados em uma parede de Londres os dizeres "Eric Clapton is God", muito comentado então e sendo um incidente até hoje lembrado. Logo, em janeiro, com a evolução da carreira dos Stones, que passam a tocar agora somente em teatros, deixando a inviabilidade dos clubes para trás, é a vez dos Yardbirds de novamente os substituírem, desta vez no Marquee Club onde estreiam no dia 23.

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Embora os esforços de Mike Vernon de convencer a Decca a assinar com os Yardbirds, é a EMI que em fevereiro, os contrata e os coloca como membros do seu outro selo, a Columbia Records. No ultimo dia do mês de fevereiro, voltam a tocar com Sonny Boy Williamson, pela ultima vez. A ocasião é o Primeiro Rhythm & Blues Festival, realizado em Birmingham. Também participando do festival estão bandas como Long John Baldry & the Hoochie Coochie Men (que também passa a ser empresariado por Gomelsky), the Spencer Davis Group e Rod Stewart & the Road Runners. O evento rende um disco, Sonny Boy Williamson & the Yardbirds, totalmente ao vivo, que só chegaria às lojas anos depois.

A banda ainda viria a lançar dois compactos, gravados em estúdio antes de trabalharem no seu primeiro album. O primeiro compacto, tinha em "A Certain Girl", o status de lado A até gravarem em inacreditáveis três minutos uma fantástica versão de "I Wish You Would". A canção é até hoje, um dos melhores e mais pesados registros da banda. Depois gravariam "Good Morning Little Schoolgirl," clássico de Sonny Boy Williamson (1). Mas para o album, Gomelsky está certo de que a melhor maneira de captar o clima de frenesi que a música da banda evoca seria gravá-los em seu habitat natural, o Marquee Club. Portanto, é ao vivo, que Gomelsky grava o album que seria chamado, "Five Live Yardbirds". Entre a firmeza da bateria de McCarty, a grave e forte presença do baixo de Smith, e as presenças marcantes das guitarras de Clapton e Dreja, como também da gaita de Relf, este disco é um clássico e primeiro registro de uma banda tocando o blues com tamanha intensidade, volume e peso. Apesar de o disco oferecer dados dando a data do evento como sendo no dia 10 de março, na realidade, ocorreu no dia 20 de março, uma sexta-feira.

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O ano de 1964 não poderia ser melhor para a banda. Excursionam Inglaterra com os Stones e depois Escandinávia e outras partes da Europa, além de fazerem aparições em diversos programas de televisão de cada cidade grande em que passam. O esforço é tanto que Keith Relf, que desde a infância sofre de pneumonia, teve que faltar algumas datas de shows marcados. Na primeira vez que surgiu este problema, ele foi substituído por ninguém menos que Brian Jones, que basicamente tocou gaita para a banda. Em outras ocasiões, o próprio Mike Vernon da Decca Records, que se tornara um bom amigo do grupo, substituiu o cantor. Mas em agosto, Relf teve um problema sério no pulmão, cuja extensão foi mantido em segredo até pelos demais membros da banda. Hospitalizado, com os pulmões enfraquecidos, correu perigo de vida. Porém, após um mês de repouso, estava recuperado, voltando no dia 21 de setembro para continuar a excursão da banda, que acompanhava os Kinks. Neste meio tempo, a banda tinha nos vocais Mick O’Neill dos Authentics. O resto do ano correu relativamente bem, incluindo uma apresentação memorável no Richmond Jazz & Blues Festival.

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Mas é no inicio de 1965 que a banda tem a primeiro grande crise, coisa que não será incomum na sua história. O empresário Giorgio Gomelsky, visando colocar uma canção da banda nas paradas de sucesso, passa a ditar material comercialmente viável, para eles gravarem. O primeiro exemplo desta influência é a canção "For Your Love" lançado em Março de 1965. Eric Clapton, purista e temperamental em relação a sua musica, achou ultrajante a guinada comercial proposta e aceita pelos demais. Ele então assume suas convicções e deixa a banda.

O tino comercial de Gomelsky estava certo. "For Your Love", mesmo só com Chris Dreja no violão, e mais a participação especial do jovem Brian Auger, tocando um cravo, chega a No.2 no Reino Unido e consegue entrar nas paradas americanas, um grande feito. Mas o preço foi a perda de seu guitarrista carismático. Gomelsky apazigua os ânimos prometendo trazer o guitarrista Jimmy Page, nome extremamente conhecido entre os estúdios profissionais ingleses e de fama muito mais comprovada do que a do então jovem Eric Clapton. Page porém recusa o serviço, por duas razões. Primeiro, ele andava com a saúde instável, uma das razões por escolher a profissão de músico de estúdio, ofício que não precisa lidar com viagens. Estava com uma cota boa de trabalho e com mais dinheiro no bolso, do que muito pop star. Page não tinha necessidade ou desejo de mudar de vida. O segundo motivo é que ele tem Clapton como um amigo e não deseja tomar o seu lugar. Com a insistência de Gomelsky, Page fala de seu amigo e vizinho Jeff Beck, um nome totalmente desconhecido.

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Jeff Beck que chegou a tocar esporadicamente com Long John Baldry & the Hoochie Coochie Men em final de 1963, a esta altura estava tocando com sua banda The Trident, por quase um ano. Depois de um certo gig, Gomelsky, um homem muito grande, passa o braço pelo pescoço e ombro, quase dando uma gravata no magricelo Beck e já começa falando, "E se eu te dissesse que eu te colocaria na melhor banda do momento, tendo um contrato com uma gravadora, deixando você como guitarrista principal e com toda a liberdade de criar?" Os olhos do jovem brilharam com a proposta, mesmo que em momento algum, Giorgio tenha falado o nome Yardbirds. Como Jeff Beck mesmo diria em retrospecto: "Quem não iria querer tocar com os Yardbirds?"

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Gomelsky bancou um banho de loja para Beck, além de um corte de cabelo, e até cordas novas pra sua guitarra velha e surrada. Mas Beck retribuiu em dobro. Inicialmente preocupado em tocar o material como Clapton, com intuito de agradar os fãs, aos poucos Jeff Beck começou a ajudar a banda a expandir seus horizontes, indo em direções impensáveis se tivessem ficado com Eric Clapton. Utilizando um pedal, especialmente desenvolvido e presenteado pelo seu amigo Jimmy Page, Jeff Beck distorce a guitarra e utiliza feedback, até estourar o seu amplificador. Toca pulando, toca com a guitarra nas costas e cria efeitos novos, que passam a ser chamados de psicodélicos. Logo serão imitados por quase todos as outras bandas.

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Paul, Keith e aos poucos Jim, agora passam a compor seu próprio material com maior regularidade, e se por um momento, com a saída de Clapton, a direção da banda parecia ir para o pop chiclete, as composições novas, somadas às idéias ricas de Jeff Beck, Chris Dreja e Jim McCarty para o som geral, levam a banda a ser uma das precursoras do psicodelismo. A banda lança uma serie de compactos e passa a habitar com relativa constância as paradas de Top 20. O segundo album, "Having A Rave Up With The Yardbirds", é uma aglomeração de compactos, juntando as fases de Jeff Beck com as com Eric Clapton. Entre os destaques estão, canções como "Heart Full of Soul", "Still I’m Sad" e "The Train Kept A’ Rollin’".

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É em 1965 que os Yardbirds passam a viajar freqüentemente para os Estados Unidos em excursões cansativas. Porém, às vésperas da primeira ida da banda para a America, Beck passa na casa de Jimmy Page e presenteia-lhe com uma rara Telecaster 1958, uma forma de agradecer o favor do amigo em tê-lo indicado. Nos Estados Unidos, The Yardbirds com Jeff Beck deixa o publico atônito com o volume, peso e zoeira dos seus rave-up’s. Em Memphis, Gomelsky consegue marcar hora no Sun Studio e convence Sam Phillips a pessoalmente assistir à sessão. Gravam "The Train Kept A’ Rollin’". Keith, já bêbado, precisou refazer seus vocais outro dia. Em Chicago, visitam o Chess Studios e gravam "Shapes of Things" e uma versão de estúdio de "I’m A Man", agora com Beck na guitarra.

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A banda excursiona seguidamente por toda Europa e duas vezes pelos Estados Unidos, deixando os nervos de Jeff Beck em estado de caos, estressado por tantas viagens. Os rave-up's continuam, mas basta Jeff Beck não gostar do amp da casa, que o mal humor leva o espetáculo aos raios do absurdo. Beck passou a ser conhecido por chutar amplificadores durante o espetáculo. Certa vez, possivelmente em Novo Mexico - EUA, ele teria jogado um amp ruim, pela janela de uma casa noturna, durante um show. Temperamental, Beck tocaria bem um dia e mal nos próximos três. Reclama de seguidas dores de cabeça e falta shows para poder namorar. O ambiente entre os membros está cada vez mais pesado e estafante.

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Gomelsky então pula fora e vende seu contrato para Simon Napier, que se torna o segundo empresário da banda. Napier ganha o grupo na conversa, falando sobre adiantamento sob direitos autorais da gravadora, coisa que nunca passou pela cabeça dos músicos. Já entrando no ano de 1966, Jeff Beck passa a ocasionalmente convidar Jimmy Page a se juntar à banda, para que os dois ex- vizinhos, possam tocar juntos novamente. Paul Samuel-Smith, também estafado, já está tomando conta dos arranjos e produção da banda, produzindo o proximo compacto "Over Under Sideways Down."

Jimmy Page declina seguidamente os convites de Beck, mas o ano de 1966 prova ser relativamente estafante também para ele. No íntimo, está cansado do trabalho de estúdio, tocando cada vez mais para artistas de qualidade duvidosa, mesmo que seja por um bom dinheiro. Aos poucos a idéia de participar de uma banda começa a amadurecer em sua cabeça. Então Page acaba aceitando um convite do Beck para assistir os Yardbirds no final de maio. Tocando para uma festa de gala de universitários, dividem o show com os Hollies, cada banda tendo que tocar três sets. No primeiro, a recepção do público estava bastante fria. Nos bastidores depois, Keith Relf passa a beber irresponsavelmente, enquanto brinca com Allan Clarke de judô, quebrando algumas bandejas, passando depois para pedaços de madeira. Em dado momento, com um golpe mal dado, Relf acaba quebrando dois dedos, o que o leva ele a beber ainda mais para anestesiar a dor. Durante o segundo set da banda, Keith Relf está totalmente trôpego, e evidentemente canta muito mal, sendo ostensivamente vaiado e por isso, se achando no direito de ocasionalmente mandar todo mundo pra aquele lugar. Para completar o vexame, Relf acaba tropeçando e caindo de costas sobre a bateria, desmaiado no meio do set. Saiu carregado enquanto Jimmy Page está na plateia às gargalhadas, assistindo o que ele considera um exemplo fantástico da vida em uma banda tocando ao vivo. No estúdio, não há lugar para imprevistos e surpresas desta natureza. Quando a banda volta para o palco pela terceiro vez, faz um set instrumental.

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Totalmente enojado com a atitude displicente de Relf e já cansado dos aprontes de Beck, Paul Samuel-Smith avisa que não tocará mais com o grupo e convida Dreja e McCarty a saírem com ele. Os dois preferem continuar com o grupo. Smith seguiria trabalhando como produtor dos Yardbirds e, aos poucos, como empresário de alguns artistas, tendo administrado por um curto período, a carreira de Cat Stevens.

Beck ficou bastante sem graça ao ver Page assistindo todo o desenrolar da noite, logo quando ele veio para conferir a viabilidade de entrar na banda. Mas para a sua surpresa, Jimmy de muito bom humor, logo se oferece para assumir o baixo enquanto não arrumam outro baixista. A nova formação dos Yardbirds estreou ao vivo no Marquee Club em junho de 1966. Simon Napier ao saber da entrada do Jimmy Page na banda, chamou todos de loucos. Encostou Jeff Beck no canto para explicar que ele Beck, era o estrela da banda e convidar um músico tarimbado como Jimmy Page era uma loucura. Mas Page, ganhou todos na simpatia e a banda votou a favor de mantê-lo.

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Embora Jimmy Page já tenha tirado férias na California em 1965, é como baixista dos Yardbirds que, pela primeira vez, ele chega ao país para dar um espetáculo. Sua estréia no Whiskey A-Go-Go de Los Angles foi marcado por sua ânsia de tocar. O som da banda, mesmo sem premeditar, instintivamente ficara ainda mais pesado, como também mais alto. Quando a banda chega em San Francisco, Jeff Beck com dor de garganta, novamente se recusa a tocar. Temperamental e vaidoso, essas crises de Beck vêm se tornando cansativos e estressantes para toda a banda. Concordou-se então que Chris Dreja e Jimi Page trocariam de instrumentos. Quando o publico viu Jimmy Page na guitarra e os Yardbirds sem Jeff Beck, as vaias e o mau humor geral se instalaram. Não obstante, bastou Page começar a tocar pra calar a boca de todos. Ou melhor, deixá-los de boca aberta, pois além de manter os estilos de Clapton e Beck nas canções marcados por esses artistas, Jimmy mostrou que ele tinha seu estilo próprio também. Para isso pegou um arco de violoncelo e usou na guitarra, conseguindo efeitos em um espetáculo nunca vistos antes na América, embora o truque já fora feito primeiramente na Inglaterra por Eddie Phillips, guitarrista dos Creations. Ao final do show, a banda tinha a certeza de que, caso Beck continuasse a ter seus "de repentes", o show agora estaria assegurado com Jimmy Page.

O restante da excursão é material lendário. Com a dupla de guitarristas Jeff Beck e Jimmy Page, com Chris Dreja agora fixo no baixo, a América assistiu história. Nunca se ouvira nada tão alto ou pesado antes. Se Page elevou o volume geral da banda estando no baixo, quando passou a tocar sua Telecaster '58 vermelha, a banda aumentou os decibéis ainda mais. Jim McCarty mal conseguia ouvir sua bateria e Keith Relf passava sufoco, com uma guerra inglória para tentar se ouvir também. Mas era o peso, alem da técnica, que destacava os Yardbirds de todas as outras bandas existentes.

De volta à Inglaterra, excursionam novamente abrindo os shows dos Rolling Stones. Foi difícil para os Stones manter seu status de atracão principal, com a diferença de volume, quase três vezes mais alto, e musicalidade entre as duas bandas. Nunca foi a intenção dos Rolling Stones de apresentar um show de exímia técnica na guitarra. Sua musica reflete rhythm & blues e rock & roll em sua expressão mais plena. Embora os Yardbirds começaram pelo mesmo enfoque, evoluiriam para esse massa sonora que a imprensa passava a comparar ao volume de uma Terceira Guerra Mundial.

Os amigos Page e Beck, quando em Londres, passavam o tempo ensaiando só os dois, para que os solos tivessem um efeito de estéreo ao vivo. Nesta época, Napier conseguiu atrelar os Yardbirds a um filme do diretor Antonioni, que veio a se chamar "Blow-Up". Antonioni queria fazer um filme sobre a "Swingin' London" e teria uma cena acontecendo em um clube que, em sua inspiração inicial, teria a banda The Who, com Pete Townshend destruindo sua guitarra. Sem conseguir entrar em um acordo com aquela banda, Napier aproveitou a oportunidade e colocou os Yardbirds, com Jeff Beck para a cena. Beck evidentemente recusou-se a destruir a sua guitarra e lhe foram entregues diversas guitarras de mentira, para ele praticar e depois fazer a cena. A canção escolhida, "Train Kept A- Rollin’" teve problemas em relação aos direitos autorais e não pôde ser incluída no filme. Então uma versão com nova letra foi rapidamente escrita por Keith Relf, nascendo assim a canção "Stroll On".

Em estúdio, a intenção de se ouvir duas guitarras em estéreo feito pela dupla de guitarristas é percebida na canção "Stroll On" e "Happenings Ten Years Ago". É importante destacar o fato que, em toda a carreira dos Yardbirds, nunca houve uma produção maior para suas gravações. Em geral, o que você escuta nos discos é o trabalho da banda tocando ao vivo no estúdio, salvo os vocais. Overdubs geralmente incluíam apenas a gaita ou detalhes, como palmas. Segundo Keith Relf, muitas vezes ele estava escrevendo uma letra na cabine de voz, aguardando a vez, enquanto a banda estava gravando a base. O processo geralmente incluía uma ou duas passagens da musica para se acertar equalização dos volumes e uma ou duas passagens já gravando valendo. Depois, passavam para gravar a voz, gaita, etc, em seguida mixando tudo. Até o final do ano, seria lançado o album Yarbirds, também conhecido como Roger The Engineer, título do desenho da capa. É o primeiro e único album da banda a não amontoar compactos de fases diferentes. O album apresenta a banda tomando riscos musicais ímpares, tendo a canção "Shapes of Things" como ápice de suas contribuições psicodélicas. Apresenta também uma maior participação de Jim McCarty e Chris Dreja nas composições novas da banda. Ainda seria gravada a canção "Psycho Daises", contendo a dupla de guitarristas Beck e Page como atração, mas este só seria lançado em compacto no final do ano, Jeff Beck já estando fora da banda.

The Yardbirds, já em outubro, voltam a excursionar América, tomando parte na "Caravana de Estrelas" de Dick Clark, em seu show ambulante. Por cinco semanas dentro de um ônibus, todos da troupe, que incluía grupos pop como Gary Lewis, Sam the Sham & the Pharaohs, e Brian Hyland, estarão viajando de costa a costa dos Estados Unidos de ônibus. As condições, dado o histórico do seu guitarrista temperamental, era um convite ao desastre. Fazendo dois shows por noite, após três dias viajando em um ônibus, Jeff Beck enlouqueceu. No meio do show ele derrubou uma pilha de amplificadores, destruiu sua guitarra e abandonou o palco. Sem esperar ninguém, ele deixou o local, pegou um avião para Los Angeles e esperou o resto da banda lá, o ponto final da excursão. Page assumiu a posição de guitarrista líder e quando chegaram finalmente em Los Angeles, apesar de Beck os receber cheio de mazelas e pedindo mil desculpas, ele foi dispensado. Ninguém da banda queria mais saber dele ou ter que lidar com seus descontroles emocionais em viagem.

Assim acabou a formação mágica e histórica. Em cerca de 18 meses em que Jeff Beck esteve com os Yardbirds, ele levou o grupo a explorar outros terrenos musicais, e no caminho mudou o conceito de guitarra mais do que qualquer outro guitarrista na década, excluindo Jimi Hendrix.

Enquanto isso, na Inglaterra, Simon Napier-Bell vende seu contrato com os Yardbirds para a dupla Mickie Most e seu sócio Peter Grant. Uma das razões possivelmente fosse a de estar cansado de ter que lidar com Jimmy Page, que como veterano de estúdio, vivia questionando os pagamentos feitos ao grupo e seus reais valores. Quando a banda chega da excursão, os novos donos de seus contratos descobrem sobre o descontentamento da banda em relação a Beck. Mickie Most então se mostrou mais interessado em trabalhar com Jeff Beck e deixou os Yardbirds na mão de Peter Grant, trabalhando com eles apenas como produtor de seus discos.

Mickie Most era nesta época um dos maiores e mais bem sucedidos produtores da Inglaterra. Mas o tipo de material que ele está acostumado a trabalhar é composto de canções pop de até três minutos, como atesta os seus maiores sucessos da época, Herman’s Hermits, Lulu e Donovan. Infelizmente as próximas gravações da banda refletem bastante esta mudança de mentalidade. Apesar de seus shows ao vivo serem comparados à "Terceira Guerra Mundial", o que é lançado é material típico de radio AM. Gravações como "Little Games", "Haha Says The Clown" e "Ten Little Indians" não são das mais felizes, e adicionam tensão nos já desgastados nervos da banda. Mesmo porque são canções compostas por desconhecidos e que sequer têm a participação da banda nas gravações. Apenas de Jimmy Page e uma equipe de músicos de estúdio, com a qual Mickie Most está acostumado a trabalhar. O mais constante entre estes sendo John Paul Jones, baixista e arranjador predileto de Most.

Esses trabalhos, bem aquém do potencial da banda, deterioram o bom nome dos Yardbirds, embora Chris Dreja, Jim McCarty e Keith Relf, os mais antigos, já nem se importam mais. Estão tão desmotivados com o material oferecido e o tratamento da gerência sobre a banda, que se satisfazem em ficar fumando maconha e tomando ácido, ignorando o futuro. Mickie Most promove compactos caprichados para consumo juvenil e não tem maior interesse em relação a LP's. Quando a banda exige gravar, Most permitia um take apenas e não deixa o grupo ouvir o resultado. O mal estar permanece e todos, principalmente Jimmy Page, se irritam com esta mentalidade antiquada de se trabalhar. Estava obvio para Page e Dreja que a música, como também o gosto musical do público já mudara. Já aparecem na cena roqueira, bandas como Cream, Traffic, Vanilla Fudge, Free e The Jimi Hendrix Experience, para elevarem o volume e as concepções para patamares incríveis. Jim Marshall, com a ajuda do The Who está desenvolvendo os amplificadores Marshall para logo poderem oferecer volumes impensáveis, retendo ainda qualidade sonora, sem rachar os alto falantes. O tempo não poderia ser melhor para os Yardbirds voltarem a atacar em grande estilo. Mas o grupo parecia desmotivado, perdido e cansado, como também, mal administrado.

Enquanto o desdém corrói os Yardbirds, Jeff Beck estava sendo bem assessorado por Mickie Most, que montou uma banda ao redor de seu talento. Em um ano ele estaria excursionando em um passo menos frenético com o seu recém criado Jeff Beck Group. Peter Grant, por sua vez, acaba optando por comprar de Most sua parte do contrato dos Yardbirds. Depois os leva novamente para a estrada, desta vez o grupo indo tocar em Singapura e Austrália. Diferente da maioria dos empresários, Grant acompanhava a banda nas viagens, protegendo seus interesses, e esse companheirismo aproximou muito as relações com a banda, principalmente com Jimmy. De fato, esta excursão é a primeira que a banda percebe como lucrativa. Depois, Page não volta pra Inglaterra, preferindo ir para a Índia, passando alguns dias ouvindo músicos intinerantes tocar pelas ruas. Já vestidos em roupas psicodélicos como todos os membros de sua geração, Relf e McCarty estão cansados da banda e passam a ter um crescente interesse em folk inglês. Mas Grant os deixam sempre ocupados, excursionando novamente Escandinávia, depois Japão e por último, França. Enquanto os demais estão tomando ácido diariamente, Page aceita o papel de representante do grupo para entrevistas, divulgando a banda e as propostas musicais.

Os Yardbirds voltam a gravar algumas coisas juntos durante 1967, as últimas coisas lançadas pela banda. Entre estas estão canções como "Glimpses" que oferece Jimmy Page tocando a guitarra com o arco, registrado em disco pela primeira vez. "White Summer" com fortes influencias de folk tradicional inglês, coisa que será mais explorado nas futuras bandas de Page, Relf e McCarty, e "Think About Me" primeira composição de Jimmy Page para o grupo, que inclui um solo de guitarra que seria reaproveitado em "Dazed And Confused" saindo em disco somente com o Led Zeppelin. O produto desta fase sai em 1968, apenas no mercado americano, com o nome de "Little Games".

Novamente é válido salientar a importância da presencia de Peter Grant, junto à banda durante as excursões e como essa presença se traduz em dinheiro para a banda. Grant, que continuou a trabalhar com Jimmy Page no Led Zeppelin; pode ser visto no filme "The Song Remains The Same" (Rock É Rock Mesmo) em dado momento, esculachando algum funcionário do Madison Square Garden, por deixar um ambulante vender posters não autorizados do Led Zeppelin, pelos corredores do estabelecimento. Grant acusa o responsável de permitir o ponto de venda ilícito em troca de um percentual. A cena ilustra bem seu poder de intimidação e como ele o usa, neste lado do seu trabalho. Com os Yardbirds, existe pelo menos uma história similar, porém em situação bem mais hostil. Em Warwick, Rhode Island, o menor estado dos Estados Unidos, os Yardbirds iriam tocar em algum parque de diversão no verão. À caminho, o ônibus foi obrigado a parar e dois promotores italianos entraram mostrando suas armas e avisando que todo mundo iria morrer. A idéia possivelmente era intimidar os músicos assim eles acabariam obrigados a trabalharem por bem menos do que previamente concordado. Grant levantou e encarou os dois, empurrando-os com seu corpo enorme pra trás, gritando "Vocês vão fazer o que? Vocês vão fazer o que?". Grant empurra a dupla de gangsters para fora do ônibus, ambos espantados e perplexos com o gigante intimidador.

É nesta excursão americana, precisamente em Nova York, que a banda vai ao Café A-Go-Go para assistir Janis Ian mas acabam impressionados com o trio folk que abre a noite. O trio era composto por Jake Holmes e mais dois amigos. Uma música em particular marcou a noite, com um baixo hipnotizante que chama a atenção de toda a banda. A canção se chamava "Dazed And Confused" e todos concordaram que ela serviria bem como material dos Yardbirds. Jim McCarty comprou o disco de Holmes e passaram a estudar a canção. Keith Relf reescreveu outra letra e Page reaproveitou uma idéia no solo utilizado anteriormente em "Think About Me". Chamando a canção de "I'm Confused", ela teve sua estreia quando a banda tocou no Madison Square Garden em dezembro de 1967.

Voltam à Inglaterra para o Natal e Ano Novo mas antes de janeiro terminar estão de volta aos Estados Unidos para o que acabou sendo a última excursão da banda. Terminando em Nova York, já em Abril, gravaram o último show, porém o equipamento foi microfonado amadoristicamente e o resultado auditivo foi catastrófico. Este material seria lançado em 1971 como Live Yardbirds Featuring Jimmy Page, mas em função do horrível trabalho feito na gravação, acoplando palmas falsas e equalizações equivocadas, a banda processou a gravadora e conseguiram tirá-lo do mercado. Material favorito entre pirateiros, o disco conseguiu finalmente uma versão decente após o surgimento de gravação digital. O CD hoje disponível no mercado é uma edição e remixagem da fita original somados a uma cópia pirata feito por alguém que estava presente na plateia naquela noite. Com uma qualidade auditiva de "baixa fidelidade", o disco é um registro histórico interessante onde podemos perceber pelo repertório, que inclui material antigo, recente e novo, a metamorfose em que a banda se encontra.

Antes de voltarem à Inglaterra, gravam no estúdio da Columbia Records uma seqüência de composições pensando em um futuro álbum. Este ultimo álbum acaba nunca acontecendo, mas entre o material que fora gravado nesta sessão consta as canções "Spanish Blood", "Avron Knows", "Knowing That I'm Losing You", "Taking A Hold On Me", além de duas versões alternativas para os já lançados "White Summer" e "Tinker Tailor". Também havia uma canção que reapareceria na década de setenta no material de Led Zeppelin, com o nome de "Tangerine".

De volta à Inglaterra, Relf e McCarty estão prontos para entregar a toalha. Estão cansados de estarem tocando praticamente as mesmas musicas desde 1963 e ambos estão apreciando mais o som de bandas que trabalham com o folk, mormente o Fairport Convention. Após uma apresentação no Luton Technical Collage, os dois informam Grant que não desejam continuar com o grupo, assim terminando melancolicamente em julho de 1968, a trajetória de uma das melhores bandas ao vivo da primeira metade da década de sessenta. Peter Grant informa Jimmy Page da posição tomada pelo seu baterista e vocalista. Com shows marcados para o outono na Escandinávia, e mais opções para show na Austrália e Japão, Grant e Page concordam que o melhor seria continuar com os Yardbirds, procurando novos membros. Mas quando Dreja resolve também deixar o grupo para se dedicar a fotografia, os Yardbirds passam a se apresentar como The New Yardbirds, com três novos membros e abandonando todo o repertório associado ao antigo Yardbirds. Pouco depois, mudariam de nome para Led Zeppelin, mas essa já é outra historia.

Precisaria as excelentes carreiras de Jimmy Page no Led Zeppelin e Jeff Beck com seu Jeff Beck Group na década de setenta, para levar jovens a pesquisar seus trabalhos anteriores e redescobrirem os Yardbirds. Descobrir também que a carreira do Eric Clapton não começa com Cream ou The Bluesbreakers. Mas se a banda foi tão importante assim, porque foram tão pouco vangloriados em sua época?

Grande parte da culpa está na incapacidade da banda de compor canções para o ouvinte de rádio. Apesar do sucesso de "For Your Love", em cinco anos de banda, apenas nos 18 meses com Jeff Beck foi que the Yardbirds teve uma maior quantidade de músicas entre o Top 20. Outra contribuição negativa reside na falta de percepção da banda e de seus produtores para a mudança do mercado que passava a dar cada vez mais importância a álbuns com uma identidade própria, e não apenas a união de alguns compactos mais canções com intuito de apenas preencher o espaço restante do vinil. Outro mal que assolou constantemente a banda foi má gerenciamento por parte dos empresários. Apesar da banda ao vivo não ter igual, dificilmente foram atrações principais em festivais e grandes concertos. Por conseguinte, o status da banda era extremamente inferior ao de bandas que foram relativamente influenciados por eles, como Cream e Vanilla Fudge entre outros.

The Yardbirds voltaria a surgir as vésperas do novo milênio. Mas para entender melhor como e porque, vale a pena seguir as carreiras de alguns de seus dissidentes.

Assumindo de vez o descontentamento com suas carreiras no Yardbirds, Jim McCarty e Keith Relf inicialmente começaram um projeto que se chamou Together. Mas o projeto sofreria uma metamorfose transformando-se em 1969 na banda Renaissance. Na formação, além dos dois ex- Yardbirds, está Annie Haslem e a irmã de Keith, Jane Relf nos vocais; Loui Cenammo no baixo, John Tout nos teclados e Michael Dunbar na guitarra. Inicialmente influenciados pela música de bandas como The Fairport Convention, lançam dois discos de folk-rock progressivo, ambos produzidos por Paul Samuel-Smith, com um elenco variado de músicos extras. O segundo álbum, lançado em 1971, já está inclinando para a direção na qual a banda ganharia maior fama. Antes porém, discussões internas acabam por afugentar dois dos três membros iniciais. Jim McCarty deixaria finalmente o Renaissance em 1973, depois do disco "Ashes Are Burning", a banda ficando agora sob o comando da Annie Haslem.

McCarty volta a trabalhar com os irmãos Relf montando em 1976, Illussion, banda que segue a linha inicial de Renaissance. Antes de iniciarem o que seria o segundo disco do grupo, Keith Relf toma um choque de sua guitarra, morrendo eletrocutado no porão de sua casa, onde ficava seu estúdio. Ele foi encontrado pelo seu filho na manha seguinte, ainda com headfones. O disco que seguiu, "Out of The Mist", é gravado em tom de requiem para o cantor e contou com a participação de Paul Samuel-Smith não só na produção, como também nos vocais.

Illussion não durou muito depois disto e McCarty reapareceria em 1983 ao lado de Chris Dreja e Paul Samuel-Smith, mais John Fiddler nos vocais, formando the Box of Frogs, banda que tinha a intenção de apenas marcar a inauguração do novo Marquee Club, que acaba de ser reaberto. O que começou inicialmente como apenas uma apresentação acaba se transformando em uma banda que lança dois discos muito bem aceitos pela critica especializada. O disco de estréia, lançado em 1984, oferece uma formação eclética com guitarristas convidados Jeff Beck e Rory Gallagher e tecladista Max Middleton entre outros. O disco seguinte, saindo em 1986, tem novamente outra série de convidados como Jimmy Page, Steve Hackett, Ian Dury, Graham Gouldman, Graham Parker, John Knightsbridge, além de Rory Gallagher e Max Middleton, entre outros. Pouco depois, Paul Samuel-Smith deixa o grupo, mas o Box of Frogs acaba viabilizando a possibilidade do ressurgimento dos Yardbirds na década de noventa.

Mas antes, em 1988, McCarty volta a fazer música com seus ex-companheiros de Renaissance e Illussion, Loui Cenammo e Jane Relf. Investem em um som mais para new-age, tendência musical da época. Participando de uma feira Yardbirds, Jim encontra Top Topham, primeiro guitarrista dos Yardbirds, que não vê a mais de vinte anos. Este encontro muda a orientação musical de McCarty novamente para o blues, montando assim The Jim McCarty Band. Além de Jim McCarty na bateria e Top Topham na guitarra, a formação da banda inclui um jovem fã dos Yardbirds chamado John Idan na outra guitarra e Loui Cenammo no baixo. O repertório passou a naturalmente incluir material dos Yardbirds. Com algumas metamorfoses e tentativas falidas de gravar o combo, Topham e Cenammo desentendem-se e os dois deixam o grupo. Músicos são substituídos como também o nome do conjunto, passando a se chamar The Jim McCarty Group para depois ganhar o pomposo nome de The British Invasion All Stars. Esta ultima formação, é de longe a mais interessante, pois já inclui os esforços somados de Eddie Phillips ex-Creations, Ray Phillips do Nashville Teens, mais Keith Grant e Don Craine do Downtown Sect. Gravam o disco "Regression", tocando números fortes como "Train Kept A Rollin'", "House of the Rising Sun", "My Generation", "Honky Tonk Woman" e "Around and Around".

No ano seguinte junta-se a este grupo Matthew Fisher, ex-Procol Harum, Phil May e Dick Taylor ex-Pretty Things e Mick Green ex-Pirates, formando uma química forte, porém mais suavizada, com um repertório que também passa a incluir números como "Green Onions" "Don't Let Me Be Misunderstood" e "Bright Lights, Big City". Com a saída de Fisher e a entrada de Noel Redding ex-Experience em 1990, o som volta a puxar mais para o pesado e a banda é rebatizada agora de The Yardbirds Experience. A banda aceita o desafio de gravar uma versão de "Communication Breakdown" e "Whole Lotta Love" além de um tributo a Hendrix com um medley que inclui "Hey Joe", "Wind Cries Mary" e "Purple Haze", no CD que saiu deste trabalho.

Quando em 1992 The Yardbirds é nomeado para ser incluído no Rock n’ Roll Hall of Fame, o evento instiga uma reunião da banda que, apresentam-se para a cerimônia com uma formação que inclui além de Jim McCarty e Chris Dreja, Jeff Beck, Jimmy Page e o ex-10cc Graham Gouldman, autor de "For Your Love", entre outros hits do repertório original da banda. A partir da aceitação do publico neste show, Chris Dreja e Jim McCarty passam a contemplar seriamente reavivar o nome Yardbirds.

Mas foi somente em 1996 que Dreja e McCarty passam a excursionar novamente utilizando o nome. Desta vez com uma formação fixa que inclui Alan Glen que já tocara com gente como Alvin Lee e Dr. Feelgood na gaita e percussões; Gypie Mayo, outro ex-Dr. Feelgood, um talentoso guitarrista que mantém a tradição da banda por grandes guitarristas e John Idan ex-Jim McCarty Band, no baixo e vocalista principal, fechando o grupo. A banda além de representar o repertório clássico da banda, viabiliza a inserção de material novo, composto geralmente pela dupla Dreja e McCarty.

Somente na década de oitenta a a critica especializada voltaria a refletir e conceder a devida importância the Yardbirds merece, ofuscados em parte, pelas incríveis carreiras de seus guitarristas Eric Clapton, Jeff Beck e Jimmy Page. Os rave-up's, concepção criado pelos Yardbirds, antecipa em até três anos a concepção de power blues tão em voga a partir de 66/67. Cream, tão respeitado por instituir o improviso livre no rock, nada mais fez, do que esticar a concepção do rave-up criado pelos Yardbirds. Enquanto a demanda nas rádios era regido por canções pop melódicos, como a dos Beatles em 1965, the Yardbirds com Jeff Beck, estavam criando os princípios do psicodelísmo. Intuitivamente na vanguarda, má gerenciamento somados a falta de profissionalismo por parte dos seus integrantes, fizeram a banda perder aos poucos, quase todo o seu público, especialmente na Inglaterra. A nova banda que hoje excursiona com o nome Yardbirds, mesmo que usurpando esta historia para vender ingressos, é a última oportunidade de se assistir um pouco da energia que emanava deles na década de sessenta.

Discografia:

Segue a discografia da banda que representa a coleção inglesa, salvo (*) que identifica lançamentos exclusivamente nos Estados Unidos. Como as gravadoras não tiveram maior preocupação em destacar uma fase da outra na discografia da banda, mesclando material das três fases do grupo, achamos melhor fazer este trabalho para você. Portanto a discografia abaixo será dividido por guitarristas e oferecendo inclusive a relação dos compactos. Assim, ao ouvir seu CD, você poderá ter uma maior certeza de qual canção é de que época realmente.

The Yardbirds - Anthony 'Top' Topham

Embora exista disponível no mercado, material dos Yardbirds a venda, contendo uma ou outra canção dito como sendo da fase com Top Topham, geralmente a informação é falsa. Até o momento, nenhum dos ex- membros confirmam a existência de uma gravação dos Yardbirds em uma fase pré-Eric Clapton.

The Yardbirds - Eric Clapton

Jun 1964 - I Wish I Would/A Certain Girl
Out 1964 - Good Morning Little Schoolgirl/I Ain't Got You
Dez 1964 - Five Live Yardbirds LP - Apresentação ao vivo
Mar 1965 - For Your Love/Got To Hurray (EC não toca em For Your Love)
Mai 1966 - Sonny Boy Williamson & The Yardbirds LP - Apresentação ao vivo

The Yardbirds - Jeff Beck

Jul 1965 - Heart Full of Soul/ Steeled Blues
Dez 1965 - Still I'm Sad/ Evil Hearted You
Dez 1965 - I'm A Man/Still I'm Sad **
Jan 1966 - Having A Rave-Up With The Yardbirds LP (inclui material com EC)
Mar 1966 - Shapes of Things / You're A Better Man Than I
Mai 1966 - Over Under Sideways Down/Jeff's Boogie
Set 1966 - Yardbirds LP (conhecido como Roger the Engineer, faixas com JP)
Set 1966 - Over Under Sideways Down LP (versão de Roger the Engineer)

The Yardbirds - Jeff Beck & Jimmy Page

Out 1966 - Happenings Ten Years Time / Psycho Daisies
Abr 1967 - Stroll On (Blow Up Soundtrack)

The Yardbirds - Jimmy Page

Abr 1967 - Little Games / Puzzles
Jun 1967 - Haha Says the Clown / Tinker Taylor **
Set 1967 - Little Games LP **
Out 1967 - Ten Little Indians / Drinking Muddy Water **
Mar 1968 - Goodnight Sweet Josephine / Think About It

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Sobre Márcio Ribeiro

Nascido no ano do rato. Era o inicio dos anos sessenta e quem tirou jovens como ele do eixo samba e bossa nova foi Roberto Carlos. O nosso Elvis levou o rock nacional à televisão abrindo as portas para um estilo musical estrangeiro em um país ufanista, prepotente e que acabaria tomado por um golpe militar. Com oito anos, já era maluco por Monkees, Beatles, Archies e temas de desenhos animados em geral. Hoje evita açúcar no seu rock embora clássicos sempre sejam clássicos.
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