Foo Fighters - 30 mil pessoas e uma seleção de seu polpudo catálogo de hits em Curitiba
Resenha - Foo Fighters (Curitiba, 09/09/2023)
Por Fernando Yokota
Postado em 08 de setembro de 2023
Com ingressos esgotados, os Foo Fighters se apresentaram em Curitiba na primeira das duas apresentações em território brasileiro promovendo seu último lançamento, But Here We Are. Abrindo a noite os veteranos do Garbage foram introduzidos pelo primeiro concerto no país da sensação inglesa Wet Leg.
As três bandas voltam a se apresentar, desta vez em São Paulo no The Town, no sábado (9).
Foo Fighters
Em duas horas e meia de apresentação Dave Grohl e seus companheiros colocaram as mais de 30 mil pessoas para uma seleção de seu polpudo catálogo de hits na primeira apresentação no país desde a trágica morte do baterista Taylor Hawkins na Colômbia no ano passado, dias antes de se apresentar na edição de 2022 do festival Lollapalooza em São Paulo.
Ainda que But Here We Are não brilhe tão forte em sua discografia como alguns de seus antecessores, o álbum foi o mecanismo do grupo para estabelecer o alicerce emocional ainda abalado pela perda de Hawkins. Ao que parece o plano funcionou a contento e a banda, mesmo com cicatrizes ainda aparentes, caminha para a reabilitação.
Lembrar da proficiência dos músicos é gastar o latim com o óbvio mas vale destacar a introdução de Josh Freese na banda. Ressaltado pelo próprio Grohl durante o set ("ele já deve ter tocado numas cem bandas"), não é preciso ser músico para perceber que o ofício da percussão é segunda natureza para o experiente músico, que se diverte tocando as partes de Hawkins, por vezes colocando um pouco de seu estilo mas no geral respeitando os arranjos originais. Mago das baquetas ou não, ao ser muito aplaudido quando apresentado, ficam impressão de que metade daquelas palmas ainda são para Hawkins e que Freese, lendário session man ou não, ainda é o "cara novo" da banda.
O show em si é uma curiosa mistura de rock de arena e roda de violão em torno da fogueira. A parede de guitarras formada por Grohl, Chris Shifflett e Pat Smear são dentes de tubarão na boca de uma chinchila: por trás de toda a distorção refugiam-se melodias que poderiam fazer parte de qualquer luau na praia em Porto Seguro. Canções como My Hero, Times Like These (com uma longa introdução quase a capella antes da entrada do resto da banda) e These Days têm em sua melodia a simplicidade que as torna acessível e veículo da comunhão entre o palco e a plateia.
Aliado a isso, os breakdowns épicos (All My Life) e os vocais cantados à beira dos berros (Best of You) são expedientes apoiados em velhos truques do rock. Contudo é o carisma de Grohl e suas três décadas de ofício que subvertem os elementos formulaicos e os transformam em canções que são facilmente identificáveis como de autoria da banda. Além disso, o frontman se aproveita da fluência como showman e, calejado na "arte de fazer amigos" ("acho que já somos todos amigos, certo?", diz antes de começar My Hero), consegue borrar a linha entre o ensaiado e o espontâneo. Ao tocar um pedaço de Stairway To Heaven, "confessa" que é a primeira vez que fazia aquilo ao vivo e, sem ruborizar, crava que "vocês são os melhores cantores do mundo". Quem se importa se é verdade ou não?
Mais para o final, é em Aurora ("a música preferida dos Foo Fighters de Taylor") o único momento em que Grohl parece não ter as mãos no volante. Enquanto parte do público agita bexigas brancas e a luz azul lava o estádio, sua voz fica embargada como quem ainda as procura dentro do peito ainda em luto no melhor momento da apresentação.
Em Best of You sentiam-se as primeiras gotas de uma garoa muito fina mas a banda, ao melhor estilo "inimigo do fim", se arrasta numa jam interminável. O tom de despedida é dado por The Teacher -- esta uma espécie de carta de despedida a Virginia, sua mãe, falecida em 2022, assim como Hawkins -- e Everlong. Com quase três décadas de história, os Foo Fighters parecem fazer as pazes com o fato de talvez serem a maior banda de "dad rock" do mundo. É com o luto, no entanto, que a banda ainda tem que lidar. um show de cada vez.
Setlist Foo Fighters
All My Life
The Pretender
Learn To Fly
No Son Of Mine
Rescued
Walk
Times Like These
Under You
La Dee Da
Breakout
My Hero
This Is A Call
The Sky Is A Neighborhood
Shame Shame
Nothing At All
These Days
Generator
The Glass
Monkey Wrench
Aurora
Best Of You
The Teacher
Everlong
Garbage
Julgando pela quantidade de grupos que surgiram (o Chvrches, que esteve por aqui em março, e o Metric, que virá na programação do Primavera Sound, por exemplo) com vozes femininas e alto valor de produção musical, o Garbage foi e continua sendo de muita relevância na cultura pop.
O repertório não privilegiou um álbum em específico e navegou pela discografia do grupo mas é notável a ausência de músicas do excelente Strange Little Birds, album que Shirley Manson confessou recentemente de retratar um período difícil de sua vida.
A beleza de um show do Garbage é observar como a banda equilibra o cuidado cirúrgico com os arranjos com a organicidade do show de rock. A "linha de fundo", capitaneada por Butch Vig, que não excursionava pelo país desde 2012 (por recomendação médica Vig não participou do giro sulamericano de divulgação de Strange Little Birds em 2016), segura um calhamaço de timbres -- guitarras, sintetizadores, samples, bateria eletrônica -- cuidadosamente empilhados para que Manson dê vida às canções com sua voz e presença poderosas.
Com a costumeira competência, Manson tem que encarar um público que, em sua grande maioria, não veio vê-los, além de problemas com o seu retorno que insistia em não funcionar direito, como em I Think I'm Paranoid. É uma pena o fato da banda ter que jogar fora de casa e para a torcida alheia, que parecia não ligar muito nem quando
Manson apresentou Godhead como "uma música que surgiu de um sonho muito louco em que eu tinha um pênis".
Setlist Garbage
Supervixen
The Men Who Rule The World
Wolves
Cities in Dust
I Think I'm Paranoid
Stupid Girl
Godhead
Vow
Only Happy When It Rains
Push It
Wet Leg
Credenciado como um dos grandes sucessos virais em 2022 com seu single Chaise Longue, a banda da Ilha de Wight se apresentou pela primeira vez no país. Trazendo seu som meio post punk, meio slacker rock e altamente divertido, Rhian Teasdale e Hester Chambers trouxeram a Curitiba seu "post punk encontra slacker rock" no repertório que consiste basicamente em seu álbum homônimo de estreia.
Extraoficialmente apadrinhados por Dave Grohl -- grande fã da banda, inclusive fazendo uma participação no show do grupo no festival Coachella deste ano --, o grupo tenta constituir uma base de fãs aproveitando a notoriedade obtida no ano passado e mostrou em rápidos 40 minutos que tem uma identidade e soam ainda melhor ao vivo. O hype, enfim, é real.
[an error occurred while processing this directive]Setlist Wet Leg
Being In Love
Wet Dream
Supermarket
Convincing
Oh No
Ur mom
Too Late Now
Angelica
Chaise Longue
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