Metallica em Belo Horizonte: Sorte de quem pôde ir
Resenha - Metallica (Mineirão, Belo Horizonte - MG, 12/05/2022)
Por Vitor Krohne
Postado em 16 de maio de 2022
Registros fotográficos por Iana Domingos
Era chegado o grande dia. A capital das alterosas reabriu-se após dois anos pandêmicos ao receber a maior banda de heavy metal, como ouvi de várias bocas ao longo do dia, em sua Turnê Sulamericana 2022. Excluindo o caótico trânsito de Belo Horizonte, tudo corria bem: uma horda de bangers de meia-idade tomando suas brejas no entorno do Estádio Governador Magalhães Pinto, o Mineirão, enquanto outros já adentravam a arena para conferir os shows de abertura das bandas Ego Kill Talent, do mineiro Jean Dolabella e o cover premium zeppeliniano Greta Van Fleet.


Exatamente quatro minutos após o público vibrar com o gol do Cruzeirão Cabuloso pra cima do Remo, às 21 horas e 9 minutos, as luzes se apagavam ao som de "It’s a Long Way to the Top" do AC/DC, seguido pelo corriqueiro trecho do clássico filme "Três Homens em Conflito" (1966). Aproveitando a euforia geral dos quase 60 mil presentes, os veteranos do thrash metal abriram com Hardwired, do atual lançamento "Hardwired…To Self-Destruct" (2016). Logo ficou escancarada a magnificência da produção visual. Simples mas muito bem executada, com cinco telões gigantescos ocupando toda a área vertical do palco e cada música acompanhada de sua própria peça visual. Em seguida veio "Ride The Lightning", "Wherever I May Roam" e, somente antecedendo "Seek & Destroy", James Hetfield nos cumprimentou de forma honrosa como a cidade que forneceu Sepultura ao mundo. Chamou minha atenção a escolha consciente da produção ao caprichar no espetáculo visual durante as músicas menos conhecidas, como a próxima "Moth Into Flame". Lança-chamas pirotécnicos atravessando palco afora e também nas torres dos line-arrays esquentaram todo o estádio durante a execução do segundo single do derradeiro álbum. Logo mais veio calmaria, sem perder o ritmo. Para mim, o ponto alto atmosférico da noite. Antecedendo os primeiros acordes de "One", lança-chamas espalhados pelo palco simulavam bombas caindo dos céus enquanto os telões reproduziam agourentos campos de batalhas e filas de soldados. No decorrer da música, durante as passagens belicosas, lasers acima de nossas cabeças me transportava para trincheiras em meio a tiroteios enquanto os soldados no telão transformaram-se em esqueletos demoníacos numa guerra infernal. Incrível.

Papa Het então sugeriu que as gestantes em trabalho de parto procurassem a brigada de bombeiros, brincando com a situação curiosa do bebê curitibano que nasceu 5 dias antes durante o show. Het também relembrou como a união de seus companheiros de banda o ajudaram, não somente durante a pandemia, mas ao longo de sua carreira, como sua luta contra o alcoolismo e passagem por reabilitação em 2018. "Sad But True" se destacou pelo simbolismo evocado. Originalmente escrita com inspiração do longa "Magic" (1978), de Anthony Hopkins, foi acompanhada nos telões por martelos, palavras estilizadas em fontes do alfabeto cirílico, coturnos pisoteadores, faces de horror e busto que só me lembrava Vladimir Lenin. Tudo apresentado em abundantes tons de vermelho branco e azul.

Diante dos confusos semblantes ao meu redor, devido à "desconhecida" e progressiva "Cyanide", começava mais um destaque visual. Enquanto muitos se perguntavam qual música era aquela, quatro caixões enclausuravam atores expostos no telão. Durante os quase sete minutos observei suas atuações, cada uma distinta das outras, passavam por confusão, desespero, negação e raiva. Ao final estavam ofegantes atrás do vidro embaçado após muito se debaterem. Sensacional.

O show prosseguiu de forma ora melancólica com "The Unforgiven", ora ominosa com "For Whom the Bells Tolls", ora frenética com a clássica "Creeping Death". Mais uma vez Hetfield foi sentimental ao nos dizer que não estávamos sozinhos diantes das adversidades da vida ao anunciar a apropriada "Fade to Black". A banda já demonstrava certo cansaço físico ao executar "Master of Puppets". Justo, afinal são todos quase sexagenários e a apresentação já ultrapassava os noventa minutos. Pude observar desordeiros desafiando a organização do evento e tentando um tímido mosh.

Graças ao deus Lemmy, a espera pelo encore foi de apenas três minutos entoados por nosso especial "Olê olê olê olê, Meta-llica". Seguiu-se a terceira estreia na turnê "Fight Fire With Fire" ao passo que Lars já não conseguia conciliar o chimbal com o bumbo muito bem. Convenientemente era a vez da maior balada da banda "Nothing Else Matters" na qual o público entoou a plenos pulmões. Às 23 horas e 18 minutos começava o óbvio grand finale "Enter Sandman". Estranhamente, durante as últimas músicas, a produção visual que elogiei tanto empobreceu tremendamente. Cheguei a pensar que havia ocorrido uma pane, que só contribuiu com a sensação de declínio de energia. Ao final, o quarteto agradeceu os presentes e nos brindou com muitos suvenires, palhetas e baquetas. A selvageria foi geral. Quando me dei conta estava jogando pernas de companheiros para o alto na tentativa de levar pra casa uma lembrança antes de me dirigir ao turbulento fluxo na saída do estádio.

No apagar das luzes, foi um belo espetáculo. Talvez estejamos sedentos e cansados de após tanto tempo de isolamento. Particularmente não sou fã de grandes shows em arenas. Bandas mais jovens e de menor sucesso comercial muitas vezes têm mais sangue nos olhos, gana e vivacidade que grandes dinossauros com seus shows automatizados e vazios de tesão. Ao longo do tempo, após a consolidação da divisão das pistas em comum e premium, fica extremamente prejudicada a experiência de qualquer um na parte de trás da arena. Nem se fala então nas arquibancadas. Recebi diversos relatos em que a qualidade sonora estava terrível nos setores laterais ao palco e até intenção de pedir reembolso por parte de outros. Em frente ao palco a mix estava razoável, nada que implicasse a experiência dos mais privilegiados. James Hetfield, austero e carismático, conduziu a apresentação com a maestria de sempre. Kirk Wahmmet, um dos que amamos odiar, não comprometeu. Robert Trujillo passou quase despercebido. Somente uma "dança do caranguejo" e outro "rodopio do helicóptero". Parecia borocoxô. Agora, Lars Ulrich: confesso que ansiava por tropeços e motivos para ridicularizá-lo. Tirando a língua de fora desde o início da apresentação e aparência de quem iria interromper uma músicas para pedir água e tomar um ar, exibiu todo seu carisma e afirmou sua posição de um dos bateristas de maior legado do gênero no topo de seus 58 anos. É justa toda a pompa e sumptuosidade do Metallica? Depende da disposição, ansiedade e bolso de cada um. Por mim, afirmo ser um espetáculo que nós mineiros merecíamos após todo o perrengue dos últimos tempos.

Metallica:
James Hetfield - Guitarra base, Violão, Vocais principais
Lars Ulrich - Bateria
Kirk Hammet - Guitarra solo, Vocais de apoio
Robert Trujillo - Baixo, vocais de apoio
Setlist Metallica South American Tour 2022, Belo Horizonte, 12 de maio de 2022:
1. Hardwired
2. Ride the Lightning
3. Wherever I May Roam
4. Seek & Destroy
5. Moth Into Flame
6. One
7. Sad But True
8. Cyanide
9. The Unforgiven
10. For Whom The Bells Tolls
11. Creeping Death
12. Fade to Black
13. Master of Puppets
14. Fight Fire With Fire
15. Nothing Else Matters
16. Enter Sandman
































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