Solid Rock: Judas Priest e Black Star Riders em Belo Horizonte
Resenha - Solid Rock (KM de Vantagens, Belo Horizonte, 14/11/2018)
Por Maurício Almeida
Postado em 26 de novembro de 2018
Fotos por Iana Domingos
O Solid Rock chegou na noite do dia 14 de novembro, à capital mineira com um desfalque no line-up: o ALICE IN CHAINS não veio a Belo Horizonte. Mas, cá entre nós, a gente sabe que o protagonismo estaria em outras mãos. Preparem-se para uma resenha de um show que poderia muito bem ter ocorrido, nos anos 80.
O BLACK STAR RIDERS tinha a incubência de dar início a festa. O "THIN LIZZY reformulado" tinha uma tarefa árdua, tirar essa estigma de ainda serem o THIN LIZZY e gravarem a nova identidade da banda. E foi o que fizeram o vocalista Ricky Warwick, o guitarrista Scott Gorham e companhia.
Pontualmente, às 20 horas, o BLACK STAR RIDERS subiu ao palco de um KM de Vantagens ainda vazio. Talvez pelo trânsito de véspera de feriado, o público foi chegando timidamente e isso refletia na interação do público com a banda. Como dito acima, não seria um show de covers do THIN LIZZY. Das 10 músicas, apenas Jailbreak e The Boys Are Back in Town saciaram o desejo dos saudosistas.
A sonoridade, ao vivo, do BLACK STAR pouco se aproxima do THIN LIZZY. Com uma identidade própria, as músicas ganham o peso de 3 guitarras e energia, mesmo baladas como When The Night Comes In, do mais recente disco Heavy Fire (2017). O setlist foi composto, em sua maior parte, por canções do disco de estreia All Hell Breaks Loose, de 2013.
O show do BLACK STAR RIDERS foi muito coeso, as execuções das músicas beiravam a perfeição, com um ganho de energia com as performances dos músicos. O que faltou, talvez, para que eles ganhassem ainda mais a empatia do público foi um pouco mais de tempo de show, que durou menos de 50 minutos.
Quando o Ricky Warwick e companhia iniciaram os riffs de Boys Are Back In Town, a casa já estava mais cheia e aí sim, parecia que todos já entendiam o que estava por vir naquela noite. BLACK STAR RIDERS ainda executou mais duas músicas, finalizando com a excelente Bound For Glory, talvez a "música mais THIN LIZZY" deles.
Entre as 20h50 e 21h10 o burburinho no KM era intenso. A enorme bandeira do JUDAS PRIEST foi levantada, tampando o palco por detrás. Quando o meu relógio marcou 21h13, o som da casa ecoou War Pigs. Era o prenúncio de que a missa do Padre Judas estava por começar. Mal sabíamos que retornaríamos aos anos 80, para uma aula de heavy metal.
Quais as expectativas para noite? Assistir ao JUDAS sem o power trio Halford, K.K Downing e Glenn Tipton e ouvir as músicas do Firepower, o excelente último disco da banda. Bem, se em algum momento, houve receio por parte de alguém, o JUDAS não deixou espaço para dúvidas e com um show arrebatador, provou, mais uma vez, porque é um dos ícones do heavy metal.
Bandeira ao chão, os riffs de Richie Faulkner e Andy Sneap anunciam o primeiro petardo da noite, Firepower. A faixa título do álbum deste ano deixa a galera enlouquecida, o som das guitarras toma conta da casa de show, a cozinha com Ian Hill e Scott Travis funciona como manda a cartilha do heavy metal, graves e bumbo marcantes socando os tímpanos dos presentes.
Com suas roupas de couro e óculos escuro, afinal é o JUDAS PRIEST, vimos um Faulkner e Sneap tomando a frente do palco, conduzindo a galera. Por vezes, percebemos que quem comanda o palco é Faulkner, com suas coreografias e caretas, ele levanta o público, entre as músicas e durante os solos. Andy Sneap surpreende, deixa de lado o rótulo de substituto e, com personalidade, tem também seus momentos junto à plateia.
Sem tempo para absorver o que estava acontecendo, a banda já emendou Running Wild. De 2018 para 1978 em questão de segundos. Começaria uma sequência de revista ao passado. O público já estava ganho pela energia da banda no palco. Do clássico British Steel, a primeira faixa a ser tocada foi Grinder. Aí, já não restavam dúvidas de que teríamos o melhor do heavy metal.
Na sequência de clássicos do passado, Sinner proporcionou mais um momento de interação de Faulkner com a plateia. Quando, ao final da canção, tudo indicava que teríamos um solo de bateria, veio um dos riffs mais clássicos do JUDAS, anunciando The Ripper. Neste momento, não havia marmanjo com seus braceletes que não estivesse vidrado, com olhos fixos no palco ou batendo cabeça. Estávamos numa celebração do heavy metal.
E se me perguntarem se tamanha euforia ocorreu só nos antigos clássicos, eu e qualquer um que esteve presente responderá que não. Lightning Strike veio em seguida e, cá entre nós, foi uma das melhores execuções da noite. A música foi cantada pela galera como se fosse um clássico dos anos 80. O alcance vocal de Rob Halford, nesta música, em especial, é de espantar.
E de surpresas foi feito o repertório. Logo em seguida, Desert Plains, do Point of Entry. Nem o mais fervoroso fã esperava. Não bastasse a execução primorosa, Halford e companhia ainda se permitiram surpreender o público. Ao final, Rob Halford agradece ao público por estarem ali para "gritar o heavy metal". Mas, não há tempo para pausas.
Na alternância entre o antigo e novo, mais uma faixa do novo disco, No Surrender. As músicas do novo disco foram muito bem escolhidas para entrarem no set. Se algum desavisado estivesse vendo o JUDAS pela primeira vez, não conseguiria distinguir o que era música nova e o que era antiga. Na minha humilde opinião, Firepower é o disco do ano e as músicas novas devem seguir no setlist para as próximas turnês.
Se, neste momento do show, alguém já não tinha entrado no clímax, Halford não deixou por menos, o show tinha um ganho exponencial de energia. Em seguida, para o deleite dos fãs, Turbo Lover, The Green Manalishi e, espaço para mais uma surpresa, Night Comes Down.
Já passada metade do show, a banda não demonstrou cansaço, em momento nenhum. Halford trocava de roupa entre as pausas das músicas, a dinâmica do show não permitia você ir buscar uma cerveja ou ir ao banheiro, sem perder um trecho do show. Após os clássicos, Guardians começou tocar no som da casa. Rising From Ruins, mais uma do novo disco, foi a primeira música em que Halford saiu de cena e voltou com um adereço: o sabre de luz de Kylo Ren. Só JUDAS para me trazer o universo de Star Wars para um show.
A partir deste momento, o JUDAS PRIEST chuta o pau da barraca e começa destilar clássico atrás de clássico. E aí, o KM de Vantagens virou um templo de contemplação do melhor do heavy metal. Quem estava ali saiu com a certeza de que valeu cada centavo investido no ingresso.
Freewheel Burning teve homenagem a Ayrton Senna, com imagens do piloto sendo exibidas ao fundo. Foi a primeira vez que a ouvi ao vivo e, só posso dizer que todo mundo deveria fazer o mesmo. You’ve Got Another Thing Comin’ veio fazer a festa do metal, como de costume.
E, para celebrar as vestimentas de couro e toda a representação do JUDAS PRIEST, não poderia faltar Hell Bent for Leather. Mas, ela não foi simplesmente executada na sequência de You’ve Got. Teve um minuto de pausa para que Halford se retirasse do palco e voltasse montado em sua moto vermelha. Isso é JUDAS PRIEST! Esse é o heavy metal em essência.
Scott Travis pede para a galera chamar a próxima música. Qual clássico do Judas caberia ao baterista anunciar? Painkiller veio para ressuscitar quem já não estivesse com fôlego. A música foi executada como se tivesse sido a primeira da noite, Rob Halford era um monstro no palco. Monstro não, Deus!
Sabe aquele suspense que existe entre o suposto término do show e o bis? Pois é. Ele não aconteceu. Antes que a plateia começasse a pedir a volta da banda ao palco, The Hellion nas caixas de som. A casa de show virou um pandemônio, porque, obviamente, na sequência veio Eletric Eye. Em meio à pista premium, rodas de mosh se abriam. O público não acreditava no que acontecia.
O JUDAS PRIEST fazia um show sequencial, quase sem pausas, cada música sendo executada em perfeição. Mas, infelizmente, uma hora teria que acabar. E para coroar a noite, escolheram os clássicos Breaking The Law e Living After Midnight.
O que vimos na noite do dia 14? Dois shows executados em perfeição, cada um em sua área. O BLACK STAR RIDERS tem repertório e muita competência para se livrar de vez de serem o THIN LIZZY, talvez fazer abertura para um ícone do heavy metal não tenha sido uma boa ideia.
O JUDAS PRIEST foi surpreendente por conseguirem fazer um show de quase duas horas seguidas, uma pedrada atrás da outra. O setlist foi excelente. Claro que sempre terá aquela música ou outra que queríamos ter ouvido, mas não houve nem tempo do público pedir por música. O PRIEST saiu do palco deixando a frase de que "o PRIEST voltará", e nós vamos cobrar! Com certeza!
SET LIST BLACK STAR RIDERS:
1. Bloodshot
2. All Hell Breaks Loose
3. Jailbreak
4. The Killer Instinct
5. Heavy Fire
6. Before The War
7. When The Night Comes In
8. The Boys Are Back In Town
9. Kingdom Of The Lost
10. Bound For Glory
SET LIST JUDAS PRIEST
1. Firepower
2. Running Wild
3. Grinder
4. Sinner
5. The Ripper
6. Lightning Strike
7. Desert Plains
8. No Surrender
9. Turbo Lover
10. The Green Manalishi (With The Two Prong Crown)
11. Night Comes Down
12. Rising From Ruins
13. Freewheel Burning
14. You've Got Another Thing Comin'
15. Hell Bent For Leather
16. Painkiller
17. Eletric Eye
18. Breaking The Law
19. Living After The Midnight
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