Sepultura: Resenha e fotos do show em Stuttgart
Resenha - Sepultura (LKA Longhorn, Stuttgart, 09/03/2018)
Por A. Krampmann
Postado em 24 de março de 2018
Eu estava ansioso para ver o Sepultura, já que o último disco me agradou bastante e já fazia muito tempo que eu não via a banda ao vivo. Tirando a apresentação no Wacken 2011, que na verdade eu só vi parcialmente e quase nem lembrava mais, o último show que eu vi mesmo foi o "Barulho contra a fome", que se não me engano foi a estreia do Derick nos vocais em palcos brasileiros, e que pra mim ficou marcada pela participação do Carlinhos Brown, que saiu andando no meio da galera atrás de um rapaz que havia dito que ia se matar.
Saí do trabalho depois das 18:00hs já consciente de que seria difícil ver a primeira banda, pois o show estava marcado para começar às 18:45hs e eu ainda tinha que atravessar um bom pedaço da cidade de Stuttgart, que normalmente tem um trânsito complicado. Para minha surpresa cheguei relativamente rápido ao clube LKA, local do show. Mesmo assim a banda Fit For An Autopsy já estava tocando quando eu entrei, e a primeira música que eu ouvi me agradou. Um som com influências modernas, na pegada que normalmente chamam de "Djent", mas que eu prefiro dizer que é uma tentativa de emulação do som do Meshuggah, o que no final vai dar na mesma. A segunda música já me fez pensar se a banda era realmente boa. Acho que isso tem a ver com o fato de que eu comecei a implicar com vocalistas. O vocal não cantava mal, pelo contrário, e além disso ele era bem carismático, mas como acontece com muitos vocalistas, ele parecia uma máquina de gritar frases, e para mim faltava uma melodia. Tipo a "War for Territory". É uma frase simples, mas é cantada de uma tal forma que te convida a cantar junto. Isso faltou no som do Fit For An Autopsy, e falta em inúmeras bandas. Infelizmente só pude ver as três ultimas músicas e quando o show acabou fui buscar minha cerveja para esperar a segunda banda. Acabei indo dar uma olhada no merchandise, pois queria comprar um moleton. Havia apenas um modelo, cheio de detalhes e muito bem acabada. Tipo aquela roupa que você veste todo orgulhoso para ir no aniversário do cunhado com aquele pessoal mais bacana ou qualquer outro evento mais frescurento. Não era muito meu estilo e estava caro - enquanto normalmente um moleton sai por volta de 40 Euros, este do Sepultura custava 65. Só com a diferença eu tomaria 6 cervejas. Nem pensei mais no assunto.
A segunda banda era a Goatwhore. Nunca tinha ouvido falar nos caras e sinceramente achei bem estranho quando olhei para o palco e vi o vocalista ajeitando o cabelo, sentado em uma coisa que a princípio pensei que era um banquinho. Parecia que ia rolar aquelas paradas de sarau de poesia. Bem, nada contra poesia, mas eu queria ouvir guitarras distorcidas, e logo foi isso que rolou. O vocal na verdade tinha machucado a perna e estava sentado em um case. O som dos caras é extremamente calcado nos anos 80, um Speed / Thrash Metal, com influências de todas as bandas clássicas daquela época, me senti até num show em 1988. O vocalista, mesmo sem poder se mover, acompanhava os solos fazendo seu "air guitar" e dessa forma passava uma energia para a galera que, como de praxe na Alemanha, respondia com uma empolgação contida. O show para mim porém teve algumas distrações. Primeiro apareceu um casal ao meu lado que parecia mais estar comprando móveis em alguma loja. Eles ficavam olhando o papel com a programação da casa e discutiam a respeito. O cara parecia meio impaciente, e de repente sacou um celular bem das antigas e começou a digitar freneticamente com um dedo. Isso me dava aflição, pois se tratava daqueles teclados que possuem umas 3 ou 4 letras por teclas, horrível. Eu demorava séculos para digitar naquilo. Além disso parecia que ele estava apostando corrida com a banda, pois olhava para o palco e aí voltava a digitar com tudo, como se tentasse superar a velocidade da bateria . Fez isso várias vezes. Aí chegou o vendedor de cerveja, uma montanha em forma de gente. Eu já sofri com ele em outra ocasião, pois fiquei em um lugar que era rota dele. Tomei várias patadas que ele ia distribuindo para abrir caminho. Desta vez eu estava em um mezanino, bem próximo à uma escada, quando ele passou na minha frente e, empurrando uma bandeja cheia de cerveja, expulsou uma mina que estava encostada na parede ao lado da escada. Ali era o lugar dele apoiar a bandeja. A mina até saiu rindo, acho que inconformada com a maneira como foi chutada do lugar. Depois foi a vez de um casal de meia idade, e assim por diante. O curioso é que parecia um ritual. O montanha expulsava quem estivesse no lugar, dava uma conferida na banda e aí aparecia alguém para comprar cerveja. Não falhou uma vez. Bem, acho que eu fiquei reparando nisso pois a apesar de a Goat Whore tocar com muita qualidade técnica, possuir bons músicos e fazer um som raçudo, apresentou apenas mais do mesmo.
Terceira atração, Obscura, outra banda desconhecida. Death Metal técnico, à lá Death, Necrophagist. Algumas músicas bem legais, mas novamente me faltou um pouco de originalidade. Eu não tenho nada contra qualquer estilo e até entendo os mais puristas que não toleram avanços e misturas, mas a banda precisa ter uma identidade, senão fica difícil. O final do show chegou até a me irritar um pouco com um solo coletivo que pra mim foi muito longo e cheio de clichês. Passou em branco para mim.
Enquanto o palco do Sepultura era montado, o cara do celular veio falar comigo. Um figura da Croácia. Não acreditou quando eu disse que era do Brasil, disse que adorava Charlie Brown Jr., que queria ir para o Brasil, mas não para Copacabana. Queria ir para Belo Horizonte ou Manaus, para ver "a coisa real", nas suas próprias palavras. O cara falava sem parar e eu estava me divertindo com as histórias dele, mas quando começou a intro do show eu virei para o palco e comecei a me preparar para bangear.
Sem muitas firulas o Sepultura iniciou o set com a porrada "I Am the Enemy", do último disco. Na sequência "Phanton Self" e para minha grata surpresa emendaram a "Kairos", que eu acho uma excelente música. Uma pequena pausa e aí o primeiro clássico da noite, "Territory". Honestamente nas músicas antigas eu sinto falta do Max, mas como isso é passado, o negócio é bater cabeça, pois a música é muito boa. Depois veio a "Desperate Cry", e aí eu não resisti e fui para o mosh pit aproveitar um pouco, pois a galera estava insana, como poucas vezes vi por aqui. Não sei se a música do Sepultura contém algum elemento que coloque mais fogo na galera, mas o fato é que a empolgação extrema estava presente num público que é normalmente mais contido. Parecia que a pressão sonora que saía do placo contagiava as pessoas, que iam acompanhando as músicas como podiam – alguns cantavam, outros agitavam os braços, e muitos descarregavam sua energia nas rodas. Uma coisa que também tem que ser registrada é a performance do Eloy Casagrande. Se alguém aí conhece um baterista do metal (ou qualquer outro estilo) que bata mais forte que ele, por favor me indique. É impressionante ver ele tocando com tanta força e precisão. A bateria parece mais uma usina de energia, fornecendo alta voltagem que agita ainda mais a galera. Não acho outra expressão: muito foda!
Depois de mandarem mais duas do Machine Messiah, o aniversário de 20 anos do disco "Against" foi comemorado, e as músicas "Against", "Choke" e "Boycott" foram as três próximas do set list, e mesmo não sendo hits, a galera acompanhou e agitou bastante. De volta ao último play, a faixa-título "Machine Messiah" foi a única que eu achei mais paradona no show. Uma excelente música, mas que fugiu um pouco do clima caótico que estava rolando. Para mim, parecia que haviam-se passado 10 minutos, mas além das músicas citadas rolaram vários clássicos, como "Inner Self", "Arise" e "Slave New World". Até mesmo a "Ratamahatta", que eu acho uma música mais ou menos ficou muito boa neste show. Depois que terminaram de tocar a "Roots" e se despediram do público, eu estava até confuso, pois havia essa impressão de que a apresentação teria acabado de começar, mas também havia a consciência de que o set list da banda tinha sido extenso. Sequelas de um excelente show. Saí do clube com um largo sorriso e principalmente aliviado por não ter desistido de comparecer, já que devido à problemas na agenda tinha cogitado deixar o show de lado. Foi o meu primeiro show de 2018 e posso dizer que o Sepultura está no time das melhores bandas ao vivo da atualidade. Espero que as próximas bandas que verei este ano mantenham o nível. Não vai ser nada fácil !
Setlist Sepultura:
01 - I Am the Enemy
02 - Phantom Self
03 - Kairos
04 - Territory
05 - Desperate Cry
06 - Sworn Oath
07 - Resistant Parasites
08 - Against
09 - Choke
10 - Boycott
11 - Machine Messiah
12 - Iceberg Dances
13 - Inner Self
14 - Refuse/Resist
15 - Arise
Encore:
16 - Slave New World
17 - Ratamahatta
18 - Roots Bloody Roots
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