RECEBA NOVIDADES ROCK E METAL DO WHIPLASH.NET NO WHATSAPP

Matérias Mais Lidas


Offspring
Stamp

De Zero a NX Zero: O que aconteceu com o rock nacional?

Por Paulo Faria
Fonte: Portal Espera Feliz
Postado em 01 de agosto de 2018

* Publicado originalmente em 27/10/2015. Atualizado e revisado excepcionalmente para esta publicação.

Navegando pelo site de vídeos Youtube, fui surpreendido pela seguinte frase: "Um NX na frente do Zero ferrou com o rock nacional". A frase em questão, num misto de sarcasmo e decepção, foi discorrida por um usuário daquele site referindo-se à clássica canção Quimeras da banda dos anos 80 ZERO, contrapondo-se à banda dos anos 2000, NX ZERO.

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE - CLI
Anunciar bandas e shows de Rock e Heavy Metal

A comparação feita por esse usuário não apenas sintetizou em seu comentário seu descontentamento pelos descaminhos da música brasileira, como também refletiu de forma irônica a insatisfação de muitos a respeito do rock produzido no Brasil ultimamente.

Há quem diga que nos últimos 30 anos o rock brasileiro vem se deteriorando, fragmentando; que hoje em dia não se produz mais o "verdadeiro" rock, e que tudo feito atualmente é sem "atitude". Não será apenas saudosismo? Não será apenas nostalgia de pessoas que viveram os áureos tempos em que no país despontava dezenas e mais dezenas de bandas de rock o qual cada uma tinha seu espaço na mídia porque à época o mercado assim funcionava? Não será o caso dessas mesmas pessoas hoje terem dificuldade de assimilar o "novo"? Qual a diferença do rock produzido no Brasil lá nos idos dos anos 80 para o que é produzido hoje?

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE - GOO
Anunciar no Whiplash.Net Anunciar bandas e shows de Rock e Heavy Metal

Primeiramente, se faz necessário analisar a concepção de clássico e averiguar brevemente a história do rock no Brasil. Clássico, segundo o Aurélio, é um adjetivo que entre outras coisas, quer dizer "de melhor qualidade"; "exemplar". Sendo assim, pode-se afirmar com certeza de que a maioria do que se produziu de rock no Brasil até 1990 se encaixa dentro da concepção de "clássico".

O rock brasileiro praticamente nasceu nos anos 80. Chegamos atrasados. Nos anos 60 até havia certa ousadia, e muita coisa que se produzia até então flertava com o rock que se produzia lá fora. CELLY CAMPELO, ROBERTO CARLOS e ERASMO CARLOS exibiam em suas canções nuances do rock n’ roll, porém, com tímidas atitudes libertárias e muitas características tropicais. O rock brasileiro dava seus primeiros passos.

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE - CLI
Anunciar bandas e shows de Rock e Heavy Metal

Nos anos 70 a cena fica mais endiabrada, e grupos e artistas como RAUL SEIXAS, CASA DAS MÁQUINAS, MUTANTES, O TERÇO e VÍMANA, dão uma cara "mais rock" às composições, e o Brasil, enfim, começa a ser representado pelo seu próprio rock. Porém, ainda não existia uma "unidade coletiva", um "movimento organizado"; tudo ainda era muito isolado, e o mercado musical insistia em não reconhecer o rock como grande produto a ser investido comercialmente. O Brasil vivia ainda sob a égide da ditadura militar o que poderia ser também um fator para o impedimento para o nascimento de algo mais coeso.

No final dos anos 70 o mundo foi arrebatado pelo "movimento punk" da Inglaterra, o que encorajou jovens de todas as classes sociais a assumir uma postura ideológica, e por que não, montar uma banda. No Brasil não foi diferente.

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE - GOO
Anunciar no Whiplash.Net Anunciar bandas e shows de Rock e Heavy Metal

A dificuldade econômica não impedia que discos importados chegassem às lojas brasileiras e que bandas estrangeiras dessem o ar da graça por aqui. VAN HALEN, ALICE COOPER e QUEEN, foram algumas das primeiras bandas de rock a tocarem no Brasil. O mercado começava a se expandir, e a luta de todos os setores da sociedade pelo fim do regime antidemocrático deu o combustível necessário para a grande explosão do rock brasileiro. A BLITZ, de Evandro Mesquita, foi a que abriu as cortinas para todo o movimento que seria conhecido como o "rock oitentista" – o BRock.

O mercado fonográfico, com o sucesso da Blitz, mais do que rápido arregalou os olhos para a galinha dos ovos de ouro que seria a música rock. Com isso, investiu-se maciçamente no estilo e o que se viu foi uma enxurrada de bandas de todos os seguimentos dentro do rock ‘n’ roll inundando a cena: pop, punk, pós-punk, heavy metal, new wave… Enfim, o rock brasileiro amadurecera e então criava-se um conceito de rock brasileiro do qual todas as bandas procuravam ser melhores do que podiam ser, fossem nos arranjos, fossem nas letras, tudo apesar das dificuldades com estúdio, produtores e grana. Existia até uma rivalidade entre elas, muita das vezes, não velada.

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE - CLI
Anunciar bandas e shows de Rock e Heavy Metal

A cena roqueira dos anos 80, ao contrário do que existe hoje, não era apenas um monte de bandas tocando. Era sim, como já fora dito, um conceito musical onde cada grupo exibia sua estética peculiar, sua identidade e às suas maneiras, levantavam suas bandeiras políticas, sociais e amorafetivas. O movimento não era estéril e banalizado, mas sim, consistente e profundo.

Na primeira fila destacavam LEGIÃO URBANA, PARALAMAS DO SUCESSO, BARÃO VERMELHO, TITÃS, RPM, ENGENHEIROS DO HAWAII E ULTRAJE A RIGOR. Na segunda e terceira filas estavam aquelas que embora não fossem campeãs de vendas ou de exposição, foram responsáveis por enriquecer ainda mais a cena: RÁDIO TÁXI, CAPITAL INICIAL, IRA!, PLEBE RUDE, KID ABELHA, LULU SANTOS, BIQUÍNI CAVADÃO, CAMISA DE VÊNUS, HERÓIS DA RESISTÊNCIA, UNS E OUTROS, NENHUM DE NÓS, HOJERIZAH, VARSÓVIA, FINIS AFRICAE, LÉO JAYME, ARTE NO ESCURO, CABINE C, SALÁRIO MÍNIMO, MAGAZINE, HARPPIA, GOLPE DE ESTADO, METRÔ, OS REPLICANTES, INOCENTES, GAROTOS PODRES, A CHAVE DO SOL, INIMIGOS DO REI, AZUL LIMÃO, PATRULHA DO ESPAÇO, KIKO ZAMBIANCH, PICASSOS FALSOS, VOLUNTÁRIOS DA PÁTRIA, RICHIE, EGOTRIP, VZYADOQ MOE, VIOLETA DE OUTONO, MUZAK, ESCOLA DE ESCÂNDALO, SEMPRE LIVRE, SEXO EXPLÍCITO, RATOS DE PORÃO, ZERO (já citada nesse artigo) e muitas, muitas mais…

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE - GOO
Anunciar no Whiplash.Net Anunciar bandas e shows de Rock e Heavy Metal

É claro que no mesmo período também surgiram algumas coisas de gosto duvidoso, mas, num contexto geral, com tantos grupos disputando a tapa o tão concorrido espaço, ainda prevaleciam a originalidade, a identidade própria, pois cada banda soava de forma individual, mesmo que as referências musicais de cada uma fossem as mesmas (o rock britânico, por exemplo).

Os anos 90 foram a ressaca. Com a explosão de criatividade, qualidade e quantidade de grupos surgidos na década anterior, era evidente que o mercado estagnaria. Muitas bandas que brilharam nos anos 80 participando até de programas popularescos como Faustão, Angélica, Gugu, Xuxa (sim meus caros, essa galera já tinha seus programas há 35 anos…), saíram de campo.

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE - CLI
Anunciar bandas e shows de Rock e Heavy Metal

Mas o fogo não havia se apagado completamente. De uma pequena centelha surgiriam ainda grupos com traços de originalidade nos anos 90: RAIMUNDOS, CHICO SCIENCE & NAÇÃO ZUMBI, SKANK e LOS HERMANOS são algumas.

Com a chegada do século XXI, parece que a criatividade e a inteligência hibernaram ou entraram de férias. Ao longo de 10 anos, nenhuma banda nascida nos anos 2000 foi capaz de produzir um disquinho sequer relevante (urros e guitarras pesadas e sujas não são necessariamente sinônimo de rock de qualidade). Algumas bandas até se esforçaram, mas no geral, o que foi feito ao longo de uma década foi medíocre, ordinário, inútil e pueril. Não por acaso, os álbuns que mais se destacaram naquela década foram lançados pelos veteranos dos anos 80. Eis alguns: "Surfando Karmas e DNA" (2001), ENGENHEIROS DO HAWAII; "Longo Caminho" (2002), PARALAMAS DO SUCESSO; "Rosas e Vinho Tinto" (2002), CAPITAL INICIAL; "Só quem Sonha Acordado vê o Sol Nascer" (2007), BIQUÍNI CAVADÃO; e os excelentes "O Quinto Elemento" (2007), ZERO; e "Canções de Amor e Morte" (2007), UNS E OUTROS. Ou seja, teve que a velha guarda do rock brasileiro entrar em campo pra salvar a década da mediocridade musical. Fãs da PITTY e a própria até que tentaram fazer "festa" em comemoração pelos 10 anos de lançamento do primeiro álbum da cantora. É um álbum ruim? Não é, claro; mas está longe de ser algo tão relevante para o mundo do rock aponto de se valer uma comemoração.

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE - GOO
Anunciar no Whiplash.Net Anunciar bandas e shows de Rock e Heavy Metal

Mas tamanha infertilidade tem lá sua explicação.

Com a democracia mais fortalecida, com a economia aparentemente ajustada e um país vivendo sob um governo "popular" (PT) que segundo o próprio, "mudou o Brasil", toda a criação dos anos 2000 fora apenas um reflexo das pretensões e aspirações artísticas de seus criadores. Se não existe mais repressão política, se o país a partir de 2003 virou o novo Éden, e o amor e sexo estão banalizados; contestar e romantizar pra quê? Além do mais, não é preconceituoso dizer que num país iletrado como o Brasil onde Educação não é prioridade não dá pra esperar nada de relevante em relação à arte. O que temos produzido em todas as esferas musicais do mainstream brasileiro é puro lixo; produto da nossa deseducação e o apreço pela mediocridade.

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE - CLI
Anunciar bandas e shows de Rock e Heavy Metal

No livro "A Era do Vazio", Gilles Lipowetsky faz uma análise profunda da pós-modernidade e o que ele expõe é como a arte em geral está se fragmentando, indo cada vez mais rumo ao vazio. O traço de substância estética e "concreta" que tínhamos ontem, cada vez mais vai se tornando artificial e estéril. Nada dura, nada se retém. Sua consideração faz sentido, afinal, quantas Legião Urbana e quantos Drummond de Andrade se vêem surgindo hoje em dia? Ele ainda afirma que o pós-modernismo não passa de um outro nome para designar o declínio moral e estético da nossa era; que os produtos culturais são industrializados, subordinados aos critérios de eficácia e de rentabilidade, ou seja, são feitos unicamente com a finalidade de serem comercializados.

[an error occurred while processing this directive]

Outro escritor, Simon Reynolds, autor do livro "Retromania" (ainda não lançado no Brasil), esclarece que de tempo em tempo têm-se um "revival" na música, mas que os anos 2000 foram marcados pelo "fiasco" e que chegamos ao "fim da linha" da criação artística.

É o triste fim do Rock Brasil.

Compartilhar no FacebookCompartilhar no WhatsAppCompartilhar no Twitter

Receba novidades do Whiplash.NetWhatsAppTelegramFacebookInstagramTwitterYouTubeGoogle NewsE-MailApps


Kaledonia


publicidadeAdriano Lourenço Barbosa | Airton Lopes | Alexandre Faria Abelleira | Alexandre Sampaio | André Frederico | Andre Magalhaes de Araujo | Ary César Coelho Luz Silva | Assuires Vieira da Silva Junior | Bergrock Ferreira | Bruno Franca Passamani | Caio Livio de Lacerda Augusto | Carlos Alexandre da Silva Neto | Carlos Gomes Cabral | Cesar Tadeu Lopes | Cláudia Falci | Danilo Melo | Dymm Productions and Management | Efrem Maranhao Filho | Eudes Limeira | Fabiano Forte Martins Cordeiro | Fabio Henrique Lopes Collet e Silva | Filipe Matzembacker | Flávio dos Santos Cardoso | Frederico Holanda | Gabriel Fenili | George Morcerf | Geraldo Fonseca | Geraldo Magela Fernandes | Gustavo Anunciação Lenza | Herderson Nascimento da Silva | Henrique Haag Ribacki | Jesse Alves da Silva | João Alexandre Dantas | João Orlando Arantes Santana | Jorge Alexandre Nogueira Santos | José Gustavo Godoi Alves | José Patrick de Souza | Juvenal G. Junior | Leonardo Felipe Amorim | Marcello da Silva Azevedo | Marcelo Franklin da Silva | Marcelo Vicente Pimenta | Marcio Augusto Von Kriiger Santos | Marcus Vieira | Maurício Gioachini | Mauricio Nuno Santos | Odair de Abreu Lima | Pedro Fortunato | Rafael Wambier Dos Santos | Regina Laura Pinheiro | Ricardo Cunha | Richard Malheiros | Sergio Luis Anaga | Silvia Gomes de Lima | Thiago Cardim | Tiago Andrade | Victor Adriel | Victor Jose Camara | Vinicius Valter de Lemos | Walter Armellei Junior | Williams Ricardo Almeida de Oliveira | Yria Freitas Tandel |
Siga Whiplash.Net pelo WhatsApp
Anunciar bandas e shows de Rock e Heavy Metal

Sobre Paulo Faria

Paulo Faria tem um montão de anos; é um amante do cinema de horror, literatura e rock 'n' roll. É professor por formação, humorista por conveniência, músico por obsessão e escritor por aspiração.
Mais matérias de Paulo Faria.

 
 
 
 

RECEBA NOVIDADES SOBRE
ROCK E HEAVY METAL
NO WHATSAPP
ANUNCIAR NESTE SITE COM
MAIS DE 4 MILHÕES DE
VIEWS POR MÊS