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Rock e Heavy Metal: Uma reflexão sobre jornalismo

Por Rodrigo Contrera
Postado em 07 de março de 2018

Colaboro com o Whiplash.net há quase dois anos. Comecei por um motivo muito pessoal: me expressar a respeito de minhas paixões. Com o tempo, fui me especializando em alguns tipos de postagens, e hoje considero que consigo ver melhor o panorama do rock e do heavy metal, até por acompanhar algo que meus colegas, jornalistas ou não, mas sempre aficionados, também escrevem.

Nesse sentido, tenho reparado em algumas coisas e tretas que cabe comentar aqui. Já postei sobre o que achei do trabalho do Regis Tadeu no que diz respeito ao Manowar (texto que ainda não foi publicado, então não sei se sairá antes deste), e agora considero que posso me espraiar em mais generalidades.

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Não é de hoje que reparo que neste canal colaborativo o sujeito que num determinado momento parece independente de repente se torna figurinha carimbada, começa a dar notas altas para gente com quem trabalha, ou com quem deseja trabalhar, e com isso tudo vira meio que uma questão de assessoria de imprensa e menos de jornalismo.

São vários os casos assim, e não é estranho, dado o atual rumo das coisas. Há poucas horas, inclusive, vi um texto no Medium que falava sobre a geração Y, sobre o que foi feito dela, e acho que inclusive pode ter algo a ver. Procurem.

Sabe como é, o sujeito não tem formação em nada, muito menos em jornalismo, é um cara ou garota de opiniões fortes, quer se expressar, consegue um destaque com parceiros, passa a ter sonhos de celebridade, vira influencer (o que no fundo é a mesma coisa), e aí passa a se convencer de que "dita as normas" no nichozinho que encontrou para suas diatribes. E o jornalismo, nessa brincadeira? Bom, o jornalismo em geral que se foda, não é mesmo?

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Não quero me tachar de diferente. Sou formado em Jornalismo, ok. Isso me torna algo mais gabaritado que a média (além de minha experiência no mercado). Mas realmente, se hoje os meios permitem a qualquer um (mesmo) se tornar uma personalidade conhecida em determinados meios, e a tentar ditar a agenda do dia, qual é o problema?

O problema, creio, é a qualidade daquilo que vemos. Os critérios usados para destacar este ou aquele tema. E mais importante, os dilemas éticos que não vemos, mas que intuímos nisso que vemos.

É nesse sentido bastante complicado quando vemos textos que se pretendem informativos sobre uma banda ou sobre um CD determinado (ou mesmo música, ou mesmo teaser), cuja fonte é uma pessoa qualquer que vive de fazer assessoria para bandas. Ou seja, não estamos, nesse caso em especial, lendo um texto isento. Estamos perdendo nosso tempo lendo um release (que pode ser até bom, mas que é um release). Mas vemos o texto e nada indica isso. Vemos o perfil de quem posta e nada. Custa dizer que é assessor de imprensa da banda? Custa, claro. Custa a credibilidade.

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Por outro lado, entramos em canais de Youtube liderados por gente bastante boa, até, comentando tretas do mercado. Não irei citar nomes. Vemos o programa, e até que gostamos, tecnica e jornalisticamente do negócio. O sujeito que pergunta parece saber do que fala, o sujeito que responde parece envolvido no assunto e na entrevista, etc.

Mas aí, cavoucando um pouco mais, percebemos que aquele canal ganha com negócios feitos com fornecedores de serviços para esse mercado. Mas em nenhum momento lemos quem é que tá pagando por aquilo. Não temos o espaço para o patrocínio nem nada. Cavoucamos algo mais e percebemos que aquele canal se diz "sustentado por meios próprios". Não duvido. Mas porra, não seria legal dizer para quem é que aquele pessoal está direta ou indiretamente trabalhando? Custa? Claro que custa.

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Por outro lado, refletimos sobre aquilo que REALMENTE esse programa nos passa e sentimos um certo aroma de chapa branca no ar. Sabe quando aquele entrevistador NÃO PERGUNTA o que precisa realmente perguntar? Sabe quando ele NÃO SE METE a questionar a opinião do entrevistado? Sabe quando a gente sente que tá rolando, na entrevista, um clima mais de amizade do que trabalho? Pois é. Tem problema aí. Noto isso quase sempre.

Vemos outros sujeitos e garotas que mantêm canais próprios e encontramos bastante material sobre uma penca de assuntos. Tem um canal em especial que me agrada. Mas o garoto que posta lá comenta aparentemente sobre tudo. Diz na descrição que fala sobre o que der na telha. Ok.

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De repente, vejo o sujeito numa entrevista com ele próprio comentando, fagueiro, como faz serviços para fornecedores de produtos etc. para o mercado de rock. Algo de errado nisso? Não, claro. Mas e a isenção? Isso (o fato de prestar serviço) indica que ele não poderá abordar alguns assuntos? Muito provavelmente. Ou seja, ele não fala realmente sobre o que dá na telha. E a credibilidade, nisso tudo? Pois bem, vai pro lixo.

Existem outros canais em que os responsáveis assumem para si um foco bastante claro e em que não parece haver outra intenção senão a informativa. Com o tempo, a gente se deixa convencer disso. Ouve o que se diz com tranquilidade, e a gente percebe que existe uma intenção até jornalística nisso que vemos. A gente consegue sentir a credibilidade. Mas são exceções.

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Nesse sentido, sempre que aparece um novo ator nessa cena eu me sinto bastante animado (e esse é um dos principais motivos por que continuo escrevendo no whiplash, que é colaborativo). Vai que o sujeito que surge é um sujeito com um conhecimento mínimo do assunto, que tem isenção, que escreve bem e que me faça pensar algo sobre o mercado em que vivo. Às vezes, surgem gratas surpresas.

Mas aí vemos que muitos não gostam de isenção. Não gostam que as pessoas tenham suas próprias opiniões a respeito de algo que por algum motivo é importante para esses leitores. Daí achincalham, xingam, até tentam humilhar, etc. Isso desanima aqueles que não têm estômago de avestruz, claro.

Nesse panorama genérico, sujeitos como o Regis Tadeu destoam da linha geral. Ele, que por vezes exagera, pelo menos vocifera com algum conhecimento real do assunto. Destoa do tom geral da imprensa e da mídia e faz a gente pensar. Muitos podem não gostar, claro. Mas seja como for, a gente aproveita.

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Sou da geração de sujeitos que liam o H. L. Mencken em traduções pela Companhia das Letras. De caras que imaginavam como seria escrever como um Edmund Wilson. De sujeitos que entronizavam jornalistas já clássicos, como Karl Kraus. De sujeitos que sonhavam em escrever algo parecido com um Gay Talese. De sujeitos que riam desbragadamente com a coluna na Folha do Paulo Francis. Diante desses parâmetros, sujeitos como o falecido Daniel Piza eram menores.

Mas não é todo mundo que pode querer ter modelos tão elevados de qualidade nesse ramo tão prostituído como o do jornalismo e das mídias sociais. Pois, como a expansão do digital, todos os meios mudaram. Hoje, praticamente qualquer um consegue ter, sem muita dificuldade, mais de 50 mil seguidores nas diversas redes que pululam por aí. Quem é então que consegue manter qualidade, credibilidade e potencial de marketing, nisso tudo? Isso parece ser exigir demais.

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Quando me meto a escrever sobre assuntos aqui, no Whiplash, em geral é com base em minha própria experiência de vida e profissional. Sempre que tenho um relacionamento profissional com a fonte (ou com o mercado em que ela, a fonte, atua) deixo isso claro bem no começo daquilo que escrevo (que nesse sentido deixa de ser uma matéria). Quando estou fazendo um release deixo claro que faço um release, que não é uma matéria. Quando escrevo uma opinião, deixo claro que não é uma matéria, mas um artigo opinativo. Para tudo tem a caixinha determinada.

Fico chateado, contudo, quando isso não acontece por aí. E bastante irritado quando percebo as tretas que servem para segurar as contas daqueles que escrevem ou que falam nos vídeos por aí. Quando sinto que a informação é a forma pela qual o sujeito conquistou minha confiança. Mas que de repente a perdeu.

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Vivemos numa sociedade pobre de profissionais gabaritados. Pouco importa que o desemprego esteja tão alto, atualmente. O fato é que, se por um lado as vagas exigem muito, por outro os cargos disponíveis em geral são para atividades mais rasteiras. O que dizer então dos profissionais de escrita?

Nesse sentido, quem resolve pegar em armas (imagem para me referir à caneta) em nome de um mercado - o de rock e heavy metal - repleto de tretas, de monopólios ou oligopólios, de climas de compadrio em prol de muito poucos, e isso para ganhar honestamente uns poucos tostões, merece em geral nossa admiração.

No município em que eu moro, por exemplo (de 220 mil habitantes), não achei UM(a) estudante de jornalismo que possa me ajudar num projeto informativo para uma região muito carente. Imaginem se eu conseguiria achar um sujeito ou garota que quisesse viver de escrever literatura ou mesmo de escrever nos poucos meios de que dispomos.

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São 6h20 da manhã de quarta-feira. Tenho uma entrevista à tarde. Acordei sem querer lá pelas 4h, e não peguei no sono novamente. Resolvi escrever estas linhas para motivar uma certa reflexão. Pois andei vendo outros sites de rock, e reparei como são (e continuarão sendo) poucas as alternativas para quem quer conjugar informação, credibilidade e paixão.

Meu principal foco aqui neste artigo versou sobre credibilidade. Depois pretendo falar sobre outros tópicos, tais como a encheção de linguiça costumeira para levantar o nome de determinadas bandas, a bobagem que é repercutir tretas (muitas vezes até judiciais) entre partes conhecidas envolvidas só para fingir isenção, etc. Sei que vão surgir os pés no saco que vão reclamar, achar que tô enrolando, etc. Fodam-se eles. Em jornalismo, antes de mais nada é preciso falar o que importa.

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Como consegui viver de Rock e Heavy Metal

Paro por aqui.

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Sobre Rodrigo Contrera

Rodrigo Contrera, 48 anos, separado, é jornalista, estudioso de política, Filosofia, rock e religião, sendo formado em Jornalismo, Filosofia e com pós (sem defesa de tese) em Ciência Política. Nasceu no Chile, viu o golpe de 1973, começou a gostar realmente de rock e de heavy metal com o Iron Maiden, e hoje tem um gosto bastante eclético e mutante. Gosta mais de ouvir do que de falar, mas escreve muito - para se comunicar. A maioria dos seus textos no Whiplash são convites disfarçados para ler as histórias de outros fãs, assim como para ter acesso a viagens internas nesse universo chamado rock. Gosta muito ainda do Iron Maiden, mas suas preferências são o rock instrumental, o Motörhead, e coisas velhas-novas. Tem autorização do filho do Lemmy para "tocar" uma peça com base em sua autobiografia, e está aos poucos levando o projeto adiante.
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