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MC5: resenha de show da banda no Campari Rock 2005

Fonte: Rockwave
Postado em 19 de agosto de 2005

Antes que o show do MC5 começasse, já havia algo de diferente no ar. Primeiro que tinha segurança para todo lado. Segundo que o número de fotógrafos na frente do palco aumentou em proporções disparatas. Onde, em geral, havia meia dúzia de gatos pingados, havia então uma horda de tigres famintos. Aquilo que a gente já podia chamar de "massa" durante o show das Mercenárias, estava agora encorpada. O espaço normalmente vazio, do lado esquerdo do palco, perto da entrada dos fotógrafos já não era mais aquele oásis que era antes. As pessoas que tinham sacado que não ia dar pra ver muita coisa lá na frente, grudavam nos telões - e a organização do Campari acertou em cheio em espalhar telões pelo espaço.

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Antes mesmo do show começar, qualquer agitação por trás das cortinas do palco era notada. A ansiedade do público estava à flor da pele e qualquer ruído que parecesse com um instrumento musical atraía a atenção.

Eram eles. A maior banda de garagem de todos os tempos, aquela que foi mais longe, aquela que explorou melhor o campo do rock'n'roll e foi lá longe, bater cabeça com o free jazz e voltou inteira, sem perder um tiquinho que fosse da sua identidade.

Não podia ser diferente. Os organizadores do festival são fãs da banda e o disco de estréia dos caras, "Kick Out The Jams", deve fazer parte da dieta alimentar deles desde a época em que eles largaram o sucrilhos. Por causa disso, um show do MC5 precisa de uma abertura, uma introdução, como aquela que John Sinclair faz no disco.

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E é o que rola.

Enquanto a apresentação acontece, o zumbido dos amplificadores se faz presente e, quando as cortinas se abrem, ao som de "Ramblin' Rose", você tem a certeza de que não vai ficar pedra sobre pedra. É uma rajada sonora que vem do palco colidindo frontalmente com o urro de satisfação da platéia saudando o início do show. O resultado é impressionante.

Na linha de frente, a guitarra endemoniada de Wayne Kramer (vestido completamente de branco) e o baixo de Michael Davis - abrem todas as válvulas de descarga sonora da tua cabeça.

Você vê o jeito como Wayne empunha a guitarra e não resta a menor dúvida: ela é a mulher dele. Bonnie & Clyde. Mais que isso: ele faz o que bem entende com ela. As notas saem deslizando e, em seguida, são atiradas, cuspidas. É lento e rápido alternadamente e preciso o tempo todo. Não é humano. É animal. Instintivo e mortal. Você não faz isso que ele faz com a guitarra porque quer. É ela que faz isso com você. É ela que faz isso com ele. Wayne Kramer e a guitarra são uma coisa só. Ele faz base, ele sola, ele faz o diabo.

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A base preciisa proporcionada pela cozinha de Michael Davis e Dennis Thompson dá total liberdade para as guitarras dialogarem. Até rebola para o público, impressionado com a receptividade da platéia.

A idéia de convidar Mark Arm, do Mudhoney, para fazer vocais em boa parte das músicas não poderia ser mais acertada. O Mudhoney talvez seja o melhor discípulo do MC5 sem que, para isso, seja reverente. No show, Mark é reverente. Abre espaço para a banda e faz a sua parte do seu jeito e o jeito que ele faz honra o falecido e selvagem Rob Tyner.

A lembrança dos antigos integrantes está com eles o tempo todo e Wayne explica. "Cada música que a gente toca traz pedaços da nossas história. É um pouco de cada um de nós. A música que a gente vai tocar agora foi escrita por Fred Smith (a platéia urra diante da menção no nome de mr. Sonic) faz trinta anos. Trinta anos atrás havia uma guerra e nós odiávamos essa guerra. Agora, trinta anos depois, há outra guerra e nós odiamos essa guerra também",diz Wayne antes de quebrar tudo com "Over And Over".

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Com apenas três discos na discografia - "Kick Out the Jams" (1969), "Back in the USA" (1970) e "High Time" (1971) - tudo que a banda fez foi desfiar seus clássicos.

Não houve sequer um ponto baixo no show.
Nada.
Foi impecável.

A banda saiu do palco sem tocar "Kick Out The Jams" e, pra qualquer um, seria um indício claro que haveria bis.

E houve.

Wayne pega o microfone e diz "Right now it´s time to..." e é completado por um coro gritando "KICK OUT THE JAMS, MOTHEFUCKER".
Eu achava que ia terminar depois disso, mas não.

Teve "American Ruse", teve um segundo bis, quando todo mundo já começava a achar que tinha acabado, teve "Rocket Reducer No. 62 (Rama Lama Fa Fa Fa)" e teve "I Want You Right Now".

No final do show, Mark Arm foi para o mosh e quase foi detido pelos seguranças. Não fosse a intervenção do próprio André Barcinski, um dos curadores do festival, talvez não tivéssemos tido essa chave de ouro para um show histórico.

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No final, a banda toda se reúne na frente do palco e se curva em agradecimento e, só então, Mark descobre onde estavam seus sapatos, devolvidos pela platéia e colocados lado a lado sobre o palco.
Um show memorável.

Quer uma boa notícia?

Eles estão gravando um disco novo.
Sem pressa e sem pressão, mas estão.

A gente esperoou 30 anos por este show e ele valeu a pena, porque imaginar que com um disco isso possa ser diferente?

Gotta keep movin'... Gotta keep movin'.

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