Eddie Vedder fala sobre shows do Pearl Jam no Brasil
Fonte: Folha Online
Postado em 10 de novembro de 2005
THIAGO NEY
da Folha de S.Paulo
Há 15 anos que a história é a mesma. Janeiro chega, começam os rumores de quais artistas pop vêm tocar no Brasil. E toda vez, sim, TODA VEZ, duas bandas são sempre citadas como as que finalmente visitariam o Brasil: Pearl Jam e Pink Floyd.
Bem, esta última deve continuar freqüentando as previsões de shows para o ano que vem, já o Pearl Jam vem, e vem com a missão de "justificar" e "fazer por merecer a espera", como afirmou à Folha Eddie Vedder, o recluso líder e vocalista da banda, além de ativista político/ambiental.
Pearl Jam fará, a partir do dia 28, cinco shows no Brasil, país no qual já venderam 1,2 milhão de cópias de seus sete discos de estúdio --no mundo, são 46 milhões. Além desses, a banda, a partir de 2000, passou a lançar dezenas de discos ao vivo, cada um deles contendo material de shows.
Pearl Jam é o último sobrevivente do grunge, o movimento saído de Seattle que expeliu Nirvana, Soundgarden, Alice in Chains, Mudhoney (que abre os shows do Pearl Jam aqui), que mudou a moda e o comportamento do rock para sempre.
A seguir, Eddie Vedder.
Folha - É a primeira vez que vocês farão shows no Brasil, mas você já veio ao país, certo?
Eddie Vedder - Sim, vim com os Ramones, em 1996, quando eles foram tocar aí. Era muito amigo de Johnny [Ramone; guitarrista, já morto]. Mas passei a maior parte do tempo no hotel, ou no carro. Vi Dee Dee [baixista dos Ramones, já morto] se desentender com alguém e bater nele... Os Ramones, no Brasil, tinham a atenção que mereceriam receber no resto do planeta. Mas eles viajaram muito ao Brasil, então isso se justifica. É estranho porque, vendo aquilo, me sinto como se o Pearl Jam não merecesse toda a atenção que estamos recebendo, já que é a primeira vez que vamos ao Brasil.
Folha - Há algumas semanas houve uma polêmica aqui, envolvendo a Prefeitura de São Paulo, moradores da região do estádio onde será o show e os promotores do evento. Os moradores reclamavam do barulho e do transtorno envolvendo o show, mas no final a prefeitura liberou o estádio. Você ficou sabendo da história? O que acha de fazer shows em estádios?
Vedder - Estávamos trancados no estúdio, gravando músicas para o próximo disco, então não ficamos sabendo disso. Mas o problema parece ter sido contornado, por isso não chegou até nós. Acho que o rock and roll não recebe o reconhecimento que deveria, por tudo o que proporciona. Digo isso porque em Seattle, por exemplo, a cena musical ajudou a cidade a ser conhecida mundialmente, até financeiramente, então os artistas mereciam um respeito muito maior do que o recebido.
Quando tocamos em estádios nos preocupamos com a segurança dos fãs. Principalmente desde o que aconteceu em Roskilde [em 2000, oito pessoas morreram esmagadas durante show da banda no festival dinamarquês], é a nossa maior preocupação. Temos pessoars que viajam antes aos locais para garantir a segurança.
Folha - Você participou da campanha de Ralph Nader [candidato independente] nas eleições presidenciais norte-americanas de 2000 e escreveu uma canção chamada "Bushleaguer", em que critica George Bush. Por que optou por Nader e qual o sentimento em relação à política dos EUA hoje?
Eddie Vedder - Apoiei Nader, com a banda, porque o considerávamos o mais progressista ali. Além disso, sentíamos que Al Gore tinha uma oportunidade forte de vencer a eleição sem muito esforço, já que concorria com um desajeitado governador do Texas. Queríamos aproveitar a oportunidade de apoiar uma terceira via, de levantar questões que não eram comentadas pelos democratas e pelos republicanos.
É incrível olhar para trás e ver o que aconteceu de lá para cá. Especialmente no último ano, desde que Bush foi reeleito, tantas coisas aconteceram que parece ter sido o ano mais longo pelo qual já passei. Não é um tempo fácil para nós americanos. Sabemos que muitas coisas poderiam ter sido evitadas.
Folha - Durante os anos 90, o Pearl Jam era tido como uma banda que se autosabotava, ao recusar conceder entrevistas, participar de campanhas de marketing dos discos, ao escolher canções difíceis como singles. Vocês realmente recusaram o sucesso?
Vedder - As escolhas que fizemos naquela época nos trouxeram até aqui, e hoje continuamos juntos, gravando discos e excursionando, é bom isso. Quando "Ten" [1991] saiu, foi meu primeiro grande trabalho como músico, e uma de nossas motivações era proteger nossas condições para gravar discos no futuro; precisávamos da certeza de que teríamos espaço para evoluir. Já com aquele disco, tínhamos de fazer coisas que não gostávamos, como aparecer em fotos em todos os lugares... Não queríamos aquilo, ser megastars. É engraçado, pois Johnny Ramone sempre esperou por aquilo. A cada disco que lançava, ele tinha a esperança de que os Ramones iriam estourar, mas nunca aconteceu. E conosco foi logo de cara. Foi bom, porque vimos como é estar no topo, e que aquilo não nos interessava.
Folha - Foi notória a briga de vocês com a Ticketmaster [empresa que controla a venda de ingressos para shows nos EUA; a banda queria baixar preços]. No final, vocês não conseguiram o resultado esperado. Algo mudou com aquilo?
Vedder - Quanto mais nos envolvíamos em shows, víamos que aquela companhia trabalhava de forma que não concordávamos, parecia antiético, um monopólio. Mas eles tinham muito dinheiro, fizeram lobby forte. Com aquilo, percebemos como o governo e as corporações trabalham quando se sentem ameaçados por algo. Tinha a ver com o preço dos ingressos, mas vimos que o governo tratou a questão da mesma forma com que trata a poluição dos oceanos ou a emissão de gás carbônico na atmosfera.
Folha - O grunge mudou o jeito de o rock ser feito. Há quem diga que foi uma revolução. Concorda?
Vedder - É uma questão difícil de responder, estava metido lá dentro. Eu era consciente do que ocorria. Ainda odeio reclamar sobre isso, mas não tem jeito: quanto mais sucesso fazíamos, mais desconfortáveis ficávamos. Era como estar numa selva e não poder enxergar o que acontece fora.
Folha - Pearl Jam é uma das bandas mais esperadas para tocar no Brasil nos últimos 15 anos. Tinha idéia que eram tão grandes aqui?
Vedder - Me falaram disso, e fiquei emocionado. Mas até as pessoas nos verem ao vivo, sinto que isso não é merecido. Porque é ao vivo que nossa banda consegue se expressar de forma inteira. Não sei o que tocaremos. Mas todos os shows serão diferentes.
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