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Fúria: a história e as histórias do heavy metal no Brasil

Por Luiz Cesar Pimentel
Fonte: R7
Postado em 15 de julho de 2012

Na real, eu mesmo estou escrevendo. Mas será/é um livro with a little help from my friends. Junto ao trio do Wikimetal, meus amigos de três décadas Nando Machado, Daniel Dystyler e Rafael Mazini. E com quem mais tiver histórias pra contar.

Já fiz a pesquisa inicial, e a espinha dorsal do livro está armada. O que faltam são as histórias do resto do País, pois é uma cena underground, sem muito registro a não ser as experiências de quem participou dos eventos. Participei desde o início dos 80, mas das coisas de SP. Fatos principais estão elencados, mas histórias são o que montam a história. Caso tenha alguma(s), clique aqui para chegar à área do site onde está sendo publicado e colabore.

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Bora escrever juntos?

Segue o prefácio.

Fúria – a história e as histórias do heavy metal no Brasil

Prefácio - Carmina Burana

O Brasil era um país bem estranho em 1985, 1986. Não se votava para presidente – o primeiro presidente pós abertura foi Tancredo Neves, que morreu antes de assumir deixando involuntariamente a nefasta herança de José Sarney e seu Plano Cruzado, que colocou o país de joelhos. Não existia TV a cabo e o país parava pra assistir Roque Santeiro à noite, ou Sala Especial (soft pornô) às sextas. Os traumas geracionais eram a descoberta da camada de ozônio e o perigo da passagem do Cometa Halley. Além, é claro, da escala de crescimento dos casos de HIV positivos, então conhecidos como aidéticos. Ou ainda pior, contaminados pela "peste gay".

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São Paulo era mais estranha ainda, pois o fluxo de informações não era como o atual e a cidade era ainda mais vértice representativo do país. O prefeito era Jânio Quadros, eleito com o jingle "Varre, varre, vassourinha...". O grande programa para a garotada era ir a um cinema na avenida Paulista, assistir os sucessos em cartaz, como "De Volta Para o Futuro" e "Goonies" e emendar com um lanche em um dos dois McDonald´s da via marco da cidade.

Mas o que mais recordo desses meados de anos 1980 é do calor que fazia. É uma memória que quase traz o sentimento físico. Certamente propiciado porque, independente das condições de tempo e temperatura, o uniforme que meus amigos e eu vestíamos não fugia da calça preta apertada (quase um torniquete no tornozelo), tênis Pony branco de cano alto, camiseta preta, casaco de couro (courino, melhor colocando) estilo motorcycle man, zíper cruzado no peito, e colete jeans com patch a cobrir as costas todas por cima.

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Era assim que estava a turma de headbangers na tradicional manhã de sábado em frente à Woodstock Discos, na ladeira da Rua Doutor Falcão, no centro da cidade. Era assim todos os sábados.

Woodstock era a rede social paulistana headbanger à época. Dá para dizer que era a rede social brasileira, já que vinha gente de todo o Brasil para saber e consumir as novidades metal, como os irmãos Cavalera. "O Walcir (Chalas, dono da loja) se ligava no perigo que eu e o Max (Cavalera) passávamos, por isso abria a loja mais cedo só para a gente comprar. Depois voltávamos de ônibus para Belo Horizonte e gravávamos milhões de fitas para a galera", contou em entrevista recente Igor Cavalera, narrando a epopeia antes de formar o Sepultura com o irmão.

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Pela loja passavam cerca de 1000 headbangers a cada sábado. Loja cheia, povo trocando ideia, trocando fitas K7 no calçadão em frente, quando surge um pesadelo metal isolado no meio da multidão, um careca do ABC (acrônimo das três cidades industriais da região metropolitana de São Paulo, Santo André, São Bernardo e São Caetano).

A situação dos skinheads à época era bastante confusa. Grosso modo, não existia o alinhamento político do extrato working class da sociedade. Não era a revolta pela ausência de empregos ou pela crise do lixo, como fora na Inglaterra, mas soava e os integrantes agiam mais como se fosse revolta pela revolta, simplesmente. Dentro desse (ou dessa falta de) contexto, nasceu polarização e ódio contra os headbangers.
A recíproca não era verdadeira. Posso dizer porque participava do lado negro e cabeludo da força. Comecei a frequentar a Galeria do Rock quando só havia ali a Baratos Afins (classic rock, novo rock e heavy metal), Grilo Falante (mais classic e menos metal) e a Punk Rock Discos (punk, skinhead e afins). Ficava horas perambulando entre as três e volta e meia dava de cara com um dos meus ídolos do movimento punk/hardcore, como Clemente (Inocentes), Fábio (Olho Seco e também dono da loja) ou Rédson (Cólera). Ou seja, não havia ódio de headbangers. Também não havia amor. Havia admiração pela música. Mas sabe-se lá por quais raios, os skinheads nos adotaram como inimigos e toda semana ficávamos sabendo de caso de headbanger que apanhara.

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Voltando à manhã de três parágrafos atrás, eis que chega um careca do ABC em meia à turma do metal. Maioria do povo ali era moleque (como eu) e interessado tão somente em música (como eu) e não em briga, e torcemos silenciosamente para que fosse alarme falso e que ele saísse sem stress.

Ele não pensava assim.

Começou a causar, até conseguir arrancar uma briga com um headbanger também do ABC – era a vertente do povo do metal um pouco mais velha e com menos paciência que nós.

Começaram a rolar pelo chão da inclinada Rua Doutor Falcão até que o skinhead puxa um machadinho (eles costumavam carregar um) e é desarmado pelo headbanger, que usa a arma contra o dono e crava na parte de trás da cabeça, próximo à nuca, a lâmina.

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Lembro de um silêncio sepulcral nesse instante. Aliás, toda a cena foi tão forte e representativa que ela vem em flashes para mim, quase 30 anos depois.

Próximo flash tem o sknihead subindo a rua praguejando e fazendo ameaças de morte por quem passava. Mas ainda com o machadinho cravado na cabeça.

História real. Mais que chocante, representa em quase plenitude o que era o movimento heavy metal brasileiro na gênese.

Fomos e somos os ratos do subterrâneo da música popular brasileira (afinal, quem na música brasileira é mais popular que o Sepultura no exterior? Tom Jobim? Ok. Mas segundo lugar é considerável.).

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Nascemos e nos reunimos no centro sujo da cidade. Escondidos (ou ocultos) do cenário televisivo. Mas nós não estávamos interessados em ver ou em ser vistos. Pois mesmo como aqueles que a televisão não mostra, até hoje, somos os únicos de um movimento que ainda lota estádios em shows, como Metallica e AC/DC. Somos milhões. No underground. Quais ratos.

Mas sempre estivemos ali pela música. Seja trocando fitas na porta de uma loja, seja em páginas de revistas criadas por nós e que até hoje estão em circulação, seja na internet e agora em livro. Pois nosso princípio básico é um só: viva sua vida da maneira que quiser assim como vivo a minha, e se existe uma diferença entre nós é que gosto de música extrema. Isso não faz de mim um maníaco. Mas também não faz de mim um covarde. Pelo contrário. É uma filosofia que nos orgulha. Épica, diria.

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Como todo épico, tem seus heróis. Aqui vão eles. Está dada a largada da saga.

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Sobre Luiz Cesar Pimentel

Luiz Cesar Pimentel é jornalista, escritor e diretor de conteúdo do portal R7. Jornalista desde 1992, e autor dos livros Sem Pauta - Reportagens, Histórias e Fotos de um Jornalista pelo Mundo (Ed. Seoman, 2005), compilado de coberturas em 18 países como correspondente, e Você Tem que Ouvir Isso! (Ed. Pensamento, 2011). Trabalhou na Folha de S Paulo, Editora Abril, Trip, os portais Starmedia, Zip.net, UOL e Virgula além de ser colunista e colaborador de Caros Amigos, Carta Capital, Playboy, Rolling Stone, Sexy, Jornal da Tarde, Elle e Superinteressante.
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