Camisa de Vênus: Botando pra f***r ao vivo com "O Adventista"
Por Claudinei José de Oliveira
Fonte: rollandorocha.blogspot
Postado em 28 de março de 2015
O crítico que escreveu, na antiga revista "Bizz", a resenha do álbum "Viva", registro ao vivo da banda Camisa de Vênus, lançado no ano de 1986, observou que, ao colocar o disco para tocar, ficou com vergonha do próprio filho, tamanha a quantidade de palavrões presentes na gravação. Tais palavrões, aliás, eram responsáveis pela quase que total "proibição de execuções públicas" das faixas do álbum. Na época, eufemismo para uma espécie de "censura parcial": o disco poderia ser lançado e comercializado, porém, não poderia ser veiculado pelos meios de comunicação, como rádio e televisão. Paradoxo típico de um país que havia acabado de sair tortuosamente de uma ditadura militar.
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Capa do álbum "Viva"
A banda Camisa de Vênus era uma herdeira direta e/ou uma filha bastarda do espírito "punk rock" que, na segunda metade da década anterior, a partir da Inglaterra, veio para purgar o rock de seus excessos. Líder, ou melhor, mentor intelectual da banda, o vocalista e letrista Marcelo Nova, leitor de Plínio Marcos, sabia muito bem que uma boca suja causava estardalhaço. Verborrágico que só, soltava máximas pelos cotovelos, sem se preocupar muito com concordâncias: é de uma renitência homérica as vezes em que, bem ao espírito punk, narrou o rompimento entre sua banda e a gravadora por causa da inconveniência do nome Camisa de Vênus. Rompimento este, bastante nebuloso, visto que grande parte da obra da banda e de sua carreira solo foi lançada por tal gravadora.
O "punk rock" veio para, como dito, limpar o rock de seus excessos e uma das consequências foi a eliminação ou o enfraquecimento da barreira entre músicos e plateia, numa espécie de "back to the basics", ou, na máxima punk, "do it yourself": se o que você está ouvindo não te satisfaz, faça você mesmo o que quer ouvir, sem se importar se tem o talento ou o dom para fazer.
Esta espécie de "volta aos princípios" trouxe de volta, para o rock, o lado casca grossa, sem educação, impertinente, desafiante e petulante presente lá nos primórdios do rock'n'roll. A boca suja de Marcelo Nova nada mais era do que a tradução para o Brasil do rock feito na época, assim como seu ídolo Raul Seixas tinha feito dez anos antes. Afinal, os Sex Pistols, a banda que inaugurou o punk rock não teve um contrato rescindido com uma gravadora por ter, pioneiramente, soltado um "foda-se" num programa de televisão? Perdeu o contrato e ganhou evidência.
Voltando ao álbum Viva, uma música se faz a perfeita ilustração da simbiose entre artista e plateia. A música "O Adventista" em si, não é lá grande coisa. Letra simples e datada por citações da "Nova República" e "Xuxa e Pelé" que, por exemplo, só dizem algo a quem viveu ou estuda a década de 1980.
Porém, por sua sequência na lista de canções, como música de encerramento, "O Adventista" implica uma atemporalidade contundente, estabelecendo um parâmetro conceitual ao álbum em sua significância histórica. A plateia, que ao longo da execução da canção, vinha cantando junto o refrão "não vai haver amor nesse mundo nunca mais", continua, no final, a repeti-lo, bem ao espírito dos coros nas tragédias da antiga Grécia, com o acompanhamento musical da banda, enquanto o vocalista, num tom de extremo deboche, recita o Pai Nosso. Catarse coletiva.
Se Aristóteles estava certo e a função da tragédia era o descarrego do drama existencial nos espectadores, temos aí a mais clássica arte. Mas, também, temos a realidade católico-cristã encalacrada na "ordem e progresso" e empurrada goela abaixo na molecada dos "anos 80" pega no contrapé. Punk na veia.
Camisa De Vênus "botando pra fuder"
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