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Gosotsa: "As críticas, na prática, não valem de nada"

Por Pedro Hewitt
Fonte: FullRock
Postado em 09 de fevereiro de 2019

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Entrevista originalmente publicada no site FullRock.

Pedro Hewitt: Olá a todos, um prazer para mim entrevistar mais uma banda desta nova safra do Rock. Dando início, conte-nos como surgiu o projeto GOSOTSA e o porquê de tamanha complexidade nas músicas?

Drannath: O Gosotsa surgiu de um certo sentimento de impaciência diante da estagnação vigente não apenas no Rock, mas em todos os tipos de música, através da assimilação de uma espécie de "teto" em que bate qualquer obra musical de hoje em dia, seja rock, sertanejo ou pop. Pra não se estender muito em detalhes técnicos como estrutura harmônica, escalas etc, não buscamos a complexidade como uma operação olímpica. Na verdade, o Gosotsa nem é tão complexo quanto parece. Temos músicas de difícil assimilação, sim, mas também temos músicas com apenas 3 acordes, como "Mas", temos um blues do mais tradicional possível (ou quase) com "Für Paula", e é este mesmo o DNA do Gosotsa: ter uma obra abrangente através da reinvenção de si mesmo a cada obra. Nosso próximo trabalho será diferente de tudo que já lançamos até o momento.

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Pedro Hewitt: Envolvendo bastante o contexto artístico, como estão lidando com as críticas e como conseguiram ligar todos os pontos que resultam neste atual momento que se encontra?

Drannath: As críticas, na prática, não valem de nada, pois não interferem de forma alguma na nossa produção e/ou na nossa concepção sobre o que é Arte. Claro que é legal ouvir um elogio de vez em quando mas, de fato, é geralmente tão raso quanto as críticas, que pra nós vêm aos montes, pois trazemos elementos musicais que a maioria dos simples consumidores de música, os ouvintes medianos, não reconhecem ou têm qualquer familiaridade. Como tratamos alguns acordes com muitas dissonâncias, os ouvidos habituados com o sistema tonal popular simplesmente não conseguem distinguir lé de cré e tudo vira uma só massa de barulho, pois a abrangência de sutilezas é muito maior com as dissonâncias do que com o sistema tonal de acordes maiores/menores ou bicordes, mas também se exige mais do ouvinte e, realmente, não temos piedade de judiar de ouvidos virgens ou quadrados. Mas chegar neste atual momento artístico foi um trabalho árduo de anos e anos, mais de dez, pra ser mais exato. É difícil de explicar em poucas palavras, mas começou como é até hoje: um acorde foi puxando o outro, uma melodia puxando outra, e a coisa foi se fazendo por si só, como fruto de uma Necessidade, de uma Força Maior.

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Pedro Hewitt: No movimento Glam (seja Metal e/ou Rock) sempre houve duras barreiras, aliás, qual gênero não há?!? Mesmo se adequando com temas atuais, a banda leva em conta bastante conteúdo antigo. O que está mais complicado para se encaixar atualmente no mercado sonoro no Brasil?

Drannath: Acho que tudo! Seja para as bandas mais clichês, seja para os que se propõem a trazer algum frescor, como nós, realmente quase não há mais espaço para o Rock, especialmente no Brasil, que atravessa uma fase de glamurização da ignorância, onde se tem orgulho de ser massa de manobra, de pertencer a uma maioria consumidora, onde a lei do "quanto mais parecido, melhor" impera sem escrúpulos. A qualidade musical do mainstream nunca esteve tão baixa, dominados por sertanejos e cantoras pop que se copiam inadvertidamente. Realmente estamos nos metendo num buraco com lama até o pescoço, mas temos que seguir com nosso destino, que é produzir arte sem contar com garantia alguma de reconhecimento. Talvez nossa arte nem seja para nosso período de vida… não porque somos avançados, mas sim porque o mundo está muito atrasado, paradão no tempo.

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Pedro Hewitt: Seguindo quase a mesma linha de raciocínio, com algumas polêmicas envolvidas sobre a questão de gênero, envolvimento direto/indireto com a política, música '"conservadora"', enfim, não poderia deixar de perguntar, como está sendo a fase ou como foi se acostumar com alguns olhares tortos e críticas ácidas?

Drannath: Já sou macaco velho na arte de incomodar, desde muito novo adoro extravagâncias que geram críticas ácidas. Imagine você, com 15 anos de idade numa escola de periferia, no auge da era do pagode, aparecer de lápis no olho no pátio… até minha ex-banda, o Bastardz, se incomodava comigo usando calcinha no palco –que era nada mais nada menos que uma atitude de afronta para irritar os rockeiros conservadores – coisa que os deixava receosos. Eu até dou risada de alguns comentários mas, como disse antes, não dou a menor bola. Cada um fala o que quer e o artista tem mesmo que dar a cara a tapa, mas tem que manter coerência sobre o que acredita.

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Pedro Hewitt: O GOSOTSA vai além do que a música pode transmitir, ainda mais em se tratando de um trabalho independente. Existem uma variedade de itens disponíveis que instigam o público a saber cada vez mais sobre vocês. Cada integrante cuida de uma área especifica do trabalho. Quais os próximos passos?

Drannath: Estamos na busca por uma editora para lançar nosso livro ilustrado, que é uma complementação poética à trilogia dos discos de "O Sol Tá Maior". Também vamos finalmente lançar oficialmente, agora em março, e disponibilizar para streaming o EP "O Sol Tá Maior I", gravado em 2011. E já estamos em estúdio gravando nosso próximo disco! Estamos também compondo música eletrônica e música erudita. Os quadrinhos com letra de música estarão disponíveis para compra em breve. E vamos tentar botar no teatro nossa peça. 2019 promete!

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Pedro Hewitt: A fonte quem sabe um dia acabe, mas a essência nunca. Onde estão as essências de cada um e como renovam as energias para que os discos sempre tenham suas particularidades?

Drannath: Como te disse, um certo sentimento de impaciência é o germe criador do Gosotsa, e esta impaciência se extende até sobre nossa própria obra. Cada disco é diferente e sempre será diferente do outro, com sentimentos, temáticas e estruturas harmônicas inexploradas por nós até então. Meu processo de criação, em particular, é de transpiração. Raramente tenho alguma "ideia" e, quando tenho, é algo muito vago e o resultado final sempre fica completamente diferente do que divaguei. Quando vou compor algo, faço o processo inverso, que é esvaziar completamente a mente e deixar a obra se criar por si só. Desta forma, tudo se faz sob um olhar crítico duro, com total controle sobre o que está sendo feito e, assim, poder garantir algum frescor a cada lançamento.

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Pedro Hewitt: Existem pontos negativos que o público comenta que não são levados em conta? E mesmo não havendo, vocês se auto criticam para evoluírem no som e toda arte para uma melhor execução possível?

Drannath: O público é muito maleável, uma hora diz isso, outra hora aquilo e, se viramos escravos dos comentários deles, não faremos mais nada. Nós temos que estar um passo à frente do público, e não o contrário. Mas nós nos auto-criticamos o tempo todo! Enxergamos melhor que ninguém todos os defeitos em tudo que fazemos, e não são poucos. Nada passa despercebido. Nos cobramos muito, não foi fácil chegar no que chegamos, e ainda temos muito por evoluir. Componho a maior parte das músicas direto na partitura, sem me importar com as dificuldades técnicas da execução, e depois nos fudemos muito para executar o que está escrito (Risos). O Gosotsa é uma banda muito exigente, temos sempre que estar em evolução!

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Pedro Hewitt: O que vocês acham desses artistas que fazem sucesso muito rápido e depois somem? Isto é, sobre o mercado musical atual que se baseia em modismos. E movimentos em prol do Rock, como coletivos, união de bandas etc, vocês acham que funciona a médio e longo prazo?

Drannath: Não sou muito ligado nesse meio, mas acho que os sertanejos atuais são todos assim efêmeros, não? Quem se lembra de "eu quero tchu, eu quero tcha"? Ok, não sei o nome deles e devem ter ficado ricos, não sou eu que vou dizer que estão errados… mas… e daí? A bola da vez (janeiro 2019) é "o nome dela é Jennifer", que o cara teve o dom de rimar "Jeniffer" com "Tinder", e a irrelevância artística é evidente até pra quem consome este tipo de música. Não me incomoda esse tipo de porcaria fazer sucesso, pois música é comunicação e deve-se sempre analisar o contexto social em que se insere cada peça. O que incomoda é a atenção ser TODA para este tipo de efemeridade. Estamos fazendo nossa parte para superar isso, quem sabe um dia. Os coletivos são legais mas, infelizmente, a meu ver, são insuficientes para virar o jogo. O Rock nunca foi unanimidade, mas acho que, no momento atual, só um milagre mesmo pode nos salvar. E eu acredito em milagres!

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Pedro Hewitt: Como observam a inserção dos materiais lançados pelo GOSOTSA até o momento no cenário nacional?

Drannath: Devagarinho, estamos criando um público fiel. Ainda há muita resistência, temos que ter o pé no chão, mas também estamos nos estabelecendo de alguma forma. Não só no Brasil, mas temos também ouvintes da Suécia, Espanha, Portugal, EUA, Inglaterra, França, México, Austrália, entre outros. E cada vez mais veículos de mídia nos convidam para entrevista, fazem resenha dos discos… como se diz por aí, "a direção é mais importante que a velocidade".

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Pedro Hewitt: Sensacional conhecer um pouco mais do trabalho de vocês e de toda arte composta por cada área. Desejo total sucesso e nos vemos por aí! Deixem uma mensagem aos nossos leitores Abraços.

Drannath: Nós que agradecemos! Galera, não sejam preguiçosos! Nos procurem nas plataformas de streaming como Spotify e nas redes sociais. Valeu!!!!

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Sobre Pedro Hewitt

Estudante, Headbanger, amante de relações públicas, responsável pelo Infektor Self Festival & Toque Rápido ou Peça Perdão, trabalha desde 2015 com produção de shows em Teresina. Teve a oportunidade de trabalhar com grandes nomes do Metal como Onslaught, Air Raid, Enforcer, Fist Banger, Escarnium, entre outros.
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