Bob Dylan: Leia na íntegra sua primeira resenha no New York Times, aos 20 anos
Por André Garcia
Postado em 02 de fevereiro de 2022
Quem leu a edição de 29 de setembro de 1961 do New York Times encontrou, entre outras coisas, uma resenha de Robert Sheldon. Ela falava sobre a apresentação de um jovem de apenas 20 anos chamado Bob Dylan, que no ano anterior havia chegado na cidade em busca de espaço em sua efervescente cena folk.
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Dylan se destacou terminando o ano de 1961 como uma figura proeminente. Pelo menos em parte isso foi graças à publicação da resenha de Sheldon. O jornalista apareceu num show do prodígio compositor após muita insistência dele, e suas impressões você confere traduzidas na íntegra abaixo:
"Uma radiante cara nova está surgindo na música folk na Gerde’s Folk City. Apesar de ter apenas 20 anos, Bob Dylan possui um estilo dos mais distintos a tocar num cabaré em Manhattan em meses.
Parecendo uma mistura de coroinha com beatnik, o senhor Dylan tem um olhar angelical e um cabelo despenteado que cobre parcialmente com uma boina de veludo preto. Suas roupas podem precisar de um alfaiate, mas quando ele toca violão, gaita ou piano, e compõe novas músicas mais rápido do que consegue se lembrar delas... não há dúvida de que ele está explodindo de talento.
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A voz do senhor Dylan não é bonita. Ele está ciente tentando capturar a beleza rude de um camponês do sul meditando uma melodia em sua varanda. Carregando essa bagagem em suas notas, a intensidade permeia suas canções.
Humor câmera lenta
Senhor Dylan é tanto cômico quanto trágico. Como um ator de vaudeville no circuito rural, despeja uma variedade de monólogos musicais engraçados: "Talking Bear Mountain" satiriza a superlotação de um barco de excursão, "Talking New York" satiriza sua falta de reconhecimento e "Talking Havah Nagilah" zomba da moda da música folk e de si próprio.
Quando fala sério, senhor Dylan parece estar atuando em um filme em câmera lenta. Frases são desenroladas e esticadas até você temer que elas se rompam. Ele balança a cabeça e o corpo, fecha os olhos em devaneio, parece em busca de uma palavra ou sentimento, então resolve a tensão com graça encontrando ambos.
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Ele pode murmurar a letra de "House of the Rising Sun" rosnando ou soluçando quase incompreensível, ou claramente enunciar a pungência poética de um blues de Blind Lemon Jefferson.
A abordagem altamente pessoal de Dylan em relação à música folk ainda está em evolução. Ele vem absorvendo influências como uma esponja. Algumas vezes, o drama que ele almeja cai num melodrama equivocado e sua interpretação ameaça descambar para o excesso de maneirismos.
Se por um lado não é para todos os gostos, a sua produção musical tem a marca da originalidade e inspiração, o que é ainda mais notável pela sua juventude. O senhor Dylan é vago em relação a de onde ele veio e quando nasceu, mas o que importa é para onde está indo, e isso parece ser direto para cima."
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Fonte:
https://archive.nytimes.com/www.nytimes.com/books/97/05/04/reviews/dylan-gerde.html
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