Dez grandes álbuns que mudaram o mundo mas acabaram estragando a música
Por Bruce William
Postado em 14 de janeiro de 2023
O artigo a seguir foi adaptado de uma curiosa lista elaborada em 2010 pelo Spike.com, mas que ainda continua valendo já que são trabalhos que marcaram bastante a história da música embora talvez nem sempre de forma tão positiva, como vamos entender no texto.
Começando pelo disco de estreia do Rage Against The Machine, lançado em novembro de 1992: "A cena de nu metal rap-rock que explodiu no final dos anos noventa é facilmente uma das piores coisas já vistas na música. De Limp Bizkit a Linkin Park, essas bandas, de alguma forma, pegaram influências de algumas obras muito sólidas e geraram uma máquina a vapor de música enjoativa".
"O primeiro trabalho oficial a misturar rap e rock foi o dueto entre Run-D.M.C. e Aerosmith em 'Walk This Way', mas a banda mais influente que moldou o gênero foi o Rage Against The Machine. Entre o rap gritado de Zack de La Rocha e a guitarra repleta de truques malucos do Tom Morello, o som do RATM pode ser ouvido em quase toda canção rap-rock tocada pela MTV entre o fim dos anos noventa e o início do novo milênio. Mas, infelizmente, para nós os fãs, todos são apenas rascunhos da fórmula original. A estreia do RATM é uma obra prima por si própria, mas é a fonte de onde bandas como Limp Bizkit, Papa Roach e outros vão buscar influências para produzir coisas muito mais comerciais e ridículas".
"Depois de conferir a multidão no show de reunião do Rage Against The Machine no Coachella (2007), ficou claro o quão horrível as coisas ficaram. A maioria dos fãs ali eram idiotas violentos de fraternidades que só foram atraídos por causa da agressividade da música, não tinham interesse pela mensagem, tudo que importava para eles era gritar "Fuck you, I won't do what you tell me" ("Foda-se, não vou fazer o que você me diz", trecho marcante da letra de "Killing in the Name"), apenas porque eles acham que soa legal".
Em seguida outra estreia, o "Appetite for Destruction" do Guns N' Roses, lançado em julho de 1987: "Facilmente um dos melhores álbuns dos anos oitenta, 'Appetite for Destruction' meteu o pé na bunda dos panacas do hair metal e mostrou ao mundo como deve ser uma verdadeira banda de rock. Do vocal marcante de Axl ao virtuosismo de Slash na guitarra, o GNR foi, sem dúvidas, um dos grupos mais importantes da época".
"O único lado negativo é que isto gerou uma série de bandas que tentavam imitar o som, estilo e atitude do GNR. De alguma forma, bandas como Buckcherry e Hinder tentaram pegar essas influências mas criaram os piores pastiches de pop-rock sem sal já feitos. Por causa do GNR o rock imbecil foi oficialmente criado. Até o sucesso do disco transformou Axl em um dos maiores frontmen de todos os tempos em um cara com um ego gigante que perdeu completamente o foco de sua arte. Não foi diferente com o resto da banda".
O próximo é o "Legend", uma coletânea de 1984 que faz um bom apanhado da carreira do Bob Marley, e que mostra o quão genial foi o artista: "Mas a imagem do astro do reggae transformou sua profunda filosofia musical em uma marca corporativa que foi cooptada e é revendida em todo o mundo. Neste sentido, a imagem tem mais a ver com a música em si. Quantas vezes vemos um garoto branco rico andando por aí de dreads falando sobre as coisas boas do movimento Rastafari? A coisa é muito mais profunda que somente a capa do álbum 'Catch a Fire' em todas as paredes de dormitórios de faculdades".
"Never Mind The Bollocks, Here's The Sex Pistols" de 1977 também está aqui: "Projeto de um empresário (Malcolm McLaren) e uma designer de moda (Vivienne Westwood), os Sex Pistols foram basicamente uma boy band do punk rock. Não que o 'Never Mind' não fosse punk em sua raiz sob a perspectiva da banda, mas ele ajudou a transformar o gênero em algo palatável e comercial, fazendo com que o Punk Rock virasse uma marca. Sid Vicious é um bom exemplo, sua contribuição ao punk teve mais a ver com as fotos que geraram muito do visual atrelado ao gênero do que o seu mérito artístico. O punk rock surgiu para que os garotos expressassem sua criatividade e individualidade, e o 'Never Mind' levou o movimento a perder completamente seu propósito original".
"Paul's Boutique" do Beastie Boys, que têm um aspecto curioso por ser inovador tanto no sentido positivo quanto negativo: "Ele é provavelmente o álbum com a maior quantidade de samples jamais vista em outro trabalho, e é algo que jamais vai acontecer novamente pois ele foi lançado em 1989, antes da regulamentação dos direitos autorais relativas à samples. Nele foram sampleadas 105 músicas, e somente na última faixa foram 24 samples de músicas diferentes. Números imensos, algo que nunca mais vai acontecer pois hoje em dia é necessário negociar individualmente o uso de cada sample para evitar problemas legais, o que tornaria uma produção assim absurdamente custosa e demorada".
Temos então o álbum de estreia do Van Halen de 1978: "Todos sabemos que ele foi um dos mais importantes e influentes álbuns de todos os tempos. Mas, ao mesmo tempo, foi um disco que sozinho ajudou a introduzir o glam metal/hair metal que marcou inteiramente os anos oitenta, apesar do Van Halen literalmente acabar com qualquer banda desse gênero. Mas a sua inegável influência ajudou a criar um monte de porcarias que só degeneram o rock. Um dos maiores culpados foi o Eddie e sua guitarra, tocada com maestria e uma atitude meio que adolescente, que criou um estilo que seria imitado mundo afora. Isso seria maravilhoso se uma parte desses imitadores tivessem ao menos metade do talento do Van Halen, o que não foi o caso".
Em seguida é a vez do "Nevermind", lançado pelo Nirvana em 1991: "Como poderia algo tão grande como o Nevermind não estragar as coisas tanto quanto ajudar? Não teria como. Ele se tornou um monstro que nem mesmo Kurt (Cobain) conseguiu controlar".
"O sucesso devastador do álbum por si mesmo destruiu o hair metal e apresentou um movimento musical completamente novo que ficou conhecido como grunge. Poderíamos até incluir álbuns de bandas como o Alice in Chains ou Pearl Jam nessa lista por terem dado origem a coisas como Nickelback e Godsmack, mas a verdade é que se não fosse pelo Nirvana metendo o pé na porta e invadindo o mainstream, bandas como essas nunca teriam uma divulgação tão intensa. 'Nevermind' atingiu um patamar tão alto que obviamente muitos pegaram coisas bem diferentes do Kurt para gravar. Caso do Puddle of Mudd e Saind, que são ótimos exemplos de bandas que simplesmente jogaram tudo na lama. Estar deprimido não necessariamente qualifica alguém a escrever uma boa canção".
Agora o álbum relatado é o "Straight Outta Compton" do N.W.A., de 1988: "É obviamente um clássico e um marca do gênero, mas sem querer o N.W.A. criou um personagem para o gangsta rap e forneceu a todo e qualquer rapper que veio depois uma fórmula de como vender discos. Observe como está o hip-hop nos dias de hoje, repleto de MCs cheios de tatuagens que falam sobre a verdade das ruas e vendem milhões de discos, enquanto rappers com visão mais intelectual e profunda mal conseguem sobreviver. Sem contar que depois desse disco todo garoto branco da América Central cismou de ser gangster e fazer rap, o que foi libertador para alguns mas gerou imitações ridículas e idiotas como Fred Durst e Marky Mark, que não chegariam onde estão se não fosse pelo disco do N.W.A."
"Thriller" do Michael Jackson, lançado em 1982, não poderia estar fora da lista: "Após a morte de Michael, houve uma interminável discussão sobre como o 'Thriller' foi ou não um dos discos mais importantes e inovadores de todos os tempos. Uma coisa é certa, ele gerou uma quantidade absurda de artistas horríveis que tentaram seguir a fórmula estabelecida por esse trabalho. De Britney Spears aos Backstreet Boys, o 'Thriller' fez com que todos quisessem aparecer na MTV fazendo danças sincronizadas enquanto dublam a si mesmo em playback".
"As estrelas pop antigamente eram músicos extremamente talentosos que estavam no lugar certo na hora certa e acabavam atingindo seu lugar ao sol. Peguemos por exemplo o caso de Lionel Richie. O cara fazia de tudo sozinho com a maior facilidade. Tente nomear uma estrela pop atual que saiba ler música, compor e produzir as suas próprias coisas. Hoje em dia a tendência é que as estrelas pop sofram muita interferência ou até mesmo possam ser fabricadas em menor ou menor grau pelas gravadoras e empresários. E o 'Thriller' tem uma grande parcela de culpa nisso".
Por fim, chegamos a Peter Frampton e seu "Frampton Comes Alive!" de 1976: "Este álbum literalmente mudou a música da noite pro dia e transformou o meio em um negócio gigantesco. Pense nele como se fosse o 'Guerra nas Estrelas' ou o 'Tubarão' da indústria da música. 'Rumours' do Fleetwood Mac, lançado no ano seguinte, fica com um honroso segundo lugar, mas o campeão é mesmo o 'Frampton Comes Alive!', que deu ao mundo da música o gosto do sucesso em massa".
"'I'm In You', que Frampton lançou na sequência, é uma perfeita demonstração do caminho que a música tomou após o que aconteceu. Da pressão da gravadora para lançar algo tão bem sucedido quanto o disco ao vivo até a foto de capa com Frampton em pose de modelo, tudo mostra que o mundo da música havia mudado e nunca mais seria igual".
"E o fato de 'Frampton Comes Alive!' ter se tornado o disco ao vivo mais vendido de todos os tempos em tão pouco tempo provou que muito dinheiro poderia ser feito com a música. Isso fez com que as gravadoras repensassem totalmente suas estratégias e afastassem a música das raízes artísticas, passando a ser vista como um grande negócio, o que deu início à era dos pop stars e tornou músicos em produtos tratados não como artistas mas sim como se fossem marcas".
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