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New Face Records: a história de uma das gravadoras mais importantes do Brasil

Por Mário Pescada
Postado em 08 de abril de 2023

Contar e registrar a história do underground nacional e mundial para não esquecermos todos os esforços feitos lá atrás. Esse é um dos motes do No Front Zine, um fanzine que começou em papel xerocado e agora segue digital, mas ainda 100% underground e voltado a cena punk, crust, hardcore e tudo que gira em torno dela.

Na sua edição 2, foi relatada a história da New Face Records, uma das gravadoras/selos mais importantes do Brasil e responsável por lançar por aqui discos nacionais e gringos de até então dificílimo acesso, como RATOS DE PORÃO - "Crucificados Pelo Sistema (1984); THE EXPLOITED - Let’s Start A War!" (1983); OLHO SECO/BRIGADA DO ÓDIO (1985); TERVEET KÄDET - "Black God" (1984); LOBOTOMIA - "Lobotomia (1984) e RATTUS - "Stolen Life" (1987), em meio a um Brasil desgovernado economicamente. Mas, com muita luta e resistência, no melhor espírito punk, o selo conseguiu lançar matéria e criar um ambiente para que a cena se desenvolvesse em seguida.

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A matéria original foi publicada no site de outro zine, o Factor Zero, considerado o primeiro fanzine punk do Brasil. Surgido em 1981, era todo feito à mão, na base do "faça você mesmo". O zine não durou muito e até migrou para a web, mas a última publicação do site é de janeiro de 2019.

Resgatando essa importante matéria, o livro "No Front Zine: Cultura Underground na Escuridão da Guerra...", que traz uma compilação dos nove primeiros números do No Front Zine com quase 600 páginas (!), replica a histórica matéria publicada em 2018 do Factor Zero, confira:

"A New Face Records foi o primeiro selo independente do Brasil dedicado exclusivamente ao punk rock. A história do selo começou com a Punk Rock Discos, loja do Fábio, vocalista do OLHO SECO. Por volta de 1984, a loja que era o principal ponto de encontro dos punks paulistanos, foi praticamente expulsa das Grandes Galerias. O motivo: os outros lojistas reclamavam direto dos frequentadores.

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Ironicamente, hoje o mesmo local é conhecido como Galeria do Rock e o próprio Fábio voltou a se estabelecer por lá, com a Decontrol, também já fechada. O fato é que a Punk Rock mudou-se para uma galeria na Rua Augusta, na esperança de que o público fosse mais seleto. Não deu certo, já que as gangues que então dominavam a cena punk iam lá para brigar.

Enquanto isso, negociamos o lançamento do primeiro disco da New Face, que seria o "Let’s Start A War" do EXPLOITED, na época uma das bandas mais populares do punk mundial. Se não me engano, pagamos dois mil dólares para lançar o disco. O problema é que o cara que mandaria a fita original e toda a documentação recebeu o dinheiro e sumiu. Àquela altura. porém a loja estava fechada e eu sem trabalho. Então decidimos relançar o Grito Suburbano, que havia sido produzido pelo Fábio. Assim, este acabou sendo o primeiro "lançamento" da New Face. E nada da fita do EXPLOITED chegar. Então fizemos mais um relançamento. Desta vez, o "Crucificados Pelo Sistema", do RATOS DE PORÃO.

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Cansados de esperar, escrever cartas e até tentar ligar para o sujeito (seria um milagre eu lembrar o nome) lá na Inglaterra, resolvemos pegar uma cópia zerada do disco importado, alugamos um estúdio e fizemos nossa própria master. Enfim, depois de quase meio ano, colocamos no mercado o LP. Vendemos as mil cópias em menos de uma semana. Depois desse lançamento é que realmente o selo passou a existir.

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(...) Pouco depois, tivemos nossa primeira crise financeira. Após o Plano Cruzado, as vendas simplesmente dispararam, vendemos como nunca e ficamos com o estoque praticamente zerado. Confiamos que o pique de vendas se manteria e fizemos alguns investimentos. Mas o país mergulhou em uma crise de falta de matéria prima. Faltava tudo, desde vinil até plástico para acondicionar os discos. Chegamos a vender discos sem capa, com a promessa de que quando elas chegassem mandaríamos para o cliente!

(...) Licenciamos o LP "The Vikings Are Coming", uma coletânea de bandas suecas do selo Uproar. Não que o disco fosse ruim (era mediano). Ainda sob a euforia das vendas do Plano Cruzado e do êxito da coletânea "Afflicted Cries…" lançada meses antes, resolvemos fazer o disco duplo. Para piorar, nada de mil cópias como trabalhávamos até então, encomendamos logo três mil. O tombo foi forte. Recebemos as capas (e as duplicatas, claro), mas a Fonopress demorou meses para entregar os discos e não tivemos o bom senso de cortar a encomenda. Resultado: tínhamos nas mãos três mil álbuns duplos e dívidas enormes.

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Aos poucos, recuperamos fôlego e em 1989 estávamos fortes novamente. Mas aí começaram os problemas de relacionamento, bastante influenciados pelas cobranças da família do Fábio, que não via o negócio como lucrativo. Assim, ele resolveu mudar de ramo (tecidos). Então a New Face ficou em minhas mãos. (...) Então, o Luizão, na época baixista do OLHO SECO, propôs comprar a New Face.

Vendi, por 15 mil reais (nem sei se era essa a moeda, mas era essa quantia). Na semana em que recebi o dinheiro, Collor de Mello e a sua gangue assumiram a presidência, bloquearam todas as contas bancárias e permitiram saques de no máximo 15 mil de cada conta. Perdi o contato com o Luizão (me parece que faleceu não muito tempo depois, em consequência de alcoolismo) e não sei o que foi feito do negócio.

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A New Face foi uma grande ideia e muito importante para o punk nacional. Não produzimos nenhuma banda, mas colocamos alguns discos de acesso restrito ao alcance da garotada. Infelizmente, circunstâncias imprevistas impediram o negócio de dar certo. Mas lançou sementes".

Essa história completa e muito material underground estão no livro "No Front Zine: Cultura Underground na Escuridão da Guerra..." que pode ser adquirido com Aldo, pelo e-mail [email protected] ou @aldocostas.

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Sobre Mário Pescada

Mineiro, leitor compulsivo, ouvinte de todas as vertentes do rock - do blues ao grindcore. Valoriza mais a honestidade e entrega em cima do palco do que a técnica. Guarda os flyers dos shows que vai como se fossem relíquias.
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