Exposição B.B. King: um mundo melhor em algum lugar conta a história do blues no MIS
Por André Garcia
Postado em 16 de agosto de 2023
A mostra B.B. King: um mundo melhor em algum lugar está em exposição no MIS, em São Paulo. Aberta ao público desde 26 de julho, ficará em cartaz até 8 de outubro.
Entre os itens exibidos estão imagens do acervo do B.B. King Museum, credenciais de suas turnês pelo Brasil, instrumentos, roupas e prêmios — como o Grammy faturado por ele em 1971. Começando pelo fim, na saída, quando eu estava chamando um Uber (o MIS não tem metrô perto), um cara entrando com uma moça viu a logo da exposição e perguntou a ela "O que Bebê King?"
Buddy Guy é considerado o mestre dos mestres por ter influenciado a Jimi Hendrix e Eric Clapton. Na coletiva de imprensa do Best of Blues and Rock, Gastão o perguntou qual foi o maior blues man que ele já viu tocar. A resposta foi B.B. King. Portanto, eu teria respondido àquele cara que B. B. King foi o mestre dos mestres dos mestres.
B.B. King & Lucille
Batizado Riley Ben King, nasceu nos Estados Unidos em 1925, e cresceu nas plantações de algodão às margens do rio Mississippi — onde nasceu o blues como um lamento dos escravos. Sua história se confunde com a do gênero. Assim como Howlin' Wolf e Muddy Waters, se consagrou no Memphis blues — um meio-termo entre o rústico e sofrido delta blues e o elétrico e contagiante blues de Chicago.
Sua maior marca pessoal era sua guitarra: uma semi acústica preta personalizada com detalhes brancos chamada Lucille. Mas por que esse nome?
No inverno de 1949, enquanto tocava em Arkansas, uma briga entre bêbados próxima a um barril de querosene aceso incendiou a casa. Todos os presentes evacuaram o local, mas o guitarrista, desesperado, correu para o prédio em chamas para salvar seu amado instrumento — uma loucura que por pouco não custou sua vida. Entre as duas vítimas estavam uma mulher chamada Lucille.
"Sou louco por Lucille", disse certa vez King, "eu já tive tantas guitarras, e sempre as chamo de Lucille, ela já têm me acompanhado por um bom tempo, e até mesmo me deu certa fama… Acima de tudo, ela me manteve vivo, tendo o que comer… Lucille praticamente já salvou minha vida umas duas ou três vezes".
Sucesso e reconhecimento
Em 1951, emplacou seu primeiro sucesso, "Three O' Clock Blues", caindo na estrada como se não houvesse amanhã. Só em 56 ele fez 354 shows — uma média de praticamente um por dia! Nos anos 60, com o surgimento de bandas como Rolling Stones e Cream, os mestres do blues como ele foram reconhecidos. Para muitos, como Buddy Guy, aquele período foi o auge do gênero. Em 1969, no mesmo verão do Woodstock, B.B. King tocou no Harlem Cultural Festival, em Nova Iorque, contra o racismo e por direitos iguais. O evento teve a segurança feita pelos Panteras Negras, por falta de confiança na polícia local.
No começo dos anos 70, ele co-fundou a Fundação para o Avanço da Reabilitação e Recreação dos Presidiários, o que em 72 o rendeu o Prêmio Humanitário do Departamento Federal de Prisões. Naquela época os Estados Unidos, assim como o Brasil, criminalizavam condutas dos negros como pretexto para prendê-los. Em 74, ele fez um intercâmbio cultural com a Yale University, falando a uma turma de estudo de cultura negra sobre sua infância e a aurora do blues.
Após chegar ao auge de sua popularidade nos anos 60, o blues viu sua popularidade cair ao longo dá década seguinte, até que nos anos 80 foi considerado fora de moda. B.B. passou um período em baixa até que o U2, em 1988, regravou "When Love Comes to Town" no "Rattle and Rum". Em 1990, ele recebeu o título de doutor honorário na universidade Rhodes College. Dali em diante, foi finalmente reconhecido como uma lenda viva do blues, com prêmio e homenagens.
Apesar das diversas turnês de despedida, ele sempre acabava retornando aos palcos. Mesmo já passado dos 80 anos, manteve uma agenda cheia em 2012 e 2013, mas em 2014 precisou cancelar o restante da turnê por desidratação e exaustão. No ano seguinte, pretendia fazer uma nova excursão, mas morreu de causas naturais enquanto dormia em 14 de maio.
A exposição
No começo da exposição, logo de cara, um choque que já dá o tom do que está por vir: uma porta preta para negros e uma branca para brancos, e nenhuma instrução. A porta branca dá em um cubículo com mensagens sobre a segregação racial e uma placa hoje chocante, mas antigamente comum no sul dos Estados Unidos — sua região mais racista —, que diz: "Proibido negros, mexicanos e cachorros."
É na porta preta que a exposição começa. Ela dá em um corredor com lâmpadas quentes e paredes adesivadas como uma plantação de algodão. A exposição promete uma experiência sensorial, e essa é a parte que mais cumpre. Pena que a resolução do adesivo esteja abaixo da ideal.
Se B.B. King é o protagonista da mostra, em sua primeira metade o racismo é um insistente coadjuvante. Ao final do corredor, a primeira sala foca em como era o mundo em que ele nasceu, e dá ênfase ao racismo com placas segregadoras da época, e foto dos famigerados bebedouros exclusivos para negros, bem como enforcamentos em praça pública para o entretenimento de uma sorridente plateia de brancos (inclusive crianças). Na parte superior das paredes, uma linha do tempo de conquistas de direitos sociais pelo mundo — desde a abolição da escravatura nos Estados Unidos em 1963 à recente equiparação de injúria racial e crime de racismo no Brasil.
Uma das salas simula o formato de um ônibus dos anos 50, dividido com um lado reservado a brancos (com assentos de madeira macios, cobertos por uma grossa espuma) e o outro lado para negros (com assentos de madeira duros, sem espuma). Lá estão representados os movimentos sessentistas contra a discriminação racial, liderado por figuras como Luther King e Malcolm X.
[an error occurred while processing this directive]A exposição termina com um painel com as capas de sua extensa discografia, que vai dar em uma sala redonda com uma plataforma circular ao centro (como um vinil). Lá vemos um telão panorâmico com imagens e vídeos de clássicos de sua carreira.
No fim das contas, a exposição é recomendada tanto aos fãs de B.B. King quanto a quem não é muito familiarizado com blues, mas quer conhecer um pouco melhor. Tanto pelas fotos e textos quanto pelos monitores e CD players com fones para ouvir seus maiores sucessos. Já também cabines cilíndricas com um caixa de som em cima — para o ouvinte tomar uma ducha de blues.
Se você curte música e história da cultura pop, essa exposição é obrigatória. Recomendo ir com pelo menos duas horas, para poder absorver as informações.
[an error occurred while processing this directive]Data: 26 de julho a 08 de outubro de 2023.
Horário:
Terças a sextas - 10h às 19h;
Sábados - 10h às 20h;
Domingos e feriados - 10h às 18h.
Ingressos: Inteira R$20 (inteira) e meio R$10. Às terças, o ingresso é gratuito, retirado na bilheteria física do MIS.
Endereço: Av. Europa, 158 - Jardim Europa, São Paulo.
Classificação indicativa: 16 anos.
Receba novidades do Whiplash.NetWhatsAppTelegramFacebookInstagramTwitterYouTubeGoogle NewsE-MailApps