O astro do Rock que foi entrevistado por André Barcinski, mas esqueceu do papo horas depois
Por Mateus Ribeiro
Postado em 18 de junho de 2024
O jornalista musical André Barcinski teve a oportunidade de entrevistar Dee Dee Ramone (baixista, compositor e um dos membros originais dos Ramones) no final dos anos 1990. André contou detalhes sobre o encontro em vídeo que foi ao ar no seu canal do Youtube no dia 10 de junho.
Para conferir a história completa, acesse o player a seguir.
A entrevista rolou no Chelsea Hotel (localizado em Nova York), que pelo visto, não estava muito apresentável na ocasião.
"O encontro foi no Hotel Chelsea, em Nova York, que é um hotel mítico do Rock. Um hotel onde Leonard Cohen morou, Janis Joplin morou (...), um monte de maluco se hospedou no hotel. O Chelsea era meio que o quartel general da contracultura, assim, nos anos 60 e 70 nos Estados Unidos. E o Dee Dee tinha um apartamento lá, ele alugou um apartamento lá, ele a então esposa Barbara, que era argentina.
E um amigo meu (...), olha que coincidência, ele trabalhava no escritório de contabilidade dos Ramones, ele que cuidava da grana da banda e tal. Ele me ligou e falou: ‘Cara, Dee Dee tá na cidade, você quer conhecer o Dee Dee?’. Eu falei: ‘Pô, claro, né?’.
Fomos lá e tal, entrei no hotel Chelsea. O que me chamou a atenção de primeira foi a sujeira, a imundície do lugar. Era um lugar mitológico, assim, que tinha virado ponto turístico até (...). Então, só tinha o glamour do hype, mas o lugar era horroroso. Muito velho, não tinha nenhuma amenidade, não era confortável, mas tinha uma mística em torno do Chelsea, né?", relembrou André, que também descreveu o desorganizado quarto de Dee Dee.
"Eu cheguei lá, cara, o quarto deles [estava] uma zona. Tudo jogado, espalhado. Ele chamou a gente pra almoçar, a gente pediu comida chinesa. [A gente] teve que sentar no chão, porque não tinha nem lugar pra sentar, era muito bagunçado."
Então, André começou a falar sobre o bate-papo que ele tentou levar com Dee Dee. A conversa aparentemente foi complicada, já que o baixista não conseguia concluir as histórias que começou a contar para o jornalista brasileiro.
"Eu percebi que ele tinha, não sei se uma condição patológica, se era uma coisa de doença, mas ele tinha um problema super sério de déficit de atenção. Então, ele começava a contar as histórias mais loucas, assim, e ele simplesmente contava a história no meio, e voltava 30 segundos depois, falando de outra coisa. Era exasperante assim, um negócio desesperador."
Uma das histórias que Dee Dee começou a contar poderia ter rendido um furo jornalístico, se ele conseguisse concluir o seu raciocínio. Segundo André, o baixista dos Ramones disse que Nancy Spungen não havia sido assassinada por seu namorado, Sid Vicious, baixista do Sex Pistols. Aliás, Nancy foi morta no Chelsea Hotel.
"Eu me lembro que eu falei pra ele alguma coisa do tipo assim: ‘Ah, foi nesse andar aqui que o Sid matou a Nancy, né?’ (...). E eles [Sid e Nancy] eram muito amigos do Dee Dee, dos Ramones, e tal. Ele falou: ‘Não, não foi o Sid que matou a Nancy (...). Não, foi aquele traficante (...), como é que é mesmo o nome dele?’. Aí ele pergunta pra mulher: ‘Barbara, como é que é o nome daquele cara?’ (...). E aí, parava e ele começava depois outro assunto (...). Eu falava: ‘Dee Dee, termina aquela história’. Era exasperante (...). Eu queria ouvir o final da história, nem que fosse cascata. Eu queria ouvir a opinião do Dee Dee sobre um assunto tão polêmico (...). Cara, eu achei que ia ser o furo do século, tipo ‘Descobriu-se quem matou a Nancy’".
Por fim, André foi convidado pelo entrevistado para comparecer a um evento que aconteceria na mesma noite. No local do evento, André tentou falar com Dee Dee, porém, o músico não reconheceu o jornalista brasileiro.
"Mas foi muito legal, porque ele contou várias histórias dos Ramones, algumas pela metade, outras até o final, mas sempre sem conclusão. E o divertido é que a gente passou a tarde inteira batendo papo, conversando. E ele falou: ‘Hoje à noite tem um lançamento de um livro de fotos da época do Punk, do CBGB, aparece lá’. Me deu o endereço, pensei: ‘Vou lá. Uma balada com o Dee Dee Ramone vai ser o máximo’. [Estava] Me achando e tal.
Fui pra casa, fiz o que tinha que fazer, de noite me arrumei e fui pra essa premiére, esse lançamento de um livro de fotos sobre a época do Punk. E cara, tava todo mundo lá, Henry Rollins do Black Flag, todo o pessoal do Dictators, todo mundo da cena Punk nova-iorquina estava lá, era um grande acontecimento.
Eu me lembro que quando o Dee Dee Ramone entrou, cara, parecia que o Papa tinha chegado (...). Muito respeito, a galera realmente… todo mundo foi falar com ele, um silêncio no salão, na galeria.
E aí eu deixei a galera falar com ele. Eu fui falar [com ele]. ‘E aí, Dee Dee, tal, tudo certo com você?’. Ele falou: ‘Quem é você?’. Eu falei: ‘Cara, acabei de passar a tarde inteira com você’", acrescentou André, que ainda citou que Barbara se lembrava do encontro, mas Dee Dee não conseguiu se recordar.
Apesar da situação inusitada, André afirmou que tomar um toco de Dee Dee Ramone foi "uma alegria, um momento muito divertido".
Dee Dee Ramone fez parte dos Ramones entre 1974 e 1989. O baixista faleceu em junho de 2002, vítima de overdose.
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