Neurocientista explica por que nosso cérebro gosta de ir a shows: "O Spotify não supre isso"
Por André Garcia
Postado em 06 de novembro de 2024
Agora não importa a área — pode ser professor de química, contador, operador de telemarketing, taxista, advogado, artista marcial, astronauta… — hoje em dia todo mundo usa de sua profissão para pagar de influencer nas redes sociais.
O Dr. Nas é um neurocientista que falando do assunto no Instagram já possui 250 mil seguidores. Recentemente, ele postou um reel no Instagram chamado "A neurociência dos shows", onde explicou por que nosso cérebro tanto gosta de ir a show e assistir música ao vivo.
"É porque o que um show ao vivo faz com seu cérebro o Spotify não consegue fazer. Segundo pesquisadores, nosso cérebro responde muito mais a música ao vivo do que a música pré-gravada. Voluntários usando um scanner cerebral ouviram música gravada e ao vivo; e ao vivo produziu uma experiência cerebral maior."
"A música ao vivo ativa redes neurais inteiras, que envolvem a sensação de prazer, o processamento de emoções e [a reelaboração] de memórias passadas. Quanto maior experiência cerebral, mais profundamente você será atingido pelo sentimento de imersão na música."
"Para mim, a beleza do impacto da música ao vivo em nosso cérebro está em sua previsibilidade. Em um show a intensidade e velocidade do que você ouve é ligeiramente diferente do que você ouve no Spotify. E seu cérebro adora essa coisa de não saber o que está por vir. Sem que você perceba, seu cérebro está brincando de tentar prever a próxima nota, a próxima palavra, a batida que vai entrar... É por isso que um show é tão mais imersivo e emocionalmente intenso [do que o disco]."
"Nosso cérebro está se adaptando e se envolvendo com a música a cada momento. Portanto, da próxima vez que for a um show, lembre-se de que não são apenas seus ouvidos que estão ouvindo — é todo o seu cérebro que se ilumina e se sintoniza para criar uma experiência única."
Como o palco virou o altar do rock
Quando surgiu em meados dos anos 50, o rock era um passo de dança nos bailinhos que virou um subgênero do rhythm & blues e, por fim, ganhou vida própria. Dos tempos de Elvis até o tempo dos Beatles a música era predominantemente gravada — o que se via ao vivo era uma versão comprometida pela precária tecnologia da época, era o que dava para fazer.
Foi em muito graças ao surgimento de vocalistas carismáticos como Mick Jagger, Janis Joplin e Jim Morrison; bem como guitar heroes como Eric Clapton, Jimi Hendrix e Jimmy Page que o show ao vivo ganhou outra dimensão. De repente, a música gravada era o que deu para fazer confinado no estúdio, enquanto a coisa de verdade era ver a banda fazendo acontecer no palco, diante de seus olhos e ouvidos. Rock passou a ser mais vivenciar toda a experiência ao vivo do que só ouvir a gravação.
Simbolicamente, foi justo nessa época que o MC5 optou por um álbum ao vivo já em seu debut.
Com shows se tornando acontecimentos sociais de proporções históricas no final dos anos 60, como o Woodstock, na década seguinte tivemos a era de ouro dos álbuns ao vivo — aqueles que mais perto conseguiram chegar da missão impossível de encapsular o éter da experiência real: "Live and Dangerous" (Thin Lizzy), "Alive!" (Kiss), "It's Alive" (Ramones), "Live in Japan" (Deep Purple), "Live at Leeds" (The Who), "If You Want Blood You Got It" (AC/DC), ...
No século XXI, com o surgimento da internet e o praticamente fim da venda de música em mídia física, os shows se tornaram o ganha pão dos músicos. Se antigamente gravavam álbum para ganhar dinheiro com as vendas, hoje se lança álbum para ganhar dinheiro fazendo turnê.
Com o passar das décadas as apresentações ao vivo se mantiveram imensas e importantes, tanto no rock quanto no pop e hip hop. A gente nem sabia que isso era tão importante para nós até que a pandemia nos forçou a passar anos sem poder ir a um showzinho sequer.
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