Fernanda Lira fala sobre ter parado de beber e os traumas causados pelo álcool
Por João Renato Alves
Postado em 26 de junho de 2025
A revista britânica Metal Hammer publicou um artigo onde investiga os fatores que vêm levando artistas e o público a se afastar do álcool cada vez mais cedo. O estereótipo do headbanger que exagera na bebida usando a diversão como justificativa vem perdendo o ar de romantismo com o passar do tempo.
A publicação observa que a tendência se reflete na sociedade em geral, especialmente entre a Geração Z e os jovens da geração Y. De acordo com a organização beneficente Drinkaware, 25% dos jovens de 16 a 24 anos no Reino Unido se identificaram como abstêmios em 2022. Do outro lado do oceano, uma pesquisa recente da Gallup descobriu que, de 2021 a 2023, apenas 62% dos adultos americanos com menos de 35 anos admitiram beber com frequência. Em comparação, de 2001 a 2003, esse número foi de 72%.


Fernanda Lira, vocalista e baixista da banda brasileira de death metal Crypta, foi uma das participantes da matéria. A artista tinha 28 anos quando tomou seu último drinque. Integrante da banda Nervosa na época e um ano antes de lançar sua banda atual, ela se absteve de álcool após quase sofrer uma crise de ansiedade durante turnê pela América Central em 2018.
"Estávamos no México e eu dormia num quarto individual. Às 4 da manhã, ouvi barulhos de batidas e pessoas gritando. Olhei pela janela e lá estava um grupo de amigos – eles se chamavam pelo nome – se espancando! Havia sangue por todo lado, era horrível, e dava para ver que eles estavam muito, muito bêbados. Foi simplesmente assustador ver aquilo."

Lira também reconheceu que sua família tem um histórico de abuso de álcool. "Meu avô batia na minha avó e na minha mãe também quando bebia. Perdi um tio para o álcool e meu outro tio, num Natal, tentou nos matar. Sempre que ele bebia, dizia que estava possuído pelo diabo e corria atrás das pessoas com facas."
Fernanda ainda enfatizou que lista de mortes relacionadas a substâncias na música só cresceu desde o auge hedonista do metal. Ela cita a icônica cantora de pop-soul Amy Winehouse – que morreu de intoxicação alcoólica em 2011, aos 27 anos – como mais um dos motivos pelos quais parou de beber.
"Perdemos muitas pessoas incríveis e inspiradoras para o álcool e as drogas. Sinto-me muito frustrada por nunca poder assistir Amy. E estou muito frustrada por ela ter enfrentado um problema tão grande e quase ninguém a ter ajudado. Acho que não precisamos de mais tragédias como essas."

Como esperado, a decisão também afetou seu círculo social. "Quando parei de beber, me tornei instantaneamente a amiga ‘chata’. Perdi muitos amigos porque eles eram, tipo, amigos de bar. Imediatamente, as pessoas não me convidavam para lugar nenhum. Fiquei muito chateada porque, por não beber, me senti com mais energia. Posso ser a alma da festa se quiser pirar, cantar e contar piadas."
A Organização Mundial da Saúde (OMS) relata que o consumo nocivo de álcool causa 3 milhões de mortes anualmente em todo o mundo, o que corresponde a 5,3% do total. O Brasil apresenta um uso per capita superior à média mundial, com 12,5% da população praticando o consumo pesado episódico, em comparação com 7,5% globalmente.

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