A música de álbum de Paulo Ricardo que confundiu tradutores que adaptaram ao inglês
Por Gustavo Maiato
Postado em 09 de junho de 2025
Em entrevista à Rolling Stone Brasil, o cantor e compositor Paulo Ricardo revelou detalhes sobre uma de suas músicas mais pessoais e, ao mesmo tempo, menos conhecidas do grande público: "Só Me Fez Bem", terceira faixa do álbum "O Amor Me Escolheu" (1997). Composta originalmente por Edu Lobo, com letra de Vinicius de Moraes, a canção é, segundo o artista, uma de suas favoritas da carreira solo. "Ela nunca foi música de trabalho, nunca teve a estrutura de um hit, mas é um musicão. Rica harmonicamente, melodicamente e, principalmente, na letra", afirmou Paulo Ricardo.


O cantor contou que conheceu a faixa ao fazer uma pesquisa aprofundada sobre a música popular brasileira para o disco "O Amor Me Escolheu", projeto que marcou uma guinada após o fim definitivo do RPM. Foi nesse contexto que descobriu "Só Me Fez Bem", composta por Edu Lobo em sua estreia como compositor — e que, surpreendentemente, já trazia uma letra assinada por Vinicius de Moraes. "Olha só o gênio que o cara tem que ser para, na sua primeira música, já ter uma letra do Vinicius", disse Paulo, em tom de admiração.

Além do valor musical e pessoal da faixa, uma curiosidade chama a atenção: a dificuldade que tradutores norte-americanos enfrentaram para adaptá-la ao inglês. Segundo Paulo, Toquinho, parceiro frequente de Vinicius, contou que o verso "É melhor viver do que ser feliz" confundiu o tradutor responsável pelas versões em inglês da obra do poeta. "O americano dizia: ‘Não, mas é melhor ser feliz.’ E o Vinicius respondia: ‘Não. É isso mesmo. É melhor viver do que ser feliz.’"
Para Paulo Ricardo, a escolha das palavras diz muito sobre a visão filosófica de Vinicius de Moraes — e sobre o caráter provocador da canção. "É uma frase genial, de uma profundidade imensa. E ela resume bem o espírito da música. É sobre aceitar o que a vida oferece, mesmo sem idealizações."

Paulo Ricardo e a sonoridade de sua carreira solo
Gravada com arranjos modernos e influências da cena eletrônica dos anos 90, "Só Me Fez Bem" acabou ganhando um espaço especial na discografia do cantor. "Ela tem um solo de trompete, uma coisa completamente diferente. Um solo de guitarra com sonoridade meio James Bond, trêmulo, algo que o trip hop usava muito. É um arranjo que eu acho sensacional."
Mesmo assim, a faixa foi pouco apresentada ao vivo. Segundo Paulo, ela entrou apenas pontualmente na turnê do disco. "Eu a toquei poucas vezes, mas agora ela voltou. E voltou porque eu quis. Não está sujeita à crítica ou à reação do público. Eu toco porque gosto, porque me faz bem."

Lançado em 1997 pela Som Livre, "O Amor Me Escolheu" é, para Paulo Ricardo, um dos álbuns mais importantes de sua trajetória individual. Além de reunir parcerias inéditas — com nomes como Herbert Vianna, Jorge Vercillo e Adriana Calcanhoto —, o álbum marca uma abertura à MPB após os anos de rock com o RPM. "Queria fazer algo diferente. Saí da linguagem da banda e quis explorar outras possibilidades. Regravei Caetano, Djavan, Fagner… quis mostrar que havia um outro Paulo Ricardo também."
O disco também é resultado de um reencontro com o Rio de Janeiro. "Sou carioca, mas o RPM sempre foi uma banda paulistana. Quando tudo terminou, eu voltei ao Rio e mergulhei nessa nova fase, mais autoral, mais plural."

Confira a entrevista completa abaixo.

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