"Muito difícil"; o estilo musical que Ritchie Blackmore tentou tocar mas desistiu
Por Bruce William
Postado em 07 de setembro de 2025
Ritchie Blackmore sempre foi tido como um músico perfeccionista e exigente dentro do Deep Purple. Quando sentia que algo não funcionava, não pensava duas vezes antes de trocar integrantes ou até mesmo abandonar a própria banda. A banda teve nada menos que nove formações, em boa parte por causa desse comportamento do guitarrista, mas, ao mesmo tempo, isso garantiu que, em sua fase mais afiada, o Purple se tornasse uma máquina praticamente imbatível do hard rock.
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Entre as muitas contribuições de Blackmore estava a influência da música clássica. Mesmo que não aparecesse de forma literal nas canções, ela servia de base para estruturas longas e arranjos mais complexos, que diferenciavam o som do Deep Purple da maioria das bandas da época. O gosto por esse estilo, no entanto, sempre foi marcado por uma relação de amor e frustração.
Em 1998, durante uma entrevista à revista Fuzz, Blackmore contou que, no começo da carreira, tentou seguir o caminho da música erudita: "Eu comecei, por cerca de nove meses a um ano", relembrou, conforme reproduzido pela Far Out. O interesse, porém, não resistiu ao desafio. "Isso me colocou no caminho certo, mas achei um pouco entediante. E também é muito difícil de tocar, algumas coisas do Segovia - tocar 'Gavotte' não era algo para mim naquela época. Consegui passar da primeira página e pensei: 'Mmm, já basta... é muito difícil para mim'."

Esse desabafo não significa falta de talento, mas sim a consciência de que o repertório clássico exigia uma dedicação quase inatingível. O jovem Blackmore preferiu se afastar da execução prática, mas nunca abandonou a admiração e a inspiração que extraía dessas obras. O resultado foi um músico que, mesmo tocando rock pesado, tinha uma sensibilidade diferente para construir melodias.
É interessante imaginar que alguém tão exigente consigo mesmo tenha desistido de um estilo justamente por considerá-lo "difícil demais". Mas foi essa decisão que abriu espaço para que ele explorasse outros caminhos e criasse, dentro do rock, passagens com peso e sofisticação na medida certa. A busca pela excelência seguiu guiando seus passos, só que aplicada ao universo das guitarras distorcidas.

A influência clássica ainda pode ser percebida em vários momentos de sua carreira. Desde as estruturas épicas de músicas do Purple até a formação do Rainbow, a marca de Blackmore foi a de um músico que trazia a imponência de Bach ou Vivaldi para dentro de riffs de rock. Não por acaso, é lembrado como um dos guitarristas que melhor souberam unir o virtuosismo ao impacto popular.
Sem esse contato inicial com a música clássica, talvez Blackmore nunca tivesse desenvolvido o mesmo senso de composição. Ainda que tenha considerado impossível seguir nesse caminho, ele levou consigo o que mais importava: a inspiração. No fim das contas, a desistência moldou sua trajetória de forma tão decisiva quanto qualquer sucesso.

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