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Enemies Of Reality: Entrevista com Rodrigo Rodrigues

Por Doctor Robert
Postado em 05 de outubro de 2016

O Enemies of Reality é uma banda surgida em 2012, em Bragança Paulista (SP), formada por Douglas Moreira (Vocais), Rodrigo Rodrigues (Guitarras), Tom Toledo (Baixo) e Gus Avancini (Bateria). Com uma gama de influências que vai desde o Thrash Metal oitentista até o Death e Progressive Metal, a banda teve seu primeiro lançamento oficial, o EP intitulado "Trull", no último dia 15 de Junho através de plataformas on line como Spotify, iTunes e Deezer.

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O EP conta com 3 faixas que fazem parte de um trabalho conceitual em que a banda vem trabalhando desde sua formação: "Innocent Heart", "Come Little Friend", e "Trull" que foi lançada inclusive com um vídeo clipe oficial. A produção ficou por conta do guitarrista Rodrigo Rodrigues, contando com o trabalho do engenheiro de som Diego Pereira e masterização e mixagem do renomado produtor Christian Donaldson que já trabalhou com bandas do porte de The Agonist, Cryptosy, Beyond Creation, entre outras.

E é justamente com o guitarrista Rodrigo Rodrigues que tivemos o prazer de bater um papo exclusivo. Confiram.

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Vamos começar nossa conversa falando um pouco sobre o surgimento do Enemies of Reality. Como foi o processo e o que aconteceu desde que a banda começou em 2012 até hoje?

A banda começou pela minha vontade de tocar metal e me divertir, pois eu só tinha tocado metal até então na minha adolescência. Eu conheci o baterista Gus Avancini em um festival de bandas em que eu toquei com meu trio de blues rock, e fiquei impressionado com sua técnica e pegada. Como eu já estava pensando em tocar algo mais pesado, ali encontrei alguém que seria perfeito para a equipe. Conversei com ele ainda no palco, e depois disso foi apenas questão de tempo. A banda passou por algumas mudanças de formação, inicialmente com 2 guitarras, mas achamos mais conveniente continuar com uma guitarra apenas. Quando percebemos que nosso ex- vocalista Gustavo Ferreira estava muito ocupado com sua vida pessoal, eu entrei em contato com o Douglas Moreira, e logo após a saida do antigo vocal, Douglas se estabeleceu imediatamente na banda, trazendo um novo gás a todos nós.

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Quais as principais influências da banda? E as suas, como músico, em particular?

Essa é uma questão bem engraçada, e até um tanto confusa. Como toda banda, iniciamos como uma banda de covers, mas eu não tinha em mente qual estilo tocar. E como a quimica foi melhorando, tomamos o rítmo natural das coisas e começamos a fazer nossas próprias músicas. Quando conseguimos o vocal, ele era mais gritado e gutural, ai acabou levando para esse estilo. Realmente foi algo meio que sem querer. O Gus (bateria) veio do metal melódico, o Tom Toledo(baixo) do hard rock, além de ser experiente tocando vários tipos de música, o Douglas (vocal) do metalcore, e eu, não sei da onde...rs. Ai a banda acabou seguindo esse estilo, Arch Enemy, Death, Nevermore, Soilwork, Lamb Of God e thrash oitentista foram com certeza as nossas principais referências.

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Eu realmente ouço de tudo um pouco, desde música brasileira, a jazz /fusion. Quando decidimos compor, eu sabia que eu queria soar diferente, eu não queria ser mais um guitarrista de metal. Uma vez um aluno me falou algo que condiz com a minha vontade "Rodrigo, você é um guitarrista que não vem do metal, e este é seu principal diferencial", ainda mais do metal extremo. No metal eu sempre me espelhei em Marty Friedman, Alex Skolnick, Michael Romeo e John Petrucci, que são guitarristas de personalidade, mas particularmente sou fissurado em caras como Greg Howe, Richie Kotzen e Nuno Bettencourt, que não são caras do metal.

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Num mundo tão dominado pelo que a mídia força o público a engolir tanto lixo musical, o rock tem se tornado novamente marginal e underground, e o público de rock pesado um nicho ainda mais específico. Como tem sido a recepção do público em relação ao E.P. e nos shows?

Eu acredito que esse lance da mídia, ainda mais num país como o Brasil que não tem tradição de rock como alguns países europeus, eu vejo até como algo positivo, o fato do rock estar virando novamente underground. O rock veio dai, e aos poucos está voltando, mas com diferencial que os outros estilos não tem, a fidelidade dos fãs. Exatamente essa fidelidade que sentimos com o lançamento do EP. Como eu não conhecia isso como músico de metal, eu sempre vivi isso como fã, e realmente isso é algo impagável. Ver pessoas realmente curtindo sua música, cantando a letra, e te seguindo aonde você for. Na verdade ficamos até impressionados com tantas críticas positivas, e está cada dia melhor.

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Recentemente Ian Gillan, do Deep Purple, reclamou abertamente em uma entrevista contra o chamado "culto ao Classic Rock", dizendo que odeia este rótulo, fazendo com que os fãs só queiram ouvir "Smoke On The Water" e "Highway Star", estando se lixando quando eles lançam ou tocam algo novo. O quanto isso afeta bandas novas? Há espaço para todo mundo, ou os bangers continuam só querendo ouvir Metallica, Megadeth, Slayer, Pantera...?

Eu li essa entrevista do Ian Gillan, e concordo plenamente com ele. O público em sua maioria parece que tem preguiça de ouvir material novo. No Brasil, temos uma cultura ao cover, algo que não existe em paises como Estados Unidos, Canada, paises europeus, Japão etc. Os shows internacionais eram muito pouco acessíveis no Brasil pelo menos até meados dos anos 80, e devido a isso pode ter crescido o fato dessa cultura ao cover. Infelizmente isso ainda existe, e é bem complicado para uma banda brasileira que ainda não está com um certo padrão de popularidade conseguir tocar somente material próprio. Eu mesmo, atualmente toco também em uma banda tributo ao Dream Theater.

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No Enemies incluímos apenas 2 covers, e sempre são as músicas em que o público mais interage. Na verdade, existe uma desvalorização de artistas nacionais, mas isso é uma questão social/cultural que acredito que não mude tão cedo.

A quantas anda a agenda da banda? Tem rolado shows, festivais?

Tiramos o ano de 2016 para apenas terminar e divulgar o EP. Tivemos uma agenda muito lotada no segundo semestre de 2015, e com a entrada do Douglas, as coisas aconteceram muito rápido, e assim deixamos de lado algumas obrigações como estudos, trabalho, família etc. E como não é possível viver da banda, precisamos ter outros meios de sobrevivência. O Tom foi pai no meio do processo da gravação, eu estou terminando a faculdade de música, o Gus começando a faculdade, e o Douglas teve uma oportunidade de trabalhar no exterior por um tempo. Então shows somente em 2017 .

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Inicialmente, vocês optaram por trabalhar apenas com o formato digital, no lançamento do seu primeiro E.P. ("Trull"), disponível em diversas plataformas como Spotify, iTunes, e até mesmo no site da Amazon. Em entrevista recente, o baterista do Muse (Dominic Howard) disse que sua banda talvez não lance mais álbuns no formato tradicional, devido às mudanças no modo de consumo do meio. Em tempos de músicas ouvidas quase que 100% digitalmente, um CD físico ainda é relevante? No ponto de vista de vocês, qual a importância da internet na divulgação de músicas e artistas menos conhecidos do grande público?

Realmente é inviável ter a versão física nos dias de hoje, e admito que em certo ponto estamos sofrendo com isso. Alguns veículos da imprensa especializada ainda são firmes quanto aos artistas terem a versão física, até muito mais que os fãs. Não estamos vendo pelos fãs a necessidade de lançar a versão física, então continuaremos firmes com essa decisão, mesmo que isso resulte numa possível falta de apoio desses veículos. Hoje em dia as pessoas vêem música muito mais que ouvem, basta ver os números de acessos e as pessoas ficando milionárias com canais no Youtube.

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Na verdade, atualmente a internet é muito mais importante para divulgação do que rádios, TVs ou revistas especializadas, e imagino que já existe uma preocupação de um possível fim desses veículos no futuro. Para que eu vou ligar a TV e ver um monte de besteiras se eu posso ver no Youtube o que eu quero? Para que vou ligar a rádio se nela vou ouvir muitas vezes "mais do mesmo", se posso fazer meu playlist ou ainda pesquisar novos artistas no Spotify? Eu me lembro que na minha adolescência a única forma de conhecer novas bandas eram as trocas de fitas. Eu troquei fitas com inúmeras pessoas do Brasil inteiro na época. Conheci bandas como Death, Sadus, Kreator, Morbid Angel, Carcass e tantas outras dessa forma. Agora entro no Spotify e consigo encontrar artistas do mundo todo que eu jamais sonhava em conhecer. O virtual é o presente e será o futuro.

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O que tem ouvido no momento? Recomenda algum artista ou banda que tenha descoberto recentemente?

Tenho ouvido muitas bandas de Prog Metal. Toda a veia de prog que o Enemies tem e o fato de misturar algumas coisas fora do metal extremo vem de mim. Tenho ouvido muito bandas como Leprous, Opeth, Animals As Leaders, Haken, o clássico Dream Theater, e algumas mais novas como Intervals, Plini e The Dear Hunter.

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Como funciona o processo de composição da banda? O que costuma surgir primeiro? Letra, música, melodia, vocês se reúnem para uma Jam até surgirem ideias?

O instrumental é todo feito por mim e letras e melodias pelo Gus Avancini. Até tentamos nas formações anteriores compor em meio a uma jam, mas acabou não funcionando direito. Então eu chego com uma música pelo menos 80% pronta, e trabalhamos nela. Escrevemos tudo antecipadamente, até gravando uma versão demo com bateria eletrônica para ver como soa, após isso o Gus faz a letra e melodia e depois vamos para a prática. Basicamente é assim que funciona e tem dado muito certo.

E sobre os planos para o futuro? Vocês têm trabalhado em novas composições?

Além dessas 3 músicas do EP, temos mais 4, inclusive bem diferentes. Tem música mais arrastada, quase doom metal, tem metalcore misturado com Prog Metal, tem até pequenas partes com influência de música brasileira. Todo esse projeto vem de um conceito que o Gus criou nas letras em que ele conta a história de uma mãe que foi estuprada, ficou grávida, e tinha uma conexão com seu filho que tinha problemas mentais, quase um psicopata. Então a história das letras e o instrumental acompanham todo esse conceito. Não temos previsão de quando terminar, pois realmente é algo que dá bastante trabalho, quando sentirmos que estará na hora de entrar em estúdio entraremos. Enquanto isso nossas vidas seguem.

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Para quem não sabe, além de músico profissional, tendo rolado inclusive uma parceria com a L.G. na divulgação de sua nova linha de TV UHD, você também é professor de guitarra, com experiência inclusive fora do Brasil. Conte-nos um pouco sobre suas experiências nesses ramos.

Eu dou aulas de guitarra há 20 anos. Em meio a esses 20 anos fiz um pouco de tudo, desde tocar na noite com bandas de cover, gravei com alguns artistas e tive a oportunidade de dar aulas fora do Brasil, na Bélgica, que admito que foi o maior desafio da minha vida profissional. Também fiz uma palestra sobre música em uma escola de ensino infantil em uma comunidade na Suiça. Recentemente tive a oportunidade de trabalhar numa campanha de marketing da LG, tocando em Shoppings e lojas de departamento, uma música do meu EP instrumental lançado em 2010. Como disse anteriormente, não sou um cara que vive e respira metal 24 horas por dia, então faço diversos tipos de trabalho na música, seja com bandas, aulas e também workshops.

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Por fim, aquela pergunta que não quer calar: é possível viver apenas trabalhando com música hoje em dia no Brasil?

Infelizmente o Brasil está vivendo uma fase negra. A crise econômica é apenas um detalhe que sabemos que ainda vai melhorar, mas a crise social e cultural que o país vive é algo sem volta. Recentemente eu li uma matéria sobre a situação do Conservatório de Tatuí. Lastimável! Um povo sem cultura, sem arte, é um povo ignorante! Voltando a sua pergunta, acredito que viver de metal não seja possível, pois sabemos que nossa cultura não permite.

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Difícil viver de música? Sim, muito, mas acredito que mesmo com todos esses problemas mencionados anteriormente, que seja possível. Precisa estudar, estudar muito, dar o sangue, cancelar churrascos para ensaiar com a sua banda, deixar de sair com sua namorada para tocar, e N coisas. E principalmente ser mente aberta e ser criativo. Se tiver dedicação eu acredito que seja possível sim.

Muito obrigado pela entrevista! Para encerrar, deixe um recado para os internautas.

Quero agradecer imensamente essa oportunidade de falar um pouco mais sobre a história e trabalho do Enemies Of Reality, essa banda que realizou um sonho de todos nós. Muitos sabem o quanto é dificil manter uma banda, e nada é mais gratificante que ver seu trabalho reconhecido por tantas pessoas, muito obrigado!

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Para mais informações:
http://www.facebook.com/enemiesofrealityband

Innocent Heart (Lyric Video)

Assistir vídeo no YouTube

Come Little Friend (Studio Sessions)

Assistir vídeo no YouTube

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Trull (Official Video Clip)

Assistir vídeo no YouTube

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Sobre Doctor Robert

Conheceu o rock and roll ao ouvir pela primeira vez Bohemian Rhapsody, lá pelos idos de 1981/82, quando ainda pegava os discos de suas irmãs para ouvir escondido em uma vitrolinha monofônica azul. Quando o Kiss veio ao Brasil em 1983, queria ser Gene Simmons e, algum depois, ao ver o clipe de Jump na TV, queria ser Eddie Van Halen. Hoje é apenas um bom fã de rock, que ouve qualquer coisa que se encaixe entre Beatles e Sepultura, ama sua esposa e juntos têm um cãozinho chamado Bono.
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