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Asmodeus: pioneira do metal cearense tenta retorno

Por Leonardo M. Brauna
Postado em 10 de novembro de 2013

ANDERSON FROTA (baixista), personagem real, histórico e ativo do underground de Fortaleza, desde a sua adolescência descobriu na música pesada uma fonte de riqueza para verdadeiras amizades – e também no mesmo "universo", com os seus amigos, MAGELA (guitarra/vocal) e ARISTIDES (bateria) conseguiu brindar a sua cidade com a primeira banda de metal de que se tem notícia, ASMODEUS. Em conversa com ANDERSON, o pioneiro fala tudo o que rolava com a banda e com a cena naquele período dos anos oitenta, e ainda não esconde a vontade de retornar com o grupo contando com seu antigo parceiro, MAGELA. Confira relatos sobre essa formação clássica e outros membros que já passaram pelo grupo, tal como alegrias e desavenças.

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Em 1984 o país vivia um momento tenso na política. O movimento das diretas já explodia e como consequência, a queda do regime militar em janeiro de 1985. Como o roqueiro de Fortaleza se comportava antes dessa transformação?

Anderson Frota: Era algo mais gregário. Naquele tempo não era tanta gente, então todo mundo se conhecia. Você ia para o ‘Tempestade’ (N.R.: evento de metal que acontecia nos na década de oitenta) e conhecia todo mundo que estava por lá, você ia para as lojas e conhecia todo mundo que estava lá. A coisa mais fácil era começar uma nova amizade, bastava estar com uma camiseta de banda! Se ocorresse de cruzar no caminho com outro era bem provável que já rolasse algum papo do tipo, "hei, cara, você curte essa banda?" – daí vinha alguma troca de informação do tipo, "o pessoal se reunir pra curtir som em tal lugar" ou alguma combinação pra troca de material. Andar de visual era algo que chamava muita atenção, não era como hoje, a coisa mais corriqueira em qualquer lugar. A polícia fazia suas abordagens porque um grupo de cinco ou mais sujeitos, todos de preto, com umas costuras esquisitas nas calças e usando coletes chamava a atenção, considerando a cultura da época. Mas voltando, a rotina era essa, durante o dia ir pra casa de alguém para assistir vídeos e escutar fitas cassetes e vinis ou ir para as lojas escutar som, beber e bater papo. Finalmente vieram os festivais na sequência, que eram exclusivamente de ‘som mecânico’ e, pode acreditar, era muito bom. Vários bangers reunidos em um local com som alto para ouvir as gravações que alguém teria selecionado para a noite. Sabe quando nos festivais atuais, no intervalo entre uma banda e outra, fica tocando som? Então imagine um festival só com os intervalos, sem banda nenhuma! Hoje, com bandas e toda estrutura, você vê que as pessoas não prestigiam, e a gente só com som de fita, não deixava de ir pra nenhum! Nosso outro ponto de encontro era a ‘Feirinha da 13 de Maio’. Quem já nasceu no império de ‘shopping centers’ talvez nem faça ideia, mas em Fortaleza existiam espalhadas durante os dias da semana, feiras noturnas, com barracas que vendiam as coisas mais variadas: confecções, pastéis, peixes ornamentais e principalmente, caipirinhas! Aos sábados a feira acontecia na praça em frente a ‘igreja de Fátima’. Eu estava uma vez circulando por lá, junto com o MAGELA, e já perto do final quando as barracas começavam a se recolher, encontramos outros dois amigos (Franzé e Carlão) em uma das barracas de caipirinha. Acho que ainda não nos conhecíamos, mas como eu disse, bastava estar com camiseta de banda pra começar a conversar. O lugar tinha um aparelhinho de som e era raro alguém não sair de casa com uma fita cassete no bolso. Se não me falha a memória, o que tínhamos era a gravação do ‘Endless Pain’ do KREATOR. O dono da barraca, ‘Mantovani’, deixou a gente colocar a fita quando o movimento estava mais esvaziado e assim a gente ficava lá, consumindo as caipirinhas dele e curtindo o som. Isso era a ‘deixa’ para voltar e para divulgar aos outros. O negócio cresceu a um ponto que o proprietário teve que ter dois aparelhos de som, um pra clientela tradicional e outro pra nós, que ficávamos por trás do estabelecimento, em cima do gramado. A gente chegava a fazer um círculo, sentados ao redor do som. Foi na ‘13’ que eu ouvi pela primeira vez, por exemplo, o ‘Among the Living’ (ANTHRAX) e o EP ‘Garage Days’ do METALLICA. Nossos encontros lá duraram até o momento em que houve uma reforma na praça, suspendendo a realização da feira, mas enquanto existiu foi ponto de encontro certo de headbangers.

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De quem partiu a idéia de formar uma banda de metal e como os integrantes se conheceram?

Anderson: Eu estudava junto com o HERCULANO. Já tinha começado a ouvir rock, mas de forma ainda um pouco incipiente. Não tinha parentes que gostassem então o contato mais forte com esse tipo de música passou a vir dos amigos. O HERCULANO não era headbanger como a gente define isso hoje ou definia na época, mas gostava de algumas bandas pesadas e já tinha alguns discos, então eu comecei a ouvir AC/DC e IRON MAIDEN através dele. Ele também era amigo do MAGELA e do AFONSO, seu irmão, e foi assim que os conheci. Aliás, eu e o MAGELA, dentre os quatro éramos os únicos que nos reuníamos para pedir fitas. A gente comprava revistas como a ‘Somtrês’ e identificava algum anúncio de fulano de outro estado que vendia gravações, então mandava-se uma carta enviando inclusive os selos para a pessoa enviar a resposta, e recebia-se um catálogo de fazer o sujeito entrar em desespero com centenas de opções de bandas que a gente sequer imaginava que existiam. Na hora de escolher era tudo meio às cegas, baseado mais no que líamos do que em qualquer referência sonora real. MERCYFUL FATE, por exemplo, foi uma que pedimos apenas pelo que líamos nas revistas. Outro dos meus primeiros pedidos de fita cassete foi o disco ‘Maniac’ da banda ACID, e o motivo foi o verbete no ‘Livro Negro do Rock’ onde dizia que a banda tinha uma mulher cantando e era considerada o ‘Venom da Bélgica’. Era o suficiente, porque o VENOM tinha muita popularidade entre os bangers na época. É claro que, quando recebemos a fita, vimos que não tinha nada a ver com a turma do CRONOS, mas curtimos mesmo assim. Tudo era novo e feito com tesão! Mesmo hoje não consigo lembrar de qualquer banda da época que eu tenha curtido e hoje rejeite. Só tinha coisa boa! Nós quatro, portanto, ficávamos escutando música e até pelo fato de sermos quatro e morarmos perto, vislumbramos que poderíamos formar uma banda – O MAGELA já sabia tocar alguma coisa, comprava aquelas revistinhas de cifras e o HERCULANO era interessado em ter uma bateria que ganhou do pai dele depois. O AFONSO seria o vocalista e, para mim, portanto, sobrou o baixo como opção quando começamos a articular melhor as coisas. Eu mal conseguia distinguir o som do instrumento nas músicas. Foi mais do tipo: "Pra montar a banda, precisa de um baixista e só pode ser você, porque nós não queremos". Logo nos primeiros ensaios, o AFONSO se desanimou com a coisa e saiu então o MAGELA passou a cantar também. Passamos algum tempo ensaiando com essa formação até o momento em que o HERCULANO também quis sair para ir tocar música pop com a banda HABEAS CORPUS, mas isso era algo já meio previsível. Felizmente o MAGELA conhecia o ARISTIDES do colégio dele, e assim nasceu a melhor formação da banda.

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Segundo o livro de ‘Tobias’ da doutrina judaico-cristã, ‘Asmodeus’ é figurado como um ser maligno que está um posto a baixo na hierarquia de ‘Lúcifer’. Como vocês chegaram à decisão de adotar esse nome para a banda?

Anderson: Acho que foi o MAGELA que veio com esse nome. Não sei de onde ele o tirou, mas para mim era um nome tão bom quanto qualquer outro, ou pelo menos era melhor do que as outras sugestões. Até o nome ‘Arame Farpado’ chegou a ser sugerido. De qualquer jeito, creio que a inspiração veio do VENOM – muita coisa girava em torno deles na época, então foi algo como: "CRONOS, MANTAS e ABADON já foram utilizados, mas tem um nome de demônio sobrando e a gente podia aproveitar esse".

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Me parece que a ASMODEUS continua bem viva na memória de muita gente em Fortaleza. Como você vê isso às vésperas de completar trinta anos do surgimento da banda?

Anderson: Eu acho surpreendente pelo fato do quão pouco nós atuamos. Acho que é fruto da memória afetiva decorrente das relações de amizade de quem conviveu conosco e chegou a nos ver tocar no Clube do América, ou assistir a gente ensaiando. Há poucos dias eu estava conversando com nosso amigo ‘Carlinhos’ e me surpreendi muito quando ele mencionou que tinha achado legal o cover de ‘Adrian SOS’ do RUNNING WILD, que a gente tocou no América! Aliás, me surpreendi duplamente – uma, pelo fato dele se lembrar disso e outra, por ele ter conseguido reconhecer a música (risos). Mas como você mesmo disse, já são trinta anos e o fato de tantos de nós ainda estarmos acompanhando o estilo e mantendo as amizades depois de todo esse tempo, demonstra nossa paixão pelo estilo. heavy metal não é algo que possa ser vivenciado de forma isolada, tem que ser uma experiência coletiva. Creio que seja também por isso que não só a Asmodeus, mas todas as outras bandas da época mantenham um lugar na memória. Era um tempo em que todos, mesmo os que já curtiam há mais tempo, ainda estavam descobrindo o que era ser headbanger, ainda estavam conhecendo novos sons todos os dias. O Lucas (N.R.: Powerhead, fundador do primeiro fã clube de metal em Fortaleza), por exemplo, conheceu o ACID e o LOUDNESS de fitas que eu tinha, ou seja, todo mundo pegava material e já queria logo repassar, espalhar para que os outros pudessem curtir também. Então ter alguém começando a pegar em instrumentos, tentando criar riffs, fazendo distorção com pedais artesanais era pra ser de alguma forma marcante mesmo. Nós estávamos em 1983 e as bandas de rock que existiam em Fortaleza, como Banda POSH, IRIS SATIVA, ou alguma outra que eu não lembro agora, não supriam o que desejávamos de peso na música. Nós, porém, mesmo antes de comprar os instrumentos, sabíamos que queríamos fazer metal.

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Você chegou a ter notícias sobre a banda URANIUM 38, que segundo relatos, teria surgido antes da ASMODEUS, sendo a primeira banda Metal de Fortaleza?

Anderson: Não sabia. Tomei conhecimento disso quando li a entrevista com o ‘Lucas Powerhead’ e achei legal demais. Entenda que eu não gosto muito dessa história de primeira banda. Intimamente eu não tenho problema nenhum com isso, mas eu não quero passar pra ninguém a impressão de que eu fique "arrotando" esse mérito por aí. Dizem que nós fomos os primeiros a tocar ao vivo aqui em Fortaleza. Ótimo, mas eu só toco nesse assunto se alguém me pergunta e eu sempre tento responder que acho que fomos sim, mas não tenho certeza. Tenho ‘total consciência’ das nossas limitações e já tive algum conhecimento de comentários que se fundaram nessas limitações para contestar esse status de primeira, mas eu não me importo. Não posso fazer nada e tenho mais com o que me preocupar, então saber que outra banda surgiu antes da nossa é de certa forma libertador, pois quero que fique bem claro que eu ‘nunca’ clamei por esse título. Não era uma corrida.

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Infelizmente o único registro em áudio da ASMODEUS se perdeu com o passar do tempo, mas se formos classificar o som que ela fazia, em qual vertente se encaixaria?

Anderson: Eu não saberia definir um nicho sonoro, até porque as denominações na época eram diferentes das que usamos hoje. Nós tentávamos emular o som das bandas que tocavam rápido: VENOM, DESTRUCTION, VULCANO, por aí, mas tocávamos nossas músicas com uma pegada ‘punk’. Entenda, não éramos uma banda punk e nem tínhamos nenhuma influência desse som, isso nem passava pela nossa cabeça, até porque havia uma divisão ideológica forte no período baseada mais em radicalismo. Nossas influências eram 100% metal e era isso que a gente tocava, mas lembrando hoje em dia daqueles tempos, vejo que tínhamos uma pegada punk na forma em que executávamos as músicas na nossa falta de intimidade com nossos instrumentos. A nossa rapidez não soava com aquela limpidez e precisão de um METALLICA, estava mais para, por exemplo, o começo daquela música ‘Sons of Satan’ do VENOM, entende? Algo bem caótico.

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Como surgiram as canções ‘Tortura Mental’ e ‘Pobre Diabo’?

Anderson: As duas, bem como as demais, eram bem retas: não tinham pré-refrão, ponte ou subidas de tom. Eram só intro – estrofe – refrão – estrofe – refrão – solo – refrão – fim. Originalmente as composições vinham do MAGELA. Eu cheguei a fazer algumas letras depois, mas não tivemos tempo de musicá-las suficientemente. ‘Tortura Mental’ era uma música MID-tempo. Comparando hoje, pelo que posso lembrar, ela soava um pouco como a ‘Metal on Metal’ do ANVIL, guardada às devidas proporções! Por não ser rápida eu ficava até com um pé atrás com ela, mas lembro que nosso amigo ‘Fernando Harris’ quando assistiu nosso ensaio gostou bastante dela. O Carlão, o Franco e outro amigo, o ‘Banha’ chegaram a assistir nossos ensaios também, mas creio que a gente ficou mais "nos cascos" nas ocasiões em que o Fernando Harris e o Lucas Powerhead nos assistiam, pois eram caras de muito respeito na cena – se eles diziam que estava bom, a gente ficava gratificado, e se eles dissessem que estava uma merda, ficaríamos destruídos. Felizmente, sempre veio elogio e boas críticas por parte deles, nenhuma crítica destruidora, ainda bem. Quanto à ‘Pobre Diabo’, que também era uma música do MAGELA, era rápida como as outras. Só que um dia em casa tentando treinar com o baixo, eu acidentalmente, creio, toquei uma sequência de notas em ritmo ‘arrastadão’, que para mim parecia aquelas coisa bem lentonas do HELLHAMMER ou do CELTIC FROST. Eu gostei de como soou e mostrei pro MAGELA e nós passamos a tocar a ‘Pobre Diabo’ daquela forma a partir de então. Agora infelizmente eu não conseguirei lembrar de forma alguma se essa mudança da música foi anterior ou posterior ao show do ‘América’.

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Em 1986 a banda esteve na última edição do evento ‘Tempestade Metálica’, e por causa de um problema técnico, ela quase não tocou. Esta também foi a primeira apresentação da banda? Conte-nos ‘detalhes’ dessa experiência.

Anderson: Foi a primeira apresentação sim. Passamos a manhã ensaiando e lá pelas quinze horas nos mandamos para o ‘Clube do América’. Quando digo "nos mandamos", entende-se botar a bateria inteira dentro de um táxi, mais a guitarra, o baixo, pedestal de microfone e nós três também! Deixar as coisas no lugar era tudo que se fazia, pois passagem de som era um conceito ignorado por nós. Os problemas infelizmente começaram no momento de tirar as coisas do carro. Nós tínhamos a algum tempo juntado dinheiro pra comprar um pedestal de microfone pra banda do tipo "girafa" (não sei se ainda chamam assim) porque entendíamos que era o melhor pra uma pessoa cantar enquanto tocava guitarra. Ele tinha três pés que ficavam dobrados pra transporte e quando queríamos usar abríamos esses pés e fixávamos com uma rosca arrochando um parafuso na parte de baixo. O taxista ao tirá-lo do carro, bateu com esse parafuso no chão e o empenou. Estragou de vez o pedestal porque ele não conseguia mais se fixar e ficava balançando e, daí, veio a primeira ‘gambiarra’ do show, pois tivemos que escorá-lo com uma cadeira de plástico pra ele ficar posicionado. Visualize: você está de frente pro palco, de frente pro cantor/guitarrista, mas na frente do cara, uma cadeira... bom, seguimos assim. O equipamento de som foi providenciado pelo ‘Ricardo’ (N.R.: ‘Catunda’, organizador do evento), naturalmente, mas quando os técnicos que estavam arrumando o equipamento em cima do palco foram mexer no amplificador de baixo fizeram alguma besteira lá e subiu o "papoco" (N.R.: palavra informal do vocabulário nordestino que define "estouro", "explosão") com o cheiro de queimado. "O que houve? – O amplificador queimou – e agora? – lascou, tem jeito não"! Pronto, Aí ficamos lá insistindo, a gente tem que tocar etc., até que um deles resolve que eu poderia usar outra caixa. Eu não sei ser mais preciso na explicação porque tudo que eu sabia era ligar o cabo na caixa amplificada que eu usava pra ensaiar na garagem, mas ele deu um jeito cortando o plug do meu cabo, descascando os fios e conectando não sei de que jeito, mas funcionou. O problema é que essa gambiarra era bem precária e ele disse que se eu mexesse muito com o cabo a "coisa" ia desligar e aí acabava tudo. Conclusão: na hora do show plantei os pés em uma posição e não saí de lá. Já era suficiente – então pegamos o ônibus, cada um pra sua casa comer e voltar pro América. Chegamos de volta, ficamos por lá circulando e conversando até a hora de começar a tocar. Estava nervoso, mas isso desapareceu depois que começamos a tocar e o pessoal se aglomerou na frente do palco, batendo a cabeça e se esforçando pra arrancar a grade, o que era uma espécie de tradição no América. Aliás, o Lucas relata que ele deu o primeiro ‘mosh’ do Ceará durante a nossa apresentação! Infelizmente o nervosismo de subir ao palco foi substituído por algo pior, eu não estava escutando nada do que tocava! Nesse momento, tive uma epifânia e descobri pra que servia o tão falado retorno, que até então eu achava que era só uma caixa que ficava no palco para o STEVE HARRIS botar o pé em cima... solução: olhar para as mão do MAGELA e mudar as notas na hora em que ele mudasse de acorde. E assim foi até o final. Não tenho certeza, mas como nosso repertório era curto, creio que devemos ter tocado algo mais de uma vez. Enfim, terminamos, largamos os instrumentos e descemos pela lateral do palco. Como eu não escutava nada, não tinha ficado nem um pouco feliz, mas o pessoal estava na saída do palco esperando a gente pra nos abraçar! Lembro muito bem do ‘Bremen’ (N.R.: ‘Quixadá’, figura ilustre do cenário underground cearense) e do Lucas na frente. "Caramba, vocês gostaram mesmo?" Tinham gostado sim! Fomos mais cumprimentados ainda ao longo da noite e creio que é tudo que lembro. Muita coisa saiu errada, mas no fim terminou sendo uma noite que eu nunca vou esquecer.

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Por que a banda não pôde se apresentar no Clube ‘Terra e Mar’ junto com o PARANÓIA e o ORPHEUS em 1987?

Anderson: O ARISTIDES, nosso baterista na época do América era o melhor de nós musicalmente, e também um cara muito legal, mas não tinha interesse em prosseguir conosco. Ele sempre quis tocar ‘jazz’, tinha até aquelas escovinhas que os bateristas do estilo utilizam. Num estilo como o que a gente tentava praticar a bateria é fundamental, então se o baterista está desinteressado nada funciona. Os ensaios estavam uma porcaria absoluta, não andava, a música soava fraca, sem gás. Eu gosto de ser meio perfeccionista no que faço – até hoje, quando tenho que fazer alguma apresentação no trabalho gosto de me preparar antecipadamente, rever os temas, estar pronto para o que pode e o que não pode ser perguntado, e naquele tempo eu já era assim. Nos últimos ensaios parecia que nenhum de nós nunca tinha tocado juntos antes, então o que poderia ser feito? Subir no palco pra fazer aquela porcaria que estava rolando nos ensaios? O MAGELA também não estava seguro quanto a se apresentar, mas ficava circundando a questão sem querer verbalizar nada, então a decisão meio que caiu no meu colo. Na época me pareceu a decisão correta – não me arrependo, mas foi uma pena, mais ensaiados estávamos quando as coisas "não funcionavam" lá no América do que no dia em que as condições de apresentação pareciam estar melhores, como foi lá no Terra e Mar. De qualquer forma o que importa no final das contas é que quem se apresentou o fez com vontade e agitou quem estava lá prá curtir.

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Por que a banda se dissolveu ainda num período de surgimento dos primeiros nomes da cena metálica de Fortaleza?

Anderson: Depois do Terra e Mar, o ARISTIDES saiu para tocar ‘jazz’ como queria e também para fazer ‘country rock’ com uma banda que chegou a ter uma pequena evidência local, chamada THE COWS. Aí convidamos o SÉRGIO, fã de SLAYER para assumir a bateria, mas tinha um pequeno inconveniente, ele não tinha bateria. Com o tempo ele chegou a conseguir uma emprestada eu acho, mas a gente chega nesse ponto mais na frente... enquanto ele estava sem bateria a gente ia aos poucos aproveitando uns ensaios coletivos com outras bandas, como a REVENGER que ensaiava em uma área no prédio onde seus integrantes moravam. Um dia, quando eu e o MAGELA estávamos andando para chegar até o local, fomos abordados por um cara que teve a atenção chamada não só por causa de nossas camisetas, mas também porque a gente estava carregando a guitarra e o baixo na mão, subindo a 13 de maio em direção a Rua Justiniano de Serpa. O sujeito que nos abordou era o KIM, disse que tocava guitarra também e perguntou se podia ir pro ensaio com a gente. Ok, sem problema. Depois do ensaio, ele se ofereceu para tocar conosco e a gente resolveu topar. A princípio, parecia uma boa idéia, ASMODEUS 2.0, com dois guitarristas! Mas então, começaram os problemas – Primeiro, o local de ensaio passou a ser na ‘Maraponga’, bairro onde a bateria estava. Hoje, você se desloca tranquilamente pra lá, mas em 1985/86 eu e o MAGELA, que morávamos no bairro Cidade dos Funcionários, do outro lado da cidade, não dispúnhamos de carro. Também não tinha terminal de coletivos e nem linhas que facilitassem o acesso etc., então era uma ‘via crucis’ para chegar até lá levando os instrumentos no ônibus, sem falar que o MAGELA não tinha muita pontualidade – se a gente marcasse pra sair nove horas da manhã, ele só estaria pronto lá pelas onze – Segundo, o KIM começou a querer "cantar de galo" na história, querendo tocar músicas muito trabalhadas na linha QUEENSRYCHE etc. Eu até gostava e ainda gosto muito dessa banda e de músicas assim, mas não tinha nenhum interesse em tocar aquilo, não era o estilo que eu queria fazer e nem tinha habilidade suficiente para tal. Meu negócio era SLAYER, EXODUS etc., Inclusive uma vez em que a gente foi tirar o cover de ‘Black Magic’ lá no prédio onde os caras da REVENGER moravam, o MARCÃO do PARANÓIA veio até mim para elogiar, disse que a banda estava melhorando, ou seja, era por aí que a gente deveria estar caminhando! Mas não teve jeito, porque o MAGELA começou a comprar a idéia do KIM, então, a exemplo do ARISTIDES, dessa vez era eu o desestimulado na coisa. Terceiro, a gente ia ensaiar, começava a tocar e alguém errava. Quando o erro acontecia a gente parava, mas antes de recomeçar a música tinha que passar uns dez minutos esperando os dois guitarristas (MAGELA E KIM) pararem de "fritar". Eles ficavam cada um de um lado, solando em seus próprios mundos e eu tinha que ficar chamando: "A gente pode continuar?". Nessa época eu estava trabalhando no interior. Saía de Fortaleza, no domingo à noite e só retornava na noite de sexta. Passava a semana inteira afastado de amigos, família, e quando chegava o fim de semana não desfrutava de nada, praia, cinema, qualquer coisa. Meu tempo do fim de semana era investido só para ensaiar! Quando percebi que estava dedicando todo o meu tempo de lazer para uma tarefa improdutiva, morosa, sem progresso e que não me estimulava, pelos rumos que estava tomando, encheu. Saí da banda e vendi meu baixo. A banda ainda continuou por um tempo e, pelo que me consta, chegaram a tocar mais uma vez, mas eu não saberia dizer onde e nem quem era o baixista, pois não tinha mais interesse.

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Como anda o contato com os antigos membros da ASMODEUS?

Anderson: Bom, meu grande amigo HERCULANO, infelizmente já faleceu. O ARISTIDES perdi completamente o contato, mas gostaria de reencontrá-lo qualquer hora, era um cara muito gente boa! O SÉRGIO, eu encontrei esporadicamente por aí, ele se formou em Nutrição e parece que andou praticando fisiculturismo. Cheguei a ligar pra ele algumas vezes, convidando pra ir a esses shows recentes, ou pra se reencontrar com o pessoal, mas ele nunca pôde aparecer, tinha outras prioridades. O KIM, quando o encontrei pela última vez, numa parada de ônibus tinha virado evangélico. Não tive mais notícia e está bom assim. MAGELA, atualmente, é médico, mas continua tocando guitarra. Aliás, nós estamos com problemas porque sempre que a gente se encontra ele pergunta quando é que vamos tocar de novo, agora que eu voltei a tocar baixo, mas eu sempre tenho que responder que está dependendo mais dele do que de mim, porque ele como médico está fazendo plantão em todos os finais de semana e eu só tenho os finais de semana pra poder nos encontrar e tocar. Não vejo a hora em que a gente possa acertar nossos horários e ver o que é que rola, pois hoje, com certeza poderíamos colaborar muito mais um com o outro. Eu tive convite de dois outros guitarristas pra tocar e estou tentando me resolver com eles, mas minha vontade mesmo é de ver como seria tocar com o MAGELA novamente, afinal nós começamos juntos, acho que temos uma forma de comunicação que não se repetiria em outras parcerias. Voltar, porém a subir num palco está fora de cogitação pra mim. Pode até acontecer, em alguma coisa fechada entre amigos, mas a princípio eu quero apenas diversão sem estresse – pegar um estúdio a cada quinze dias e tocar sem compromisso.

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Hoje, quais bandas você aponta para melhor representação do metal cearense?

Anderson: Cara, eu acho que DARKSIDE, FIRELINE, OBSKURE e S.O.H. são, pelas suas qualidades, expoentes em seus estilos, e não estou restringindo isso ao metal cearense. São expoentes no metal nacional mesmo! Não as troco por nenhum outro grupo de renome, ou várias outras dessas bandas que as revistas nacionais gostam de expor. De bandas mais novas, gostei muito de BLASFEMADOR e, fora do metal, não posso deixar de citar a RENEGADOS, de quem sou fã declarado. Por fim, tenho que fazer menção a CLAMUS, porque eles gravaram um disco que eu considero o melhor já feito aqui no Ceará, ‘Frontiere’.

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Foi um enorme prazer tê-lo entrevistado e espero que essa nossa conversa possa servir não apenas para uma simples leitura, mas para um conteúdo de estudo, afinal, você e a ASMODEUS são "peças" importantíssimas para o histórico do metal, não só no Ceará, como em todo o Nordeste. Obrigado.

Anderson: Eu que agradeço! Nunca imaginei que a ASMODEUS chegaria a ter essa sobrevida. Em casa, eu tenho algumas revistas de metal de distribuição nacional que em algumas edições se propuseram a narrar a história do metal brasileiro e, quase que invariavelmente, quando o tema chega ao Nordeste ou Ceará, o nome da ASMODEUS é citado! Essas revistas são redigidas em São Paulo e os caras obtiveram a informação de uma banda de garagem de Fortaleza de 30 anos atrás que fez apenas uma única apresentação! Alguma coisa certa a gente deve ter feito! E o melhor é que caras como você, com uma dedicação ímpar, estão resgatando a história completa de nossa cena, apurando em detalhes o que antes era apenas um verbete. Parabéns por todo o seu trabalho, que eu tenho acompanhado e continuarei a fazê-lo.

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Sobre Leonardo M. Brauna

Leonardo M. Brauna é cearense de Maracanaú e desde adolescente vive a cultura do Rock/Metal. Além do Whiplash, o redator escreve para a revista Roadie Crew e é assessor de imprensa da Roadie Metal. A sua dedicação se define na busca constante por boas novidades e tesouros ainda obscuros.
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