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Carcass: "Surgical Steel" e as armadilhas do legado

Por Tiago Dantas da Rocha
Fonte: Stereogum
Postado em 26 de setembro de 2013

Uma parceria fértil muitas vezes rende grandes músicas. Duas personalidades diferentes podem trabalhar em conjunto para moldar uma massa criativa em algo duradouro. Tem sido o caso em algumas das maiores duplas do rock (Veja McCartney e Lennon e Page e Plant). E tem sido o mesmo no metal. A banda inglesa de grind e death metal, CARCASS, tem sido em parte definida pela parceria de Jeff Walker e Bill Steer. O vocalista e baixista Walker é o cara sábio e ácido que faz uma piada logo no início da entrevista falando que "o barzinho chama". O guitarrista Steer é o mais descontraído dos dois, o contraponto para a sagaz perspicácia de Walker. O baterista Ken Owen sofreu uma hemorragia cerebral o que tornou inviável a sua permanência na banda – apesar de ainda ser uma parte integrante do CARCASS. Nesse mês de setembro foi lançado o sexto álbum, após 17 anos, Surgical Steel: facilmente um dos melhores álbuns de metal de 2013 e instantaneamente uma peça vital da discografia do CARCASS.

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Uma rápida análise da reunião de longa gestação da banda: Depois da separação em 1996, o CARCASS se reuniu em 2007 para uma série de shows com o antigo guitarrista Michael Amott, agora no ARCH ENEMY, e Daniel Erlandsson, também do ARCH ENEMY, na bateria. Rumores sobre um novo álbum vieram à tona rapidamente, mas se dissiparam depois de alguns poucos anos. Steer e Walker, entretanto, sempre sentiram que havia espaço para um segundo capítulo.

Amott ajudou o CARCASS a alcançar um novo patamar criativo nos anos 90 com os álbuns Necroticism: Descanting The Insalubrious e Heartwork. Quando ele disse que não queria participar de um novo álbum coube a Walker e Steer reenergizar essa instituição do metal. E eles assim o fizeram com Surgical Steel. Você esperava menos de uma banda que criou o death metal melódico? A dupla nos contou como tudo aconteceu.

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STEREOGUM: Quando vocês colocaram a banda para dormir nos anos 90 a banda se foi meio que como um sopro. Como é a sensação de ter essa quantidade tão grande de interesse no CARCASS e no novo material?

WALKER: Claro que é gratificante para o ego. É por isso que as pessoas tocam em bandas. Elas querem se exibir e ser notadas. É bom sentir que finalmente estamos recebendo o reconhecimento que nós achávamos, arrogantemente ou não, que merecíamos. Com certeza existe mais interesse na banda hoje do que quando nos separamos em 1996. Eu não sei o que dizer sobre a atual situação do metal moderno (risadas). Quando você forma uma banda o que se quer é ser popular. Nós não estamos tentando ser "kvlt" – não somos uma banda de black metal. (Nota do tradutor: kvlt é um tipo de ideal do sub-underground do black metal, algo como lançamentos em edições de 300 vinis apenas, prensados em gravadoras dentro de cavernas). Mas também não somos estúpidos. Conhecemos nossas limitações e sabemos que existe um teto nas vendas e o apelo que uma banda como o CARCASS pode ter.

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STEREOGUM: Vocês sentem como se esse álbum fosse o que as pessoas mereciam ao invés de Swansong, o qual algumas pessoas tem opiniões divergentes em relação a ele?

WALKER: Swansong é um álbum difamado e algumas pessoas olham para ele com indiferença, mas isso é algo totalmente injustificado. Ele vendeu mais do que o Symphonies of Sickness. Nós já encontramos muitas pessoas que são entusiasmadas de forma genuína em relação ao álbum. Para alguns pode ter sido o primeiro álbum do CARCASS ou de metal pesado que já tenham ouvido. É um álbum que as pessoas se referem como uma porta de entrada. Nós o gravamos na Sony então se você analisar é algo estúpido. Mas não é como se eu não conseguisse dormir à noite preocupado que terminamos no Swansong. Ele tem seu espaço na nossa discografia. Não é algo que eu tenha vergonha. O único problema que eu tive é que algumas das nossas melhores canções foram deixadas de fora do álbum e colocadas na compilação Wake Up And Smell The Carcass.

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WALKER: Se tivéssemos feito o Heartwork Parte 2 as pessoas teriam ficado insatisfeitas. Você não pode vencer. Nós fizemos um serviço ao mundo porque deixamos as portas abertas para que as bandas de Gothenburg pudessem ter suas carreiras. Agora, 17 anos depois, nós temos espaço para lidar com esse novo álbum. De certa forma nós não poderíamos falhar com esse álbum porque nunca conseguiríamos criar um álbum pior do que o Swansong! (risadas).

STEREOGUM: Mudou a forma como vocês dois trabalham juntos?

WALKER: Eu acho que ainda é a mesma, mas somos muito mais tolerantes com as ideias um do outro. Eu posso ser bastante teimoso como vocalista. Eu sou o cara que está na frente. Bill também tem ideias fortes. Mas eu acho que estamos mais calmos e temos mais respeito um pelas ideias do outro. Também é um negócio como de costume.

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WALKER: Não há uma forma estereotipada para escrever. Às vezes, Bill chega ao estúdio com uma música pronta e outras vezes ele chega com um riff e Dan [Wilding, baterista] coloca uma batida para acompanhar. Tem sido sempre um esforço colaborativo. O eixo principal de quem escreve o material está sempre em fluxo constante. Ken [Owen] escreveu bastante coisa quando começamos. Então Mike [Amott] contribuiu. Nesse álbum Bill escreveu 90% do material e eu escrevi uma música. É isso o que mantém as coisas interessantes. Nunca são os mesmos indivíduos. O único constante é Bill porque ele sempre toca guitarra. A menos que ele coloque o seu toque numa música, não é CARCASS.

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STEER: Eu penso que foi algo extremamente agradável. Eu realmente comecei a sentir falta desse tipo de música. Eu segui numa tangente completamente diferente por anos. Num primeiro momento foi algo libertador porque eu me senti mais espontâneo. Depois de um tempo acabou se tornando uma pequena armadilha própria. Existem limitações em qualquer gênero. Quando começamos a trabalhar nas novas músicas eu tive essa incrível sensação de liberdade. Há tanta coisa a ser feita com os riffs e solos nas músicas. E obviamente eu senti falta em poder trabalhar com Jeff. Ele é uma enorme parte no som do CARCASS. Ele consegue pegar pedaços de músicas que escrevi e dar forma a elas. Eu posso trazer riffs e eles passarão por uma transformação por causa dele.

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STEER: [Por exemplo] nós passamos muito tempo trabalhando na última faixa "Mount of Execution". Houve tantas versões diferentes. Os versos e o refrão eram os mesmos, mas houve tantas modificações. Essa música demorou um tempo. Jeff tinha uma visão para ela. Quando eu trouxe os riffs pensei que seria uma música de quatro minutos e agora ela possui oito minutos. E isso foi obra do Jeff.

STEREOGUM: Qual foi a sua abordagem ao escrever esse álbum?

STEER: A decisão de embarcar nisso surgiu por volta de 2010. Fizemos bastante coisa nesse ciclo da reunião. Foram três anos de festivais, apresentações aleatórias e pequenos shows. Michael e Daniel então saíram da banda, o que foi compreensível dado os seus comprometimentos com o ARCH ENEMY. Jeff e eu chegamos meio que a mesma conclusão – que seria legal tentar escrever novo material para o CARCASS. Essa paixão voltou em mim assim que começamos a tocar, mas não iriamos conseguir fazer isso com aquela formação na banda. Foi triste ver aqueles caras indo embora, mas nos deu a oportunidade de sermos criativos e seguir em frente.

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STEREOGUM: Vocês dois tinham carreiras e projetos bem distintos.

WALKER: Nós trouxemos novidades para o nosso som apesar de não ser evidente. Bill adicionou bastante coisa de rock clássico e blues no álbum, o que você veio dos seus dias com o FIREBIRD. Meus vocais estão bem mais fortes do que jamais foram antes, e isso pode ser por causa de outros projetos com os quais eu estive envolvido. Nós aprendemos algumas coisas, mas com certeza eu não trarei um quarteto de cordas para o estúdio e Bill não vai trazer uma gaita. Nós sabemos o que devemos deixar fora do estúdio.

STEER: Nós temos personalidades muito diferentes. Ele é bastante talentoso de várias formas que eu não sou. Eu posso me juntar com ele e podemos criar bastante coisa. Eu sou bom em juntar riffs, mas não queria ser o frontman, letrista e artista. Ele também é capaz de ser o cara que pode ser bastante persistente com as pessoas pelo telefone ou email.

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STEREOGUM: Assim que vocês saíram em turnê parecia que as pessoas já estavam pedindo por um novo álbum.

STEER: Metade do tempo as pessoas falavam, "Vocês tem que gravar um novo álbum", e na outra metade elas falavam, "Por favor, não gravem um novo álbum". Tivemos reações bem contrárias. Michael falou bem no começo que não achava que houvesse necessidade para um novo álbum do CARCASS. Isso matou o projeto.

STEREOGUM: As pessoas ficam preocupadas quando uma banda bagunça com o próprio legado.

STEER: Essa é uma reação natural. Mas existem diversas formas de você olhar para isso. Se você for ver o novo álbum do BLACK SABBATH, eu já ouvi todo tipo de coisa sobre ele. Algumas pessoas acham que é incrível, e outras já o estavam condenando antes mesmo de terem ouvido. As pessoas tem esse senso raivoso de posse tipo "Como você ousa fazer algo com a minha banda!". Eu acho isso incrível. Claro, Tony Iommi é o melhor juiz nessa situação. Se ele quiser gravar várias músicas de skiffle ele está no seu direito. (Nota do tradutor: De acordo com a Wikipédia, "O skiffle é um tipo de música folk com influência de jazz, blues e country. Foi popular entre a juventude britânica na década de 1950. Os grupos de skiffle usavam instrumentos improvisados, como tábuas de lavar roupa e garrafas, para dar às canções folk e melodias simples um ambiente rápido e ritmíco."). Os álbuns clássicos do SABBATH não vão a lugar algum, e eu não entendo porque as pessoas ficam tão exaltadas. Agora, nós temos pessoas bastante jovens nos falando o que fazer e o que não fazer. Claramente, elas não estavam por aí quando estávamos originalmente fazendo isso.

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STEREOGUM: Vocês dão ouvidos a adolescentes que ficaram desesperados sobre vocês estarem gravando um novo álbum?

STEER: Dê uma olhada na nossa página no facebook (https://www.facebook.com/OfficialCarcass) ou veja os fóruns. Existem alguns jovens bastante teimosos por lá (risadas). Eu rapidamente tomei a decisão de parar de ver isso porque te dá a impressão que existem vários idiotas por lá. Eu prefiro pensar que as pessoas estão bem. A maioria das pessoas na comunidade do metal é honesta e de mente aberta. É que aquelas pessoas com problemas pessoais acabam se tornando mais perceptíveis.

STEREOGUM: Ao mesmo tempo as pessoas que ouviram o Surgical Steel disseram coisas bastante positivas.

STEER: Sem dúvida as vastas maiorias de coisas que ouvimos o álbum foram bastante positivas. Nós sabíamos quando começamos a gravar o álbum que poderíamos receber bastante crítica. Existem muitos casos de bandas que voltam depois de um grande tempo afastadas e acabam fazendo algo realmente bom. Algumas pessoas simplesmente não vão aceitar de qualquer jeito. As pessoas estão claramente se conectando com a música e isso é fantástico.

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STEREOGUM: O que vocês acham do Surgical Steel ser chamado de Heartwork Parte 2? As pessoas não têm mais o que inventar para falar do álbum?

WALKER: É legal porque para muitas pessoas o Heartwork é como o Santo Graal. Mas algumas pessoas falam isso no aspecto pejorativo. Existem muitos bitolados por grind que pensam que nossa carreira acabou no Necroticism. Nosso novo álbum é muito mais agressivo do que o Heartwork. O Heartwork é um álbum bem modesto, em minha opinião. Eu continuo a reafirmar que o novo álbum é uma consolidação de todo o nosso catálogo. Tem riffs aqui que você poderia colocar no Reek Of Putrefaction ou no Symphonies. Mas algumas pessoas não conseguem diferenciar entre como um riff é estruturado e o que é feito com ele por causa da produção. Só porque esse álbum não tem a mesma produção terrível do Reek Of Putrefaction não significa que não seja a mesma banda.

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WALKER: Nós pegamos elementos dos cinco álbuns aqui. Nós não fomos ouvir o nosso catálogo e então sair colando pequenos pedaços juntos. Mas somos um produto da música que ouvimos e somos um produto do nosso catálogo criado. Algumas coisas podem soar um pouco familiar, mas eu não creio que estamos nos repetindo.

STEREOGUM: Quando lançaram o Reek eu acredito que vocês tenham sido bastante mencionados em fanzines e para esse novo álbum vocês estão fazendo uma turnê de divulgação mundial.

WALKER: Na verdade, o Reek foi considerado o álbum do ano no The Observer que é um jornal de grande circulação. Houve uma resposta bastante eclética e intelectual ao Reek. Alguns dos mais altos escalões começaram a notar a banda por causa de Jon Peel e da BBC. Algumas pessoas bastante importantes se interessaram pela banda.

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STEREOGUM: Vocês estão felizes com toda essa atenção agora?

WALKER: Eu poderia viver minha vida sem dar entrevistas, mas ultimamente, o que eu quero é que o álbum seja bem sucedido. Ter que responder sempre as mesmas perguntas pode ser muito chato. Se eu fosse um jornalista daria quase como certo que determinadas perguntas já foram feitas por outras pessoas. Se bem que eu devo ser grato por ter alguém que queira falar comigo (risadas).

WALKER: Eu nunca quis estar numa banda para ser famoso ou qualquer merda desse tipo. Eu nunca fiz isso para ser rico e ainda não estou endinheirado. Mas é legal ter esse reconhecimento. Eu acho que o CARCASS corre o risco de ser apagado dos livros de história. Houve certas coisas que fizemos no metal pelas quais não recebemos os devidos créditos. Muita música moderna hoje em dia é afinada em B. Além do guitarrista de blues Leadbelly, eu não consigo pensar em outra banda que tenha dedicado todo seu catálogo a afinação em B. Nos dias de hoje é algo comum. Tomamos uma decisão intencional em 1987 por usar essa afinação. São coisas assim – pelas quais não recebemos crédito. A menos que você esteja por aí para gritar e falar bem alto você nunca será ouvido. Aqueles que falam mais alto serão ouvidos. Mas eu e Bill somos bem tranquilos e não corremos atrás disso. Nós pensamos que a verdade irá prevalecer, mas a verdade é que não irá, especialmente por causa da internet. A internet é cheia de revisionismo.

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STEREOGUM: Quando você e Bill começaram pra valer os trabalhos no último álbum vocês se sentiram desafiados a igualar o que fizeram no passado ou apenas seguir em frente daonde vocês estão agora?

WALKER: Bem, isso é uma competição. Você está sempre tentando dar o melhor de si. O álbum favorito do nosso catálogo para o Bill é o Heartwork e ele está sempre tentando supera-lo. Nós estamos definitivamente tentando fazer o melhor álbum do CARCASS. E isso é tudo que podemos fazer, não é? Nós não lançaríamos um álbum que fosse quase tão bom quanto outros que já lançamos. Temos muito a provar depois de 17 anos. Tem muita gente por aí que gostaria de ver o fracasso nos nossos rostos. E nós não queremos uma cagada no nosso catálogo. Eu sou fã de música e fico tenso quando vejo bandas se reunindo. Claro que isso me faz um hipócrita. Mas eu acho que fizemos da forma certa. O grande teste será se as pessoas gostarem do álbum. Com exceção de alguns obcecados por grind que não gostam de nada depois do Symphonies, o álbum está conseguindo uma resposta extremamente sólida.

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STEREOGUM: É interessante estar numa banda aonde as pessoas tem preferência por certos períodos do que por todo o catálogo de vocês?

WALKER: Eu não acho que já tenha encontrado alguém que goste de todos os cinco álbuns. Eu acho legal termos um conjunto de trabalhos tão amplos que causem essa diversidade de respostas.

STEREOGUM: Quando Colin [Richardson, produtor] saiu do projeto começaram a surgir boatos por toda a internet sugerindo que isso significava que o álbum seria um desastre...

WALKER: As pessoas estavam comentando sobre coisas as quais elas não sabiam. O álbum nunca esteve em perigo. Colin passou adiante para um par de mãos muito seguras. Eu não quero ficar sempre na zona de conforto. [Andy] Sneap é um produtor talentoso e ele é o cara que Colin queria. Ele é uma das duas pessoas as quais ele confiaria em produzir o álbum. Nós sempre tivemos problemas com Colin quando ele produziu nossos álbuns anteriores. Talvez estivéssemos pensando que seria uma tarefa muito fácil para ele. Ele tomou a sua decisão em deixar o Sneap no controle. E eu acho que isso acabou sendo o melhor.

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STEREOGUM: Ele gostou do álbum finalizado?

WALKER: Ele diz que sim, a menos que esteja falando isso apenas para me fazer pagar a sua parte.

STEREOGUM: O registro parece bastante contemporâneo, mas a arte gráfica é um retrocesso para o Necroticism.

WALKER: Estamos plagiando a nós mesmos. O conjunto de ferramentas circular é algo que usamos desde o Necroticism. Nós atualizamos e demos uma modernizada nele. De certa forma ele é como um símbolo corporativo para banda. É uma reafirmação que as coisas não mudaram; que ainda é o CARCASS. Mas também é uma manobra cínica para trazer a tona o fantasma do Necroticism e Heartwork. É sempre bom ter algo no passado para traçar suas raízes. Nós tentamos absorver o máximo de credibilidade que pudéssemos para esse álbum. Se isso significasse fazer com que Colin o produzisse e arrastar o Ken para o estúdio para fazer backing vocals, então nós assim o faríamos. Dezessete anos é tempo pra caramba e nós estávamos cientes que algumas pessoas adorariam tentar derrubar esse nosso projeto ou falar, "Esse álbum é uma merda porque não tem o Ken tocando." Eu entendo essa lógica, então estamos tentando fazer o máximo para colocar uma meia na boca dos nossos detratores.

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STEREOGUM: Da onde veio a ideia de lançar uma edição especial do álbum num kit de primeiros socorros?

WALKER: Isso foi ideia dos alemães [o selo Nuclear Blast tem sede na Alemanha]. Num primeiro momento eu achei algo meio constrangedor, mas agora eu gosto da ideia. É algo como um artifício, mas as gravadoras tem problemas para vender seus produtos. Elas precisam pensar em coisas que as pessoas podem comprar.

STEER: O número de opções para esse álbum é desconcertante. Os selos tem que trabalhar de forma árdua para que as pessoas comprem suas mercadorias. Eles precisam ser criativos com seus produtos, o que é algo que eu odeio. Acho muito difícil ter de acompanhar isso.

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STEREOGUM: Eles não venderam tudo em 24 horas?

WALKER: No Reino Unido eles venderam tudo em tipo, duas horas. Existe um mercado para essas coisas, a mesma coisa com vinis e cassetes. Eles fazem o que for preciso para recuperar o investimento.

STEREOGUM: O que os dois novos membros adicionaram a banda e no Surgical Steel?

WALKER: Ben [Ash, guitarrista] se juntou a banda apenas em Janeiro. Dan é uma substituição perfeita para Ken Owen. Ken sempre foi uma parte importante no som da banda. Uma parte do motivo das coisas terem funcionado tão bem é porque nós descobrimos o Dan. Ele se encaixa num nível pessoa e em termos de tocar. Nós poderíamos facilmente ter conseguido algum baterista antigo, mas quando você encontra alguém que se encaixa tão perfeitamente tudo funciona muito melhor. Ele permitiu a banda trabalhar como sempre foi de costume, mesmo sem o Ken.

STEREOGUM: Ken esteve no estúdio durante todo o projeto?

WALKER: Não, ele veio apenas um dia. Ken deu o seu aval para Dan e um tapinha nas costas, o que significou muito.

STEREOGUM: Como está a saúde de Ken?

WALKER: Do mesmo jeito que tem estado. As pessoas parecem ter essa ideia de que ele está lutando para voltar em forma, mas isso não vai acontecer. Ele esteve em coma e passou por duas operações no cérebro. A sua memória de curto prazo foi prejudicada. Sua forma física não está tão boa quanto deveria estar, mas ele ainda é o Ken, saca? Isso teve um grande impacto na saúde física dele, mas ainda assim ele está seguindo adiante com sua vida. E ele tem coisas melhores a fazer do que tocar numa porcaria de banda de grindcore.

STEREOGUM: Ele ainda continua a ser parte vital do CARCASS.

WALKER: Bem, o pai dele tem bons advogados (risadas).

STEREOGUM: A história da banda ainda está esperando para ser escrita?

WALKER: Eu gosto de pensar que temos dentro de nós o álbum definitivo do CARCASS. Enquanto me sentir dessa forma, isso nos dá ambição.

STEER: Eu também acho. Eu não gostaria de tentar ver muito adiante, mas é incrível que tenhamos chegado até esse ponto. É algo muito de ímpeto. Nós saímos da gravação desse álbum sentindo que poderíamos fazer outro. Você sempre aprende coisas novas no estúdio e quer manter tudo revigorado. Se tudo der certo nos próximos meses e ainda mantermos essas boas vibrações, então algo está prestes a acontecer.

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