Cangaço: guitarrista do Hammurabi entrevista guitarrista da banda
Por André Luiz Dias
Fonte: Lucas Mollica
Postado em 27 de julho de 2013
Entrevista feita por Lucas Mollica, guitarrista da banda Hammurabi, com o também guitarrista Rafael Cadena, do Cangaço
CANGAÇO é uma banda do Recife, que mistura elementos regionais com Metal. Encabeçada por Magno Lima (baixo/vocal) e Rafael Cadena (guitarra/vocal), estão prestes a lançar o Cd "Rastros", em que também participou o baterista André Lira, que deixou o grupo. Embora ainda vá lançar seu primeiro Cd, essa banda já mostrou material de estilo bem próprio, além de terem tocado no Wacken Open Air.
Realizamos um ótimo bate papo com o guitarrista Rafael Cadena, que nos falou da banda, do seu som, Metal, e muito mais.
Vocês iniciaram a banda final de 2009 correto? E em 2010 vencem no Wacken Open Air e ganham a chance de tocar no maior festival de Metal do mundo. Como foi as coisas acontecerem tão rápido?
Na verdade eu já tinha uma banda com Magno (Baixista/Vocal) antes, inclusive na primeira demo ainda continham algumas músicas da banda anterior. Aconteceu tudo muito rápido, estávamos sem pretensões alguma em relação ao concurso, mandamos para a Roadie Crew a nossa primeira demo (que está bem precária no quesito qualidade de gravação) e o que viesse era lucro. Até hoje é difícil de acreditar mesmo que já tenha acontecido haha
Como está sendo a repercussão internacional desde então, há planos para tocar fora novamente?
Nada muito significativo, apareceram alguns reviews sobre os shows do festival daquele ano, sobre as bandas do Metal Battle, mas nada demais, falaram que fazíamos um metal diferente haha. Quando voltamos para o Brasil, nos focamos mais no nosso país, aqui rendeu uma boa repercussão que dura até hoje, as pessoas ainda perguntam sobre o festival quando nos encontram, são boas memórias, mas já aconteceu e agora é seguir em frente com o trabalho. Ainda não temos planos para tocar lá fora, só depois que tivermos lançado nosso primeiro album.
E no âmbito nacional, como têm sentido a repercussão dentro do país, muitos shows após o Wacken? Você acha que falta reconhecimento dentro do Brasil para o trabalho do Cangaço?
Aqui no Brasil tivemos uma ótima repercussão, muita gente de vários estados nos mandavam mensagens por e-mail e redes sociais elogiando nosso trabalho, dando apoio, foi muito bom para nós, nos incentivou ainda mais a continuar nessa luta. Fizemos vários shows por aqui no nordeste, inclusive duas mini-tours (uma aqui no nordeste e outra em São Paulo) com a banda Necromesis de Santo Andre-SP. Em relação ao reconhecimento, acho que "reconhecimento" é apenas um reflexo do trabalho que vem sendo feito, na nossa atual situação, sem ainda nosso primeiro album é normal que nossa projeção ainda seja pequena, acredito que isso mude com o lançamento do material oficial e uma boa divulgação.
Você acha que a trajetoria de um metaleiro no nordeste passa por mais dificuldades?
Você diz como músico ou como pessoa em meio a sociedade?
Hum, legal. Responda ambos separadamente por favor!
Bom, hoje em dia acho que é complicado ser músico só de metal em qualquer lugar do Brasil, o que muda de um lugar para outro são só os tipos de dificuldades, mas é só para quem realmente gosta, aqui em Recife por exemplo, da pra contar nos dedos a quantidade de produtores que mesmo tomando prejuízo as vezes, continuam nessa luta de tentar manter a cena movimentada, ainda sim esses trabalham com outra coisa para se manterem, viver unicamente de metal no Brasil acho que é algo que beira a utopia, principalmente no nordeste. Dificilmente conseguimos apoio da prefeitura, e quando conseguimos, para sermos pagos leva um bom tempo. Como pessoa ainda rola um certo preconceito por parte dos mais velhos, olham com estranhamento os cabelos grandes, barbas, mas acredito que isso mude com o tempo.
Vocês sentiram muita diferença nas outras regiões do país como sudeste? Teve algo que marcou nesse sentido?
O underground é muito parecido com aqui no nordeste, passamos pouco tempo para ter uma opinião mais sólida, mas deu pra ver que a saturação de shows em São Paulo prejudica as bandas locais, um dos nossos shows por exemplo, foi no mesmo dia do show do Morbid Angel e no final de semana anterior já tinha tido outro show de banda internacional. É complicado, é muita oferta de show, isso divide muito o público e termina pesando no bolso para frequentar os shows das bandas locais. Alguns shows deram poucas pessoas mas foi muito divertido e uma grande experiência para nós, foi nossa primeira "tour". O que gostei foi a quantidade de casas para show, facilitou muito na hora de organizar os shows para a tour. Aqui em Recife você tem que alugar tudo, desde o espaço até o equipamento, em São Paulo já tem os lugares certos que todo final de semana rola eventos, então é mais fácil de organizar uma tour por exemplo.
Como você entrou no mundo da guitarra, faz quanto tempo, nos conte sua trajetória na música.
Me interessei por violão com uns 14 anos por influencia de amigos mesmo, aos 15 comecei a tocar guitarra e já nessa época eu me encontrava com Magno e ficávamos tocando juntos, passávamos tardes tocando Iron Maiden haha. Cheguei a estudar violão erudito por uns 2 anos no Conservatório Pernambucano de Música. Na guitarra estudei com alguns professores particulares aqui da cidade que foram essenciais para minha formação musical. Hoje em dia faço o curso de Licenciatura em Música na Universidade Federal de Pernambuco.
Seu som é sujo pra tocar Death Metal, mas limpo pra não embolar um acorde. O que você caracteriza como seu timbre de guitarra, o que você busca em seu timbre para se reconhecer?
Acho que deve ser porque uso pouco ganho na distorção e não uso compressor, gosto de sentir a dinâmica da guitarra, se for para soar mais crunch, toco mais leve ou abaixo um pouco o potenciômetro da guitarra, se for pra soar mais sujo, toco com mais força. Isso ajuda na hora que preciso de definição nos acordes, mas dá trabalho, é algo que venho estudando para tentar aperfeiçoar. O timbre que eu gosto é, como falei, pouco ganho e com uma boa dose de médio para ajudar na definição. Ainda não achei meu som ideal, ainda estou em busca dele hehe.
Não é comum no metal mais extremo controlar a saturação no volume, é mais da escola do rock.
Pois é, acho que isso foi influência dos meus professores de guitarra, nenhum deles era guitarrista de metal, procurei por pessoas de estilos diferentes para tentar misturar minhas influências e tentar uma identidade própria.
Quem você admira o timbre especificamente?
Gosto muito do timbre do Jeff Waters do Annihilator e do Mikael Åkerfeldt do Opeth, aquele som de Laney deles (no caso dos caras do Opeth) é um sonho de consumo.
O foco do seu trabalho é mais em bases e a estrutura da música do que em solos?
Na maioria dos casos isso acontece, mas não é nada definido anteriormente, eu deixo fluir. De repente possa surgir uma música que aconteça ao contrário, tudo depende da inspiração mesmo.
A sonoridade é marcada por estrutura musical mais incomum, principalmente muitas dissonâncias. Como você pensa sobre essas dissonâncias quando está compondo?
Bom, não faço todas as músicas, mas da parte das músicas que faço, gosto da ideia de surpreender o ouvinte de modo que ele já acostumado a ouvir determinada sequencia harmônica, faço uma resolução diferente que gera uma sensação de surpresa agradável a quem está ouvindo porque saí da mesmice, pelo menos é assim que eu me sinto quando estou na condição de ouvinte. Por isso, modulações harmônicas são constantes nas ideias musicais da banda.
Têm alguns intervalos ou progressões favoritos?
Na verdade tento não ter justamente para não tornar em mesmice a longo prazo hahaha.
Tento sempre explorar coisas novas, mesmo nas idéias de música regional para tentar encontrar novos caminhos. O mixolídio que é muito comum na música nordestina por exemplo, ao invés da Quarta Justa, uso Quarta Aumentada as vezes, já para variar a sonoridade da harmonia, isso já gera uma bela dissonância e ainda sim me permite soar como um acorde maior que é comum no baião. Enfim, são muitas possibilidades.
Quais músicos você vê mais influência nas suas composições?
Varia muito, estou sempre escutando muita coisa de vários estilos diferentes. Alceu Valença é um cara que me inspirou muito, bandas de música instrumental aqui de Recife como (Treminhão, Mandinga e por ai vai), bandas de metal como Decapitated, Opeth, Annihilator. É muita coisa haha
O Cangaço têm uma mistura própria de Metal, principalmente Death Metal, e elementos da cultura nacional, esse estilo mais próprio você julga como o diferencial para terem conseguido elevar a banda tão rápido?
Acho que foi um dos elementos que nos ajudou sim, embora que não somos pioneiros em fazer esse tipo de mistura, acho que o fato de termos uma sonoridade mais extrema com esse tipo de mistura nos tornou um pouco mais autênticos, mas acho que o conteúdo das letras e ainda em português, a ideologia de apologia a cultura, tiveram sua importância também.
Obviamente a sonoridade de vocês transparece músicos dedicados, e finta com algo de prog, ou talvez até jazz e fusion. Mas sinceramente não ouço como uma banda com essa intenção prog na frente, parece mais influência de bandas mais trabalhadas do que uma preocupação. Sinto no som do Cangaço um grande experimentalismo, e uma evolução que esse experimentalismo pede a cada trabalho.
Verdade, acho que vem da influências de bandas como o Death, Sadus e Annihilator que também me causam essa sensação de que não se preocupam em ser complexos, mas existe uma complexidade que flui naturalmente de suas músicas. Acho que isso acontece pelo fato de ouvirmos bandas de diversos estilos e o Jazz/Fusion é um deles, gosto muito do trabalho de guitarristas como Brett Garsed, Guthrie Govan e pianistas como Hiromi Uehara. Sim, a nossa própria identidade sonora é algo que buscamos o tempo inteiro, por isso estamos sempre experimentando ideias novas no nosso som, experimentalismo musical é algo constante na Cangaço.
O álbum contará com participações de instrumentos menos comuns no Metal como flautas e percussões. Além de temáticas regionais. Vocês vêm alguma relação com o Folk Metal que vêm crescendo? Seria uma forma do Metal tentar se renovar?
É uma possibilidade, o CD contém alguns elementos de percussão, estamos experimentando isso aos poucos essas idéias da participação de outros instrumentos, resta ver como isso vai soar ao vivo, mas só saberemos quando o CD sair e começarmos a fazer shows.
O folk metal já não é mais nenhuma novidade, uma pena só ter se desenvolvido mais pela europa, aqui no Brasil com uma cultura musical tão rica não têm nenhuma banda que eu conheça que tenha tentado exaltar suas raízes como eles fazem lá fora. Quem sabe ainda ainda apareça não né? Sou total a favor do experimentalismo no metal.
Bem, até houve, mas acho que nenhuma banda folk nacionalista se destacou, embora algumas bandas brasileiras tenham se destacado baseados na cultura externa.
Cultura externa realmente tem várias, mas na cultura nacional eu realmente não conheço, até peço que você me apresente se conhecer alguma.
É que nenhuma vingou, acho que a pouca repercussão que tiveram seria por fazer isso, mas se faltou qualidade, ou a galera torceu o nariz a tendência nacional não sei. Eu não lembro de cabeça nenhuma porque não me empolgaram (mas não sou entusiasta do estilo).
Mas vejo que música regional de qualquer lugar tendem a se fundir melhor com metal que a maioria dos estilos musicais. Há certos valores, música regional muitas vezes permite isso, pois são a origem da cultura. E o Metal por ter um primitivismo, mesmo com a modernidade do som elétrico, talvez absorva melhor esses elementos muito melhor que fundido com música mainstream.
É verdade, se você vai misturar Metal com algum tipo de música sem conteúdo, realmente não acho que possa sair boa coisa, mas ai vai do bom senso de cada um. E da competência também.
kkkkkkkkkkkkkkk
heuaheu
Cês bebem muita cachaça aí no nordeste?
Nada haha
Aqui hoje somos tranquilões hehe
Eu mesmo bebo pouquíssimo, o baixista também e o batera nem bebe kkkkk
Cangaceiros "caretas" kkk
Por fim, gostaria que deixasse alguma dica valiosa aos guitarristas do metal que querem ser inovadores;
Bom, não me considero nem de longe inovador, mas diria que acho muito importante não só guitarrista mas qualquer instrumentista/compositor buscar sua própria identidade, ter sua própria marca, algo que quando as pessoas escutem, digam: é "fulano" tocando. É preciso ter a cabeça aberta para ouvir várias coisas e ter segurança no que está fazendo, não é uma coisa que acontece da noite pro dia, eu ainda estou em busca da minha identidade musical.
Só queria agradecer a você pela oportunidade de expôr minhas opiniões e queria deixar os links para contato da Cangaço.
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