Greensleeves: entrevista para site holandês
Por Assessoria Greensleeves
Fonte: Lords of Metal
Postado em 12 de março de 2010
A paranaense GREENSLEEVES tem obtido excelentes resultados com a divulgação do seu álbum de estreia, "The Elephant Truth", e recentemente, concedeu entrevista ao site holandês Lords of Metal. Confira a tradução abaixo ou acesse este link para ler na íntegra, em inglês:
Os negócios no mundo da música são estranhos. Algumas vezes você ouve um CD que faz você pensar como é possível que aquela banda conseguiu a oportunidade (financeira) para gravar um álbum. Por outro lado, há bandas que fazem você refletir como é possível que eles não tenham contrato como uma gravadora. Bandas que esbanjam talento e que aparentemente não possuem os contatos certos ou não estavam no lugar certo, na hora certa. A brasileira Greensleeves pertence e este último grupo. Uma banda cheia de talento e habilidade mas sem uma gravadora. Inacreditável. Nos pareceu uma boa ideia conversar com esses cavalheiros e os apresentar a vocês. Eu conversei com não menos que quatro membros da banda: Gui Nogueira (vocal), Victor Schmidlin (guitarra), Cícero Baggio (guitarra) e João Koerner (baixo).
Por Wim.
Olá amigos, como estão vocês e como é a vida no Brasil hoje em dia?
Victor: Nós estamos muito bem, obrigado! E sobre a vida no Brasil, é um momento interessante para estar no país. Por um lado, nós vemos o Brasil nas manchetes internacionais, um dos BRIC, um país emergente em um mundo que apresenta pouco (ou nenhum) crescimento econômico. Pelo outro, é o mesmo país pobre e complicado, com milhares de problemas e uma massa inepta e demagoga, políticos que ganham muito e não tem nenhuma pista de como resolver estes problemas, enquanto uma grande parcela a população é crédula, egoísta e facilmente enganada pelo paternalismo.
Cícero: O tempo irá dizer qual lado da moeda vai prevalecer. Mas, tirando a média, hoje em dia não é mais tão ruim ser brasileiro.
João: E cara, está chovendo muito aqui! (risadas).
Parabéns pelo lançamento do seu álbum de estreia 'The Elephant Truth'. A gravação levou dois anos. Por que tanto tempo?
Gui: Obrigado! Nosso maior obstáculo foi (e continua sendo) que cada membro estava vivendo em uma cidade diferente em um país de proporções continentais. Nós tivemos que conciliar o trabalho de todo mundo, meu PhD, agendas pessoais, etc. Pois apesar de tudo, no Brasil, apenas alguns poucos conseguem viver de heavy metal, e nós não estamos entre eles - ainda!
João: Escrever as músicas foi um processo super trabalhoso. O Victor tinha muitas composições que ele vinha acumulando durante os anos. Ele programou estas trilhas no computador e nos enviava pela internet. Nós unimos com nossas antigas músicas e novas ideias, e desenvolvemos o trabalho todo dessa forma. Foi um fluxo de vários caminhos de arquivos midi que soavam como trilhas de videogame. Foi uma experiência trabalhosa, mas diferente e divertida.
Cicero: E quando o João diz "músicas antigas", ele quer dizer que algumas coisas do CD foram criadas há quase 15 anos!
Victor: E ainda, se você considerar exclusivamente o tempo que cada um gastou para gravar sua parte, foi de fato muito rápido. Cada um utilizou apenas um final de semana nisso, porque o estúdio era em Brasília e eu sou o único que vive lá, então nós tivemos que ser eficientes para minimizar as viagens. Na mixagem, eu fazia no meu tempo livre, e no final tive que usar uma semana de férias para terminar o trabalho. Depois disso tivemos que cuidar da arte, impressão do encarte, prensagem do CD, registrar as músicas, e por aí vai. Fazer tudo isso de maneira independente é um grande trabalho, mas é uma recompensa muito grande conseguir realizar isso do seu jeito e com seu próprio esforço.
'The Elephant Truth' é um álbum conceitual. Influenciado pelo poema de Godfrey Saxe, o disco descreve de uma maneira abastrata a jornada mental de um homem em coma. Por que vocês optaram por fazer um álbum conceitual e por que esta história particular de um homem em coma?
Victor: Essa ideia eu tive em 1996, na verdade, que surgiu da conceito de que uma pessoa pode ser seu próprio inimigo ou aliado, dependendo do foco. Na busca pelo autoconhecimento, por que não personificar a nossa própria consciência e ter uma conversa com ela? Tudo ficaria bem mais claro. E nessa jornada pela mente dele, nosso personagem principal faz isso. Porque ele está em coma, inconsciente e na beira da morte, ele pode rever seus erros e virtudes novamente – aquela ideia de assistir sua vida toda num flash de segundos.
João: Em nossas antigas músicas, como 'Fight my Fear'e 'Blind by Choice', nós já falavamos sobre medos, sentimentos e a busca pela verdade. E o poema de John Godfrey Saxe, 'The Blind Men And The Elephant', realmente sintetiza a visão de que as pessoas prendem suas vidas a um fato único e a respostas dogmáticas. Então nós fundimos está busca pela verdade e autoconhecimento na jornada de um covarde que está preso em seu pequeno mundinho que existe em sua mente. Assim como todo mundo.
O álbum tem 23 músicas. Por que vocês optaram por tantas trilhas diferentes? Seria porque com os títulos de todas as diversas pistas vocês poderiam nomear, descrever o estado de espírito do homem em coma ou há alguma outra razão para tal?
Cícero: Na verdade, nós preferimos dividir as músicas com o objetivo de termos partes diferentes da história em trilhas diferentes. Nós poderíamos ter juntado muitas trilhas e termos menos músicas, que seriam mais longas, mas nós queríamos ter cada história separada por si só. Pegue a 'Introspection, 'Crisis' e 'Best Friends', por exemplo. Elas são na verdade uma única música, mas nós dividimos em três partes em sequência para mudar o assunto das letras. Poderíamos comparar ao ‘Six Degrees Of Inner Turbulence’ do Dream Theater, que é "quebrado" em trilhas de um modo inesperado. No 'The Elephant Truth', nós temos muitas reviravoltas nas músicas porque a história, por si só, não é contada de forma linear.
Gui: Tem a ver também com o jeito que nossa mente funciona. As pessoas pensam muitas coisas ao mesmo tempo. Então, nós optamos por uma sequência não-linear porque o personagem próprio está confuso.
Talvez seja uma coincidência mas minhas músicas preferidas do disco são as mais longas, por exemplo as brilhantes 'Come Back to Myself", 'Flood' e 'Blind by Choice'. Para mim, como ouvinte, músicas como 'Exit', 'Introspection' e 'Passage' (trilhas de um minuto) são nada mais que pontes para outras partes na música ao invés de trilhas 'normais'. Como vocês enxergam isso?
João: Você apontou bem. Essas "músicas" são elementos que mantém a história unida. Elas não são músicas regulares de um álbum, elas estão ali para nos ajudar a construir um clima narrativo. O Queensryche, no 'Operation Mindcrime II', gravou uma trilha de oito segundos em um álbum de 17 faixas. Acho que isso faz parte da cultura prog. Não é fácil contar uma história com música, äs vezes você precisa recorrer a discursos, efeitos sonoros e outros recursos. Nós também queríamos tornar a experiência mais fácil para o ouvinte. Com esse enfoque, qualquer um pode pular para as faixas normais diretamente ou escolher ouvi-las mescladas com suas introduções.
Ouvindo o álbum de vocês, especialmente as primeiras músicas, uma banda me veio a mente com um estilo parecido: VoiVod. Há algo que vocês reconhecem nisso ou é a primeira vez que vocês ouvem esta comparação?
Victor: É a primeira vez que somos comparados ao VoiVod. Geralmente mencionam Fates Warning, Iron Maiden, Control Denied, até mesmo Queen, King Crimson e Black Sabbath por algumas faixas do álbum. A parte legal disso é que nós estamos sendo comparados a grandes bandas, que ou nos influenciaram, ou são ícones em seu gênero. Eu acho que na nossa música há claramente uma grande infuência 'old school', e a diversidade de comparações que estamos obtendo nos mostra que estamos atingindo pessoas de diferentes estilos. Uns dias atrás eu troquei emails com o Jorn Viggo Lofstad (Pagan's Mind/Jorn) e ele me disse que nossa música o lembrava Marillion. Esse retorno das pessoas é muito legal!
João: Mas eu sou um fã de VoiVod. E eu me lembro a primeira vez que eu vi o vídeo deles do cover de 'Astronomy Domine' do Pink Floyd. Naquela época eu pensei "que bacana, deveríamos tocar algo assim". Mas naquela época nós estávamos entretidos tocando Rush: 'Limelight', 'Red Barchetta', 'Freewill' e tantas outras.
Eu acho que por causa dos diferentes climas que voc6es descrevem com sua música, é bem difícil descrever o estilo musical que a Greensleeves toca. Alguns chamariam de hard rock, metal progressivo, thrash metal ou power metal. Como vocês descrevem a sua música?
Cícero: Nós somos fãs de todos esses gêneros. Eles foram nossas fontes de inspiração quando eramos adolescentes aprendendo a tocar nossos instrumentos e eles moldaram a forma como nós tocamos e compomos. O engraçado neste jogo é tentar misturar tudo isso junto e ainda soar único. Mas se tivéssemos que nos rotular, eu acho que seria mais pro metal progressivo.
A Greensleeves foi fundada em 1993. O que aconteceu nestes 16 anos ate o lançamento do seu primeiro álbum?
João: O Victor e o Cícero eram vizinhos e amigos de infância, e eles estudaram música com o mesmo professor em nossa cidade natal, que me apresentou a eles. Em 1994, todo mundo estava seguindo a onda grunge, mas nós ouvíamos Iron Maiden, Black Sabbath, Deep Purple e outras grandes canções das maiores bandas de metal, e logo começamos a compor juntos. O Gui Mogueira se juntou a nós em 1997.
Gui: Porém, quando nós finalmente acertamos o time, daí vieram as universidades, namoradas, estágios e trabalhos. Em 1999, nós decidimos encerrar a banda por causa dos projetos pessoais de cada um, mas nós mantivemos forte a amizade e nunca perdemos contato.
Victor: Em 2001, eu me mudei de Curitiba pra Brasília. Lá, eu me juntei a Dynahead, uma banda de thrash metal que agora está despontando internacionalmente. Algumas músicas do primeiro disco deles foram compostas comigo, e eles gravaram algumas músicas antigas que eu escrevi com o Cícero. O álbum deles é muito bom, aliás. É um outro exemplo de que há muitas novas bandas excelentes no Brasil. Eu os deixei por diferenças musicais que podem ser facilmente percebidas quando você ouve os dois CDs. E depois disso eu conversei com o João porque queria usar algumas das nossas músicas antigas em um projeto que eu estava começando, mas ele decidiu tentar reunir a banda novamente para isso. Incrível, depois de tantos anos, isso não foi difícil.
Vocês são do Brasil. Na música de algumas outras bandas da América do Sul você pode ouvir influências do seu cenário cultural. Eu não ouvi nada parecido na música da Greensleeves, mas talvez eu tenha perdido alguma coisa. Então eu pergunto: há algo na sua música que é típico de uma banda do Brasil?
Victor: Você está certo. Sepultura e Angra foram muito eficientes ao unir metal com música brasileira, outras bandas tentaram a mesma fórmula, mas acabaram soando cópias. Nós não queríamos isso, especialmente porque nenhum membro é fã de música popular brasileira. Eu vou provavelmente ser crucifucado amanhã por falar isso, mas eu não gosto nenhum pouco de samba. Minha família é descendente de suíços e alemães, o que é comum no Sul do Brasil. E mais, meus irmãos mais velhos gostavam de rock internacional, e eu cresci ouvindo bandas como The Police, Rush e Whitesnake ao invés de música brasileira.
Gui: Até porque não existe algo como "uma" música brasileira. No Brasil, música regional é muito forte, nosso país é muito diverso. Não há um único gênero que represente totalmente todos os brasileiros musicalmente. A respeito da Greensleeves, muito das nossas influências também não são brasileiras.
Como é a cena no Brasil? É difícil para bandas jovens conseguir fazer as coisas: tocar ao vivo, conseguir um contrato com gravadora e por aí vai?
Victor: Tem seus bons e maus momentos, talvez a cena varie com o câmbio da moeda (risos). O motivo que eu digo isso é que, antes da internet, Angra e Sepultura eram a opção comercial viável no nosso país com uma moeda desvalorizada. Agora, nós temos fácil acesso a todos os tipos de bandas de qualquer lugar do mundo. Isso amplia a competição e sobe o nível das bandas locais. Há muitas bandas brasileiras de excelente qualidade em termos de técnica e criatividade. Nós só precisamos que os headbangers locais comecem a buscar mais o metal nacional.
Cícero: Há grandes bandas como o Dr. Sin que, por alguma razão, não conseguiram o sucesso merecido na arena internacional. Outros simplesmente não conseguem achar espaço porque a cultura de massa ainda é muito forte no país, e metal é tido como um segmento de nicho com poucos fãs. Isso é mentira pois a gente vê bandas como Metallica e AC/DC tocando aqui para milhares de pessoas.
João: Eu fui ver o show do Metallica aqui no Brasil em janeiro. 70 mil pessoas apertadas em um estádio de futebol. Foi um grande show!
Seria possível para vocês sair em uma turnê internacional, talvez como banda de abertura? Se sim, há algum plano para isso já em andamento?
Gui: Isso seria fantástico! Obviamente, teria que ser cuidadosamente planejado com o tempo suficiente para acertarmos nossas agendas profissionais. Ok, eu sei que isso soa não-metal, mas nós temos empregos e agendas cheias. Porém, se alguma boa oportunidade aparecer, nós faremos o maior esforço para isso. Afinal, nada supera estar em um palco.
João: Não há um dia sequer que eu não pense nisso. Nós estamos lutando na busca por um selo que abra estas portas e parceiros que nos ajudem a finalmente fazer as coisas acontecer. É só questão de surgir uma oportunidade concreta.
Para concluir a entrevista: quais são seus objetivos num futuro próximo? O que vocês esperam que 2010 vai trazer e significar para a banda?
João: Finalmente, levaremos o 'The Elephant Truth' para o palco. Nós nuna imaginamos que teríamos essa oportunidade tão cedo e agora isso é real. Além disso, na primeira metade do ano, continuaremos promovendo o disco e esperamos que alguma gravadora se interesse no nosso material e nos ajude a levar nossa música a mais pessoas.
Victor: Nós queremos achar nosso lugar na arena do metal, passo a passo, com o apoio de gente como vocês da Lords of Metal. You guys rock!
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