Trent Reznor: "a sensação de estar sem gravadora"
Por Camila F.
Fonte: nineinchnails.com.br
Postado em 16 de setembro de 2008
Trent Reznor, vocalista e líder da banda NINE INCH NAILS, concedeu uma entrevista ao freetimes.com falando sobre como está a sua vida sem a segurança de uma grande gravadora.
"Que diferença faz a sobriedade. Durante os anos 90, o líder do Nine Inch Nails, Trent Reznor, teve uma vida tumultuada. Sua banda de rock industrial era imensamente popular, mas ele não deu muitas entrevistas e se desentendeu publicamente com várias pessoas, de Marilyn Manson à Courtney Love. Levou 5 anos para o NIN dar continuidade ao incrível disco de 1994 'The Downward Spiral' com o 'The Fragile', um álbum mais tranqüilo, que não saciou a necessidade de barulho dos fãs. Acontece que todo esse estranho comportamento tinha uma explicação. Reznor estava lutando contra as drogas e o álcool.
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Mas desde que se desintoxicou, há alguns anos, Reznor está diferente - mental e fisicamente. O cara ‘bombou’ seu físico que costumava ser magro e tornou-se produtivo, lançando o 'With Teeth' em 2005 seguido do 'Year Zero' em 2007. Ele retornou rapidamente esse ano para lançar dois discos: 'Ghosts I-IV' e 'The Slip'. Bem, hoje em dia, você poderia chamá-lo até mesmo de prolífico.
'Estar sóbrio foi uma grande mudança na minha vida', o cantor de 43 anos explica durante uma entrevista pelo telefone no início da turnê, num lugar que ele chama de 'o país das maravilhas naturais' em Pemberton, British Columbia. 'O medo me comandava bastante. Eu tinha medo de que nada estivesse bom o suficiente. Era um monte de besteiras, na verdade. Armadilhas de uma criança com medo de sentar e trabalhar. Com essa mudança, o colapso da indústria fonográfica e o fato de eu estar envelhecendo e percebendo que sou um adulto agora – me motivaram a curtir o momento. Eu sou grato agora por ser capaz de fazer o que sou capaz de fazer e não ficar reclamando. Eu quero tirar vantagem das cartas postas na mesa'.
Nascido em Mercer, Pensilvania, Reznor morou em Cleveland por oito anos e fundou o NIN aqui (em Cleveland), em 1988, deixando para trás o 'Exotic Birds', uma banda New Wave na qual ele tocava teclado. NIN gravou seu primeiro álbum, o 'Pretty Hate Machine' de 1989, aqui na cidade. Mas quando a banda voltou para a cidade depois de uma turnê nacional e descobriu que os conterrâneos deram as costas para eles, Reznor percebeu que era hora de partir.
'Quando eu fui embora, já estava cheio', disse ele. 'Estava pronto para uma mudança de cenário. Nós nascemos [em Cleveland] e ensaiamos no Phantasy e tocamos com várias bandas originárias dessa cena. Nossa maneira de conseguir um contrato era única. Não era somente ir tocar e rezar para alguém ver você. Havia realmente um plano estratégico em trabalhar a música primeiro e então tentar entregá-la para a pessoa certa. Quando conseguimos um contrato e obtivemos atenção, achei que o interesse em Cleveland poderia ser algo do tipo, ‘Têm umas coisas muito legais acontecendo aqui.’ Mas eu voltei depois de um ano em turnê e todos odiavam a gente. Havia amargura e um sentimento de ‘Vocês não merecem isso.’ E eu, tipo, Vejo vocês mais tarde.’ De certa forma, existem coisas das quais sinto falta. Eu certamente penso com carinho na época em que eu limpava banheiros lá'.
As coisas tornaram-se maiores e melhores para Reznor. 'The Downward Spiral' foi o álbum mais vendido do NIN e levou o rock industrial para uma tendência mundial. Também deu a Reznor carta branca quando teve que negociar com a Interscope Records, a gravadora que estava sob contrato. Ele foi capaz de criar seu próprio selo, apropriadamente chamado de Nothing Records e contratar bandas similares. O grupo mais notável a gravar com a Nothing foi Marilyn Manson, mas Reznor também contratou bandas eletrônicas como Squarepusher e Autechre, através de um acordo de distribuição com a Warp Records do reino Unido.
'O que eu estava tentando fazer era criar um porto seguro', ele disse da Nothing Records. 'O Nine Inch Nails teve sorte. Nós fizemos música com integridade e ainda encontramos um público amplo que deu dinheiro ao selo. Quando eles me deixaram sozinho para fazer meu próprio negócio, estava querendo que [Nothing] fosse uma barreira entre a gravadora e os artistas. Funcionou assim com Marilyn Manson.
Inicialmente, todos tinham medo do que ele era. Eu acreditei. Então quando viram que podia funcionar, eles acreditaram também'. Embora tenha funcionado com Manson, não funcionou tão bem para outros artistas do selo.
'A outra coisa era que ninguém na Interscope estava dando a mínima', disse ele. 'E nós não tínhamos recursos para lutar a batalha que as bandas licenciadas precisavam. Eu percebi que administrar um selo não era algo que devia fazer. A idéia e a ambição eram nobres, mas a execução era cheia de falhas e fútil'.
Como uma forma de tirar vantagem da Interscope, na qual Reznor recentemente se separou, o NIN foi para a Internet. Lançou 'Ghosts' e 'The Slip' online, fazendo 'The Slip' disponível para download gratuito. Mais de um milhão de fãs baixaram o disco, que foi lançado depois em CD e vinil.
'Bem, eu não sei se esse será o modelo de todo negócio no futuro', disse Reznor a respeito do download gratuito. 'Nós tínhamos lançado o 'Ghosts' alguns meses antes e acabado de colocar à venda os ingressos para a turnê de verão. Eu realmente não queria que ficasse parecendo que eu estava seqüestrando pessoas para tomar seu dinheiro. Estou olhando para o Nine Inch Nails como uma entidade completa. Isso é algo que não se podia fazer quando estava numa grande gravadora. Quando você está numa gravadora, os negócios de gravação são uma coisa, os negócios de turnê são outra coisa e o merchandise é outra. Agora está tudo no mesmo saco'.
Com dissonantes guitarras e vocais amortecidos em músicas como '1,000,000' e 'Head Down', 'The Slip' representa um lado de Reznor que nós não vemos muito. Isto é, alguém que pode ir para um estúdio e fazer o material funcionar, sem ficar obcecado em todos os detalhes.
'Eu saí em turnê no último verão ou outono', disse ele. 'Eu realmente senti que estava fazendo música e sendo criativo. Eu quis fazer algo imediato. Mais do que olhar para algo como um projeto de um ano, como foi o 'Ghosts', eu quis fazer algo diferente. Chamei [o produtor] Alan Moulder, que estava disponível, e disse simplesmente, ‘Venha para cá e seja lá o que a gente faça e termine, vamos lançar se tiver qualidade.’ Eu achei que poderia ser legal ter um single ou algo desse tipo. E antes que eu soubesse, eu tinha um EP. E depois um álbum inteiro finalizado. É assustador porque eu me dava ao luxo de voltar, editar e ponderar as coisas. Senti-me bem. Pareceu que as coisas estavam fluindo. Eu quis tentar fazer dessa forma. Olhando para trás, existem coisas que faria diferente. Mas estou orgulhoso disso. Eu não sei se o próximo disco sairá dessa maneira'.
Apesar dele não ter mais a segurança de uma gravadora, Reznor não economiza em nada quando se trata da produção do show ao vivo. Com vários telões e uma série de tecidos e cortinas que fazem a banda parecer que está tocando numa gaiola gigantesca, as luzes da apresentação são intensas – até mesmo para os padrões do NIN.
'É a coisa mais ambiciosa que fui capaz de fazer', Reznor admite. 'É grande, mas não sei como descrevê-la. Essa turnê começou no fim do último ano. Eu disse, ‘Isso é o que eu gostaria de fazer. Podemos, economicamente, fazê-la ter sentido?’ Alguém fez os cálculos e disse, ‘Sim, você pode.’ Então aqui está. É baseada na idéia de simplesmente tentar oferecer um ambiente onde essa música soe o melhor possível. Nós tocamos um pouco do disco novo 'Ghosts' e coisas antigas. O Nine Inch Nails não é somente ruídos altos e quebração; é também muito tranqüilo. Um pouco dessa influência veio do Bridge School beneficente que toquei com Neil Young. Eu tentei montar o palco para uma turnê emocionante. Tem sido uma confusão incrível, mas tem potencial para tornar-se maravilhosa'.
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