Uriah Heep: Guitarrista Mick Box comenta os 36 anos da banda
Por Rodrigo Werneck
Postado em 25 de agosto de 2006
Mick Box não é um guitarrista qualquer; o "Rei do Wah Wah", como é conhecido lá fora por ser um dos guitarristas mais lembrados e cultuados pelo uso do pedal wah wah, é certamente um dos músicos mais injustiçados da história do rock. Após passar, ainda nos anos 60, por bandas de pouca expressão como The Stalkers e o Spice, que chegou a gravar alguns singles, Mick e seus parceiros de grupo que incluíam o hoje lendário vocalista David Byron, se juntaram ao tecladista Ken Hensley (ex-The Gods, Toe Fat, etc.) e formaram o Uriah Heep no Natal de 1969. Mais de 36 anos depois, com 40 milhões de discos vendidos pelo mundo todo e turnês incessantes, Box é o único membro original a ainda fazer parte da formação do grupo. Na bateria desde 1972 está Lee Kerslake, que só saiu por um tempo para tocar com Ozzy Osbourne em seus primeiros anos de artista solo, retornando após isso. No baixo desde 1976, descontada uma breve passagem pelo Wishbone Ash em meados dos anos 80, está Trevor Bolder, que participou nos anos 70 dos discos mais clássicos de David Bowie. Completam a formação o vocalista Bernie Shaw e o tecladista Phil Lanzon, que por sua vez já estão no grupo há exatos 20 anos, desde 1986 portanto.
Pela terceira vez o Uriah Heep virá ao Brasil, precisamente agora em setembro, para apresentações que farão parte do Rock In Concert Brazil Festival, a ocorrer em 27/9 no Rio de Janeiro (Canecão) e em 28/9 em São Paulo (Via Funchal). Mick Box bateu um papo exclusivo conosco, falando sobre detalhes do passado da banda, bem como nos dando suas impressões sobre o cenário musical atual.
Você (e os demais membros da banda) ouvem músicas de novos artistas? Poderia nos dar alguns exemplos?
Sim, ouvimos! Eu pessoalmente gosto do Muse, assim como um pouco do lado rock dos Stereophonics, e músicas isoladas de outras bandas variadas aqui ou ali.
Quais são as suas bandas e artistas preferidos em geral, e que também influenciaram sua forma de compor e de tocar? E quem é o seu próprio "guitar hero"?
Entre as bandas e artistas: Led Zeppelin, Vanilla Fudge, uma banda norte-americana chamada Touch, Buddy Holly & The Crickets, Eddie Cochrane, o material antigo do Elvis Presley, etc. Meu guitarrista preferido? Sem sombra de dúvidas: Jeff Beck!
De onde você normalmente tira a inspiração para escrever suas músicas? O que vem primeiro, melodias ou letras?
Normalmente, a música vem primeiro, depois a melodia e então as letras. Nós viajamos o tempo todo por vários lugares do mundo, logo há inspiração em torno de nós a toda hora.
Há alguma música do Uriah Heep que seja a sua favorita pessoal? E quais são os discos do grupo que você mais gosta?
Eu prefiro deixar os fãs escolherem seus álbuns favoritos pois nós somos muito ligados a todos eles. De qualquer forma, é impossível deixar de citar alguns marcos da nossa carreira em todos esses anos: "Very ‘Eavy... Very ‘Umble", "Salisbury", "Look At Yourself", "Demons And Wizards", "Innocent Victim", "Abominog", "Sea Of Light" e "Sonic Origami". Dentre as músicas, creio que "July Morning" seja a que mais represente tudo o que o Uriah Heep sintetiza: melodia marcante, boa letra e grande dinâmica.
Quais foram os discos do Uriah Heep mais difíceis de serem gravados, e por que?
O "Wonderworld", pois tivemos problemas em ajustar tudo para gravá-lo fora da Inglaterra; e o "Conquest", porque o nosso vocalista na época, John Sloman, teve muitos problemas de perda de voz.
Como você é o único membro fundador da banda ainda remanescente, qual momento em toda a carreira do Heep você considera o mais difícil?
David (Byron, vocalista) e Gary (Thain, baixista) morrendo. Nós nunca iremos superar totalmente aqueles momentos.
E qual foi a pior situação pela qual você passou num show ou numa turnê?
David (bêbado) abandonando o palco na frente de 20.000 pessoas na Filadélfia, esbarrando com o microfone na sua boca e mandando o público se f***r!
Bem, mudando de assunto e pegando mais leve agora, se você não fosse músico, teria sido provavelmente o que?
Eu estava muito focado e logo no início fiz minha cabeça de que eu seria músico por toda a minha vida, independentemente de onde isso me levasse. Caso contrário, acho que eu teria sido um jogador de futebol!
Você se considera um pouco menosprezado pela mídia como guitarrista e como músico em geral, levando em consideração a sua inquestionável importância para a história do rock?
Eu nunca liguei muito para isso e nunca prestei muita atenção a esses fatos, e talvez esse tenha sido justamente o maior problema, ou a principal causa. Eu tenho um trabalho criado em todos esses anos do qual me orgulho muito, e muitos me falam que eu influenciei um monte de guitarristas a começar a tocar guitarra, logo essas são as minhas recompensas.
Qual a sua opinião sobre a mídia e sua influência, musicalmente falando, sobre as pessoas?
Ela tem um bocado de influência, mas você nunca pode subestimar o consumidor. O que é vergonhoso no nosso negócio é que um monte de dinheiro é gasto em coisas erradas. Tudo virou meio que descartável agora. O talento em si parece ser algum secundário em vários casos...
Você alguma vez considerou a possibilidade de tocar um álbum inteiro numa turnê, como outras bandas têm feito ultimamente? Em caso positivo, qual seria?
Várias pessoas nos têm sugerido isso, mas me parece que seria um pouco como "tentar pular no trem" e repetir o que os outros já têm feito. De qualquer forma, nós não podemos nunca descartar a hipótese e, neste caso, seria provavelmente o "Demons And Wizards".
Por que a formação atual da banda normalmente não toca músicas da época em que o vocalista era o John Lawton (1976-1979)? E também, por que nada do disco "Conquest" (de 1980)?
O básico para incluirmos qualquer música no repertório dos shows é que nosso vocalista, Bernie Shaw, esteja confortável com ela e sinta em seu coração que possa interpretar tal canção. Nós incluímos volta e meia uma ou outra música dos discos com o Lawton, mas nada convenceu até agora o Bernie a tentar algo do "Conquest".
E acerca de outros discos comumente "ignorados" da fase clássica com o Byron, como por exemplo o "High And Mighty"? O que você particularmente acha desse disco específico?
Eu pessoalmente o acho "leve" demais e gostaria que ele tivesse sido um pouco mais pesado, com uma pegada mais roqueira. Algumas das músicas são de fato boas, mas creio que nós tenhamos melhores baladas para tocar ao vivo.
Qual a relação do Uriah Heep com outras bandas contemporâneas de vocês, tais como Deep Purple, Led Zeppelin, Black Sabbath, etc.? O que é mais forte: a camaradagem ou a rivalidade?
Nós nunca encaramos isso como uma competição. Todos nós sempre tivemos "o que falar", cada um do seu jeito, e de uma forma geral sempre houve um respeito mútuo entre os grupos que você citou e nós.
Dentre as bandas que começaram na época do Heep e que continuam ativas, qual delas você mais admira, e por que?
O Deep Purple, que conseguiu manter-se na ativa, e bem, após tantas mudanças de formação. Isso é admirável.
A maioria dos artistas de rock que surgiram nos anos 60 e 70 tiveram (ou ainda têm) experiências com drogas. Por que, em sua opinião, Gary Thain e David Byron perderam a batalha, enquanto que você e o Lee (Kerslake, baterista) foram capazes de estabelecer limites e continuarem vivos. Qual o segredo para se manter uma banda na ativa por tanto tempo?
Eu sempre fui um cara meio "pé no chão", assim como o Lee. Acho que saber balancear as coisas, lazer e trabalho, excessos e comedimento, e se apegar a valores realmente importantes são bons fundamentos para se suplantar períodos pelos quais outros não conseguiram passar. O segredo para manter uma banda na ativa por tanto tempo é trabalho. Uma banda que trabalha é uma banda feliz.
Por que tanto tempo decorrido para se gravar um novo disco de estúdio, levando-se em consideração que o último, "Sonic Origami", foi lançado em 1998?
Gravadoras! A Internet e os downloads deram um choque na maioria das gravadoras, que precisaram se reinventar. Quando há tanto barulho acontecendo é realmente difícil de se arrumar uma nova casa, especialmente uma que acredite em você.
O que você diria a Melissa Mills, repórter da revista Rolling Stone, que disse há mais de 35 anos atrás que cometeria suicídio caso o Uriah Heep atingisse sucesso?
Eu acho que ela teve que agüentar todo o sucesso que obtivemos, e amargar com o erro que cometeu. Deve ser um fardo e tanto! Aliás, onde está ela hoje em dia? É ela ainda uma jornalista? Acho que ela pagou o preço!
O que você acha do cenário musical atual?
Bem difícil! Como não existe praticamente investimento algum em talento e apenas em fazer mais dinheiro, tudo acaba sendo fútil e passageiro. Programas como "American Idol" e "The X Factor" apenas contribuem para piorar a situação, e as pessoas acabam pensando que podem se tornar estrelas da noite para o dia. É uma impressão muito falsa...
Você teria alguma mensagem ou sugestão para os músicos novos de hoje em dia, considerando toda a sua experiência?
Tenha fé em você mesmo! Há um ditado que diz que assim que uma porta abre para você, outra se fecha bem na sua cara. É acreditando em si mesmo que permitirá que você continue passando por todas essas portas até alcançar o sucesso. Ah sim, e a prática leva à perfeição. Tente ter um estilo próprio tanto para tocar, quanto no seu visual. Se você soar como todo mundo e se parecer com todo mundo, você será apenas mais um na multidão. Não imite os outros, faça a sua própria coisa!
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http://www.uriah-heep.com
http://www.mick-box.net
Colaboradores: Matheus Pinotti, Alexandre Lessa Mattos, Marcio Abbes, Sami Catalão, Luciano Lanna, Marcelo T. Werneck, Renato Torres e Jesiel
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