Apocalypse: Eloy Fritsch conta sobre a trajetória da banda
Por Gustavo Ávila
Postado em 02 de setembro de 2005
Eloy F. Fritsch é compositor e tecladista da banda de rock progressivo Apocalypse. Além de lançar CDs na Europa e realizar concertos de rock progressivo com a banda, Fritsch é o professor de música responsável por um projeto pioneiro no Rio Grande do Sul, o Centro de Música Eletrônica do Instituto de Artes da UFRGS. Como se não bastasse o compositor está lançando seu sétimo CD de música instrumental eletrônica chamado "Landscapes".
Eloy Fritsch foi escolhido o melhor tecladista de rock progressivo do Brasil por três vezes consecutivas em eleição realizada no site Rock Progressivo Brasil. Além disso foi escolhido o melhor tecladista do festival Progday em 1999 quando o APOCALYPSE gravou seu álbum duplo ao vivo nos Estados Unidos. Fritsch já foi matéria de página inteira na revista Keyboard Americana e destaque nas revistas Música & Tecnologia, Cover Teclado, 21CenturyMusic e Teclado & Áudio.
Recentemente, a sua composição "Behind The Walls Of Imagination", do album homônimo de 1997, figurou entre as 10 melhores de todos os tempos, na categoria eletrônica, em eleição realizada pela revista holandesa Groove.
A Apocalypse, que agora conta com Gustavo Demarchi nos vocais e Magoo Wise no baixo, além dos integrantes originais Ruy Fritsch (guitarra) e Chico Fasoli (bateria) acabou de lançar na internet um EP com cinco versões de antigos clássicos da banda antes registrados apenas em CDs lançados na Europa (disponível em www.apocalypsebr.com).
Em meio aos ensaios para a gravação do primeiro DVD da banda, em turnê a ser realizada no Rio de Janeiro agora no mês de setembro, Eloy arrumou tempo para um bate-papo:
Whiplash! - Como foi a produção do novo álbum, o "Landscapes"?
Eloy Fritsch - Iniciei as primeiras composições que estão nesse álbum em 2002, ano em que havia terminado a produção do CD Atmosphere e gravado o CD Refúgio da banda APOCALYPSE. Eu estava querendo fazer um trabalho eletrônico mais próximo do rock progressivo. Então optei por compor novos temas com solos de minimoog, trechos sinfônicos e instrumentos de percussão. No "Landscapes" utilizei muito o Korg Triton e o Minimoog. Foram escolhas certas para este CD por causa da sonoridade que desejava para as obras. No meu estúdio consigo registrar as idéias musicais e, através da tecnologia, rapidamente transformá-las naquilo que desejo. Assim, o processo de composição torna-se algo dinâmico e ao mesmo tempo motivador para a continuação de novas experimentações.
Faço questão de produzir, tocar todos os instrumentos em meus álbuns, gravar e fazer a mixagem. Assim tenho total controle sobre a produção da obra. No "Landscapes" não foi diferente. Composições como "Teleportation", "Science-Fiction", "Andromeda" e "Landscapes" causaram muita satisfação e alegria pois estão em sintonia com os temas cósmicos que costumo explorar em meus CDs. Além disso a composição "Cartoon" é diferente de todas que fiz até hoje e assemelha-se a uma trilha de desenho animado. Procurei deixar a influência do rock progressivo bem evidente nas músicas e na parte gráfica do CD. As belas pinturas selecionadas para a capa e encarte foram feitas pelo meu amigo Alexandre Bandeira e evocam as capas dos CDs do tempo áureo do progressivo. Elas apresentam as mais variadas paisagens de outros mundos que fazem parte da linguagem escolhida para o CD.
Toda a computação gráfica foi feita pelo meu irmão Ruy Fritsch que criou uma ligação visual entre as imagens do encarte do CD. Existiu, portanto, uma preocupação em integrar o projeto gráfico e a música. O "Landscapes" soa mais próximo ao "Behind the Walls of Imagination" apresentando solos virtuosos feitos com sintetizadores, trechos épicos e passagens eletrônicas. Um álbum que reúne a música que produzi durante um período muito feliz da minha vida.
Whiplash! - Fale-nos a respeito do Apocalypse e por que a escolha do rock progressivo?
Eloy Fritsch - O Apocalypse é uma banda de rock sinfônico com composições ousadas e de longa duração. A palavra, ao contrário do que muita gente pensa, não significa fim do mundo, e sim, revelação! Um tema muito utilizado por bandas progressivas como Yes e Gênesis. Assim como as grandes bandas de progressivo da década de setenta, primamos por uma música de qualidade. Procuramos fazer o Art Rock, livre de modismos e tendências mercadológicas. Existe muita dedicação por parte de todos os músicos para que a banda continue tocando e produzindo novas composições. Além de atuarmos como compositores e intérpretes ainda realizamos a produção de nossos álbuns e espetáculos.
Quando resolvemos criar a banda, no início da década de oitenta, gostávamos muito de progressivo, e por essa razão adotamos o estilo e começamos a compor e tocar influenciados principalmente por Yes, ELP, Rush, Genesis e Marillion. Atualmente olhamos para trás e percebemos que nossas escolhas foram corretas porque depois de mais de vinte anos, nos sentimos realizados e satisfeitos quando paramos para ouvir nossas músicas. Composição como "Vindo das Estrelas", "Cachoeira das Águas Douradas", "Refúgio", "Do Outro Lado da Vida", "Viagem no Tempo" são algumas das minhas preferidas e não me canso de ouvi-las. Acredito que esta linha de composição pode fazer o Apocalypse partir para vôos ainda maiores e realizar grandes álbuns.
Whiplash! - Como é atuar como tecladista de uma das melhores bandas brasileiras de rock progressivo? Como é sua preparação antes das apresentações?
Eloy Fritsch - Antes de mais nada é um orgulho para mim fazer parte desse grupo de músicos talentosos. Depois de mais de vinte anos no Apocalypse é cada vez maior a responsabilidade em criar e interpretar música de qualidade. É com a banda Apocalypse que consigo me realizar como tecladista. Iniciei na música criando o Apocalypse e por causa de todos esses anos tocando e gravando tudo isso tornou-se muito importante para mim.
Tenho orgulho ao falar na música do Apocalypse, por ser uma das bandas brasileiras com alguma expressividade no meio progressivo internacional, por ter um gravadora francesa que divulgou nossa música na Europa e por ter tocado nos USA. As composições do repertório atual do Apocalypse requerem muita concentração nos shows. Utilizo uma grande quantidade de timbres, entretanto os mais usados são os de Hammond, minimoog, Fat Synth, Brass Synth, vozes, piano e cordas. A partir do CD "Aurora dos Sonhos", o teclado tornou-se um instrumento muito exigido em todas as apresentações. O progressivo é um estilo fascinante que proporciona muita liberdade ao tecladista.
Existe uma certa mágica que paira no ar durante um Concerto de Rock do Apocalypse. Gosto muito de valorizar esse sentimento que tenho durante as apresentações porque serve de motivação para atuar de uma maneira ainda mais expressiva. Antes de cada apresentação realizo uma preparação técnica utilizando dedilhados com acordes diminutos em todas as tonalidades com ambas as mãos, escalas maiores e menores, arpejos maiores e menores e toco uma "Inversão a Duas Vozes de Bach".
Depois possuo uma lista de passagens musicais críticas do repertório do Apocalypse que procuro executar várias vezes na semana anterior ao espetáculo. Costumo estudar cada solo que irei realizar buscando aperfeiçoar a execução e melhorar a digitação. Quando toco com vários teclados também faço um estudo para treinar o salto de oitavas. Isso ajuda muito a precisão de saltar de um teclado para outro.
Whiplash! - Quais os tecladistas que mais influenciam seu trabalho no Apocalypse?
Eloy Fritsch - Os tecladistas de rock progressivo ficaram conhecidos por atuarem em bandas que lhe davam espaço para mostrar seu grande talento seja como instrumentistas ou compositores: Keith Emerson, Rick Wakeman, Vangelis, Tony Banks, Steve Walsh, Larry Fast, Mark Kelly, entre outros. Estes fizeram escola e influenciaram muitos tecladistas das bandas progressivas que surgiram nos anos oitenta. A herança desses tecladistas exerce forte influência sobre meu trabalho: na maneira de tocar, na fusão de harmonias e ritmos provindos da música erudita ou do jazz, na utilização de instrumentos vintage, em apresentações com vários teclados empilhados para obtenção de vários sons, no emprego do sampler simulando vozes e instrumentos acústicos, utilização de recursos da música eletrônica e solos virtuosos.
Whiplash! - Qual é o seu setup nos Concertos de rock progressivo do Apocalypse?
Eloy Fritsch - Na década de oitenta não utilizava mais que quatro teclados por show. Conforme fui desenvolvendo minha técnica e minha capacidade de execução, a quantidade de teclados que conseguia utilizar no palco foi aumentando. Na década de noventa, por influência direta do Rick Wakeman comecei a utilizar 10 teclados: JX-3P, minimoog, Juno-106, MS-10, JD-800, M1, DW-8000, MR-76, 01/W e JP-8000. Em algumas músicas saltava de um para outro, tornando minha performance uma aventura a cada apresentação da banda. Muitas vezes o minimoog desafinava e ai os problemas começavam. Mas o pessoal da banda compreendia que fazia parte do meu estilo e, além do mais, os fãs da banda gostavam muito da ousadia. Entretanto os teclados eram antigos e necessitavam de contínua manutenção. Então vendi vários e comprei o sintetizador modular que comecei a levar nos Concertos de Progressivo para executar solos e realizar efeitos sonoros. Programava uns três pacths: o sequenciador de passos modulando o oscilador e o LFO modulando o filtro para gerar um padrão ritmico com filtragem automática que usava na abertura do Concerto do Apocalypse, dois osciladores afinados em oitava para ser usado em solos e um som de vento que criava com o gerador de ruídos.
Geralmente precisava adaptar meu Setup de teclados conforme as dimensões do palco e as condições dos locais em que tocávamos. Recordo de uma situação ímpar, que ocorreu em 1999, quando tocamos no ProgDay, nos USA. O Apocalypse viajou sem instrumentos para baratear os custos. Os organizadores encarregaram-se de locar os equipamentos. Eu pedi um Setup com dois Minimoogs, um órgão Hammond, um Wavestation e um Kurzweil. Quando chegamos no festival tudo estava lá para a gravação do nosso álbum duplo ao vivo!!! No último Concerto que foi gravado pela TVE do RS eu usei o Korg 01/W, Ensoniq MR-76, Triton, Minimoog, MS-10, JP-8080 ligado ao Roland AX1, Roland VK-8, sampler AKAI S-5000, Midiman Midicontroller, mixer Bheringer e o VS-1680.
Todos os músicos da banda possuem ótimos instrumentos. Magoo Wise utiliza o baixo Rickembacker, Chico Fasoli utiliza as baterias Roland V-Pro Concert TD-10 expandida e a Pearl acústica e Ruy Fritsch utiliza guitarras Fender com amplificação e efeitos Mesa Boogie.
Whiplash! - Como a banda Apocalypse conseguiu fazer um trabalho criativo de rock progressivo e divulgar sua música no exterior a ponto de tornar-se conhecida na cena progressiva internacional?
Eloy Fritsch - Após o lançamento do LP Apocalypse em 1991 estávamos tentando registrar nossas novas composições por uma gravadora de São Paulo. Infelizmente as gravadoras nacionais não estavam interessadas no nosso som. Então entramos em contato com a gravadora MUSEA da França que acabou interessando-se pela música do Apocalypse.
Isso foi muito legal porque fomos a primeira banda nacional de progressivo em atividade a lançar um CD pela MUSEA. Mas isso só aconteceu porque eles começaram a vender nosso LP na Europa. O LP foi a chave para saltar sobre o mercado fonográfico brasileiro Rio/SP e divulgar o trabalho no exterior. As dificuldades foram muitas até chegarmos ao sétimo CD. Não existe ninguém que vive de tocar progressivo no Brasil. Fazer música própria de qualidade e construir uma carreira é para poucos. Fazer progressivo, nos dias atuais, segundo o Rick Wakeman, é só para valentes. No Brasil a maioria das pessoas não sabe que o estilo sobrevive de forma alternativa, as bandas não tem espaço na mídia e, em geral, as bandas duram muito pouco e não chegam a produzir uma obra significativa, se comparada às banda inglesas.
Atualmente temos a Associação Brasileira do Rock Progressivo e a gravadora Rock Symphony responsável por lançamentos do gênero que lançou o CD "Apocalypse Live in USA" com exclusividade. Como os músicos do APOCALYPSE não dependem das atividades da banda para ter sua renda, conseguimos apresentar apenas música própria, descartando convites de gravadoras, covers e apresentações em programas de auditório nos quais não podemos tocar nosso repertório. Assim, ao longo dos anos fomos lançando nossos CDs de progressivo: "Perto do Amanhecer", "Aurora dos Sonhos", "Lendas Encantadas", "The Best of Apocalypse", Apocalypse Live in USA" e "Refúgio". Além disso participamos de coletâneas internacionais com outras bandas de progressivo o que ajudou na divulgação e distribuição dos CDs que havíamos lançado. E recentemente disponibilizamos o CD "Magic" gratuitamente, no site oficial - www.apocalypsebr.com - com a versão em inglês de cinco músicas já bem conhecidas do nosso público progressivo.
Whiplash! - Recentemente o Apocalypse passou por profundas mudanças e agora conta com um nova formação e um novo trabalho. Como está sendo essa mudança após mais de vinte anos de banda?
Eloy Fritsch - A principal dificuldade dessa fase de transição foi encontrar um vocalista que pudesse cantar o repertório antigo e ao mesmo tempo colaborasse com a evolução da carreira do Apocalypse. No segundo semestre de 2004, após realizarmos testes com vários vocalistas interessados, escolhemos Gustavo Demarchi. Ficamos muito impressionados com seu talento e sua capacidade vocal. A entrada dele veio acompanhada do baixista Magoo Wise e o Apocalypse tornou-se um quinteto. O repertório do Apocalypse foi adaptado para o inglês e desde então estamos realizando apresentações com essa nova formação, gravando CD e compondo juntos. Acreditamos que a nova formação vai de encontro com a necessidade de evolução e aprimoramento da música feita pelo Apocalypse. Todos estão muito satisfeitos com a nova fase principalmente pela qualidade musical e o retorno positivo que os fãs estão demonstrando nas apresentações do Apocalypse.
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