Aquiles Priester: Entrevista exclusiva com o baterista do Angra
Postado em 27 de abril de 2004
Aquiles Priester é um músico de carreira consistente... para alguns, impecável. Sua ascensão começou, provavelmente, no dia em que encarou a bateria profissionalmente pela primeira vez. E não parou até hoje, numa trajetória bombástica, cujo "cessar fogo" está tudo, menos próximo.
Precisão, criatividade, e impressionante técnica que já estiveram a serviço do ex-vocalista do Iron Maiden, Paul Di’Anno, e que para muitos, despontaram em 2001 com "Rebirth" do Angra.
Três anos depois, e Aquiles acaba de lançar sua vídeo-aula, "Inside My Drums", material muito esperado pelos fãs de bateria. No segundo semestre estará com o novo disco do Angra, outra grande expectativa. Ainda tem o Hangar, workshops, participações especiais em outras bandas e shows.
Sobre sua vídeo-aula, seus novos lançamentos e trabalhos, entre outros assuntos, que tratamos em entrevista exclusiva. Confira...
Site Oficial – http://www.aquilespriester.com
Entrevista por Thiago Pinto Corrêa Sarkis
Whiplash! - Quando surgiu a idéia de lançar uma vídeo aula?
Aquiles Priester / A idéia surgiu quando eu estava fazendo uma tour de workshops pelo Brasil na metade do ano passado e eu achei que isso deveria ficar registrado de alguma maneira. Durante esses eventos, muitas pessoas me falavam que seria legal se eu fizesse uma vídeo-aula, mas eu queria fazer uma coisa diferente, mais real, mais ao vivo mesmo, para mostrar os detalhes das músicas em tempo real. Essa gravação rolou no meio do processo de composição do novo disco do Angra, e isso tornou tudo um pouco mais complicado. Agora já está tudo finalizado e fiquei muito satisfeito com a qualidade do som e do vídeo.
Whiplash! - Como foi a experiência de gravar uma vídeo-aula? Conte-nos os detalhes...
Aquiles Priester / Foi muito estressante!!! Eu produzi tudo e isso aconteceu em um período que eu estava 100% concentrado no novo disco do Angra e tocando somente coisas novas. Me lembro que só pratiquei as músicas para a gravação um dia antes do evento. Na minha cabeça estava bem clara a seguinte idéia: Se não ficar bom, eu não lanço! No dia da gravação eu toquei 19 músicas e escolhi para o DVD entre o set list oficial e bônus 14 músicas e mais o meu solo de bateria do show do Angra no Credicard Hall em dezembro de 2002, que era inédito até então. Quanto aos erros de gravação, quem esteve lá naquele dia, vai se lembrar que toquei "Legions Of Fate" umas quatro vezes, pois uma vez o MD pulou, duas vezes deu pau no HD da gravação, outra vez foi a que valeu... Por isso, dá para perceber que essa é a música mais aplaudida no DVD no meio de tantos Hits do Angra. Depois que terminei de gravar o disco do Angra no dia 9 de janeiro, só fiquei finalizando o DVD, parei de fazer tudo e só voltei a tocar bateria na 1° parte da pré-produção do novo disco do Hangar durante o carnaval desse ano. Após isso, voltei para a finalização do material do DVD, que foi até o dia 20 de abril. O VHS ficou pronto antes, pois é tudo mais simples... Já o DVD, foi muito trabalhoso, mas com certeza, o resultado valeu todo o trabalho.
Whiplash! - Quais são as perspectivas para o lançamento do vídeo no exterior?
Aquiles Priester / Ainda não sei, pois eu estava mais preocupado em finalizar esse material. Assim que o DVD chegar, o meu Empresário fará os contatos para o lançamento desse material na Europa, Japão, Taiwan e América do Sul.
Whiplash! - O lançamento em VHS veio bem antes do DVD, que só deverá estar disponível aos fãs em Julho. Atualmente o formato VHS não tem a mesma adesão de alguns anos atrás. Você tem percebido isso através das vendas? Como estão sendo as respostas para o VHS?
Aquiles Priester Na verdade, o DVD chega às lojas no final de maio, começo de junho. O VHS só saiu por razões mercadológicas, pois ainda tem muita gente que não possui DVD e isso supriu de alguma maneira a carência dessas pessoas. As vendas do VHS estão indo muito bem.
Whiplash! - Nos extras do DVD estarão músicas com a possibilidade do telespectador escolher o ângulo que preferir. Quais serão as músicas com essas opções e o que mais os fãs poderão curtir além daquilo que saiu no VHS?
Aquiles Priester / Talvez a maioria das pessoas não saibam, mas nos DVD’s existem formatos diferentes de espaço para armazenar as informações e isso muda bastante o preço final do produto. A minha idéia era colocar duas músicas com a função multi angle (função que permite a escolha do ângulo pelo telespectador), mas acabou ficando somente "Acid Rain". Como o DVD tem som 5.1 e 2.0, e muita coisa extra, faltou espaço para a segunda música, que seria "Legions Of Fate". Além do multi ângulo que o VHS não tem, o DVD tem ainda duas músicas a mais no set list principal, dois covers e o solo de bateria do show do Angra no Credicard Hall como bônus tracks, bastidores da Workshop Tour pelo Brasil, entrevista e galeria de fotos.
Whiplash! - Como foi a seleção do track list? O direcionamento foi mais didático, com músicas que você acha que têm mais a passar aos bateristas, ou é uma via de maior interação com os fãs e músicas pedidas por eles? Você diria que este é um vídeo só para bateristas?
Aquiles Priester / A seleção do set list foi de acordo com as levadas e técnicas que cada música poderia oferecer. Eu acompanhei toda edição e tive a visão de um baterista fazendo isso, ou seja, assisti o vídeo como se eu não soubesse o que eu estava tocando. Procurei mostrar os ângulos de cada trechos das músicas como se eu quisesse entender aquilo que eu estava tocando. Quase todas as viradas e frases são vistas pela grua (câmera superior), que mostra o meu kit inteiro de cima, inclusive os pedais e quando isso não é suficiente, ainda abre-se uma janela com os pedais para mostrar as combinações que faço usando os pés e as mãos. Esse vídeo não é uma vídeo-aula somente para bateristas, pois foge um pouco daquele padrão normal pelo conteúdo do produto. Tem um vídeo clip com o backstage da Workshop Tour pelo Brasil, que aparecem trechos de quase todos os workshops que fiz no ano passado e também faço questão de mostrar a interação do público. Quem esteve nesses workshops tem chance de aparecer na tela em algum momento. Só esse clip, tem aproximadamente 30 minutos e aparece muita coisa legal. Tem também momentos engraçados em que as coisas deram erradas e também outros momentos maravilhosos que não poderiam ficar somente no meu arquivo pessoal.
Whiplash! - Em seu tempo de aprendizado como baterista, quais foram os seus grandes mestres e quais vídeos / livros / discos você recomendaria ou diria que são essenciais para qualquer baterista?
Aquiles Priester / Esse negócio de dizer que são essenciais para todos os bateristas é meio perigoso, pois o aprendizado de cada um, o poder de assimilação de cada um, é bem diferente do outro. O que posso dizer, é que no meu site (www.aquilespriester.com), na seção curiosidades, você encontrará as minhas inspirações e influências, mais de cem discos, muitas vídeo-aulas e alguns métodos que foram muito importantes para o meu aprendizado e aperfeiçoamento.
Whiplash! - Quais bateristas você destacaria atualmente, independentemente do estilo que toquem?
Aquiles Priester / Marco Minnemann pela sua extraordinária independência, o Gavin Harrison pelas suas polirritmias. O Max Kolesne pela sua velocidade e precisão e o Amilcar Cristófaro pela sua criatividade e concentração.
Whiplash! - Falando um pouco sobre o Angra. Vocês já trabalharam em estúdio, e estão agora no aguardo para o lançamento do disco. Como é está fase para vocês... digo, este período de espera até o lançamento?
Aquiles Priester / Esse período só não está sendo muito chato por causa dessas outras coisas que estou fazendo. Sempre que termino a gravação de um disco, já estou pronto para achar as partes que eu faria diferente, pois na minha cabeça a música nunca está pronta, ela sempre pode ser melhorada. Nos meus workshops, eu sempre toco as músicas com arranjos mais complexos do que elas estão no disco. Agora estou no processo de aprender a tocar as coisas que mudei na última hora durante as gravações. Está sendo bem difícil, pois têm coisas que nem me lembro direito o padrão que usei quando executei essas partes.
Whiplash! - Sabemos que neste período todo segredo é pouco, mas... Você poderia dizer alguma coisa do disco, das sessões de gravação, da banda atualmente?
Aquiles Priester / Esse com certeza será o disco mais pesado da carreira do Angra. Eu pude tocar como eu sempre gostaria de ter tocado no Angra, mas por uma questão de transição, que é bem normal, tive que me conter um pouco nos outros discos que gravei. Nesse trabalho, toda banda está tocando melhor. Posso afirmar que nesse disco o Angra está no ápice da sua carreira.
Whiplash! - Por mais que os músicos, a imprensa, ou os fãs neguem, uma hora ou outra sempre surge uma certa rivalidade na música, uma disputa. Como você vê isto, principalmente como um baterista e integrante de uma banda que sofreu disso como poucas, pois se criou uma rivalidade enorme entre Shaman e Angra, se não pelos membros, pela imprensa, se não pela imprensa, pelos fãs, se não pelos fãs, por alguém...
Aquiles Priester / Essa rivalidade só existe na cabeça de outras pessoas, não nas nossas. Talvez exista algo entre a formação original, mas não entre a gente. Como posso falar a respeito de coisas que não vivi? Como posso falar de pessoas que não conheci?
Whiplash! - Falando em rivalidade e em procurarmos sempre o melhor músico em cada instrumento, a melhor banda, e coisas afins... Há um fato inesquecível na sua carreira que foi a participação no Altas Horas de Serginho Groisman. No mesmo dia, o Barão Vermelho marcou presença com o Guto Goffi e em determinado momento, o apresentador do programa quis ver os dois bateristas em ação, você e ele . Parecia nitidamente que você segurava as pontas, respeitando o Guto Goffi. Este foi um comentário geral tendo você feito isto realmente ou não. Qual foi a repercussão desta apresentação para você?
Aquiles Priester / O Guto estava naquela noite substituindo a Vera Figueiredo no Programa. Mais tarde eu também fui tocar num sábado que a Vera tinha outros compromissos... E foi fantástico!!! Quanto ao fato do dueto com o Guto, foi algo bastante amigável e em momento algum minha intenção foi mostrar se sou melhor ou não, tanto que se você lembrar, comecei tocando somente um groove bem simples. Lembro-me que no início de minha carreira todas as bandas nacionais dos anos 80 e seus bateristas, foram grandes influências para mim. O Guto também foi uma influência para mim. Depois da gravação do Programa, conversamos na boa e não ficou nenhum tipo de ressentimento. Já nos encontramos em outras ocasiões e conversamos sobre outras coisas... Nem falamos disso.
[an error occurred while processing this directive]Whiplash! - Aproveitando que estamos neste tópico, eu gostaria de saber sua opinião sobre estes dois fatos, os quais considero, no mínimo, engraçados ou diferentes, e marcantes nos últimos tempos em relação à bateria.
Whiplash! - A tão discutida bateria de Lars Ulrich em St. Anger
Aquiles Priester / O som da caixa realmente não me agrada, mas o Lars sempre teve uma personalidade muito forte e inovadora. Ele sempre será respeitado, mesmo quando suas atitudes não forem entendidas.
Whiplash! - O fato do novo baterista do Megadeth, Vinnie Colaiuta, ser praticamente um ex-Sandy & Júnior. Normal, vida de músico é assim mesmo, outros (Dave Weckl, Greg Howe, etc) já fizeram o mesmo...?
Aquiles Priester / Não vejo problema nenhum. Ninguém irá dizer que eles tocam menos por causa disso. Tenho certeza que eles só aceitaram o trabalho por acharem que seria algo digno da assinatura deles. Quanto ao Colaiuta, podem ter certeza que ele fará um trabalho brilhante. Acho pouco provável que alguém imagine o contrário.
Whiplash! - Aproveitando que falamos de Megadeth, numa recente entrevista o ex-guitarrista da banda, Marty Friedman, disse das dificuldades e limitações que o nome Megadeth ("Megadeeeeeeaaaaaath" segundo ele) trazia quanto ao estilo que ele poderia tocar, desenvolver. Você vem tocando numa banda de heavy metal, sendo considerado um músico que realmente toca pesado e até as imagens da sua vídeo aula, o "monstro" desenhado, seu rosto (metade Aquiles, metade "Jason"?) estão te trazendo para um lado mais heavy de fato. Você pensa que isso pode ser prejudicial para sua carreira num futuro? Há interesse de sua parte em tocar e realizar gravações em outros estilos futuramente?
Aquiles Priester / Eu sempre quis ser um baterista de Heavy Metal. Isso é a minha vida. Dois bumbos são a minha vida. Mas em momento algum eu me preocupei com essa visão que você está tendo sobre esse assunto. Sou muito eclético e gosto muito de outros estilos de música. Ouvir outros estilos é fundamental para o desenvolvimento de qualquer músico. Eu toquei em bandas Cover e de Baile por muito tempo, mesmo quando eu já queria tocar Heavy Metal e isso faz com que eu toque Heavy Metal de outra maneira, harmonizando a bateria de forma bem pessoal. Se aparecer a chance de eu gravar um disco de outro estilo, e eu achar que eu farei esse trabalho bem feito, não terá problema nenhum. O radicalismo só limita os horizontes.
[an error occurred while processing this directive]Whiplash! - Por falar em guitarristas, poucas pessoas sabem, mas você é praticamente um maníaco por guitarra também. Você toca, já tocou? Quais são seus guitarristas prediletos e como veio essa paixão pela guitarra?
Aquiles Priester / Eu comecei a ouvir discos de guitarristas por influência de um amigo que me dizia que tinha muitos bateristas bons nesse estilo. E isso é verdade. Os melhores discos, os que mais me influenciaram são de guitarristas virtuosos. Eu toco um pouco de violão e isso me ajuda compor algumas harmonias e linhas vocais para as músicas do Hangar. Os meus guitarristas preferidos são: Tony MacAlpine, Greg Howe, Joey Tafolla, Neil Zaza, Marty Friedman, Paul Gilbert, George Bellas, Jason Becker e o Chris Impellitteri.
Whiplash! - Qual seria a sua mensagem para os fãs que estão ainda pensando em comprar a vídeo aula e para aqueles ansiosos pelo novo álbum do Angra? Deixe seu recado a eles e a qualquer outra pessoa que desejar...
Aquiles Priester / O disco realmente está matador e tenho certeza que vocês ficarão surpresos com a nossa "nova" abordagem musical. Sobre o meu DVD, eu quero dizer que esse vídeo foi feito pensando em vocês. Todos os detalhes da minha performance estão bem claros e todas aquelas dúvidas que vocês poderiam ter ouvindo o disco estão nesse vídeo de forma bem objetiva. Tem também uma entrevista bem legal em que falo um monte de coisas inéditas. Boa sorte para todos vocês!!!
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