Dazaranha - Entrevista exclusiva com a banda
Postado em 06 de fevereiro de 2001
Vindos de Florianópolis, a banda Dazaranha, que conta com um prestígio mais do que merecido no sul do país, agora se prepara para vôos mais altos, e o próximo passo é o sucesso em nível nacional, com o próximo CD que deve sair ainda este ano. Essa entrevista foi feita no dia 30 de dezembro de 2000, depois de um ótimo show da banda na sua terra natal, fechando o milênio. Tive o prazer de conversar com todos os integrantes e aqui está um resumo do que rolou. Se você ainda não conhece, corra atrás, é impossível se arrepender.
Por Rodrigo Simas
WHIPLASH!: Você poderia fazer um resumo da carreira da banda?
Gazu / Resumir 8 anos em alguns minutos não é muito fácil, mas eu posso dizer que esse show de hoje aqui na Lupus é o último do ano, do século e do milênio pro Dazaranha. Para nós foi muito importante estar tocando, terminando o show às 5 horas da manhã e a rapaziada ali curtindo nosso som, cantando, de uma forma espontânea, alegre, e a gente sente que o público está feliz de estar compartilhando o que está acontecendo em cima do palco, que é a banda, então eu acho que essa é a maior satisfação que a gente tem como profissional, que é ver a galera cantando as nossas músicas. Mas nesse tempo de trabalho a gente conseguiu gravar dois discos, o primeiro, o "Seja Bem-vindo", e o segundo, "Tribo Da Lua", que já alcançou 50 mil cópias vendidas, e para nós, além desses discos, é uma conquista a gente tocar no sul do Brasil inteiro, com todo mundo cantando nossas músicas, e a gente sendo recebida tanto no Rio Grande do Sul como no Paraná, como se fôssemos filhos desses lugares, como se a gente fosse filho do Sul, não só de Santa Catarina e Florianópolis. Isso para nós é muito importante e engrandece nosso som, engrandece nosso trabalho, e a gente consegue ver que essa resposta pode ser adquirida no Brasil inteiro, São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Recife etc., e que o Dazaranha tem essa vontade, essa coceira de não parar, de tocar cada vez mais, de lançar um disco atrás do outro. Claro que às vezes demora pra gente fazer um disco, mas às vezes isso não depende só da banda, depende de gravadora. Mas para nós, o que importa no momento é o relançamento do primeiro CD, "Seja Bem-vindo", que é para nós muito importante, porque na época que ele foi lançado houve um problema de distribuição e muita gente não conseguiu comprar esse CD, e agora a gente o está relançando, remasterizado, com 5 músicas-bônus, sendo duas regravações, e a gente sabe que o público tá curtindo conhecer nosso trabalho mais um pouco. E em relação a coisas novas, a gente tem muitas músicas, dá até para gravar dois CDs, e se não for por uma gravadora que dê um apoio que a gente precisa, quem sabe um dia a gente monta um estúdio bom o suficiente pra gravar um CD e lançá-lo de forma independente. Gostaríamos de agradecer a todos da imprensa , da rádio, da televisão e mesmo a você que está aqui. A gente sabe que tem um valor imenso essa divulgação alternativa, não só para o Dazaranha, mas para outras bandas, e hoje o mundo está aberto para várias coisas, e a mídia tradicional não é o único veículo. Eu tenho certeza que o que eu estou falando agora nesse gravador vai poder ser lido por muitas pessoas, e a gente valoriza isso, em qualquer pessoa que ajude a divulgar o trabalho do Dazaranha.
WHIPLASH!: Como está o mercado brasileiro para o Dazaranha, visto que o Sul já está praticamente dominado? Como está no Rio, São Paulo etc. ?
Gazu / A gente sabe que no Sul o Dazaranha está estourado, e muitas vezes o Sul é considerado modelo para o resto do Brasil, e acho que uma coisa que é considerada modelo tem todo aval para se expandir. O Sul está muito acostumado a consumir música do nordeste e o samba carioca, e eu acho que a gente tem o maior crédito para mostrar um pouco da nossa cultura e sabemos que no Rio e em São Paulo já tem muita gente que conhece o Dazaranha, e que está esperando o Dazaranha para tocar lá. No Rio de Janeiro tive uma notícia essa semana que tá bombando lá, que é para a gente tocar lá, e só o Dazaranha não sabe ainda disso. A gente acredita então que não vai ser diferente do Sul, se o nosso som por essência é alternativo e se a divulgação também for alternativa não vai ser nenhuma surpresa, e se não for em um boom, que seja de forma gradativa mas sempre crescente. Nossa música é aberta para todo mundo, mas por questão de divulgação, acaba se tornando um pouco alternativa, mas isso não é problema, sempre foi assim aqui no Sul, a gravadora nunca ajudou, nem com um poster e, se for assim com o Brasil inteiro, vai ser muito legal também, pois já estamos acostumados a trabalhar assim. Parece então que estamos reiniciando nossa carreira, como se a gente tivesse se descobrindo de novo, sabendo que o Brasil todo quer ouvir nosso som. Isso dá um ânimo, e hoje estamos tendo essa oportunidade e o Dazaranha não vai deixar ela passar e vai honrar não só nossa proposta, mas também o público. E também, se aparecer uma gravadora e botar a gente na cara do gol, o Dazaranha também está preparado. Nosso som é duradouro, não é moda, a gente quer ficar velho fazendo coisa nova, coisa louca e música.
Adauto / Eu vejo como uma coisa promissora, vejo nos lugares que a gente nunca tocou antes, a receptividade ao nosso som é muito boa. Por essas experiências, em alguns lugares todo mundo cantando nossa música, a gente pode dizer que podemos tocar em qualquer parte do mundo e encontrar uma galera que vai se identificar. Eu vejo que quando você tem uma história de viajar, as cidades todas são diferentes, mas tem sempre aquela galera, que é a sua galera, a galera que curte um som alternativo, que já tem uma onda de curtir música com solos...
(interrompendo) WHIPLASH!: música boa...
Adauto / ...é exatamente (risos), não queria chegar nesse ponto, mas de terem escutado muita coisa antiga, tipo Led Zeppelin, Black Sabbath, Pink Floyd, essas influências que estão no nosso som fazem com que as pessoas se identifiquem com nosso som, nosso trabalho, então vejo que o lance de tocar em outras praças fará com certeza a gente encontrar nosso público lá também.
WHIPLASH!: Quais são os planos do Dazaranha pro futuro? E o processo do novo CD?
Adauto / A gente está em um processo de pré-produção desse novo CD, já temos várias músicas, a cada ensaio que a gente toca uma música que já está arranjada, a gente acaba fazendo novos arranjos. Estamos selecionando várias músicas, a gente deve ter umas quarenta músicas na manga.
Adriano / Muita coisa também sai no show, a gente tem tocado muito e os arranjos começam a surgir nos shows mesmo, e de acordo com a reação do público, a gente começa a tocar.
WHIPLASH!: Quais são as influências básicas do Dazaranha?
Adauto / Bom, vou te dar um exemplo tá? Pra te dar uma idéia das influências. O Fernando (violinista da banda) viajou para Atlanta e me trouxe um CD do John Paul Jones, baixista do Led Zeppelin, e junto com ele, levou um Zeca Pagodinho. Então vai desde Led Zeppelin até Zeca Pagodinho. Ou seja, música boa.
Adriano / Influência até de samba, chorinho, parte de guitarra, até mesmo do Moriel (guitarrista-compositor), desde Beatles, Roberto Carlos, até hardcore, é uma coisa muito extensa.
WHIPLASH!: O que o clima da ilha (Florianópolis) influencia na música de vocês?
Adriano / As letras falam de coisas que acontecem mesmo na vida do pessoal daqui, isso tocado de uma forma nossa. Isso é a magia, não tem muito segredo, é coisa natural, que sai da galera, mas que é bem característico daqui.
Adauto / E até a história da influência, é lógico que a influência vem daqui porque a gente é daqui, além dessa história dessa coisa da magia. Florianópolis tem vários lugares bonitos, tem um cotidiano parecido com várias cidades, é um pouco mais tranqüilo, mas tem violência, tem outras coisas, mas na verdade o que eu vejo é que não importa se é de Florianópolis ou se é de Londres, na verdade você está retratando coisas do seu cotidiano, que acontecem também em outros lugares, que acontecem no Rio de Janeiro, que tem belíssimas praias.
Fernando / Influência total, a gente cresceu aqui e a nossa referência é o que a gente tem em casa. A gente tem isso muito forte no primeiro disco, no começo da carreira, e no segundo disco a gente já teve um contato maior com São Paulo, até com o Carlini, que é um cara fudido no rock ‘n’ roll brasileiro, que produziu o disco, colocou uma outra linguagem, mostrou um outro lado musical, que é uma coisa mais universal. E a gente agora viajando, muitos dos lugares vão abrindo nossa visão, começamos a escutar coisas novas e isso vem a acrescentar as nossas primeiras influências, que são a ilha, que é o lugar onde a gente vive, as praias... No fundo se cria um bem estar que existe aqui na ilha, que de repente não existe em São Paulo, que lá tem um outro bem estar, que é o cara que gosta de São Paulo, e a gente não sabe o que é. E ele transmite isso da forma dele e a gente transmite o que a gente vê aqui na ilha.
WHIPLASH!: O que vocês acham do cenário underground de Florianópolis?
Adauto / Eu acho que é bom, várias bandas trabalhando, e o que eu vejo que está acontecendo muito aqui é do Sul ser um grande mercado de trabalho, acho que você não vai para um lugar desconhecido com sua banda se você não faz sucesso na sua terra. Muitas coisas indepedentes, acho que é bem promissor. Não só em Florianopólis, como no mundo inteiro, até você atravessar essa película de uma banda de médio porte para uma banda de grande porte você tem algumas dificuldades, mas é um caminho muito legal, muito prazeroso.
WHIPLASH!: Por que essa dificuldade de entrar em outros mercados? E o que o Dazaranha está fazendo para entrar nesses mercados?
Fernando / Eu posso falar do que a gente conhece, que são os lugares que a gente já tocou, que a gente vai e toca, muitos pela primeira vez, e a gente acaba conhecendo um público novo, muita gente que nunca tinha ouvido falar da banda, que vai pela curiosidade e acaba curtindo e isso é uma coisa que está acontecendo em vários lugares, é de grão em grão. A história do Dazaranha foi feita dessa forma: A gente conseguiu ser reconhecido na nossa cidade, depois no nosso Estado, e agora na região sul. Fizemos uma turnê pelo Paraná, fizemos agora litoral norte, fizemos São Paulo há pouco tempo. A grande dificuldade de São Paulo e Rio é só a distância, porque a gente está mais longe. E São Paulo, principalmente, que é uma cidade muito grande, com muitas bandas, é um centro cultural, então para atingir aquele público que é de quase 20 milhões de pessoas naquela área metropolitana, você tem que ter uma penetração grande de mídia, gravadoras e tal, e a gente, como de certa forma está começando por lá, acaba como uma banda iniciante para lá, então tem que ralar como qualquer outra banda. Isso acaba sendo um ponto que, quando no final a gente consegue construir, chega lá e faz um show de lançamento do CD, como a gente fez, e lota a casa para 500 pessoas, essas 500 pessoas agora são como fãs da banda, e essas pessoas vão falar para mais 500 e mais 500... e é de pouco em pouco, e daqui a poucos anos de trabalho a gente já terá um nome reconhecido. É uma coisa que não se conhece, esse circuito do rock ‘n’ roll brasileiro, tem-se uma ilusão muito forte daquela coisa do Faustão, daquelas bandas que dão um boom e depois somem. Um exemplo é a banda Los Hermanos, que é uma banda que eu acho muito legal, mas acho que eles passaram por um processo que nem eles tem noção do que aconteceu. Encontramos eles no Planeta Atlântida (festival em Florianópolis) e eles estavam até meio assustados. Isso é legal, colocam eles em lugares que eles nunca tinham tocado antes, mas de uma forma muito abrupta.
WHIPLASH!: O que as pessoas podem esperar do som do Dazaranha para o próximo CD? O que pode mudar na música do Dazaranha?
Fernando / Eu acho que o som está ficando mais limpo, não estou dizendo mais leve, mais claro. A gente vai aprendendo a chegar ao um objetivo musical, de conseguir transmitir com mais facilidade aquela música que tá na cabeça da gente, que às vezes a gente tem que passar para as pessoas através de um instrumento, de um microfone, de um alto-falante. É de uma certa forma uma ciência, a física do som, a gente acaba com o tempo aprendendo esses mecanismos. A história da música, é a mesma música que a gente fez desde o começo, só que com as influências que a gente vai adquirindo ao ouvir coisas mais modernas. É difícil dizer o que vai acontecer.
WHIPLASH!: Então é isso. Obrigado pela entrevista.
Fernando / Obrigado a você e ao pessoal do Whiplash!.
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