Nirvana: o relato do comediante que "abriu" os shows do In Utero
Por Brunelson T.
Fonte: Album: In Utero Reissued
Postado em 13 de setembro de 2015
No relançamento de 20 anos do 4º e último álbum de estúdio do NIRVANA no ano de 2013, chamado "In Utero", dentro do livro que vem junto neste disco consta um relato escrito pelo ator de filmes de comédia chamado Robert Francis Bobcat Goldthwait.
Além de ator e diretor de filmes, o Bobcat também era conhecido por ser um comediante de palcos de auditório nos EUA, o que despertou o interesse do frontman da banda, o Kurt Cobain, em leva-lo junto com o seu grupo para a turnê americana deste álbum recém-lançado. O Bobcat iria "abrir" os shows do NIRVANA com as suas apresentações cômicas que eram também regadas no humor negro.
Então, segue logo abaixo o relato inédito deste comediante que acompanhou o NIRVANA nesta turnê:
A pedido do Kurt Cobain, eu viajei com o NIRVANA por 13 cidades durante a turnê americana do álbum "In Utero" agindo como um ato de abertura/mestre de cerimônias antes de cada show começar. O Kurt era um grande fã do meu trabalho de comédia em palco de auditório e eu sei que para alguns de vocês seria como descobrir que o JIMI HENDRIX realmente amava o Buddy Hackett (ator americano de filmes de comédia), mas eu estou orgulhoso de que, ao contrário de muita gente, o Kurt, o Krist, o Dave e o Pat, realmente ouviram o meu material e não se desligaram da minha performance de palco que eu fazia antes de cada show começar nesta turnê.
O que eu acho muito frustrante é que as pessoas tendem a ignorar o fato de que o NIRVANA é/era engraçado. Muito engraçado! Eu estava lá quando algum idiota da plateia gritou para a banda durante um show: "Freebird!" (para quem não sabe, este é o nome de uma música que fez muito sucesso da banda LYNYRD SKYNYRD nos anos 70, mas que também é solicitada pelo povo americano durante os shows no mesmo sentido figurativo de quando alguém da plateia aqui no Brasil pede para a banda tocar falando: "Toca Raul!!!").
E só para deixar este desordeiro sem inspiração, o mesmo acabou se encontrando acidentalmente com toda a banda nos bastidores pós-show, transformando espontaneamente o encontro em um murmúrio atonal dele em relação à banda cover (NIRVANA) de chave desligada do LYNYRD SKYNYRD. Isso já seria engraçado o suficiente por si mesmo, mas o que fez a situação ficar mais hilariante ainda, é que a música que o NIRVANA resolveu destruir em cima do palco não foi mesmo a canção "Freebird", mas sim uma outra música do LYNYRD SKYNYRD chamada "Sweet Home Alabama". Engole essa, cara do Freebird!
Por causa da paixão, urgência e do senso de humor da banda, cada show que eu presenciei deles foi um evento uma-vez-em-uma-vida que eu tive a sorte suficiente ainda de ter um assento na primeira fila para cada show deles apresentados, mesmo que às vezes o "fosso" onde a plateia ficava se tornava uma coisa feia de se ver enchido com empurrões movidos a testosterona. Foram nessas noites também que a banda pôde parar de ficar somente jogando as suas guitarras e baixo para o alto e trouxe também violões e baixos acústicos para se sentarem na frente do palco, afim de se apresentarem com algumas músicas mais calmas.
Nada irrita mais um bando de punks do que isso, de querer tocar algumas músicas em um violão acústico para que eles não fiquem realmente apenas agindo como um bando de atletas estupradores. Foi bonito de ver a confusão e a decepção nos rostos desses idiotas... Essa foi uma pura genialidade no melhor estilo Andy Kaufman de ser (comediante e um ator performático americano que tinha a arte de chocar tanto positivamente quanto negativamente a sua plateia).
Eu conheci o NIRVANA antes deles terem demitido o 1º baterista da banda no ano de 1990, sendo que o Dave ainda não tinha se juntado ao grupo. A 1ª vez que eu conheci o Dave, ele me disse: "Eu sei, eu sei que eu pareço ser muito diferente na televisão..." Sendo o mais brincalhão do grupo, o Dave e eu nos identificamos imediatamente. Tanto é assim que eu não vou confirmar e nem negar que, talvez, algumas das entrevistas de rádio que o Dave Grohl havia realizado naquela época via telefone, foram feitas na verdade por mim me passando pelo Dave. Eu também tenho boas lembranças do Dave e eu subindo pelas escadas de emergência que ficavam em torno da área externa de um motel, no 2º andar de uma sacada, para que nós pudéssemos bater nas janelas pelo lado de fora e assustar os seus colegas e os roadies da banda...
ps: o talento do Dave corresponde a sua bondade.
O Krist Novoselic era muito engraçado com uma entrega facial super expressiva. Ele me fazia rir com as coisas mais simples que existiam, como a forma que ele se referia regularmente a sua própria banda para terceiros se autodenominando como "The Nirvanas". O Krist também era talvez o mais doce do grupo, mas isso não quer dizer que ele era o mais inocente apesar de tudo... Eu me lembro uma vez na cidade de San Diego onde ele não deixou um bar fechar as portas, indo muito além do horário de fechar com o Krist, eu e alguns outros companheiros enchendo a cara. Eu também me lembro do certo tipo de pessoas que sempre apareciam nos bares que a gente ia (que eventualmente poderia ser um outro bar que o Krist não deixava fechar as portas também), que pelo fato dessas pessoas terem uma boca de merda, elas acabavam a noite sendo espancadas. Eu não vou dizer se era eu ou o Krist que certamente deixávamos um homem caído no chão para trás, mas a certeza dessas discussões era por causa das tendências feministas que o NIRVANA cantava em suas músicas e nas suas atitudes.
O Pat tinha um sorriso malicioso e é um homem encantador. Eu não tenho muitas histórias sobre o Pat Smear, mas tanto os outros caras da banda quanto eu gostávamos da sua companhia, sendo que nós conversávamos tanto que eu era capaz de enrolar a minha língua em torno dele. Eu realmente nunca poderia ter pensado que eu estaria "pendurado" em torno de um dos homens que ajudaram a criar o punk rock.
Algumas noites eu me sentava e ficava conversando a noite toda com o Kurt... Nós demos algumas boas risadas... Eu sei que as pessoas escolhem para se lembrar dele das suas próprias maneiras, mas a minha lembrança será sempre tão charmosa quanto engraçada. Nós gostávamos de nos deliciar com as histórias do showbiz de que tínhamos passado e que haviam nos chateado, parecendo mais que cada um estava tentando superar o outro com as suas próprias histórias. O Kurt me contou uma história sobre como todo mundo ficou confuso quando ele estava em um programa da MTV chamado Headbangers Ball, vestido com uma roupa feminina de arrasto no chão na cor amarela chamativa. Então, eu aproveitei para dizer-lhe como todos ficaram chateados quando eu pintei com tinta spray a frase "Paramount sucks" em toda a roupa do apresentador de programas de auditório da TV americana chamado "Arsenio Hall Show", enquanto que ele estava ao vivo no ar. Eu havia deixado aquele programa em chamas, mas o NIRVANA também não deixava por menos, porque eles tinham um imitador do Michael Jackson que aceitava receber os prêmios da banda nas cerimônias que o grupo não queria comparecer (a propósito, o Kurt achava chato que as pessoas pensavam que ele tinha ficado louco pelo fato da banda estar viajando com o seu próprio Michael Jackson. Ele havia me dito: "ninguém me entende quando eu estou brincando". E ele estava certo...).
À meia-noite na véspera do Ano Novo de 1993/1994, eu me exibia pelado no telhado do Oakland Coliseum (que é um estádio para jogos de baseball e etc). Na verdade, eu não estava completamente nu. Eu estava usando as asas dos anjos do álbum "In Utero" com o meu chapéu somente. Veja só você, eu não me importava se 19.000 mil pessoas viram o meu pênis rapidamente para uma risada, mas eu era vaidoso o suficiente para que eles não pudessem ver a minha cachola careca. (Nota: se algum de vocês tentarem fazer isso também, tentar um golpe como este que eu fiz em pleno reveillon, deixe-me dar-lhe um pequeno puxão de orelha em 1º lugar. Fazia muito frio naquela noite e eu ainda acho que é uma coisa embaraçosa de se fazer).
Se as coisas tivessem ocorrido do jeito que eu tinha planejado que deveria ter sido, ou seja, ficar pelado por apenas uma fração de segundos após o meu trajeto de volta ao palco para recolher as minhas calças (o show do NIRVANA havia sido nos arredores neste mesmo estádio), tudo bem! Mas quando eu olhei para o local onde eu havia deixado as minhas calças, elas haviam sumido! Explosões de raiva saíram de tudo ao meu redor e sem lugar para eu me esconder com segurança, eu me vi no meio do palco posando e perguntando para quem estava ali por perto: "quem diabos pegou as minhas calças?" Eu olhei para a banda e todos estavam sorrindo inocentemente... Poderia ter sido qualquer um deles.
Meu tempo com o "The Nirvanas" foi breve, mas permanece até hoje como alguns dos momentos mais divertidos que eu já tive na minha vida. Eles eram, e são ainda, homens extremamente inteligentes e talentosos que mudaram a música e um monte de coisas nas nossas vidas para sempre. E no aniversário deste álbum incrível, eu só quero dizer que eu ainda gostaria de saber qual de vocês, idiotas, esconderam as minhas calças!
Ass: Bobcat Goldthwait (2013).
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