Impressões iniciais de "Lilac", novo single do Katatonia
Resenha - Lilac - Katatonia
Por Marcelo R.
Postado em 19 de abril de 2025
No exato momento em que escrevo essas palavras, a nova canção dos suecos do Katatonia, Lilac, ainda não completou 24h de lançamento no Brasil.
Autointitulando o recém-lançado single, a faixa em questão comporá o novo álbum do conjunto, já batizado de Nightmares as Extensions of the Waking State, com lançamento previsto para 6/6/2025.

A arte gráfica da capa e os títulos das canções já foram divulgados. Por ora, a missão é controlar o frenesi da inquietude até o lançamento.
Como aperitivo prévio à divulgação do material, Lilac sibilou suas notas à meia-noite de 8/4/2025, apresentando-se bela e imponente em sua própria e elegante discrição.
O nascimento de Lilac é, como citado, bastante recente. Qualquer juízo definitivo é, portanto, prematuro. O amadurecimento da audição ainda perpassará pelo teste do tempo e, sobretudo, será sopesado a partir do conjunto da obra de Nightmares as Extensions of the Waking State, onde Lilac se insere.
De todo modo, já degustei a canção algumas sucessivas vezes. Creio-me, portanto, apto a rabiscar algumas palavras, ainda que provisoriamente.

Empregarei o esforço da sucintez, ciente de que ainda é cedo demais para maior alongamento e para ponderações mais conclusivas. Reservo-me, assim, ao direito de mudança de opinião ou de perspectiva.

Lilac é a primeira composição lançada pelo Katatonia desde a partida de Anders Nyström, um dos membros-fundadores do conjunto.
Aliás, Anders não excursionava com a banda há anos e, assim, provavelmente já estava desligado da formação há algum tempo. Oficialmente, porém, o anúncio da separação tornou-se público apenas há poucas semanas, às vésperas da notícia do lançamento do novo álbum (quando, então, o mistério e o silêncio, já insustentáveis, foram finalmente desfeitos).

A gradativa menor participação de Anders nas atividades e nas composições do conjunto, que culminou com a sua saída definitiva, repercutiu diretamente no som do Katatonia, como já se vinha notando.
Anders Nyström empunhava um estilo mais cru, agressivo e pesado. Ele era o "cara do metal" na banda.
O outro membro-fundador, o vocalista Jonas Renkse, vinha, ao seu turno, guinando, já há algum tempo, a uma ambiência musical voltada a aspectos mais atmosféricos, etéreos e sentimentalistas em detrimento das bases mais pesadas e intensas. Aliás, ao que se supõe – e não sem motivos! –, a ruptura na banda, com a saída de Anders, derivou justamente desse fracionamento inconciliável de direcionamentos.

A belíssima canção Lilac evidencia, com clareza, o atual protagonismo de Jonas Renkse no rumo musical atualmente percorrido pelo Katatonia.
Diretamente ao ponto, então, sem maiores delongas.
Lilac inicia-se envolta numa enevoada ambiência obscura. Desprovida de peso e desenvolvida ao paladar de elementos climáticos e atmosféricos, com guitarras em baixa afinação, Lilac transcorre de forma sóbria, sem excessos ou exageros, pelos meandros dos caminhos gélidos da introspecção e do intimismo.
Essas sensações são potencializadas pela regência da voz aveludada de Jonas Renkse, impregnada com aquela inconfundível e peculiar dramaticidade, tão marcante ao seu estilo.
A primeira parte da canção resgatou-me à memória a fase de Night is the new day. Esse material, como é sabido, desenvolve-se num cenário fantasmagórico, despreocupado, no geral, com os elementos pesados, centrando-se sobretudo em ritmos desacelerados e em aspectos climáticos e sensoriais.

Após acomodar o ouvinte nessa aura, Lilac sofre uma caída de tempo poucos segundos após o terceiro minuto. Então, com um arranjo brevemente instrumental sequenciado pelo reinício do comando de voz de Jonas Renkse, a canção, desse ponto em diante, assume tom expressivamente melancólico, numa ambiência de notável desamparo.
Lilac segue essa verve até o apagar de suas escuro-acinzentadas luzes de cores frias, esvanecendo-se com a mesma elegante discrição com que se apresentou e se impôs.
A segunda parte da canção rememorou-me a fase de Discouraged Ones, com flertes, mais ao final, de Dead End Kings, embora, aqui em Lilac, o conjunto tenha dedicado uma abordagem e um tratamento mais modernos em termos de gravação e de produção.

Lilac é uma canção curta, com extensão inferior a 5 minutos. A faixa é, de todo modo, bastante eficaz em sua proposta. Ruma na direção da guinada musical mais contemporânea do Katatonia, priorizando elementos climáticos, obscuros e atmosféricos de intimismo e de introspecção, em detrimento das linhas mais pesadas, agressivas e intensas que identificavam a música dos suecos, em seus primórdios.
Lilac lembrou-me, apenas para ilustrar e para referenciar, o estilo de Unfurl, imperdoável canção lado-b raramente lembrada na extensa discografia da banda.
Particularmente, a música atmosférica, voltada ao olhar íntimo e interior, sempre me seduziu. Cativou, e cativa, perenemente o meu gosto. Não à toa, titulo, com indisfarçável orgulho, a coleção completa da banda, em LPs.

Assim, ao meu paladar, os suecos do Katatonia vivem, musicalmente, a melhor fase. Questão, claro, puramente de gosto. E Lilac vem em reforço a essas impressões, validando-as.
A letra de Lilac soa a poesia gótica, da qual claramente bebe da fonte.
Abordando conceito profundamente lírico, seus versos peregrinam por reflexões sobre existencialismo, esvanecimento, partida e autolibertação.
A referência, ao final, ao rio Lete indica igualmente um tom mítico. E, ao mesmo tempo em que essa alusão corrobora a mensagem de despedida e de esvanecimento, já citada, também deixa ao ouvinte um lampejo esperançoso de purificação, renovação e restauração, à forma do mito grego que lhe inspira.

A alusão ao rio Lete é, por sinal, um lugar-comum de predileção ao Katatonia, já explorado, ilustrativamente, na canção Lethean, do álbum Dead End Kings.
Eis, então, Lilac, a faixa recém-lançada dos suecos do Katatonia.
Essas são, em síntese, as minhas impressões da nova canção dos suecos, que parece preservar o direcionamento musical contemporâneo do Katatonia, com abandono das linhas mais pesadas e com protagonismo dos elementos soturnos, ambientados, prevalentemente, no intimismo e introspecção.
Com a saída de Anders Nyström e, a partir de então, com o monopólio do protagonismo de Jonas Renkse na composição das canções, Extensions of the Waking State e, no geral, os álbuns futuros do Katatonia tendem a seguir esse rumo, o que, de todo modo, não surpreende. Basta que se analise a proposta recente do conjunto, de alguns anos para cá.

Se isso é bom ou ruim, a questão é puramente de gosto individual. Assim se resolve. A maturidade musical do Katatonia é, porém, ponto pacífico. Indiscutível.
Resta, agora, aguardar, com incontida inquietude, o lançamento de Extensions of the Waking State, na esperança de que o material triunfe com qualidade equivalente ao instigante aperitivo já presenteado por Lilac.
Por fim, deixo abaixo, além da letra, os links para o videoclipe de Lilac (no Youtube) e para o single (no Spotify).
Boa audição.
Videoclipe (Youtube):

Resenha originalmente publicada na página Rock Show.
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