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O Último Clássico de Danzig

Resenha - Danzig 4p - Danzig

Por Fernando Claure
Postado em 29 de julho de 2024

Nota: 8 starstarstarstarstarstarstarstar

O fim de uma era. Desde que Glenn Danzig decidiu sair do Misfits em 1983, sua visão começou a mudar do punk para o heavy metal. Sua banda seguinte, Samhain, ainda possuía um estilo visceral e intenso como o hardcore, mas ainda apresentava uma evolução lírica e instrumental, como se Glenn estivesse em um caminho para atingir o blues e o jazz que o inspirou. Foi nesse caminho que ele encontrou Rick Rubin e assim nasceu uma nova lenda: "Danzig". E assim como a nova banda começou, a visão de Glenn foi mudando ao longo do tempo e andou para o lado de um gênero em ascensão na época, popularizado principalmente pelo Nine Inch Nails: o metal industrial.

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O quarto álbum do grupo é comumente chamado de "Danzig IV" ou "Danzig 4", mas o nome oficial é "4p", uma referência ao "Four P Movement" (Movimento Quatro P), um grupo religioso da Grã-Bretanha fundado em 1966 e encerrado na década de 1970. A crença do grupo era baseada em Neognosticismo.

Dito isso, "4p" é uma despedida. Com brigas internas que culminaram na saída de Chuck Biscuits logo após as gravações terminarem, e Eerie Von e John Christ após a turnê do álbum, a formação clássica da banda foi embora, mas caiu atirando. Os singles "Cantspeak" e "I Don’t Mind The Pain" foram excelentes escolhas para introduzir o ouvinte ao novo som da banda. John Christ viria a explicar em entrevista como que "4p" era um experimento, mas isso não seria nada em comparação com a surpresa que o álbum na íntegra proporciona.

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"Para começar, nós queríamos introduzir algumas texturas novas para a banda, então experimentamos com vários instrumentos antigos, como um harmônio, uma flauta doce e carrilhões. É um álbum bem atmosférico e melancólico" John Christ para a Guitar World em 1994.

O CD utilizado para a resenha é um relançamento de 2002, mas possui as mesmas artes e detalhes que a versão original, incluindo uma foto dos membros da banda em caixões abertos, com o presidente dos EUA da época, Bill Clinton, cumprimentando um policial, cercado por membros do Serviço Secreto.

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1. Brand New God

Uma música agitada e forte. Particularmente não gosto muito do início, mas não é nada que comprometa a música ou o álbum inteiro. Os instrumentais e o estilo vocal de Glenn Danzig possuem particularidades mais similares aos álbuns que precedem Danzig 4, no caso How The Gods Kill e o EP Thrall-Demonsweatlive.

2. Little Whip

O início da temática mais gótica que permeia o LP. O refrão de "A come on, little whip" lembra os maneirismos de John Morrison do The Doors, mas logo a guitarra de John Christ chega com um riff distorcido que rasga a faixa. A faixa apresenta um início calmo que deságua em um mar caótico, com todos os instrumentos juntos, mas se destacando individualmente. O baixo de Eerie Von e a guitarra de Christ encorpa o som, enquanto a agressão de Chuck Biscuits casa com o vocal de Danzig para criar a base da melancolia brutal da música.

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3. Cantspeak

A primeira experimentação artística do álbum, a terceira faixa de Danzig 4 possui um instrumental distorcido, reverso e incrível. As ideias sonoras e a letra sobre um ser preso e encurralado, sem poder fazer nada, cria uma atmosfera agoniante como Danzig nunca apresentou antes. É como um filme de terror em uma música. Para a revista WOM em 1994, John Christ explicou o processo de criação do instrumental da faixa: "Dessa vez o nosso baixista, Eerie Von, teve a ideia de tocar uma das nossas músicas ao contrário, algo que muitos desses ‘nerds’ de igreja dos Estados Unidos sempre acharam que estávamos fazendo para encontrar mensagens satânicas. Isso nos inspirou tanto que nós gravamos solos de guitarra e partes de bateria inteiras ao contrário em músicas neste álbum. No final, nós ficamos tão obcecados que realmente tentamos tocar ‘Let It Be Captured’ inteira ao contrário. Assim, uma nova música foi criada - ‘Cantspeak’. Isso é muito trabalho para desconcentrar esses pseudo-pregadores…".

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4. Going Down To Die

Uma das melhores músicas da discografia inteira da banda, a quarta faixa do LP é calorosa e melancólica como nenhuma outra peça composta por Glenn Danzig. A balada, que conta a história de uma pessoa que sabe que irá morrer, pega toda a intensidade e as emoções dos instrumentos e amplifica para um tom nem muito forte, nem muito fraco. A dramaticidade, que é um fator importante em todas as baladas da banda, vem ajustada para o nível certo, tornando "Going Down To Die", possivelmente, a melhor balada composta pela banda, desbancando hits como "Blood and Tears" e "Sistinas".

5. Until You Call On The Dark

A faixa mais fraca do álbum (com exceção de "Sadistikal e "Invocation", que não contam). Apesar de contar com experimentações sonoras, como a mesma distorção instrumental e vocal presente em "Cantspeak" (que volta a aparecer em faixas seguintes), a letra e o ritmo criam uma ambientação repetitiva, como se a música fosse mais uma tentativa de gravar algo composto para o primeiro álbum. Felizmente, as faixas seguintes e "Going Down To Die" conseguem cobrir essa música.

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6. Dominion

Uma das melhores músicas do álbum, Glenn Danzig começa cantando com uma calmaria agitada, uma intensidade controlada, que casa perfeitamente com o baixo cavalgante de Eerie Von. O misticismo no início culmina em uma explosão por parte de todos os integrantes da banda, mas que serve mais para evidenciar os riffs assassinos de John Christ. O escalamento de vigor é fácil e interessante de se acompanhar.

7. Bringer Of Death

Com um início macabro, composto por efeitos sonoros de tiros e sirenes acompanhados por um piano que se perpetua pelo resto da música e uma guitarra melodicamente acelerada, "Bringer Of Death" é como uma versão melhorada e ainda mais experimental de "Until You Call On The Dark". Experimental no sentido de introdução de mais instrumentos, mais distorções e por ter um toque incrivelmente artificial, impossível de se replicar ao vivo, como se Glenn Danzig tivesse produzido a sua própria "When The Levee Breaks". Porém, a faixa continua sendo excelente, como uma lembrança da época de Samhain de Glenn e Eerie.

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8. Sadistikal

Uma faixa que nem o fã mais insano da banda ou do próprio Glenn Danzig possa defender, "Sadistikal" é como uma pausa. A "música" é como o que você achou que "Black Aria" seria antes de descobrir que era um álbum repleto de músicas de dungeon synth, que lembram RPGs antigos. Mesmo com Glenn narrando uma mini história na sua maior tentativa em ser assustador enquanto uma batida constante e sons de chicotes acompanham a sua voz, essa faixa é 100% um produto do vocalista e não da banda inteira. A única coisa interessante sobre essa música foi descobrir que no Spotify, a letra dela é na verdade a letra de uma música de K-Pop.

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9. Son Of The Morning Star

Após "Sadistikal", a banda (inteira) volta devagar, mas forte como sempre. Chuck Biscuits mantém sua agressividade tradicional no refrão, enquanto Christ e Eerie harmonizam o solo instrumental para que Glenn Danzig possa mostrar seu bravado vocal. Apesar de ser um pouco mais calma que outras músicas do projeto, se mantém como uma demonstração da criatividade polida do grupo após três álbuns e um EP juntos.

10. I Don’t Mind The Pain

Novamente, a bateria de Biscuits começa a todo vapor enquanto Christ e Eerie acompanham sua energia. Em uma das faixas mais eletrizantes do álbum, Glenn agora acompanha os instrumentos que dominam totalmente os holofotes. Uma das melhores músicas do álbum e incrivelmente necessária após "Sadistikal", "I Don’t Mind The Pain" se destaca na discografia da banda como uma excelente demonstração da mágica que Danzig, Biscuits, Von e Christ conseguiam produzir juntos.

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11. Stalker Song

Competindo com "Until You Call On The Dark" em termos de experimentação, Glenn Danzig interpreta um stalker (perseguidor) enquanto os instrumentistas tentam sonorizar a relação de caça e caçador. Apesar de ser um pouco repetitiva, o conceito e a execução são interessantes. A intensidade e o fascínio de Danzig por coisas macabras em suas músicas fazem desta uma faixa única, como uma tentativa honesta de adaptar o horror para música.

12. Let It Be Captured

Praticamente a última música de "Danzig 4", "Let It Be Captured" começa lenta e dramática, assim como inúmeras canções do grupo, mas o que realmente aumenta essa melancolia é o teclado do vocalista. Apesar de ser um pouco abafado no refrão, é possível perceber a essência que o teclado transmite pela faixa toda. A letra é simples, com os instrumentos tomando toda a personalidade sonora, mas a entrega vocal de Glenn é grandiosa. Um excelente encerramento para um grande álbum, se não fosse por "Invocation".

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13. Invocation

"Invocation" ocupa a posição 66 no álbum. As faixas 13 até 65 são compostas por quatro longos segundos de silêncio. Não tem muito o que dizer sobre esta faixa, é como uma invocação, com um órgão de fundo e vozes juntas para terminarem o álbum com um ritual.

Por mais que algumas ideias não tenham dado certo ("Sadistikal" e "Invocation"), "4p" é um excelente álbum pela formação original e um belo encerramento de uma trajetória invejável no metal. Danzig, Biscuits, Christ e Von criaram quatro LPs e um EP que fugiram do normal para o heavy metal do final da década de 1980 e início dos anos 1990, se inspirando e ajudando a inspirar subgêneros como o metal gótico e blues rock. O que surgiu como uma proposta por Rick Rubin para trazer Glenn para a sua gravadora foi muito além do esperado, deixando um legado espetacular.

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Após a saída dos membros, Glenn Danzig se despediu da American Records de Rubin e continuou na Hollywood Records e eventualmente em seu próprio selo, Evilive Records. Os discos seguintes não obtiveram tanto sucesso quanto os quatro primeiros, mas são tão importantes quanto. O único membro constante nessa nova formação veio a ser o baterista Joey Castillo, que tocou em "Danzig 5: Blackacidevil", "Danzig 6:66 Satan’s Child" e "Danzig 777: I Luciferi" até partir para o Queens Of The Stone Age, substituindo Dave Grohl.

Tracklist

1. Brand New God
2. Little Whip
3. Cantspeak
4. Going Down To Die
5. Until You Call On The Dark
6. Dominion
7. Bringer Of Death
8. Sadistikal
9. Son Of The Morning Star
10. I Don’t Mind The Pain
11. Stalker Song
12. Let It Be Captured
13. Invocation

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Guitarra, Vocais e Piano - Glenn Danzig
Guitarra - John Christ
Baixo - Eerie Von
Bateria - Chuck Biscuits

Produção - Glenn Danzig e Rick Rubin

Selo: American Recordings

Tempo 61:06

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Sobre Fernando Claure

Jornalista formado em 2023, cresci ouvindo Sabbath e Metallica com o meu irmão mais velho e hoje escuto de tudo e mais um pouco. No momento meu ato favorito é o Nine Inch Nails, mas é capaz que mude daqui a um tempo. Se pudesse pegar três ídolos pessoais, estes seriam Iggy Pop, Glenn Danzig e Trent Reznor.
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