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A Certified Mind Blower - Dez anos do álbum dos Arctic Monkeys que impactou o mundo

Resenha - Certified Mind Blower - Arctic Monkeys

Por André Callá
Postado em 18 de setembro de 2023

De tempos em tempos, aparecem bandas de rock britânicas que tomam conta do cenário mundial da música - e na década de 2010 não foi diferente. Lançado em 2013, o álbum "AM" dos Arctic Monkeys trouxe à tona uma sonoridade muito diferente e criativa dos trabalhos anteriores da banda, além de novas atitudes em termos de estética e postura artística. Misturando as guitarras distorcidas do hard rock dos anos 70 com a batida de álbuns de rap e R&B, os Arctic Monkeys surpreenderam o público ao esbanjar inovação e atitude com um álbum de sucesso crítico e comercial que provou que o rock and roll permanece relevante no mundo da música atual.

Arctic Monkeys - Mais Novidades

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Um Breve Histórico (2002 - 2012)

Mas, para entender como a banda foi capaz de atingir tanto sucesso com um de seus álbuns mais aclamados, precisamos visitar sua história.
Os Arctic Monkeys são uma banda de rock formada em Sheffield, Yorkshire, em 2002, cuja formação inicial consistia em Alex Turner no vocal e na guitarra, Jamie Cook na guitarra, Matt Helders na bateria, e Andy Nicholson no baixo. Ao publicar algumas de suas demos no site Myspace, a banda começou a chamar atenção dos usuários e rapidamente viu sua popularidade crescer.

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Em junho de 2005, a banda de Sheffield assinou um contrato com a gravadora independente Domino Records. Erguidos pelo "hype" do considerável público que conhecia as demos, foi lançado o primeiro single "I Bet You Look Good on the Dancefloor", em outubro do mesmo ano, que foi direto ao topo das paradas do Reino Unido. Com a bola toda, em janeiro do ano seguinte, eles lançaram seu álbum de estreia, produzidos por Jim Abbiss, "Whatever People Say I Am, That’s What I’m Not", que veio a se tornar o álbum de estreia mais rapidamente vendido em toda a história do Reino Unido. O álbum tinha a típica sonoridade do "garage rock" dos anos 2000, que apresentava canções punk extremamente velozes e energéticas, com guitarras muito distorcidas, ótimas linhas de baixo e uma bateria inacreditavelmente ágil. Mas, o que os diferenciava das outras bandas da época eram as letras de Alex Turner muito bem construídas e dotadas de alta sensibilidade poética, atitude e engenhosidade. As canções retratam as noitadas da juventude de Sheffield, - ele escrevia sobre o que sabia. O álbum de estreia da banda atingiu o topo das paradas britânicas e é até hoje reconhecido como um dos melhores da carreira, onde os quatro membros revelam alta competência como banda. Mais pra frente em 2006, Andy Nicholson seria substituído pelo baixista Nick O’Malley.

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Após o sucesso estrondoso do primeiro álbum, a banda passaria a ser produzida até os dias de hoje por James Ford. Assim, em 2007, a banda lançou seu segundo álbum "Favourite Worst Nightmare". Considerado mais rápido, pesado e ambicioso que o primeiro, a banda mantém o mesmo estilo, porém, com batidas mais dançantes, letras mais dramáticas, maior ambiência sonora e novos instrumentos, como o teclado em "505". "Favourite Worst Nightmare" também atingiu o topo das paradas britânicas.

Futuramente, os Arctic Monkeys conheceriam Josh Homme, guitarrista e cantor do Queens of the Stone Age, que viria a ser o co-produtor do terceiro e desafiador álbum, o "Humbug", de 2009. Graças à presença crucial de Josh Homme no estúdio Rancho De La Luna, a banda foi capaz de mostrar amadurecimento de suas composições. Neste álbum, é decidido ficar mais tempo no estúdio e usar esse ambiente a seu favor. Em vez do ritmo agressivo dos dois álbuns anteriores, as canções desaceleram e adquirem uma sonoridade sombria, relaxada e até mesmo macabra. Para esse som estilo desert e stoner rock, as guitarras usaram e abusaram de pedais de efeito e foram incluídos muitos teclados em todas as canções.Além disso, é perceptível a mudança no estilo de cantar de Alex, que neste álbum projeta letras de músicas com metáforas diferenciadas com uma voz mais controlada, cadenciada e grave. O álbum foi outro número um no Reino Unido e marcou a primeira grande mudança no som da banda.

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Já em 2011, os Arctic Monkeys lançaram o "Suck It and See", que decidiu seguir a direção contrária de seu antecessor: a banda, então, optou por gastar mais tempo ensaiando as novas canções, já compostas por Alex em seu violão, em vez de utilizar muito overdubbing e técnicas de estúdio no processo. Assim, decidiram gravar o álbum no Sound City Studios, em Los Angeles, entre janeiro e fevereiro de 2011 - vinte anos antes da banda de Sheffield, o trio de Seattle, Nirvana, entraria neste mesmo estúdio para gravar o excelente "Nevermind". Alex Turner conta no vídeo do "making of" do álbum que "todas as músicas que estávamos gravando foram feitas em ‘takes’ ao vivo". Assim, este álbum apresenta sonoridade mais pop, vintage e espontânea, trazendo influências do post-punk, surf rock, desert rock e country. Com guitarras limpas e letras poéticas e melancólicas, as canções tratam de romance, decepções amorosas e solidão. O álbum mais uma vez atingiu o topo das paradas do Reino Unido.

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Porém depois de um ano de turnê, Alex Turner contou ao The Guardian que eles "se cansaram" de tocar o álbum ao vivo. O cantor disse que teve a sensação de que o álbum "se esgotou rapidamente". Por isso, eles precisavam de material novo.

"R U Mine?"

Antes de acompanhar os Black Keys na turnê do "El Camino", os Arctic Monkeys lançaram no dia 27 de fevereiro de 2012 um novo single chamado "R U Mine?", que rapidamente se tornou um sucesso. Essa canção chamou atenção do público pela sua proposta muito diferente das canções anteriores, tanto por parte dos instrumentos quanto pelo estilo da letra. De acordo com Alex Turner, ela é sobre "a incerteza que às vezes vem com o amor". Dê uma olhada:

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O sofisticado riff de guitarra, criado pelo baixista Nick O’Malley, caminha sexy entre os vocais de Alex e os backing vocals aveludados de Matt e Nick (os "Space Quiet Boys", como Alex os apelidou), enquanto o poderoso baixo e a bateria remetem um ritmo mais próximo do hip hop, outra grande influência para as canções que estavam por vir, como Alex deixa claro para a NME, em 2012:

"Esse pedaço [primeira estrofe de "R U Mine?"], em particular, é tipo aquela coisa que o Lil Wayne e o Drake fazem. A gente estava ouvindo bastante as músicas deles recentemente. Eu gosto daquela coisa que eles fazem quando eles falam sobre algo ao contrário, então eles falam sobre isso, mas depois dizem sobre o que realmente é na próxima frase. É difícil explicar, mas acho que é uma pequena referência a essa ideia. Então eu digo, ‘I’m a puppet on a string’ [Sou uma marionete pendurada], pouco antes de mencionar Tracy Island".

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No lado B, há "Electricity" que lembra bem mais o som do "Suck It and See", com riffs de guitarra no estilo desert rock e letra sobre como é difícil segurar sentimentos e paixões intensas. De qualquer maneira, a canção foi ofuscada pelo lado A. Confira abaixo:

"R U Mine?" foi um aquecimento, foi a descoberta de um novo caminho a se explorar. Ela mistura um riff de guitarra com sonoridade do rock dos anos 70 e uma batida semelhante à do R&B. Então, a banda pensou: "Por que não fazer um álbum nessa pegada?". E assim foi feito.

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Posteriormente, no NME Awards de 2013, "R U Mine?" recebeu o prêmio de "Melhor Vídeo".

Processo de gravação e influências musicais

Para capturar a nova ideia de sonoridade, a banda decidiu chamar Ross Orton para co-produzi-lo com James Ford. Ross Orton foi baterista da banda eletrônica Add N to (X) e é integrante do trio Fat Truckers, o que faz dele a escolha certa para adicionar elementos de outros estilos ao rock. "A ideia por trás [do álbum] era aplicar a perspectiva composicional de um produtor de hip hop e R&B à uma banda de rock de quatro integrantes", explica Alex Turner.

A banda decidiu ensaiar e gravar o álbum no Sage & Sounds, em Los Angeles. Durante essa jam de, mais ou menos, meio ano, os Arctic Monkeys apostaram em diferentes formas gravar e em instrumentos atípicos a álbuns de rock para que o novo álbum soasse bem diferente dos anteriores. "O ‘AM’ foi simplesmente um experimento, mas fazer um experimento, eu acho, pelo menos, que é se mover na direção saudável", resume Alex Turner à NME.

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Desde o começo das gravações, a banda tinha em mente que o próximo álbum deveria ser, acima de tudo, baseado em ritmo. O álbum precisa dos "grooves". Eles queriam que o álbum soasse bem em um carro como "In Da Club" do 50 Cent soaria. Para isso, eles deveriam focar nas frequências mais baixas das faixas. Por isso, o baixo e a bateria foram gravados primeiro, com as outras partes, como guitarras e teclados, construídas sobre a "cozinha rítmica". Nas gravações, Nick toca um baixo ‘78 Fender P, um ‘65 Fender P e Epiphone Jack Casady. Isso não deixou de causar ansiedade nos membros, pensando que haviam se distanciado muito ou que soassem muito como o Dr. Dre, como Alex comenta à Uncut.

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Uma notável inovação foi a presença da bateria eletrônica dos modelos Thomas Bandmaster e Selmer, às vezes combinadas com reverb. Além disso, em algumas faixas, a bateria de Matt Helders foi gravada em seu kit normal com a sobreposição de loops de outras partes da bateria, gravados separadamente em um preamp SansAmp.

Outro elemento decisivo do "AM" foi a maneira elegante que os vocais foram construídos. Além da voz principal, Alex regravou sua voz uma oitava acima para dobrar a voz. Matt reforça o falsete de Alex com o seu próprio uma oitava acima, e Nick fornece mais uma camada com uma oitava abaixo da tonalidade original. Não foi utilizado nenhum equipamento fora do comum para gravar os vocais: áudio universal 1176, Empirical Labs Distressor, clone BAE do Neve 1073. Neumann U67 mic também foi muito utilizado. Mas, o mais curioso sobre os vocais, foram momentos depois da produção, em que Alex admitiu gravar algumas partes sílaba por sílaba no Pro Tools para atingir o take perfeito.

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As guitarras de Alex e Jamie foram gravadas separadamente. Alex tocou uma Gibson Les Paul Custom preta, anteriormente propriedade de Cook, para moldar partes robustas do "AM". Uma Fender Jazzmaster também foi usada durante as sessões. Alex também tocou sua Vox Starsreamer XII de 12 cordas e um violão Epiphone Texan 1958. Seus amplificadores foram um Selmer Zodiac Twin 30 e um Magnatone Custom 410. Jamie, por sua vez, contribuiu com uma Gibson SG, uma Gibson ES-335, uma Fender Starcaster e um violão Gibson J-45 para a gravação do "AM". Seus amplificadores foram um Hiwatt Stage/Studio 2x12 e um Rosewell Custom 100W. Os guitarristas usam pedais de diferentes efeitos, como fuzz, vibrato, delay, overdrive, entre outros.Tendo ficado obcecado com o lendário "The Rise and Fall of Ziggy Stardust" (1972) de David Bowie durante as sessões, Jamie admitiu à NME que esse álbum serviu de motivação para tocar o mais perfeitamente possível, além de inspirar a sonoridade do álbum também. Outra grande influência para as composições foi o álbum "Fully Qualified Survivor" (1970), de Michael Chapman. Em entrevista ao The Irish Times, em 2013, Alex admitiu ter ficado fissurado pelo álbum a ponto de emular o cantor e transportar o clima de suas canções para o "AM". Ao fazer isso, seu sotaque de Yorkshire ficou muito menos evidente que nos outros álbuns.

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Indo para o Vox Studios, os teclados voltaram a chamar atenção, decidindo incluir piano, celesta e um órgão sintetizador Vako orchestron. Além disso, a banda também tenta imitar o som de um teclado com as guitarras, dobrando-as com um Hohner guitaret. Os Arctic Monkeys também recorreram ao Rancho de La Luna, de Josh Homme, para gravar outras partes de algumas músicas. No fim, as gravações ocorreram entre agosto de 2012 e junho de 2013. Depois de meses experimentando e descobrindo, a banda poderia então revelar ao mundo um novo álbum de rock que representa sua evolução como grupo e a inclusão de elementos da música contemporânea ao clássico hard rock.

"Do I Wanna Know?": Estética e Sucesso

No dia 19 de junho de 2013, a banda daria ao mundo uma pequena demonstração daquilo que foi criado no estúdio ao lançar o single "Do I Wanna Know?".

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O riff central da canção foi escrito por Alex na sua guitarra de 12 cordas Vox Starstream XII, cujo timbre dá a textura pesada e carnuda à canção. Abrindo com a bateria eletrônica e com esse riff envolvente e poderoso, "Do I Wanna Know?" revela ao mundo uma nova faceta sonora e visual da banda. Ao longo da canção, o riff de guitarra serve de plataforma para o eu lírico confessar sua frustração amorosa diretamente à garota que ele tanto deseja. Os vocais de apoio aveludados suspiram a decepção da letra e imploram para que ele tenha uma chance. O baixo lento e certeiro intensifica ainda mais o ambiente da música. Não haveria maneira melhor de abrir esse álbum. O clipe da música traz ao público uma nova estética da banda. Os membros procuram um design simples, mas intenso, tanto em forma e em cores. Em relação às suas personas, eles largaram o cabelo despenteado e jeans desalinhado penteados com gel para trás e blazers e jaquetas de couro, típicos do estilo arrogante dos teddy boys. Nos álbuns anteriores eles usavam roupas de cores variadas? Agora vestem preto e branco. Mas, um dos grandes méritos da música foi ter feito a banda chamar atenção do influente público dos EUA, algo que nunca havia feito com tanto sucesso até o momento.

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A canção foi classificada como a 10ª melhor canção de 2013 pela revista Rolling Stone, teve seu riff classificado como o 3º melhor do mundo da década de 2010. Ainda que tenha sido indicada como "Melhor Performance de Rock" no 57º Grammy Awards em 2015, perdeu para "Lazaretto" de Jack White. "Do I Wanna Know?" recebeu o prêmio de "Melhor Música" no Q Awards de 2013. Confira o videoclipe memorável desse sucesso:

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No lado B, "2013" segue com abordagem parecida. Com o produtor James Ford no teclado, a canção idealiza o ano de 2013 como um ano de sucesso, tecnologia e mudança. Mesmo não tão impactante quanto o sensual lado A, a banda, de qualquer maneira, anuncia 2013 como seu ano de conquista mundial. Confira abaixo:

"Why’d You Only Call Me When You’re High?"

Apesar de ter sido vazada no YouTube em 29 de julho, no dia 11 de agosto de 2013, a banda lança oficialmente o segundo single do álbum, "Why’d You Only Call Me When You’re High?", com participação do produtor James Ford nos teclados.

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Depois do gigantesco sucesso do segundo single do álbum, o novo single traz outro grande momento. Em "Why’d You Only Call Me When You’re High?", temos um eu lírico extremamente bêbado, às três da manhã, expressando sua frustração por uma amante que ignora suas ligações perdidas e que o questiona, em mensagem, sobre ele só falar com ela quando está bêbado. A linha de baixo simples e envolvente marca uma batida funk rock, com guitarras embebidas em reverb, trazendo o som da madrugada vazia e boêmia das ruas escuras para o ouvinte. A canção foi muito bem recebida pelo público e o clipe recebeu indicação de "Melhor Vídeo de Rock" do MTV Music Video Awards de 2015. Até hoje, é a canção da banda que ficou mais tempo no Top 100 das paradas do Reino Unido, com 65 semanas consecutivas. Confira o videoclipe abaixo:

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Apesar de não ter atingido posições tão elevadas nas paradas e nem de ser tocada frequentemente em shows, o lado B, "Stop The World I Wanna Get Off With You" é outra canção muito prestigiada pelo público. Com uma linha de baixo parecida com o lado A, essa canção trata do desejo pela amada, da importância que o personagem dá a ela acima das outras pessoas e de como é difícil expressar seu sentimento por alguém. Confira abaixo:

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"AM" (2013)

Sem mais delongas, no dia 9 de setembro de 2013, a banda lança o álbum "AM". Alex Turner diz que roubou a ideia do álbum "VU", do Velvet Underground, para o título. Logo "AM" pode ser entendido como "Arctic Monkeys", mostrando que a banda já estaria no status de ser reconhecida pelas iniciais. Porém, há quem diga, como Josh Homme, que "AM" poderia significar "after midnight" (depois da meia-noite), já que as músicas tratam de situações que poderiam ocorrer nesse período do dia. Com seu design minimalista, misterioso e único, a capa do álbum tornou-se bastante icônica com o passar dos últimos anos e rendeu diversas interpretações sobre o que seria o símbolo grafado. Em um fundo escuro, ela contém ondas de rádio na cor branca formando, novamente, "AM" no centro. Então, "AM" pode significar "amplitude modulation" (modulação de amplitude), referente às frequências de ondas de rádio. A capa também pode ser entendida como um óculo escuro, um sutiã, etc. A ausência de um significado fixo só torna a capa ainda mais popular.

Capa do álbum "AM" (2013).
Capa do álbum "AM" (2013).

Agora vamos a uma pequena review das faixas, exceto de "Do I Wanna Know?" (faixa 1) e de "Why’d You Only Call Me When You’re High?" (faixa 9), que já foram comentadas anteriormente. Todas as letras foram escritas por Alex Turner e a música é creditada aos Arctic Monkeys.

"R U Mine?" (versão do álbum)

Se você ouvir com atenção, "R U Mine?" do álbum é um pouco diferente da do single. No álbum, os refrões contém Alex e Jamie tocando as mesmas partes, enquanto no single, Jamie toca pedaços do que Alex toca - dá pra ouvir Jamie deslizando os dedos na corda durante o refrão para encontrar a parte do Alex. No single, não há a guitarra de Alex imitando os backing vocals no pós-refrão final. Além disso, no álbum, a bateria tem um som mais cheio. Parece que no single os Arctic Monkeys banda davam de cara com um caminho ainda a ser explorado, enquanto que a versão do álbum tem mais reverb e condiz mais com a proposta descoberta deles. No fim, a versão do "AM" ficou mais caprichada.

"One For the Road"

Com Josh Homme ajudando nos backing vocals e James Ford no teclado e no pandeiro, a banda continua o álbum com "One For the Road". Sobe uma atmosfera densa e noturna, onde guitarras ecoam em uma rua deserta. Uma das faixas mais interessantes do álbum, a banda esbanja criatividade e novidade, ao perpetuar uma sonoridade mais grave somada aos vocais insones de um eu lírico que reflete sobre o fim já anunciado de seu relacionamento anterior. O título refere-se a uma bebida final antes de sair de casa para fortalecer uma para a jornada à frente (algo como "a saideira") - seja a viagem literal ou comparando a viagem à despedida da garota. Nessa canção, fica evidente a influência de Queens of the Stone Age, além de um solo de guitarra interessante. Confira o videoclipe no link abaixo.

"One For the Road" foi lançada como single, em 9 de dezembro de 2013, ao lado de "You’re So Dark". Esta canção se propõe a ser mais sombria que o lado A (perdão pelo trocadilho), e mostra o eu lírico desejando incessantemente uma garota "trevosa", que gosta de filmes e livros de terror, que se veste de preto e vai a cemitérios. Ele admite que ela poderia acabar com o relacionamento em que está. Temas como esses não parecem muito nas canções da banda. Vale a pena conferir a canção que pode até soar engraçadinha.

"Arabella"

Essa canção resume muito bem a proposta do álbum.

A música é sobre uma mulher chamada "Arabella". Para o eu lírico, sua combinação de roupas fora do comum e seu apelo inevitável tornam ela mais linda que o horizonte, uma sex symbol. Arabella não é uma mulher desse mundo - ou se preferir, que ela é feita de espaço sideral. Enfim, ele descreve uma mulher cuja beleza e postura atravessam o espaço-tempo. Alguém que anda pelo mundo e pelos seus como uma exploradora destemida e sedutora. Antes dos refrões, a banda toca uma batida característica de uma canção de hip-hop dos anos 90, com guitarras voando ao longe pela música, criando um ambiente sideral, noturno e misterioso na canção, que condiz com a pessoa de Arabella. Nos refrões, a banda entra de cabeça no hard rock com riffs poderosos, revelando sua paixão pelo Black Sabbath. A canção ainda contém uma das viradas mais insanas de bateria de Matt Helders e um dos solos mais legais de Alex Turner. Dada a competência dos integrantes da banda, não é à toa que, em diversas ocasiões ao vivo, eles misturam "Arabella" com "War Pigs" do Black Sabbath no meio ou fim da canção. Confira a potência da apresentação dessa canção no IHeartRadio, em 2014:

Em 28 de janeiro de 2014, "Arabella" foi lançada como single solo nas rádios italianas. A canção é com certeza um dos melhores momentos do álbum e da banda, além de já ter sido eleita por Alex como uma de suas melhores letras, em entrevista para NME em 2013.

"I Want It All"

Em uma típica mentalidade de estrela do rock, "I Want It All" é uma canção sobre o fim de um relacionamento complicado, em que a parceira deixa o eu lírico querendo mais, já que reconhece que esse é um traço típico de sua personalidade. Assim, o eu lírico quer que cada encontro adorável com uma bela mulher continue. A canção apresenta a interpretação da banda de sonoridade próxima ao glam rock, com riffs de guitarra cheia de fuzz e desejo compulsivo por tudo. Confira abaixo:

"No. 1 Party Anthem"

Em uma balada estilo John Lennon, "No. 1 Party Anthem" é canção mais lenta do álbum. Ela é uma tiração de sarro a respeito de um carinha bad boy, já muito bêbado, que vai tentar dar encima de uma menina numa festa de casa noturna e acaba fracassando porque, na hora que ele chega nela, descobre que ela já tem um parceiro. Ironicamente, "No. 1 Party Anthem ", zomba de esperar que uma música de festa hilária para criar coragem na cara. A banda funcionou muito bem nessa balada, demonstrando interesse pelo piano, por tocar em ritmo mais lento em um álbum de "proposta de música pesada", e por fazê-la diferente de outras baladas, adicionando camadas à essa estrutura musical e aplicando os conceitos da criação do álbum nela. Um exemplo disso é a adição do amplificador Rickenbacker pedal steel de Turner à canção - pequeno e compacto, foi batizado de "The New Black", também conhecido como o título original do álbum. A canção conta com James Ford no teclado. Confira abaixo:

"Mad Sounds"

Outra canção lenta da banda, "Mad Sounds" é uma suave canção sobre como uma boa música, a qualquer hora do dia, pode "trazer você de volta à vida", te acalmar e fazer você repensar suas ideias. É interessante como a canção começa quieta, só com uma guitarra dedilhada, e então vai crescendo com mais camadas que surgem conforme a música avança. Surge o baixo, o chocalho, o pandeiro, o teclado tocado por James Ford e a bateria. É como se a música estivesse crescendo em espírito, assim como ocorre com alguém quando ouve uma música que gosta. A banda também faz uso de um coro mágico de "ooh-la-la"s, que foi feito de outras maneiras em outras canções do álbum. A canção apresenta percussão de Peter Thomas, baterista que já trabalhou com Elvis Costello. A canção foi co-escrita com um produtor chamado Alan Smyth. Confira abaixo:

"Fireside"

Uma bela canção sobre como é difícil deixar alguém que você ama, mesmo quando você sabe que é a coisa certa a fazer. As memórias dos bons momentos que o eu lírico tem com a pessoa não param de atear fogo na sua mente, a ponto de pensar na antiga parceira a qualquer período do dia. Alex traz um tema recorrente no álbum de estar apaixonado, mas não de manter a guarda para proteger suas emoções. É muito interessante como o teclado incandescente de James Ford e a guitarra adicional de Bill Ryder-Jones criam um ambiente próximo à música eletrônica. É nessa canção que Matt Helders grava a bateria em um kit normal e a sobrepõe com um loop de bumbo gravado separadamente, reforçando ainda mais o caráter eletrônico da canção. Ouça com moderação:

"Snap Out of It"

Lançada como single de rádio no dia 9 de junho de 2014, "Snap Out of It" é o sexto e último single do álbum. É uma canção onde o eu lírico tenta convencer uma garota a esquecer seu atual parceiro para ficar com ele. E ele está disposto a esperar o tempo que for preciso para que isso aconteça. Com um piano bem evidente e backing vocals cativantes, é a canção com a sonoridade mais pop do álbum e fez muito sucesso entre o público geral. Confira o videoclipe abaixo:

"Knee Socks"

De todas as músicas e momentos em AM que sinalizam a inventividade e a evolução dos Arctic Monkeys, "Knee Socks" é um dos momentos mais impressionantes. Tudo na canção é sexy: o riff de guitarra rebolante, a bateria eletrônica cambaleando e o baixo discreto - que teve o som dobrado com uma guitarra barítono, isto é, uma guitarra de braço mais longo, para que seja possível atingir notas mais graves. Com James Ford nos teclados, a penúltima faixa do álbum começa com uma batida misteriosa e taciturna, da qual surge a personagem feminina da canção. Uma garota depressiva está em sua casa relembrando o relacionamento não-superado com o eu lírico, apesar de não se interessar emocionalmente por ele. Do outro lado, temos o eu lírico relembrando seus momentos com ela. Mas, ele pensa que pode salvá-la de sua condição com seu afeto e, por isso, não para de ligar para ela, apesar de seu número estar bloqueado. Como ambos idealizam seus relacionamentos com o outro, a música se enrola e desmorona sobre si mesma. Com os vocais de apoio aterrorizantes de Josh Homme no fim da canção, é como se tanto a garota quanto o eu lírico vagassem como assombrações pelas ruas lúgubres atrás de um amor - ou do outro - para compensar sua tristeza. Ouça com moderação:

"I Wanna Be Yours"

Para finalizar o álbum, a banda decide retrabalhar "I Wanna Be Yours" um poema de John Cooper Clarke, um "poeta punk" inglês. John Cooper Clarke é citado por Alex Turner, desde o início de sua carreira, como uma grande fonte de inspiração em termos de letras de suas músicas. De acordo com o autor, o poema expressa o desejo do eu lírico de ser útil ao seu objeto de desejo - tema que condiz com as outras canções do álbum. O poema foi lançado em 1982 no álbum "Zip Style Method" de Cooper Clarke, porém, foram os Arctic Monkeys que o trouxeram a uma audiência maior. Começando com a bateria eletrônica, configurada com alto reverb, as guitarras abrem um ambiente que lembra uma noite quente de verão, onde dois amantes estão próximos declarando seu desejo um pelo outro. Essa música tornou-se um enorme sucesso e ajudou, junto às outras canções do álbum, a tornar Alex Turner um dos principais sex symbols da década de 2010. Mesmo já tendo falado de relacionamentos, mulheres e amor em outras canções, a banda agora traz isso de outra proposta. Em 2013, os membros estão nos últimos anos dos vinte anos. Eles tratam das paixões sabendo melhor das consequências que suas ações podem trazer do que antes - de qualquer maneira, o amor traz desespero, mesmo para os adultos mais conscientes. Eles agora trazem sex appeal nas músicas, com roupas mais caras e descoladas e intensidade performática. Confira abaixo.

Recepção e turnê mundial

O álbum foi bem recebido pela crítica, que aprovou a sonoridade mais sombria e descolada que os álbuns anteriores. Foram feitas as previsíveis comparações com o som dos gigantes do hip-hop e do rock, mas não menosprezando e sim ovacionando a maneira que conseguiram unir diferentes influências e criar algo diferente. Além disso, a banda conseguiu reunir ideias de sua própria discografia. Uma observação muito interessante foi a de Tim Jonze, do The Guardian, sobre isso. Ele observou que o álbum "consegue conectar os riffs musculosos do ‘Humbug’, o pop melancólico do ‘Suck It and See’ e a energia e diversão das gravações iniciais". Assim, a banda consegue aproveitar a própria obra, nunca cedendo ao mais do mesmo.

Comercialmente, o álbum se tornou um dos Arctic Monkeys de maior sucesso até hoje, liderando as paradas em vários países e alcançando as dez primeiras posições em muitos outros. No Reino Unido, vendeu mais de 157.000 cópias em sua primeira semana e também se tornou um dos álbuns de vinil mais vendidos do Reino Unido na década, vendendo 73.000 unidades até então. No Reino Unido, o álbum atingiu o topo das paradas, e nos EUA, atingiu a 6ª posição, a mais alta atingida pela banda até hoje no país. No dia 3 de agosto de 2023, o "AM" se tornou o primeiro álbum da banda a ficar 5 anos consecutivos no top 200 da Billboard.

Na edição de 2013 do NME Awards, os Arctic Monkeys foram indicados ao prêmio de "Melhor Banda Britânica". A NME também coroou a lista de "50 Melhores Álbuns de 2013" com o "AM" e, em 2019, o álbum foi colocado como 1º lugar na sua "Lista de Melhores Álbuns da Década". O "AM" recebeu indicação para o Mercury Prize de 2013 de "Melhor Álbum", tornando-se o terceiro da banda a ser indicado à categoria. No BRIT Awards de 2014, os Arctic Monkeys levaram para casa os prêmios de "Álbum Britânico do Ano" e de "Grupo Britânico", tornando-se a primeira banda a fazer essa dobradinha três vezes. Dê uma olhada no épico discurso abaixo:

O "AM" também foi o álbum que fez a banda tornar-se sucesso mundial. Realizada para promover o álbum, a "AM Tour" percorreu a Europa, a América do Norte, a Austrália, a Nova Zelândia, entre outros, com mais de 150 shows. Ela teve início no dia 22 de maio de 2013 em Ventura, Califórnia, EUA, e teve sua última data em 15 de novembro de 2014, apresentando-se na capital do Rio de Janeiro, Brasil - antes mesmo de lançar o álbum, a banda tocava algumas de suas canções ao vivo. Eles arrecadaram mais de 9 milhões de dólares com a turnê do álbum. SUBTÍTULO: Uma década depois… Dez anos após seu lançamento, o "AM" permanece como um dos melhores trabalhos da banda e conquistou seu lugar no Panteão do rock mundial com seu estilo híbrido e descolado. Mesmo que esse álbum seja o trabalho dos Arctic Monkeys que colocou sua popularidade nas alturas e que trouxe uma enorme quantidade de público, o "AM" talvez não tenha a sonoridade mais autêntica que alguns dos outros discos. Pelo fato de ter sido construído e planejado nos mínimos detalhes, o álbum pode soar artificial, como se fosse feito de propósito para fazer sucesso e para ser o melhor. De qualquer maneira, o sucesso incontestável das canções do "AM" nos mostra que o rock ainda tem relevância no cenário musical. O rock permanece como fonte de inspiração para novas bandas que vêm e que virão, uma vez que ele pode ser feito de muitas maneiras diferentes, seguindo as tendências de seu tempo ou indo contra elas. Depois do "AM", os Arctic Monkeys lançaram álbuns muito diferentes, o "Tranquility Base Hotel & Casino" (2018) e "The Car" (2021), e seguem sendo uma das grandes bandas de rock de todos os tempos.

FONTES:

AM (Arctic Monkeys album). In: Wikipédia: a enciclopédia livre. Disponível em 3 de agosto de 2023.

AM Tour. In: Wikipédia: a enciclopédia livre. 10 de agosto de 2023.

Arctic Monkeys France. Arctic Monkeys’ Alex Turner on new album AM ‘I want to sound like 50 Cent’s In Da Club’. YouTube, 9 de setembro de 2013.

Elan, Priya. Arctic Monkeys: "Suck It And See’ is more poppy than ‘Humbug". NME, 15 de março de 2011. Music News.

Goodwyn, Tom. Arctic Monkeys’ Alex Turner: ‘R U Mine?’ references Drake and Lil Wayne’. NME, 20 de abril de 2012. Music news.

Jonze, Tim. Arctic Monkeys: AM - review. The Guardian, 5 de setembro de 2013. Music.

Latt, Pinky. Engineering the Sound: Arctic Monkeys’ ‘AM’. Happy Mag, 22 de abril de 2021.

Middle 8. Every time the Arctic Monkeys changed their sound. YouTube, 9 de novembro de 2022.

Official Arctic Monkeys. Arctic Monkeys - The Making Of ‘Suck It and See’. YouTube, 27 de maio de 2011.

Price, Andy. The Genius Of… AM by Arctic Monkeys. Guitar.com, 6 de abril de 2022.

Trash Theory. "Do I Wanna Know?" & How Arctic Monkeys Broke America | New British Canon. YouTube, 15 de janeiro de 2020.

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