Rival Sons: o nascimento de uma lenda do Rock
Resenha - Before the Fire - Rival Sons
Por Hugo Alves
Postado em 09 de junho de 2022
Então a história é a seguinte: havia um guitarrista californiano chamado Scott Holiday que era bastante ativo na cena Pop Rock de suas redondezas e, um dia, obteve algum sucesso com sua banda Human Lab. O sucesso veio na forma de um contrato assinado em 2000 com a Atlantic Records (sim, aquela do Led Zeppelin), negociado por Ian Montone, empresário de ninguém menos que Jack White (então vocalista e guitarrista dos White Stripes, banda que estava em plena ascensão na época). A banda compôs e gravou um disco de estreia com os produtores Michael Beinhorn e Mark Stent nos estúdios Henson, em Los Angeles e também nos estúdios Olympic, no Reino Unido. O álbum, porém, nunca foi lançado, não se sabe exatamente o porquê. Buscando um som mais visceral e "perigoso" – ou seja, um som tipicamente mais Rock and Roll "raiz" –, Scott deixou a Atlantic Records em 2004 e se uniu ao cantor Thomas Flowers e ao baterista J. Harley Gilmore, dando luz à primeira formação da Black Summer Crush um ano depois.
Mais ou menos na mesma época, nascia a banda Buchanan que havia sido batizada com o sobrenome do vocalista Jay Buchanan. Uma banda bastante voltada a um som mais Pop, que contava também com o baterista Michael Miley. Este, por sua vez, substituiu J. Harley Gilmore no Black Summer Crush, já que Gilmore deixara a banda no início de 2006. Para completar a banda, Scott Holiday testou vários baixistas, até chegar a Robin Everhart por sugestão do próprio Mike Miley. Sendo assim, nascia em 2006 a formação definitiva da Black Summer Crush, com Scott Holiday na guitarra, Thomas Flowers na voz, Mike Miley na bateria e Robin Everhart no baixo. A banda lançou um EP independente auto-intitulado no mesmo ano contendo quatro faixas, mas foi em 2007 que chegaram a algum lugar realmente significativo, com um novo EP de três faixas, também auto-intitulado, pela EMI, cuja tracklist apresentou "Lucky Girl", "I Want More" e "Memphis Sun". A primeira tornou-se parte da trilha sonora do filme "Jumper", lançado em 2008.
Contudo, o guitarrista Scott Holiday ainda não estava contente com os rumos que sua banda tomava. Faltava algo, mais especificamente, ele buscava alguém com quem pudesse formar uma sólida parceria de composição e, talvez como um eco da história do Rock, essa figura deveria ser o vocalista. Os dias de Thomas Flowers estavam contados, Holiday buscava uma nova voz com quem trabalhar e de fato encontrou quando cruzou com o trabalho de Jay Buchanan no MySpace. O fato de o baterista Mike Miley ter trabalhado com ele ajudou no contato. Os dois se encontraram um dia e, já na primeira conversa, Holiday sabia que havia encontrado o que buscava. Jay Buchanan, no entanto, ainda estava cético quanto a ser cantor numa banda de Rock, mas não tinha nada a perder e permitiu a Scott Holiday o benefício da dúvida. Por sinal, o que viria a ser o primeiro disco completo da Black Summer Crush já estava inteiramente gravado, mas o trabalho foi refeito, desta vez acrescentando o talento de Buchanan. Era o fim da Black Summer Crush. Nascia ali a banda que considero como a maior surgida nos últimos quinze anos: RIVAL SONS!
No ano de 2009, o primeiro trabalho da banda viu a luz do dia sob o título de "Before the Fire", produzido pelo renomado Dave Cobb e lançado de forma independente. Jay Buchanan ainda não estava certo sobre o que estava fazendo mas, após a ótima recepção de público e crítica que o disco teve, percebeu ter tomado a decisão correta. Os Rival Sons eram agora uma grande revelação e, segundo Jack Rivera para o The Huffington Post, "definitivamente uma banda que deve ser vista [e ouvida]".
A faixa de abertura traz o som que caracterizou toda a obra dos Rival Sons durante seus primeiros anos de carreira: "Tell Me Something" tem um riff delicioso e uma levada maliciosa, além de um som de fuzz na Gibson Firebird VII de Scott Holiday (futuramente o guitarrista veio a ser conhecido como Mr. Fuzz Lord, inclusive esta é sua identificação atual no Instagram) que também virou carimbo no som da banda. Por muito tempo, esse som foi obrigatório nos shows da banda, um cartão de visitas de respeito! O disco segue com "Lucky Girl", já conhecida pelo trabalho anterior com a Black Summer Crush, mas que ganhou magnitude com a voz potente de Jay Buchanan. Em "Memphis Sun", também herdada da banda anterior, é possível notar que nem só de barulho vivia a banda, pois a atmosfera criada nessa canção beira a perfeição, uma levada cadenciada e uma interpretação bastante solta de Buchanan dão o tom e hipnotizam o ouvinte. Essa canção disputa forte com a primeira o título de "melhor do disco". Aliás, poucos são os discos de estreia de uma banda em toda a história que ostentam uma trinca de canções tão convincente e cativante!
A quarta faixa é "Angel" e é interessante notar a veia blues de vanguarda que rola solta aqui, realmente muito interessante. Já "Pocketful of Stones" é completamente irreverente e dançante, sem espaço pra pensar ou mesmo respirar, e aqui vemos um trabalho de primeiríssima linha da banda toda trabalhando como um time, única e exclusivamente em favor da música. A seção rítmica da banda, por sinal, já era um show à parte. Robin Everhart tem suas raízes cravadas na Soul Music e é também grande fã da era da Motown Records, o que é claro em seu jeito groovado de tocar baixo. Mike Miley, fã de jazz, ritmos brasileiros e, claro, Rock and Roll, é simplesmente um baterista em quem é obrigatório prestar atenção, o cara é um absurdo – e, convenhamos: dada a história contada antes desta resenha, podemos concluir que sem ele talvez não houvesse Rival Sons.
A sexta faixa é "The Man Who Wasn’t There" e a interpretação de Jay Buchanan é apaixonante. Por sinal, a banda foi bastante comparada ao Led Zeppelin em seus primeiros anos, mais especificamente até 2011, principalmente pelo jeito de cantar e pelas altas habilidades apresentados por Buchanan. Sem medo de errar, superlativizo novamente: ele é o melhor vocalista de Rock dos últimos tempos em atividade hoje em dia. Partindo para "Pleasant Return", temos um momento mais experimental – e a banda seguiu assim a partir desta faixa até o fim do disco –, soa como um Rock descompromissado, fizeram pra agradar a si e se divertir, e soa legal pra caramba! Em "On My Way", temos um riff acompanhado por baixo e bateria que lembra demais "Dig a Pony", dos Beatles (que é notadamente uma das referências dos Rival Sons nesses primeiros discos). Nem preciso dizer o musicão que é, né?
A trinca final do disco é formada por "I Want More", bastante swingada e setentista, uma delícia de ser escutada no volume máximo e de se dançar, "Flames of Lanka", talvez a mais experimental de todo o disco, com seu som meio indiano, e "Nanda-Nandana", meio sem sentido claro mas bastante divertida, e tudo bem porque, ao chegar até aqui, o ouvinte já foi completamente capturado pelo som incrível deles e nada mais precisa ser tão razoável.
A repercussão dos Rival Sons foi notável e não passou despercebida inclusive por grandes artistas já consolidados. A banda foi convidada a fazer shows de abertura para Kid Rock, Alice Cooper, Black Sabbath e AC/DC neste período, tendo ainda chamado a atenção de um público não necessariamente Rock ao fazer um show televisionado durante a corrida Indianapolis 500. O ano de 2009 marcou, de fato, o início de uma história incrível e uma carreira irretocável. Nascia ali, repito, a maior banda de Rock dos últimos 15 anos. Faça-se um favor e vá agora escutar esse disco. Volte aqui quando tiver terminado, pois ainda haverá resenhas de todos os outros discos. Rival Sons e o Rock and Roll vivem, muito bem, obrigado.
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