Coldplay: banda patina no pop genérico e inutiliza instrumentistas
Resenha - Music of the Spheres - Coldplay
Por Victor de Andrade Lopes
Postado em 21 de outubro de 2021
Nota: 2
Parece que o quarteto inglês Coldplay gosta de mexer com as emoções dos críticos. Depois de um disco ok (A Head Full of Dreams), que sinalizava um mergulho definitivo no pop; e de um álbum ótimo (Everyday Life), em que eles davam a volta por cima e mostravam que uma banda deixar de ser rock não precisa ser necessariamente algo ruim; chegou a hora de eles chafurdarem de vez da forma mais musicalmente baixa possível. E o que é pior: desperdiçando um conceito dos mais interessantes.
Inclusive, a coisa mais interessante em Music of the Spheres - nono trabalho de estúdio deles - como um todo é justamente a sua premissa: criar um "sistema solar" de músicas, em que cada canção representa um planeta, lua, estrela e até uma nebulosa. Parece ideia saída da mente de um músico de rock progressivo, mas os rapazes tentaram mostrar que o pop também pode ser sofisticado (e engana-se redondamente quem acha que não pode).
Tão sofisticado que a obra já era sutilmente divulgada em lançamentos anteriores, criando um hype para algo que no fim não ficou a altura no esperado. Talvez os fãs mais recentes tenham ficado satisfeitos, mas eu que não me contento com um mar de modismos sintéticos que praticamente inutilizam os três instrumentistas que acompanham (e cada vez mais só acompanham mesmo) o vocalista/pianista Chris Martin.
Music of the Spheres vê o Coldplay se entregar de vez ao pop da maneira menos digna possível. Como manda o manual, chamaram um exército de produtores para conceber cada faixa, e o trabalho a várias mãos resulta em peças risivelmente menos interessantes que seus clássicos de início de carreira, compostos de forma bem menos colaborativa.
A dependência que eles criaram com o topo das paradas é tão forte que vale até fazer parceria com o BTS, os reis daquela praga denominada K-pop. Ou com Selena Gomez, que não faz nada para tornar a canção em que participa ("Let Somebody Go") mais do que trivial.
Fazendo um esforço muito grande como fã da banda, eu elenco três canções como verdadeiramente interessantes: "♥", em que eles atacam a cappella com We Are King e Jacob Collier; "People of the Pride", o único momento mais ou menos rock do disco (fora a versão acústica de "Higher Power", lançada como faixa bônus ao lado de um remix da mesma por Tiësto); e "Coloratura", a peça mais longa da história deles, que leva um tempo para ser digerida mas se mostra uma jornada que justifica o seu tamanho.
Nesta montanha-russa que virou a discografia do Coldplay, vou concluir esta resenha de modo "realista". Nem pessimista demais para dizer que o mergulho no pop genérico não tem mais volta, nem otimista demais para dizer que eles voltarão com outro Everyday Life no próximo lançamento.
Abaixo, o clipe de "Higher Power":
FONTE: Sinfonia de Ideias
https://sinfoniadeideias.wordpress.com/2021/10/20/resenha-music-of-the-spheres-coldplay/
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