Resenha - Atlantis Rising - Manilla Road
Por Diogo Muniz
Postado em 28 de novembro de 2020
Os anos 80 foram bons para o Manilla Road, pois a banda lançou vários discos ao longo da década. Mas não se pode dizer o mesmo dos anos 90, pois nesse período a banda ficou completamente fora de atividade. Após a debandada de Scott Park e Randy Foxe, Mark Shelton se voltou para outros projetos e eventualmente deu alguma prioridade para a sua vida pessoal. Entretanto a chama do Manilla Road deveria se manter acesa, e no fundo Mark Shelton sabia disso e tentou por diversas vezes remontar a banda, mas seus esforços foram em vão. O convite para tocar no festival Bang Your Head foi o incentivo que Mark precisava para ser mais incisivo em suas investidas, e então ele conseguiu reunir um time para acompanha-lo nessa empreitada. Junto de Mark Shelton, quem abraçou esse projeto foi Bryan Patrick, que além de road manager da banda era amigo de longa data de Mark Shelton, e ambos dividiriam os vocais. A participação no festival mostrou o quanto o Manilla Road ainda era querido por seus fãs, fazendo assim a banda ressurgir das cinzas como uma fênix. Com Mark Shelton na guitarra e dividindo os vocais com Bryan Patrick, ainda completavam essa nova formação o baixista Mark Anderson e o baterista Scott Peters. Agora como um quarteto, o Manilla Road lançava em 2001 seu décimo álbum batizado "Atlantis Rising".
O disco abre com "Megalodon", cuja introdução remete à introdução de "Metalström", faixa de abertura de "Open the Gates" (disco de 1984). Com isso o Manilla Road estabelece sua ligação com seu passado, mostrando que apesar do hiato de quase uma década a banda ainda mantinha vivo o espírito de seus anos dourados. A música é pesada e cumpre muito bem seu papel como faixa de abertura, mostrando que de fato a banda, mesmo com uma nova formação, estava a fim de mostrar a que veio. Sua letra é sobre a criatura que dá titulo à canção, sendo interpretada de maneira afiada tal como o dente de um tubarão.
O barulho de ondas logo nos leva para a próxima canção. "Lemuria" é uma canção mais introspectiva, sendo baseada numa levada hipnotizante de baixo servindo de base para Mark Shelton nos levar em seus versos para o continente perdido de lemuria. Apesar de curtinha a viagem é garantida.
"Atlantis Rising", a faixa-titulo, possui um riff afiado e marcante, desses que fazem o ouvinte bater cabeça sem perceber. Bryan Patrick e Mark Shelton dividem muito bem os vocais nessa canção que trata sobre a ascensão dos seres submarinos de Atlântida. O solo de guitarra também merece destaque e as linhas de baixo também merecem um destaque. Ao fim da música ouvem-se sons de trovões, um encerramento digno para uma canção com tamanha agressividade. Estranhamente os vocais lembram um pouco o vocal de Marylin Manson.
Um toque singelo e hipnotizante de guitarra abre "Sea Witch", uma música lenta e introspectiva. O baixo entra dando mais clima e textura à canção, e a interpretação dos dois vocalistas torna a música ainda mais bela, chegando a provocar arrepios. Com uma letra intrigante sobre a bruxa do mar que invoca figuras lovecraftianas, a música explode em um final grandioso guiado por um belíssimo solo de guitarra.
Tempestades bravias nos levam direto para a próxima canção, "Resurrection", que também já chega com um riff marcante, agressivo e afiado na cara do ouvinte. Aqui é Mark Shelton quem assume a maioria dos vocais, nos presenteando com seu vocal rasgado totalmente adequado para a canção, mas os urros de Bryan Patrick também não ficam para trás.
"Decimation" tem uma abertura um pouco mais fora dos padrões do que estamos acostumados a ouvir nas músicas da banda, mas essa sensação de estranheza logo dá lugar para uma familiaridade típica das músicas pesadas do Manilla Road. Ela remete muito facilmente às músicas mais pesadas do disco "The Court of Chaos" (disco de 1990), e os vocais de Bryan Patrick trouxeram um tempero, e principalmente um peso a mais para a canção.
Com sons de ventos se inicia "Flight of the Ravens", com um belo e sutil toque de violão que dá a direção dessa música. Mark Shelton interpreta de maneira magistral o que os corvos de Odin vêem ao sobrevoar Midgard. Uma canção bela e curta, muito gostosa de se ouvir, e que logo emenda com "March of the Gods". A sensação que passa é que de fato os deuses vêm marchando ameaçadoramente na direção do ouvinte. Com riffs certeiros e solos cortantes, "March of the Gods" é um ponto alto do disco. Sua letra é totalmente inspirada nos deuses nórdicos, praticamente uma aula de mitologia nórdica, e certamente uma aula de heavy metal. Impossível não empolgar com esse som.
"Siege of Atland" chega sem cerimônias, uma canção que nos remete aos melhores momentos thrash metal da banda. Nenhum dos músicos economizou em seus instrumentos, nos entregando uma canção rápida e pesada, dessas que fazem o ouvinte bater cabeça e entrar no mosh.
Para encerrar o disco temos "War of the Gods", que tem a fórmula do Manilla Road, introdução lenta e viajante e que cresce até ganhar peso no refrão. A música possui uma alucinante viagem em um solo de guitarra para depois então preparar o ouvinte para o derradeiro fim do disco, que se encerra com sons de ventos e trovoes.
"Atlantis Rising" é um disco muito bom que marca o retorno das atividades do Manilla Road. A temática épica permeia o disco, com os conflitos entre deuses e figuras mitológicas. A capa do disco também segue a temática abordada, mostrando um corvo, a figura de um velho (seria Odin?) e um cenário tomado por um dilúvio. O disco também é passível de ser considerado conceitual, uma vez que segue toda a temática das figuras abordadas tanto na capa quanto nas letras. Outro artifício utilizado para passar essa sensação foi o uso de sons de ventos, ondas e trovões durante a transição das músicas, dando uma sensação de continuidade interligando uma canção a outra.
Cabe mencionar também que é o primeiro disco do Manilla Road como um quarteto. Mark Shelton desde sempre foi a cara da banda, e agora como único membro original remanescente isso fica mais nítido. Sua performance, tanto quanto guitarrista quanto como vocalista é impecável. Bryan Patrick, apesar de estrear como vocalista ainda tem uma participação tímida, mas as suas poucas aparições já dão uma pista de seu potencial. Mark Anderson é um bom baixista e faz ótimas linhas de baixo, porém suas bases não tiveram tanto destaque, pois escolheram colocar uma linha de guitarra sobre o seu baixo no momento dos solo; uma escolha curiosa pois isso nunca havia sido feito nos discos da banda até então. Scott Peters também é um baterista digno de elogios, mas suas linhas de baterias são mais simples do que as de Randy Foxe, o que torna essa comparação bastante injusta.
Outro ponto digno de elogios é a produção do disco que está limpa e nítida, enriquecendo ainda mais a audição do disco. Nesse disco eles preferiram se manter fieis às características que fizeram a banda ser o que é, sem tentar fazer grandes inovações. Mesmo como um quarteto, a essência da banda se manteve a mesma, pois tudo ainda permaneceu centralizado em Mark Shelton que era um exímio compositor. O novo milênio e suas tecnologias ainda iriam beneficiar muito o Manilla Road, e não só do ponto de vista de qualidade da gravação de novos discos. Mas isso é assunto para futuros reviews.
Tracklist:
Megalodon
Lemuria
Atlantis Rising
Sea Witch
Resurrection
Decimation
Flight of the Ravens
March of the Gods
Siege of Atland
War of the Gods
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