Morbid Angel: Uma decisão corajosa em função da baixa tolerância dos fãs da música extrema
Resenha - Domination - Morbid Angel
Por Ricardo Cunha
Postado em 25 de setembro de 2019
Nota: 9
Morbid Angel é uma banda da Flórida fundada em 1984 por Trey Azagthoth. É considerada uma das pioneiras do death metal. No início, as suas letras focavam assuntos ligados ao satanismo, ocultismo e anticristianismo, mas a partir do disco Blessed are the Sick, começaram a falar sobre deuses antigos e sua mitologia. Contudo, muitos elementos anti-religiosos continuaram a permear suas composições. A banda, assim como várias outras dessa vertente, costuma buscar inspiração nas obras de artistas como Simon Necronomicon e H. P. Lovecraft.
Neste álbum, o grupo buscou fazer algo diferente do que de costume e por isso, desacelerou, passando a usar mais pedal duplo e menos blast beats. Pode parecer estranho, mas a decisão foi boa. Conseguiram fazer um disco extremamente pesado e denso.
Aqui, a banda privilegiou os tons baixos da guitarra ao mesmo tempo em que usou um grande número de harmônicos diluídos por todo o disco. A bateria não é menos intensa do que é em qualquer outro álbum do Morbid Angel, mas o baixo parece haver preferido ficar no background.
A partir disto, podemos deduzir que o uso da bateria e do contrabaixo foram pensados como um recurso de plano de fundo que deixou a variedade para os trabalhos de guitarra e os vocais. Estes, por sua vez, são bastante poderosos e em alguns momentos, versáteis. No todo, estão mais doentios e menos exigentes.
Domination simboliza uma decisão corajosa da banda pois é notório que os fãs da música extrema têm baixa tolerância à mudança e por isso, certamente o rechaçariam. Porém, contrariando as previsões, o disco acabou tornando-se bem-sucedido. Além dos experimentos já citados, o grupo introduziu mais dinâmica no seu estilo ao realizar mudanças de andamentos menos abruptas e mais musicais. No entanto, eles não foram cem por cento assertivos: 1) a produção de Bill Kennedy (Mötley Crüe, Nine Inch Nails, Marilyn Manson, entre outros), não conseguiu dar corpo aquilo que imagino, Azagthoth teria idealizado; 2) a mixagem (cujo autor, desconheço) não conseguiu dar conta de equalizar adequadamente os instrumentos, pois as guitarras estão claras e a bateria, impactante. Porém o baixo ficou tão inaudível que faz duvidar que o instrumento está, de fato, presente no disco.
Seguindo pela lógica da diferença, os destaques do álbum são Where The Slime Live, Caesars Palace, Dreaming (instrumental) e Inquisition (Burn With Me).
Como conclusão temos que, musicalmente, é um álbum sólido, que merece mais de uma audição para ser compreendido. Na verdade, o grande mérito da banda em Domination é justamente o de pretender quebrar os paradigmas que o death metal impõe como gênero. No final das contas o disco consegue cumprir sua função de uma forma distinta da esperada pelos fãs e quem sabe, até pelos seus criadores. O que significa que a tentativa de soar diferente foi compreendida e aceita pelos fãs em virtude do respeito conquistado pela banda ao longo dos anos já que, em sua trajetória, a banda sempre primou pelo esporro radical baseado numa visão caótica do mundo e isso a define em sua forma de musicalizá-lo.
Por fim, a formação que gravou este disco é composta por David Vincent (vocal/baixo), Trey Azagthoth (guitarra), Erik Rutan (baixo), Pete Sandoval (bateria).
Receba novidades do Whiplash.NetWhatsAppTelegramFacebookInstagramTwitterYouTubeGoogle NewsE-MailApps