Megadeth: o injustamente subestimado The World Needs a Hero
Resenha - World Needs a Hero - Megadeth
Por Ricardo Seelig
Postado em 23 de julho de 2019
"The World Needs a Hero" é um dos discos mais marcantes da carreira do Megadeth, mas muito disso vem do simbolismo que ele possui e dos fatos que o cercaram. Nono álbum da banda norte-americana, é o único trabalho da formação Dave Mustaine, Al Pitrelli (que vinha de passagens por Alice Cooper, Savatage e pela Trans Siberian Orchestra), David Ellefson e Jimmy DeGrasso (o baterista estreou no anterior, "Risk"). Além disso, foi o último registro com Ellefson, que só retornaria ao grupo quase uma década depois, em 2010. E o mais importante: o álbum marca o final da primeira fase da carreira do Megadeth, que anunciou o encerramento de suas atividades em abril de 2002 devido a problemas no braço de Dave Mustaine. Outra curiosidade é que foi o primeiro álbum a contar com o mascote Vic Rattlehead na capa desde "Rust in Peace".
O álbum foi produzido por Bill Kennedy e pelo próprio Mustaine, e é um dos dois discos que o Megadeth lançou pela Sanctuary Records – o outro é "The System Has Failed" (2004). Sucessor do controverso "Risk" (1999), que dividiu público e crítica por trazer uma sonoridade mais mansa e que almejava alcançar um público além do nicho do heavy metal, "The World Needs a Hero" faz o caminho contrário e retorna à estética sonora do metal na maioria de suas doze faixas, com o Megadeth pegando características de discos passados – principalmente a trindade "Rust in Peace" (1990), "Countdown to Extinction" (1992) e "Youthanasia" (1994) – e as revisitando de maneira consciente. Isso fica evidente em canções como "Dread and the Fugitive Mind" (praticamente uma sequência de "Sweating Bullets") e na auto explicativa "Return to Hangar", que leva a banda de volta à clássica "Hangar 18".
Além disso, há elementos mais hard e uma performance instrumental primorosa e extremamente técnica, o que me agrada bastante. A abertura com a excelente "Disconnect" é um dos pontos altos, e o solo de Al Pitrelli nesta faixa é arrepiante. "Burning Bridges", "1000 Times Goodbye" a música título são outros destaques.
O Megadeth que se ouve em "The World Needs a Hero" é bem diferente do período inicial da banda e também do thrash metal para arena dos discos primeira metade dos anos 1990. É uma banda mais madura, que passava por problemas que não eram conhecidos fora do seu círculo interno e que estava estreando uma nova formação. Mesmo assim, o resultado alcançado em "The World Needs a Hero", ainda que distante do ápice dos momentos mais icônicos do quarteto, faz do disco um daqueles álbuns injustiçados pela época e pelo contexto em que foram lançados, mas que merecem uma nova audição onde o distanciamento proporcionado pelo tempo faz com que as suas inequívocas qualidades finalmente venham à tona.
O Megadeth precisava de um herói naquele início dos anos 2000. E Dave Mustaine agiu como um ao reformular a sua banda mais uma vez e gravar um álbum que a manteve viva em um dos períodos mais difíceis de sua carreira.
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