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Guns N' Roses: Por que o Use Your Illusion II foi o mais vendido?

Resenha - Use Your Illusion II - Guns N' Roses

Por Ricardo Pagliaro Thomaz
Postado em 07 de março de 2018

Nota: 10 starstarstarstarstarstarstarstarstarstar

Quando o Guns N' Roses lançou esse projeto do Use Your Illusion, os dois discos foram lançados ao mesmo tempo, no mesmo dia e hora. Você apenas tinha a opção de comprar ambos, ou então escolher entre um ou outro. Óbvio que todos queriam ter cópias dos dois, isso eu nem preciso dizer. Mas o segundo disco, Use Your Illusion II acabou sendo o mais vendido dos dois.

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O motivo é bem fácil de entender: é um disco bem mais abrangente do que o primeiro. Não só isso, mas também tem as melhores músicas. Pelo menos para mim é assim. Eu mesmo gostei muito mais da seleção de faixas do UYI II, que tem mais a ver com o mundo a nossa volta, os problemas políticos e sociais, a mídia sanguessuga, e coisas assim, do que do UYI I, que era basicamente sobre os problemas dos membros da banda com drogas e com relacionamentos amorosos. Não só isso: a capa do segundo álbum também eu acho mais agradável do que a coloração forte e amarelada do primeiro, muito embora eu admire o trabalho gráfico feito em ambos, mas creio que a cor azul combinou muito mais com essa arte aí do pintor Raphael. E se você me perguntar qual o meu disco favorito do Guns, a resposta vem fácil: quando eu fui presenteado com uma camiseta do Guns, me perguntaram qual era o meu disco favorito da banda; dias depois, lá estava eu ostentando minha camiseta com a estampa do UYI II.

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Quando eu fiz a resenha do primeiro UYI, eu comentei sobre o fato de eu ter ficado horas e horas tentando colorir as xerox que eu tirava na época para enfeitar a caixinha da fita cassete que eu gravei os discos. Naquele tempo, a gente não tinha nem noção de que o CD estava chegando aí, então eu quis fazer todo o possível para deixar minha fita cassete o mais "original" possível. Só que hoje eu não tenho nem mais vestígio dessas fitas que gravei, já mudei o formato para o CD mesmo, tenho os dois álbuns nessa mídia.

Mas como eu já falei bastante sobre o conceito desse projeto no texto sobre o UYI I, vou me dar a liberdade de focar mais nas músicas de sua sequência, que é o que importa mesmo. Dito isso, vou começar pelos destaques novamente.

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E o primeiro deles é a fantástica "Civil War"; essa música tem uma letra política e uma crítica feroz aos senhores da guerra, aos chefes de estado relapsos que deixam pessoas sofrerem e morrerem de fome e que são responsáveis por causarem miséria e confusão. Parece muito hoje com assassinos sanguinários como o Maduro na Venezuela, ou o coisinha lá da Coreia do Norte. O discurso inicial é tirado do ótimo filme Cool Hand Luke, faroeste de 1967, e coube como uma luva na música. Entre a melodia da música, Axl assovia "When Johnny Comes Marching Home", uma música de domínio público da época da Guerra Civil Americana. Ou seja, é uma música com uma total variedade, riquíssima culturalmente, com uma atitude verdadeiramente contestadora e com uma melodia intensa, que te arrepia de todas as formas, e que cola na sua cabeça e te deixa extasiado. Pra mim, é uma das melhores do Guns não só nesse disco, mas como um todo. É a última música da banda tendo o grande Steven Adler na bateria, uma vez que o grupo queria aproveitar essa gravação que ele já tinha feito. Desculpem ter me alongado tanto, mas é aqui que você vê realmente a ótima qualidade de um trabalho, ou seja, quando você não consegue falar dele em poucas linhas. A última música do disco é o total oposto disso, mas nós vamos chegar lá.

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Depois tem um blues rock, "14 Years", bem bacana, gosto bastante, mas prefiro a que fizeram para o UYI I, "Dust N' Bones". Aí... aí, meu amigo, tem a sensacional cover da música do Bob Dylan, "Knockin' On Heaven's Door"! Que sonoridade bacana! Estava em todos os lugares nos anos 90! TODOS! Até minha avó conhecia a música! Qualquer pessoa daquela época iria cantarolar ela pra você se você dedilhasse ela no violão, e tenho absoluta certeza que muita gente mais jovem hoje também a conhece se você começar a cantar. Ela foi um estouro, ficou zilhões de vezes mais famosa que a versão original do Dylan, que também é linda; foi a primeira vez que eu ouvia essa música, eu nem sequer sabia quem era Bob Dylan nesses tempos, achava que a música era do Guns mesmo! É uma sequência básica de 3 acordes, sol, ré e dó, com um ocasional lá menor. Pronto, só isso! Só com isso você já encanta as pessoas e tem uma música legal para sair cantando por aí. Só não vai fazer solo de guitarra como o Slash, mas vai agradar muita gente! Essa era uma daquelas músicas que a gente aprendia sozinho na época, quando pegava aqueles livrinhos de cifras nas bancas para tocar violão. Eu fiz assim, comprei um do Guns e costumava pegar meu violão para ficar dedilhando as músicas, especialmente esta daqui.

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Outro destaque é "Get in the Ring"; essa daqui é uma que eu sempre achei muito bacana, mesmo na época que eu não entendia o que diziam, e ficou mais bacana ainda depois que eu passei a entender! Basicamente é a banda desancando os críticos. Daí, já se tem uma ideia de pra onde isso vai! Dentre os três críticos citados, o que mais chama a atenção é Mick Wall, da revista Kerrang, porque ele havia publicado um livro que segundo a banda, contava histórias falsas sobre eles. Tudo bem que esses caras do Guns são um bando de cuzões, mas os caras das revistas exageravam em tudo. Moral da história, na música, o Axl se dirige aos caras com diretas, manda eles praquele lugar e chama pra briga. Bem naquele estilo Gunner mesmo! Adoro ouvir essa faixa acelerada, bem punk rock mesmo, e sabendo o histórico, fica ainda mais divertido! Segue nesse ritmo acelerado com a divertidíssima "Shotgun Blues", também acelerada e com alguns palavrões, esses dirigidos ao Vince Neil, da banda Mötley Crüe.

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"Breakdown" também é uma de minhas favoritas; ela começa meio country, tem uma ponte ao piano e vira um hard rock com grandes arranjos melódicos. Outra que me marcou muito foi a balada "So Fine", essa é mais um exemplo daquelas que eu ficava tentando tirar no violão com a revistinha de cifras do lado. "Estranged" é a próxima, e merece ser destaque com certeza, porque é uma das longas do Guns mais bacanas que eles escreveram. Ela conclui a trilogia que começou em "Don't Cry" e "November Rain". É um rock balada com harmonização intensa e grandes momentos.

E quanto à "You Could Be Mine"? Esta música simplesmente MARCOU, em qualquer sentido possível! Pra começar, é uma das músicas mais bacanas já escritas pela banda, com bateria acelerada, riffs agressivos, vocal impecável, Slash detonando como sempre, enfim, uma grande obra de arte da discografia do Guns. Eu costumava voltar essa música muitas vezes para memorizar; na época eu tinha que ficar rebobinando a fita, mas tudo bem! Escutei essa música até que ela ficasse tão grudada na minha cabeça, que numa simples menção dela, começava a tocar automático, mesmo que eu não soubesse nada de inglês! E pra coroar o bolo com uma cereja, ela é tema de um dos filmes mais sensacionais já feitos na história, Terminator 2: Judgement Day. Pensa no quão sensacional é isso! Cara, você queria se imaginar sendo o John Connor quando tocava essa música no filme andando naquela bike! Era muito legal!

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Tem até uma piada recorrente por aí envolvendo o filme Terminator 3: Rise of the Machines, porque nesse filme, o John Connor já não era mais badass, era um songamonga. Aí a galera dizia, "ah, é porque ele parou de ouvir Guns quando cresceu, aí virou esse bostinha afrescalhado"! Pensem no poder que apenas uma música pode ter em função de um personagem! E toda essa atmosfera por conta desta música, uma das melhores que o Guns escreveu na carreira. Depois dela, o grupo repete a "Don't Cry", só que com letra alternativa, e eu tenho que confessar pra você que eu gosto mais desta versão com letra alternativa. Parece pra mim que ela soa melhor, mais bem estruturada, não sei dizer ao certo, mas a original do UYI I também é ótima.

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O restante do disco também tem um material muito bom, exceto por uma faixa específica, então vamos por partes. "Yesterdays" é um rock com uma pegada mais country, como é de praxe a banda utilizar nos trabalhos deles todo o escopo do Rock, desde o Blues até aquelas melodias mais regionais. "Pretty Tied Up" e "Locomotive" também são bacanas, tem muito daquele espírito Gunner, riffs pegajosos e arranjos muito criativos. E o disco poderia muito bem ter parado nessas 13 faixas, ou então usarem algo do acervo deles que havia ficado de fora, no entanto, temos uma faixazinha final que para alguns é indiferente, e para outros, dá uma certa indigestão, que é "My World".

E quando você escuta essa faixa, a primeira pergunta que vem na sua cabeça é "meu Deus, que porra é essa?"; é apenas um minuto e meio, mas fica gravado na sua cabeça, e você não pára de se perguntar o que houve com esses caras pra soarem tão... não eles mesmos! Ou mesmo tão ruins. Podem perceber, o negócio nem colou, tanto que não há performance ao vivo dessa "vinheta", e acho que nunca vai ter. Aí você vai checar os fatos sobre a faixa em questão e descobre... "aahh, então o Axl quis dar uma piscadela para o Nine Inch Nails e fez essa porcaria!"... triste! O disco poderia ter terminado de forma muito melhor. E ainda há uma história sobre os gemidos da faixa "Rocket Queen", no Appetite for Destruction, não sei se o mesmo se aplica aqui, mas de qualquer forma, foi um experimento dos mais terríveis; Axl disse que achava que o Guns deveria soar assim no futuro e errou feio o alvo. Enfim, águas passadas, e que não tornem a voltar.

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Apesar dessa última faixa estranha, UYI II para mim ainda é o melhor disco do Guns. A faixa é um momento bizarro do álbum, mas tolerável, tipo aquela insanidade passageira de um gênio. Sendo assim, aproveito também para reforçar a minha preferência por ele também, em relação ao UYI amarelinho. Não só isso, mas também destacar o quanto os dois trabalhos se complementam tão bem. Foi um momento único e fantástico na carreira da banda, um raio de inspiração que caiu exatamente ali, naquele momento, e que eu acho bastante difícil que volte a cair um dia. Eu tenho certeza que você que já ouviu este disco e curte a banda, concorda comigo, e também acredito que quem nunca ouviu este álbum do grupo vai se encantar e se tornar fã deles hoje mesmo. Recomendação altíssima, absoluta e essencial para quem curte o bom Rock N' Roll.

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Use Your Illusion II (1991)
(Guns N' Roses)

Tracklist:
01. Civil War
02. 14 Years
03. Yesterdays
04. Knockin' On Heaven's Door (cover Bob Dylan)
05. Get in the Ring
06. Shotgun Blues
07. Breakdown
08. Pretty Tied Up (The Perils of Rock n' Roll Decadence)
09. Locomotive (Complicity)
10. So Fine
11. Estranged
12. You Could Be Mine
13. Don't Cry (Alt. Lyrics)
14. My World

Selo: Geffen

Guns N' Roses é:
Axl Rose: voz, assobio, piano, sintetizador, violão, drum machine
Slash: guitarras, violão, banjo
Izzy Stradlin: guitarras, violão, sítara, voz
Duff McKagan: baixo, percussão, voz
Matt Sorum: bateria, voz

Com Dizzy Reed nos teclados de apoio e Steven Adler em "Civil War".

Discografia anterior:
- Use Your Illusion I (1991)
- G N' R Lies (1988)
- Appetite for Destruction (1987)

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Site oficial:
http://www.gunsnroses.com

Para mais informações sobre música, filmes, HQs, livros, games e um monte de tralhas, acesse também meu blog.

http://acienciadaopiniao.blogspot.com.br

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Sobre Ricardo Pagliaro Thomaz

Roqueiro e apreciador da boa música desde os 9 anos de idade, quando mamãe me dizia para "parar de miar que nem gato" quando tentava cantarolar "Sweet Child O'Mine" ou "Paradise City". Primeiro disco de rock que ganhei: RPM - Rádio Pirata ao Vivo, e por mais que isso possa soar galhofa hoje em dia, escolhi o disco justamente por causa da caveira da capa e sim, hoje me envergonho disso! Sou também grande apreciador do hardão dos anos 70 e de rock progressivo, com algumas incursões na música pop de qualidade. Também aprecio o bom metal, embora minhas raízes roqueiras sejam mais calcadas no blues. Considero Freddie Mercury o cantor supremo que habita o cosmos do universo e não acredito que há a mínima possibilidade de alguém superá-lo um dia, pelo menos até o dia em que o Planeta Terra derreter e virar uma massa cinzenta sem vida.
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