Aporya: o Nordeste possui o melhor do Doom Metal nacional
Resenha - Dead Man Do Not Suffer - Aporya
Por Bruno Rocha
Postado em 15 de julho de 2017
Nota: 9 ![]()
![]()
![]()
![]()
![]()
![]()
![]()
![]()
![]()
O Doom Metal é um gênero tão frio que se torna compreensível o fato de que ele não seja popular no Brasil, um país tropical e de pessoas idem. Entretanto, como a música rompe barreiras, quer sejam naturais, quer psicológicas e de personalidade, o Brasil tem sim nomes fortes que representam com louvor o Gênero Maldito. Cabe ainda lembrar que o Doom Metal nacional foi concebido no Nordeste, mais precisamente na Bahia, graças ao THE CROSS. Uma região quente e de paisagens desoladoras. Mas, dada a garra do nordestino, tão dura quanto um iceberg, o Doom Metal tem força aqui. Basta pesquisar e você se surpreenderá com a qualidade do Doom Metal nordestino.
Pois bem. Uma das representantes do gênero no Nordeste é a banda APORYA, do estado da Paraíba. Formada por Tiago Monteiro (vocais, Flamenhell) e pelo fundador Cristiano Costa (todo o resto) em 2016, a banda chegou em 2017 lançando seu primeiro full-length, o conceitual "Dead Man Do Not Suffer". As letras das canções aqui compostas se baseiam na temática da morte e nos sentimentos que sua passagem causa nas mentes de quem assiste sua ação. Musicalmente falando, o grupo aposta num Death/Doom ora agressivo, ora introspectivo, conseguindo obter uma boa variação entre suas facetas sonoras e de ritmo.
Explica-se.
O álbum abre com o som de um projetor de filme sendo ligado, seguido por um belíssimo solo de guitarra por parte de Cristiano, algo que será latente ao longo de toda a audição do álbum. As bases de teclado reforçam o sentimento depressivo que a música exala. E olha que isto foi apenas a intro "Bloody Rain", e mal se nota que ela tem um comprimento de 3:40. Em seguida, a banda quebra tudo com o Death Melódico de "Cry Of The Butterfly". Os arranjos e dobras de guitarra desta música remetem o ouvinte ao trabalho típico do AMON AMARTH.
O trabalho de guitarras de Cristiano Costa se sobressai a todo momento, seja em solos, seja em ritmos. Além de ser um guitarrista técnico, ele é dono de um senso de composição apurado, conseguindo transpassar todo o sentimento melancólico que o Doom Metal exige. Os vocais de Tiago Monteiro são cavernosos e angustiantes, mais parecendo uma pessoa em seus momentos finais de depressão e de vida.
Da faixa 03 em diante, o Doom Metal prevalece. Os ritmos lentos conduzem o álbum rumo a atmosferas densas e soturnas. Nota-se influência de PARADISE LOST, ANATHEMA e SATURNUS (vide a faixa "The Sad Tragedy (I'm Crushed Down)"), mas a banda consegue pegar essas influências e moldá-las de acordo com a sua personalidade, algo essencial para qualquer banda hoje em dia.
"Little Child In The Grave" é emotiva e viajante, enquanto a música "One More Day" mais parece uma balada oitentista, tendo em vista as dobras de guitarra. Mas, com a devida concentração, consegue-se captar a essência triste de mais esta grande composição. "Pain And Loneliness" é soturna e arrastada, pavimentando o caminho para a faixa-título, uma composição primorosa que encerra de forma colossal e fúnebre este álbum. Nos últimos segundos do álbum, pode se ouvir o projetor de filme sendo desligado, fazendo o elo com o começo do disco.
A produção e a mixagem de "Dead Man Do Not Suffer" ficaram a cargo do próprio Cristiano Costa, que conseguiu deixar todos os instrumentos soando nítidos, mas com um destaque maior para as guitarras. Os vocais de Fábio soam naturais, tão naturais que mais parecem ventos que escoltam a morte e tornam a mente do ouvinte em rodopios.
Penso que, para balancear melhor as coisas, uma composição tão agressiva quanto "Cry Of The Butterfly" poderia figurar também mais para o meio do álbum, que me pareceu uma balança: uma música bastante pesada logo após a intro, e composições lentas e introspectivas ocupando todo o resto do álbum. Afora este detalhe, temos aqui um grande álbum de Death/Doom: melódico, técnico, pesado e atmosférico. Técnica aliada a feeling e senso de composição é uma combinação infalível, que o APORYA conseguiu explorar aqui com primor.
Sem tomar conhecimento do Sol causticante do Nordeste, várias bandas conseguem criar e externar a frieza e a introspecção do Doom Metal nesta região. O APORYA é só uma amostra da riqueza do estilo que se encontra nas Terras Áridas. Se só essa amostra já se apresenta tão valiosa e perfeita, imagine se formos atrás do pacote completo. Que o APORYA não morra; pelo contrário, tenha vida longa e mostre para o Brasil e para o mundo a qualidade de nosso Doom, que não deixa nada a dever para os grandes nomes do estilo.
Dead Man Do Not Suffer
Aporya (independente, 2017)
Tracklist:
01. Blood Rain
02. Cry Of The Butterfly
03. The Sad Tragedy (I'm Crushed Down)
04. Little Child In The Grave
05. One More Day
06. Pain And Loneliness
07. Dead Man Do Not Suffer
Line-up:
Tiago Monteiro – vocais
Cristiano Costa – guitarras, baixo, bateria
Receba novidades do Whiplash.NetWhatsAppTelegramFacebookInstagramTwitterYouTubeGoogle NewsE-MailApps



O fenômeno do rock nacional dos anos 1970 que cometeu erros nos anos 1980
9 bandas de rock e heavy metal que tiraram suas músicas do Spotify em 2025
David Ellefson explica porque perdeu o interesse em Kiss e AC/DC; "Foda-se, estou fora"
A dificuldade de Canisso no estúdio que acabou virando música dos Raimundos
Iron Maiden bate Linkin Park entre turnês de rock mais lucrativas de 2025; veja o top 10
A farsa da falta de público: por que a indústria musical insiste em abandonar o Nordeste
A lenda do rock nacional que não gosta de Iron Maiden; "fazem música para criança!"
Os 15 melhores álbuns de metal de 2025 segundo a Rolling Stone
A banda de rock nacional que nunca foi gigante: "Se foi grande, cadê meu Honda Civic?"
Queen oferece presente de Natal aos fãs com a faixa inédita "Polar Bear"
Cinco bandas de heavy metal que possuem líderes incontestáveis
Gene Simmons relembra velório de Ace Frehley e diz que não conseguiu encarar o caixão
Show do Slipknot no Resurrection Fest 2025 é disponibilizado online
Justin Hawkins (The Darkness) considera história do Iron Maiden mais relevante que a do Oasis
A cena que Ney Matogrosso viu no quartel que o fez ver que entre homens pode existir amor

Edguy - O Retorno de "Rocket Ride" e a "The Singles" questionam - fim da linha ou fim da pausa?
Com muito peso e groove, Malevolence estreia no Brasil com seu novo disco
"Opus Mortis", do Outlaw, é um dos melhores discos de black metal lançados este ano
Antrvm: reivindicando sua posição de destaque no cenário nacional
"Fuck The System", último disco de inéditas do Exploited relançado no Brasil
Giant - A reafirmação grandiosa de um nome histórico do melodic rock
"Live And Electric", do veterano Diamond Head, é um discaço ao vivo
Slaves of Time - Um estoque de ideias insaturáveis.
Com seu segundo disco, The Damnnation vira nome referência do metal feminino nacional


