Hourglass: Álbum recomendado a qualquer fã de música progressiva
Resenha - Oblivious to the Obvious - Hourglass
Por MATHEUS BERNARDES FERREIRA
Postado em 31 de agosto de 2016
Foram necessários 54 meses de trabalho para que o grupo de metal progressivo estadunidense Hourglass finalizasse seu homérico "Oblivious to the Obvious", quarto álbum da banda, que é de longe o mais ambicioso do grupo. O álbum se divide em dois CDs com cinco faixas de cada lado, que juntas somam a expressiva marca de 140 minutos de material inteiramente inédito.
Descrever esse álbum-monstro fica ainda mais complicado por se tratar de um álbum bastante variado, que se esforça ao máximo para não soar repetitivo. Outro agravante é o perfeccionismo dos compositores, visto o longo prazo de gravação e produção do álbum, resultando num álbum polido repleto de sonoridades inesperadas. Sobre a musicalidade, o grosso do álbum bebe do prog metal Dream Theateriano nas passagens mais pesadas e das influências de Rush e Pink Floyd nas passagens mais lentas. Como o álbum é equilibrado quanto à distribuição do peso, não temos aqui nem um álbum de metal nem de rock progressivo, mas um híbrido, que tem a pretensão de agradar tanto os metaleiros mais tradicionais quanto aos ouvintes que pouco toleram barulho excessivo.
É normal que à primeira ouvida "Oblivious to the Obvious" soe demasiado tranquilo e certamente irá entediar aqueles que procuram por músicas mais diretas e acessíveis. Talvez o fato de a faixa de abertura "On the Brick" ser a faixa mais agressiva do álbum, dê a sensação de que o álbum parece perder força ao longo do seu percurso. Esta é uma interpretação equivocada, pois é a faixa de abertura que é a exceção, a única do álbum que ao longo dos seus quase 13 minutos não traz nada além do mais puro metal progressivo. Para reforçar essa sensação, a outra faixa do álbum dominada por riffs metálicos, "Skeletons", é uma faixa curta (para o padrão desse álbum, obviamente), pouco empolgante e certamente o ponto mais fraco do álbum. Resta aos amantes da virtuosa arte metálica procurar pelos riffs pesados escondidos dentro das enormes massas de hard e soft rock. Tarefa inglória aos metaleiros mais extremistas.
Por outro lado, é óbvio que este álbum-balofo irá agradar de imediato aos fãs saudosistas do rock progressivo setentista. A qualidade das composições impressiona do começo ao fim do álbum. Os irresistíveis grooves em contrabaixo formam a base da maioria das faixas, conduzindo o ouvinte através de um universo melódico múltiplo e infindável. O contrabaixista Eric Blood dá uma verdadeira aula de como criar grooves vibrantes de excepcional bom gosto que certamente deixariam Chris Squire e Geddy Lee orgulhosos. É de se estranhar que este seja o primeiro álbum do Hourglass em que o Sr. Blood participa, visto que ele esteve totalmente à vontade para expressar sua técnica, sem falar do destaque que seu instrumento teve durante a mixagem.
Não é só o Eric que é novato neste quinteto. Do último álbum da banda, "Subconscious", datado de 2004, apenas o baterista John Dunston e o guitarrista Brick Williams restaram de mais última deserção em massa de integrantes. Definitivamente não deve ser fácil trabalhar com o Sr. Williams, o único membro da formação original, pois, tratando-se apenas de vocalistas, a banda teve um frontman diferente em cada um de seus quatro álbuns.
Em "Oblivious to the Obvious" sobrou para Michael Turner assumir os microfones e se esforçar para não perder o emprego logo no primeiro trabalho. O cara até que possui bom alcance de voz, tendo inclusive em seu repertório um gutural bastante temeroso, porém, em 90% do álbum ele canta de forma discreta. O timbre de sua voz lembra a do John Bom Jovi (piorado), e por mais que seu canto suave se demonstre eficiente nas passagens mais lentas e oníricas, notadamente nas faixas "Faces" e "Homeward Bound", nos agudos sua voz já soa enfadonha e ouvi-la por muito tempo se torna uma empreitada aloprante. O vocal de Michael Turner contribui consideravelmente para fazer com que esse álbum-mamute se torne mais cansativo do que normalmente seria.
Com exceção da já citada "Eskeletons", o restante das faixas possui todas elas seus momentos de magistral inspiração. Na metálica "On the Brick", o destaque é a pegada Maidista, aos 8:45m, ambientada por uma assombrosa camada de teclado ao fundo invocada diretamente das profundezas gélidas do Seventh Son. Nostálgico. "Homeward Bound" talvez seja a faixa mais acessível do álbum, com ótimos vocais suaves, principalmente nos refrãos que são engrossados por emotivos coros. Mas é nos inúmeros grooves do contrabaixo que a música contagia, se impões e impressiona. Faixa espetacular.
A introdução de "Pawn II" traz amistosas sonoridades orientais, incluindo um solo de algum inusitado instrumento de cordas acústicas. Segue um inspirado solo de piano e de um groove latino de contrabaixo que tem qualquer coisa de irreal visto a velocidade que os inumanos dedos de Eric Blood molestam as cordas do instrumento. Em "Faces" e "Estranged" temos quase 20 minutos de baladas lentas e suaves que de modo algum soam descartáveis. Na primeira temos mostra do talento de Jerry Stenquist ao piano enquanto na segunda a do Brick Williams na guitarra acústica. Entretanto, em ambas o destaque absoluto é de Michael Turner que adiciona dramaticidade irresistível às sucessivas melodias.
O groove de contrabaixo na introdução de "Facade" (3:55m) e as galopadas Maidianas de "38th Floor" (8:50m) são apenas dois de tantos outros ótimos momentos das duas faixas gigantescas presentes no meio do álbum. Na instrumental "Delirium", a banda claramente tenta responder aos mestres do metal progressivo ao comporem algo na linha de "The Dance of Eternity". O resultado foi uma música duas vezes mais longa e três vezes mais perdida, que tem seus bons momentos, mas deve agradar apenas aos ouvintes que não se importam com exaustivas mudanças rítmicas e com os angustiantes tempos errados.
A faixa-título resume bem o material que encontramos ao longo de todo o álbum: outra megalomaníaca composição conceitual que nos presenteia com o melhor do rock progressivo setentista. Por mais que "Oblivious to the Obvious" possua algumas deficiências, nenhuma delas impede o ouvinte de aproveitar todos os 139 minutos deste álbum-colosso, o que por si só o torna excepcionalmente respeitável. Recomendo-o a qualquer fã de música progressiva.
Hourglass
Oblivious to the Obvious, 2009
Prog Metal (EUA)
Lista de músicas:
On The Brink (12:39)
Homeward Bound (9:58)
Pawn II (13:41)
Faces (11:53)
38th Floor (21:22)
Facade (14:50)
Skeletons (6:58)
Estranged (7:05)
Delirium (10:20)
Oblivious to the Obvious (30:33)
Tempo total: 139
Músicos:
Michael Turner / vocal
Brick Williams / guitarrajavascript:;
Jerry Stenquist / teclado
Eric Blood / contrabaixo
John Dunston / bateria
Receba novidades do Whiplash.NetWhatsAppTelegramFacebookInstagramTwitterYouTubeGoogle NewsE-MailApps



O primeiro tecladista estrela do rock nacional: "A Gloria Pires ficou encantada"
Axl Rose ouviu pedido de faixa "esquecida" no show de Floripa e contou história no microfone
A banda desconhecida que influenciou o metal moderno e só lançou dois discos
A melhor música dos Beatles, segundo o Ultimate Classic Rock
"Um cantor muito bom"; o vocalista grunge que James Hetfield queria emular
Nicko McBrain revela se vai tocar bateria no próximo álbum do Iron Maiden
Documentário de Paul McCartney, "Man on the Run" estreia no streaming em breve
Slash quebra silêncio sobre surto de Axl Rose em Buenos Aires e defende baterista
Regis Tadeu explica por que não vai ao show do AC/DC no Brasil: "Eu estou fora"
O convite era só para Slash e Duff, mas virou uma homenagem do Guns N' Roses ao Sabbath e Ozzy
Janela de transferências do metal: A epopeia do Trivium em busca de um novo baterista
Organização confirma data do Monsters of Rock Brasil 2026
O que realmente fez Bill Ward sair do Black Sabbath após "Heaven & Hell", segundo Dio
Os 11 melhores discos de rock progressivo dos anos 1970, segundo a Loudwire
Krisiun celebra o aniversário do clássico "Apocalyptic Revelation", gravado em apenas uma semana

Quando o Megadeth deixou o thrash metal de lado e assumiu um risco muito alto
"Hollywood Vampires", o clássico esquecido, mas indispensável, do L.A. Guns
"Hall Of Gods" celebra os deuses da música em um álbum épico e inovador
Nirvana - 32 anos de "In Utero"
Perfect Plan - "Heart Of a Lion" é a força do AOR em sua melhor forma
Pink Floyd: O álbum que revolucionou a música ocidental


