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Yngwie Malmsteen: Inspiration é um tributo honesto e humilde

Resenha - Inspiration - Yngwie Malmsteen

Por Rodrigo Contrera
Postado em 24 de agosto de 2016

O primeiro susto que eu levo ao começar a escrever sobre "Inspiration", do Malmsteen, é que o CD não consta do verbete da Wikipedia do guitarrista. Pois é, não sei por que raios é assim. Mas eu, que tenho o CD aqui em mãos, não iria desistir de resenhá-lo por esse mero detalhe, não é mesmo? Pois esse CD é aquele que me reaproximou do sueco, que eu achava bastante perdido em seus lançamentos, fazendo coisas que não me agradavam realmente muito. Neste CD, Yngwie revisita clássicos do rock de diversas linhagens, indo desde coisas relativamente tranquilas e bastante distantes do heavy metal que ele se acostumou a tocar, até clássicos de primeira, em que sua versão muitas vezes apenas retoca a obra original.

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Claro que o CD, em si, deve ser considerado um tributo, e não uma oportunidade para Yngwie se mostrar o maioral nesses hits, muito menos fazer versões que fujam em muito do que é costumeiro neles. Nesse sentido, não pretendo focar aqui a originalidade da abordagem do guitarrista, mas o tom diferenciado que dá a cada uma das faixas, talvez com isso tentando fazer a versão definitiva de como ele as encara.

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Começando por "Carry On Wayward Son", do Kansas, Yngwie atribui um tom muito mais pesado à guitarra, algo que à primeira vista é algo natural. Ocorre que a faixa original é bem menos paradoxal nos tons das guitarras e das partes quase faladas, com o piano. Ela, na versão original, é assim bastante mais comportada, não revelando muitas conexões com um rockão pesado, que é como Yngwie a interpreta. Porque no caso de Yngwie a intenção parece ser realmente a de levar o barulho e o rock a outro plano, quem sabe até para transportar ao seu tempo a história da música, que hoje ainda parece bater, sim, mas seu tom, não. É o que parece. Claro que transparece também um excesso de ego, ao menos nos seus solos, mas isso é Yngwie, quem mais poderia ser? Tanto que até o piano (ou teclado) é praticamente suprimido nas partes mais suaves. Resta o rock pós-80, claro. O que não é pouco.

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Mas há ainda mais algo a falar sobre essa faixa, talvez o maior hit da banda Kansas, como o fato de que a banda é chamada de progressiva ainda hoje (mesmo com as defecções que ocorreram com o sucesso, e com a mudança de tom ao vários de seus integrantes se converterem ao cristianismo) e o clima de música de formação (em consonância com a ideia de romance de formação), que de alguma forma se perde em toda a barafunda de rock pessado que Yngwie lhe atribui. Isso fica claro ao compararmos os trechos em teclado da música original, substituídos por um teclado ao fundo e um baixo dominante no trecho. Ou seja, um caráter aparentemente inocente da faixa na versão original, conduzindo à ideia de um jovem em reencontro, cantado pelo pai (aparentemente), meio que se perde na barulheira toda que Yngwie prefere encimar. Claro que outro aspecto acaba sendo ressaltado, em especial com o trabalho de teclado: na versão do sueco, algo mais mitológico e sombrio aparece, levando-nos a imaginar a trajetória do garoto de outra forma. Nisso, Yngwie só se mostra coerente consigo, atribuindo caráter de mito a algo que parece mais suave, menos altaneiro. Carry on não perde em tudo isso, cabe ressaltar. Só muda um pouco.

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O CD continua apostando em alguns dos maiores hits de todos os tempos daqueles que influenciaram o sueco. "Pictures of Home" é sua próxima aposta, à qual eu mesmo me aproximei somente por meio do guitarrista, e não do Deep Purple. Aqui cabe compreender que o trabalho de tributo de Yngwie tem também esse mérito, que é o de mostrar às "novas" gerações hits que de outra forma talvez passassem batido, sem a influência que realmente causaram em toda essa leva de garotos que iriam se tornar rockstars. Porque confesso que por diversos motivos eu dificilmente teria caído no original se o sueco não tivesse tomado a iniciativa. Pois o Deep Purple nunca esteve dentre os meus preferidos, nem seu rock ou seus temas me tocaram muito (quando muito eu ouvia algo deles em suas fases já mais avançadas em programas de rock-pop da tv). E com isso eu perdia grande parte do rock dos 70 de maior expressão. Pois bem. Aqui nesta faixa o rock de Yngwie torna-se realmente atraente para mim. Pois eu não consigo ver muito de relevante naquela bateria da versão original, e não sou suficientemente entendido em música para fazer com que a melodia e características propriamente musicais da faixa me atraiam tanto. Pois sabemos que a postura, o som, o timbre, é o que em grande parte atrai o fissurado em rock. E a versão original "perde" demais. Nota-se fraca, e não consegue me enlevar. Já Yngwie, não, ele consegue - e imaginam sua emoção ao gravar tamanho clássico? Pois é.

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"Gates of Babylon", do Rainbow, é a nova pedida do sueco, mas neste caso ele perde bastante. Ocorre que a peça original tem toda uma ambientação que parece (digo parece, para os mais chatos) remeter a algo cigano, com instrumentos (violino) de outros ambientes, e chama o tempo todo por essa energia, enquanto a roupagem mais roqueira atualizada de Malmsteen faz com que isso se perca um pouco, não contando a seu favor necessariamente os instrumentos mais bizarros do intróito. Porque aqui a questão não parece ser tanto repetir a peça original sob outra roupagem, mas respeitar o máximo possível as fontes que levaram à primeira peça, tentando dar-lhe um tom ainda característico de tudo isso. Porque do jeito que ficou parece uma mitologização de algo que, apesar do título da música, não deveria escapar tanto das fontes musicais que propiciaram o tema. Isso não me parece muito respeitado, e temo em desagradar o sueco ao dizer que aqui ele ficou abaixo do esperado - claro que musicalmente, no sentido de tocar maravilhosamente a faixa, o nível é mantido. Difícil mesmo é equiparar-se (mesmo que imitando) à forma encarnada com que Dio fez seu trabalho, mas isso realmente ninguém ou quase ninguém (considero Dio o maioral, apesar de minhas preferências genéricas por outras bandas, ou por todas as contribuições de outros vocalistas ao gênero). Uma coisa engraçada é que a faixa toda, com o Yngwie ficou ainda maior (mais do que sete minutos) do que a faixa original, e que - não por isso - entedia um pouco (enquanto a original não). Mais um argumento a favor do original do Rainbow. Yngwie termina, ao contrário do original, dando uma palhinha improvisada com violão (bem bonito).

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Mas aí chega o maior destaque, a meu ver, nas faixas escolhidas por Yngwie para tentar uma resposta: "Manic Depression", do infalível Jimi Hendrix. Pois ocorre que aqui, quem seria eu a colocar algum epíteto à faixa original, que ao ser ouvida parece tão naturalmente jovem. Porque, de alguma forma, se tem alguém que parece não ter realmente envelhecido é o jovem Jimi, um rapaz tímido, calado, ensimesmado, que mudou o rock universal. Pois ocorre que seu toque é imediatamente reconhecido ao ouvirmos original, que notamos a ausência de necessidade de pose, que notamos sua voz bem colocada, e o tema, bom, o tema - depressão maníaca, algo por que eu já passei. A faixa, claro, é imediatamente reconhecida como sendo fruto de um gênio, mal importando se o equipamento, naquela época, não parecia ter o peso dos equipamentos atuais. Eu imagino um garoto de 12 anos ouvindo aquilo, aqueles potenciais exageros, que isso porém não transpareciam, porque não têm nada de pose, são simplesmente uma faixa simples tocada de forma simples e absurda por um cara que aprendia com a gente da rua. Nesse "embate", nem tem como Yngwie levar a melhor, porque ele, claro, precisa exagerar, seja no tom de voz, no barulho, na necessidade de demonstrar o conhecimento do ofício, e nesse exagero perde-se a simplicidade do original, escapando inclusive do registro de meio blues que a faixa claramente transparece. É covardia, assim, comparar o original do Jimi como a versão de Yngwie, que, porém, se sai bem no sentido de carregar a tocha e divulgar a outros o clássico - como a mim mesmo, que de rock entendo bastante pouco, embora tenha ouvido não pouco, e procurado outro mais. Mas é curioso também como, nesta viagem que faço, consigo também me aproximar de outras vertentes do rock, bem mais antigas, e que não diziam até há pouco muito ao meu espírito. Porque é assim o aprendizado. Seja como for, em defender o legado, ambos, Jimi e Yngwie, se saem bastante bem. E eu é que ganho.

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Já "In the Dead of the Night", da banda UK, era realmente uma desconhecida para mim. A UK era, não por acaso, um rebento progressivo e de jazz fusion com integrantes do Roxy Music, Soft Machine e Frank Zappa. Claro que essa mistura iria de alguma forma atrair o Yngwie. Pois aqui ao que parece o nível de sofisticação aumenta, e nos aproxima dessas bandas que fizeram e ainda fazem a cabeça de muitos, no caso, das bandas de rock progressivo, sem que isso fale mal do gosto de Yngwie, que aposta mesmo em outra sonoridade. Mas a música é conhecida, sim, e lembro-me de tê-la ouvido antes mesmo de ele, Yngwie, ma revelar. Porque é assim com o progressivo, parece entrar em toda fresta de nossa mente, e dominá-la, para com isso mostrar-se onipresente, usando sons que poderíamos mais ouvir na rua, ao invés de num estúdio, e jeitos de tocar que nos aproximam, eles também, do dia a dia. Neste ponto, em meus comentários, noto como Yngwie de alguma forma faz questão de nos mostrar como ELE vê e OUVE o que aparece, sem desprezar as lições dos anteriores, mas tentando nos mostrar outra forma, bem característica, de ver quase tudo o que o apaixona. Porque podemos notar que este CD é também o único - pelo que sei - em que ele se mete a comentar sua atração pelas faixas escolhidas (o CD tem um encarte bastante importante, embora claramente focado na figura do próprio). Mas há uma característica comum a tudo até agora, é claro: a proliferação de espaço ou de oportunidades para solos, nos quais o sueco se esfalfa, sem o menor constrangimento. Como também nesta faixa, que eu considero bastante respeitosa, embora claro assumindo um novo tom, bem mais pesado, típico do rock posterior aos 80 (mas sem exageros, inclusive mantendo um ar meio distanciado, típico do rock progressivo, de ontem e de sempre).

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Yngwie continua seu tributo, agora com uma outra faixa de sua banda preferida (ao que parece), o Deep Purple, com "Mistreated". Aqui a tosquidão da faixa original mostra-se sob nova roupagem, sendo que no original não havia tanto espaço assim para arroubos em solos (vocês dirão o oposto, pois a partir dos 3'20" o espaço para o vazio parece ocupá-la toda), e em que isso se torna desafio para o sueco. Porque na faixa original o espaço parece mais ocupado com duos bastante tranquilos, quase oníricos, retomando a faixa normalmente seu eixo. Pois o foco é quase o de compartilhar uma sensação, com o próprio título demonstra, e nisso a banda original cumpre seu intuito. Tanto que nem sentimos muito tédio ao ouvir a faixa, dado sentirmos que o compartilhar requer, sim, um certo distanciamento, e uma abaixada de bola em qualquer outra pretensão (exceto no final, quando Blackmore joga parte de sua experiência, elevando o nível do solo e criando algo que parece assim se elevar, para alcançar uma dimensão estratosférica - com direito a coro e tudo). Enquanto isso, o sueco exagera no virtuosismo e elabora uma peça mais à la Hendrix, talvez atribuindo com isso (ou tentando atribuir) um caráter mais baixo, mais próximo a quem está em situação espiritual falimentar, sem saída à disposição (bem o clima da faixa). Seu intuito tem, claro, algum sucesso, mas foge do registro mais ponderado e nuançado do original, que por incrível que possa nos parecer é ainda mais desesperado. Porque sabemos que muitas vezes menos é mais, e neste sentido é o que aparenta, comparando o original com a versão do guitarrista. Talvez a pegada da bateria cause nisso alguma diferença, algum efeito, porque no original ela parece realmente mais suave, menos compassada, mais aberta a arroubos suaves (como eu disse), mas aqui, com o Yngwie não, ela parece mais cadenciada, e mais forte - como o próprio acompanhamento parece também exigir. Seja como for, Yngwie aqui perde, talvez por não compartilhar conosco a ideia de não exagerar em solos, mas de perceber a energia reinante, que é o que mais manda na faixa original. Ele se perde, então. Pena, mas mesmo assim a faixa é gostosa de ouvir, até porque os duos de guitarras - que eu citei antes, com base no original - causam um efeito, aqui, bem diferenciado. Gostoso e expressivo, mas diferente. E, infelizmente, não tão profundo. Talvez os momentos - digo históricos - causem aqui alguma diferença inerente, não sei. Talvez tenhamos menos paciência para contemplar a energia, a queda; talvez os antigos estivessem mais próximos das motivações importantes - historicamente falando -; talvez seja impossível reproduzir esse tipo de energia de outra forma; não sei. Mas a impressão que fica é totalmente outra, realmente. Mais barulhenta, mais confusa, e menos etérea.

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Eis que mr. Malmsteen me surpreende e pega um clássico dos Scorpions para continuar com sua viagem ao redor dos clássicos de rock. "The Sails of Charon" é uma música relativamente simples, bem inspirada, bastante etérea, que tem motivado diversas iniciativas em vídeo originais no YouTube. Pois é essa obra, quase simplória, distanciada da categoria das peças anteriores, que Yngwie utiliza quase como desculpa para se esgoelar em solos. Nada de errado nisso, claro, dado que o resultado, bem mais pesado que a faixa original, já bastante pesada, dá margem a esse tipo de arroubo. Só eu não consigo ver ou divisar muito de novo no tom que ele assume, embora haja claramente, no contexto da letra, e da mitologia a que ela se refere, um espaço bastante grande para mais e mais demonstrações de mitologia em música. Mas é uma boa faixa, que porém não me cativa, mas me reaproxima de alguns quase contemporâneos de Yngwie (ou mesmo contemporâneos).

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Deep Purple é, logo a seguir, a nova pedida do sueco em nova versão, representada por Demon's Eye, música que me remete a tempos mais antigos, realmente, distanciados da época em que eu podia ouvir rock no rádio ou ver vídeos na tv. O original é bastante potente e cadenciado para comover qualquer um que tenha sangue nas veias, mas Yngwie foi nessa pegada, como sempre, bastante mais além, atribuindo o peso das décadas de barulho que se seguiram ao lançamento. O registro, porém, que resta me parece excessivamente sujo, se posso criticar, talvez pelo descuido na gravação ou pelo excesso de vontade de atribuir uma levada à la Hendrix a algo que remete a outras influências - mas que, claramente, pode ser conectada ao distorcionismo de um Hendrix. Desta vez, a faixa resultante dura menos que a original, e, se se estende a arroubos solísticos, eles parecem mais comedidos, mais cadenciados, e menos encavalados, como sempre com nosso sueco preferido. Só o baixo aparece meio sumido, em meio a tanto barulho, e não dá o peso da base que o original tem. Parece-me, no todo, um tributo mais festeiro, menos rigoroso, e mais sujeito a erros, que a gente pega aqui e acolá, sendo de pequena monta. Com este exemplo, o CD quase é um Inspiration Deep Purple, como bem percebemos, o que não estraga nada, por supuesto, mas nos deixa cabreiro quanto àquilo que adviria a seguir.

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A próxima pedida é algo estranha, por se referir a uma banda que não pareceria influenciar de forma alguma o sueco: Rush. Pois é com "Anthem" que Yngwie recupera esse clássico dessa banda de grandes instrumentistas (para dizer o mínimo), mas que muito arrogantemente se propõem decifrar o mundo, para o registro do rock mais tosco, menos elaborado, menos fresco, em suma. Pois, com este baixo mais poderoso, com esta guitarra que brinca à la Hendrix, a gente sai desse reduto intelectualizado dos que gostam de Rush para cair na vida. Eu não nego que a versão do sueco me agrada bem mais que o original, até porque traz uma pegada dançante mais claramente identificável e curtível, o que é bem mais jovem do que simplesmente atribuir o mesmo peso cabeça da faixa original. Até porque dá para ouvir bem melhor o baixo, e porque aqui a guitarra tem bem maior peso virtuosístico, algo que só pode agradar bastante a um apreciador de neoclássicos como eu. Mas, em cômputo geral, a faixa não me agrada tanto assim. Ela é um lugar em que vemos mr. Malmsteen viajar sem parar, em que nos contentamos em dançar, e em não pensar. Mais do que isso, só mais do que a faixa original (meu cômputo da banda Rush ainda está por ser feito, claro).

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Mas já estamos chegando ao fim. Pois, antes do fim, ou seja, antes da faixa bônus, nos deparamos com mais uma criação da banda preferida do homem das alturas, Deep Purple, cómo no. E essa faixa é absurdamente conhecida por todos (menos eu, até agora): Child in Time. Hoje vemos um bastante bem acessado vídeo no YouTube com a versão definitiva dessa que é um dos maiores clássicos da banda. Um vídeo que remete a ver um Ian Gillan devidamente jovem, filmagens em branco e preto, momentos de um Ritchie Blackmore ainda não decadente, aos gritos contidos de Gillan enquanto a parte pesada não entrava, e aos outros gritos absurdos do mesmo quando a faixa finalmente dizia a que vinha. Essa faixa causa diversos efeitos em toda a trupe do rock de todos os tempos, e remete a algo sinfônico, inclusive, que me agrada bastante, sob os teclados de um John Lord no auge. Mas não é, contrariamente às expectativas, uma de minhas preferidas. Talvez por remeter a um momento tão outrora que não me diz mais respeito, ou que exige que eu entenda de contracultura para poder me posicionar. Pois é isso o que vídeo bem reflete, uma época. Algo que me desagrada sempre que exige me motivar a sair do que penso para tentar ver mérito em algo que eu não vivi. Eu tenho tendência a não ver, e talvez por isso tenha levado tanto tempo para me imiscuir nos clássicos, o que faço agora, creio que quase pela primeira vez - não que eu não os tenha, mas não os curtia. E uso o Yngwie como desculpa para que vocês façam o mesmo, e curtam as suas comparações com as minhas. E claro que agora, ao divisar o clássico em sua integridade, noto todos os seus méritos. Mesmo assim, porém, ele não entra bem em mim. Como não entra o rock dos excessos, da contracultura mesmo, ou mesmo não considero o rock de um Elvis como rock. Minha época é outra. Mas agora, enquanto me esforço em conhecer mais, diviso também contatos que não imaginaria antes divisar.

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Ocorre contudo que Yngwie num primeiro momento decepciona. Começa já num registro alto demais, entregando o tema, e parece com muita relutância deixar-se entregar ao teclado, que navega, como no original, em variações da música original. Mas ele consegue esperar, o que é bom. E mais que isso, retira - quem sabe por não ter vídeo - o caráter de época à música, muito embora a letra a toda hora puxe nesse sentido. Tudo certo. Yngwie entra então relativamente tarde, para fechar sua fixação na faixa com um desempenho estonteante mas também respeitoso, sem exagerar. Porque na hora de a faixa engrenar ele apenas e tão somente dá o tom de nossa época ao clássico, deixando o baixo abusar da base, assim como a bateria, engrenando de forma que o clássico não fazia, porque era de outro momento na história. Os solos também fogem bastante do que é costumeiro, e até se fecham em acordes longos, em registros médios, algo não muito comum com o sueco. Tudo torna-se uma faixa mais corrida, tentando fazer um acerto final de contas no tributo com essa banda, pelo menos - o que consegue. Sentimos em que medida o Deep Purple é realmente relevante para o guitarrista, e em que medida ele sente que deve prestar reverência, embora do seu jeito totalmente particular (até nos momentos em que parecemos ouvir música erudita, em arranjos aparentemente retirados dessa influência). A faixa termina bem, com solos mais ajambrados, e um teclado discreto.

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Todos nós sabemos, porém, em que medida Hendrix foi e ainda é influência para o trabalho do sueco. E nessa medida não nos surpreendemos ao ver um bônus de "Spanish Castle Magic", de e com Hendrix, fechando o CD, que raramente ouço até o fim. Não sei se isso se dá porque eu não conhecia os clássicos, ou porque a pegada de um Malmsteen cansa por vezes, ou porque eu não sabia aonde ele estava mirando, a quem, e com que motivo. Mas agora, ao ouvir tudo, e comparar as faixas, dá para perceber que neste seu esforço de fazer tributo Malmsteen talvez consiga dar uma de professor, meio que sem querer, tentando abrir a cabeça das pessoas, sem com isso tentar subir em cima do pedestal para somente ele brilhar. Porque talvez agora eu entenda por que Inspiration não consta da discografia de Malmsteen, na Wikipedia. Porque talvez ela não devesse constar, e sendo um tributo, deva constar como obra de outros interpretada por um ser que quer prestar homenagem. Tal como fazemos nos discos de música erudita, em que ouvimos Wagner, por exemplo, e em que o intérprete vai quase como em nota de rodapé.

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Em suma, um baita tributo. Honesto, e humilde, ainda por cima.

Espero que tenham gostado.

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Sobre Rodrigo Contrera

Rodrigo Contrera, 48 anos, separado, é jornalista, estudioso de política, Filosofia, rock e religião, sendo formado em Jornalismo, Filosofia e com pós (sem defesa de tese) em Ciência Política. Nasceu no Chile, viu o golpe de 1973, começou a gostar realmente de rock e de heavy metal com o Iron Maiden, e hoje tem um gosto bastante eclético e mutante. Gosta mais de ouvir do que de falar, mas escreve muito - para se comunicar. A maioria dos seus textos no Whiplash são convites disfarçados para ler as histórias de outros fãs, assim como para ter acesso a viagens internas nesse universo chamado rock. Gosta muito ainda do Iron Maiden, mas suas preferências são o rock instrumental, o Motörhead, e coisas velhas-novas. Tem autorização do filho do Lemmy para "tocar" uma peça com base em sua autobiografia, e está aos poucos levando o projeto adiante.
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