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Tony Macalpine: LP fundamental, que fez a cabeça de muita gente

Resenha - Edge of Insanity - Tony Macalpine

Por Rodrigo Contrera
Postado em 02 de agosto de 2016

Hoje, ele merece concertos em prol de sua recuperação (foi diagnosticado com câncer). Mas Tony Macalpine, em outros idos, foi (e alguns ainda acham que é) uma das maiores potências em seis cordas de todo o mundo rock. Esses idos, que não são os de março (referência ao assassinato de César), são os da segunda metade da década de 80, quando, após Yngwie Malmsteen ter inaugurado uma era dos guitarristas neoclássicos, os outros seguiram sua pegada e começaram a aproximar o rock da música erudita, a tocar mais e mais rápido, a tocar mais e mais barulhento, e a galgar degraus rumo a uma era em que nda mais parecia impossível, na junção do rigor clássico, com a energia do rock e referências que pareciam não se esgotar. Foi no começo dessa era que Tony lançou esta pedrada, que eu me meto a destrinchar por aqui pela segunda vez (havia chegado à metade de um texto mais inspirado, mas meu notebook desligou da tomada, e, com bateria arriada, perdi tudo). Não importa, o texto se foi, mas a paixão permanece.

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Uma era de distâncias

Naqueles idos, os LPs eram a pedida, e quando muito os K-7s serviam para nos beber de fontes lá de fora. Pois foi em fita K-7 que eu ouvi o Tony por décadas. Hoje, qualquer um bebe dele em Youtube, e nem sabe como chega até lá. Mas eu me lembro de quem eu era: um moleque que queria ouvir guitarristas bons (eu conhecia quase somente os do Iron Maiden). Que ouvia inspirações em lojinhas do centro de São Paulo. Que pegava suas inspirações em fitas emprestadas para comprar cópias nessas mesmas lojas. E que não sabia, em última instância, o que rolava lá fora. Não sei, não me lembro se ouvi Vinnie Moore primeiro. Nem sei qual do Vinnie. Só sei que bastou bater o ouvido nesta fita (que hoje comento) para pedir uma cópia. E para não me arrepender (por quase 30 anos). O que o moleque que eu era teria ouvido? O que teria ele sentido? Não sei bem. Mas a paixão não amainou. E tentarei mostrar a vocês o que foi.

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Uma capa que eu não vi

Eu mal arranhava o inglês naquela época. O meu pai pouco me ajudava - logo ele, que tinha sobrenome Campbell e que podia falar comigo. Então, eu não sabia do que tratava a primeira faixa, Wheel of Fortune. Eu devo ter procurado um dicionário, com certeza. E devo ter notado como essa primeira palavra, Wheeel, Roda, tinha tudo a ver com o que se me deparava aos ouvidos. Porque Tony pareceu-me, desde o começo, quase um transmissor do pensamento, um telepata musical.

Eu não pude também ver, num primeiro instante, num relance, a capa do LP, essas pernas e pés peludos, encimados com Edge of Insanity. Não podia imaginar que ele, o Tony, estivesse meio que fazendo uma leitura política daquela época, daquela década que iria terminar com a queda do Muro de Berlim. E com isso fazer uma leitura com que eu iria concordar, metaleiro pessimista que sempre fui e que ainda continuo sendo. Porque gostar de heavy metal é meio que discordar de qualquer ponto de vista otimista sobre qualquer coisa. E isso eu já tinha nas minhas veias. Se eu visse aquela capa, e tivesse dinheiro para tal, provavelmente compraria o LP só de ver aquilo lá.

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Teclados e cordas

Entenda-se que naquela época era um valor supremo ser chamado ou ser tido como virtuoso em algum instrumento. O negócio era mesmo exagerar, tocar mais rápido, alcançar agudos mais expressivos, superar, superar e superar. Ocorre que Tony não era um músico apenas de cordas, mas também de teclados. E pior (ou melhor), ele insistia em mostrar isso, sem vergonha, sem escrúpulos, e mais, em tocar (suprema provocação) Chopin num disco de heavy metal! Ora, como se não fosse possível. Ora, como se fosse proibido. Ocorre que, nesse afã de se mostrar em todo seu virtuosismo, o Tony misturava coisas demais. Assim como tocava demais naqueles solos, fazia barulho demais, era como se nem quisesse ficar quieto um instante. Note-se também que o desempenho de Tony nos dois instrumentos (guitarra e teclados - na verdade, piano clássico) se dava nos registros mais costumeiros de ambos, ora em estúdio, ora num solo com a galera em polvorosa (nas condições ideais, claro), ora numa peça clássica num piano em gravação em estúdio. Era como se o Tony quisesse mostrar sua natureza anfíbia e com isso dizer, já de cara, que ele estava acima da carne seca. Claro que isso dava um perfil meio incômodo ao sujeito, que parecia assim ser autosuficiente em excesso. Mas surpreendia. E me surpreendia. Mostrava que o garoto não estava nessa por brincadeira, só para comer algumas gostosas.

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Wheel

Ocorre que na música em si eu via ainda muitas outras coisas. É claro, como eu já disse, que na primeira faixa tudo estava nos conformes. A cozinha do baixo e bateria dominando, abrindo espaço para uma guitarra inquieta, que abusava de agudos e de graves (mais dos primeiros). Mas os detalhes é que impunham a mensagem. Porque as melodias, embora relativamente simples, já contavam uma história. E porque a sua continuação, geralmente com guitarras em duo, completavam a história com mais um incremento de mensagem (não simplesmente repetindo a ideia, e sendo ele com isso muito representativo). Neste caso, em especial, a guitarra, que subia e descia no braço, meio que já dizia claramente o que era essa tal de Roda da Fortuna. E mais: comentava o que ela própria dizia. Era como se eu, enquanto garoto imberbe, já fosse orientado quanto ao caráter gratuito e rasteiro do destino, ao mesmo tempo em que era conduzido a questionar tudo isso, em nome de uma esperança. Era assim que eu via, por exemplo, os solos que, muito rápidos, pareciam indicar a perdição que acontecia em determinados momentos, mas que eu outros representavam uma espécie de paz da conclusão inacabada. Pois afinal, tudo era um jogo, não era? E afinal de contas, o que levamos de um jogo a não ser ele mesmo? O que auferimos da sensação de podermos e ganhar a não ser ela mesma?

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Pouco importava, em tudo isso, que os solos não fossem tão bem costurados - eles "falavam" -, que a rapidez dos toques insistissem em mensagens não muito bem capturadas - importava que havia mensagens -, que alguns acordes mais graves fizessem com que nos perdêssemos em meio a detalhes do destino que muitos de nós recusam, talvez por medo. Pouco importava que a gravação fosse meio suja, e que eu a ouvisse num gravador de bolso mesmo, sem poder reparar em detalhes importantes. Eu sentia que algo estava sendo dito, e algo que coadunava com a visão em crescimento de um garoto que já desconfiava da ideia de sucesso, da outra de fracasso, e que mais concordava com a ideia de destino, sabendo com isso que o movimento, o jogo, no fundo, era mera ilusão. Sempre pensei assim. Até porque a história não acaba, não é mesmo? Embora a música acabasse, em meio a teclados bem gostosos de ouvir.

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O Estrangeiro (The Stranger)

Eu já disse que na época eu era um mero garoto imberbe, no meio de uma faculdade de primeira linha (teoricamente, é claro), tentando sobreviver aos desenlaces do estudo e às crises da família. Pois bem, eu tinha muita energia. E sendo assim eu queria também algo dançante. E algo que me fizesse pirar com a energia alegre de algo indo para a frente. Esse algo tinha a ver, claro, com a vida. E esta faixa, The Stranger, tinha tudo para me contentar, nesse sentido. Primeiro, porque era uma faixa dominada pelo baixo de Sheehan. Segundo, porque todos os sinais de guitarra colaboravam para fazer dela algo dançante e para a frente. Terceiro, porque os solos não eram gritados necessariamente, mas eram - novidade para mim - fornecidos pelos teclados, que o próprio Tony também conduzia. Claro que havia os gritos de guitarra. Claro que havia uma espécie de hiperegomania em toda essa faixa. Claro que era para mostrar serviço. Mas me agradava. Eu decorava as passagens dos solos como quase nunca antes, e me esbaldava com a energia em mim resultante. Não à toa ficava satisfeito.

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Solo

Mas, terminada essa dança toda, vinha um solo, retirado de um show. Um solo que nunca fez muito sentido para mim. Mas que tinha - e ainda tem - um valor diferente em relação aos solos que a gente vê por aí. Porque era um solo que se bastava. E que eu, ainda hoje, posso reproduzir em minha mente. Porque era meio que uma pausa para mostrar a que o Tony havia vindo. Um solo sem nada do lado. Com uma plateia que fica ao fundo, como testemunha. Como numa música erudita (embora, nesta, ela fique calada).

Uma faixa que acalma

A faixa seguinte, Agrionia, é uma das músicas mais fechadinhas que eu conheço, uma balada calma que acalma e que meio que abre uma entrada num mundo que apenas vemos ao longe. Não à toa o baixo é tão forte nela. Não à toa os solos em duo (algo contraditório, eu sei) combinam tanto. Porque nesta música, lenta, com uma bateria bem marcada mas sem chamar nem um pouco a atenção, a gente fica a maior parte preso ao tema principal e com isso não deixamos nossa atenção se perder na continuidade da guitarra. É uma faixa agradabilíssima, que ainda contém alguns pequenos solos de baixo em sua metade, e cujo desenvolvimento nos solos avança de forma inopinada como que descrevendo um território (e é isso que tanto me agrada). Porque Agrionia parece remeter a um lugar, não necessariamente a um sentimento ou sensação. Claro que há momentos de destaque, em que o teclado abre o panorama e a guitarra se esparrama só. Claro que há tudo isso. Mas isso não retira o clima calmo da faixa, e meu agrado ao ouvir a extensão das notas, em determinados momentos, mais agudas, em outras suaves, e num registro intermediário. É lindo, e sempre foi assim. Eu me lembro bem como a ouvia, se querem saber. Como curtia os agudos aparentemente intermináveis, como os vivia em meu interior - aquele garoto.

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Céu?

A faixa seguinte começa com um teclado singelo meio que orientando a música rumo a um desfecho prenunciado - que não ocorre. Ao invés disso, vem uma balada forte com guitarras em duo quase o tempo todo, bateria fortemente conjugada com o baixo, e um teclado dialogando com tudo. Uma das melhores faixas que conheço em que os duos dominam a cena, e uma das que mais me diz quanto a uma espécie de império no céu (Empire in the sky, o título dela). Há alguns detalhes que minha insuficiência musical me impede de comentar, mas que têm a ver com um ritmo que em determinados momentos parece propositadamente mal-educado. Mas que causa um efeito, e que efeito! Assim a faixa vai, enquanto me lembro de que, criança, eu imaginava realmente algo distante, que cada um poderia se dedicar a conquistar. Os solos, então, eu os imaginava em uma certa feiúra mas que fazia todo o sentido para mim. Porque, como já disse, os agudos e os solos de Tony parecem não sê-lo. Parecem mais bem ser diálogos que ele trava conosco, tentando - como o Joe Satriani - nos contar coisas que ele vê, mas que vê apenas dessa forma, por meio da música. E esta é a última faixa do lado da fita, que termina num solo absurdo que cresce e parece se perder na imensidão do... império.

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Uma bruxa e um padre

Virando o lado da fita, The Witch and the Priest (que já traduzi) é uma faixa agressiva, que começa com uma brincadeira da guitarra mas que pega pesado, especialmente no jogo rítmico. Já a guitarra, bom, a guitarra. Ela nem parece guitarra, para falar a verdade. Porque eu não consigo imaginar dificuldade em tudo aquilo que ouço, e ao mesmo tempo me parece tão difícil. Uma pegada forte, o tempo todo, que eu apreciava bem mais do que as outras faixas, mais suaves, ao menos enquanto jovem, e que é encimada por The Taker, faixa seguinte que acompanha o mesmo estilo, bastante difícil de entender, e que me remete a vida em cidade, a coisas por resolver, a negócios, e que pega realmente para valer após um pequeno trecho de teclados, acompanhado de um solo que está dentre os meus preferidos de todos os que conheço (e conheço muito). Porque nele o diálogo está tão evidente, a tentativa de falar algo para nós tão clara, e ao mesmo tempo uma certa sujeira tão patente. Tudo assim continua, forte, voltando ao tema inicial, até o fim repentino. Quando vem o piano.

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Chopin

O Prelúdio 16, Opus 28, de Chopin é então tocado em sua integralidade. Para quê? Não sei. Sei apenas que ele me passa algo similar a uma divisão interna (no Tony). É como se ao tocá-lo ali, em meio a todo aquele barulho, ele nos dissesse quem são seus mestres - os clássicos de nossos país e avós. Mas ele o diz suavemente, meio que dizendo: eu sei. Eu também sei. Não consigo avaliar tecnicamente a peça. Como é óbvio.

Beira de Insanidade

Antes de comentar como recebi (naquela época) a faixa título desse LP, e como a recebo hoje, deixem-me contar por que minha vida, de certa forma, sempre esteve à borda da insanidade, e como isso continuou com o tempo, querendo-o ou não. Tudo para indicar-lhes por que é tão importante esta música em minha vida.

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Quando tinha 6 anos de idade recém-completados, eu vi um Golpe de Estado, no Chile. Vivíamos a 10 quarteirões da casa do então presidente eleito Salvador Allende, e eu retirava os colchões que minha mãe colocava nas janelas para ver os A-37 da Aviação Chilena bombardearem a casa do cara. Pois bem. É patente que um país está à beira da insanidade quando deixa que uma guerra civil tome conta. E vejam, muito da raiva que a classe média nutria pelo governo era algo insano, completamente restrito a preconceitos contra pobres e coisas da época. Ocorre que viemos ao Brasil, fizemos nossa história e meu pai... pirou. Literalmente. Ele foi diagnosticado bastante tardiamente com psicose maníaco-depressiva, quase perdemos tudo por causa das dívidas e quase cada um vai para sempre para um lado. Ocorre que após vivenciar suas crises e passar por minhas, eu fiquei esquizofrênico paranoico. Digamos que minha sensibilidade, não tratada, acabou virando uma depressão crônica e uma doença incurável.

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Digo-lhes isso porque, por outro lado, aprendi a considerar que a vida na sociedade atual (viemos durante uma ditadura militar e hoje vemos o impeachment) é literalmente algo bastante próximo da loucura. Nesse sentido, aprendi a gostar de ler sobre história, mas também a dela desconfiar. Porque a própria leitura da história é quase um relato de maluquice completa. Lermos sobre guerras e sobre histórias locais só ajudam a chegar à mesma conclusão. Mas tem mais: sou jornalista, e fui jornalista de rua por 9 meses, quase enlouquecendo na parada. Ver o município de Guarulhos em mortos fotografados por um colega que preferia mortos a vivos porque eles ficavam quietos foi foda. Mas aprendi muito, e hoje ainda faço trabalhos como jornalista (além deste). Tudo convenceu-me então de que as coisas em geral não fazem sentido, e de que, quando fazer, é muitas vezes por um prisma literalmente maluco.

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Mas eu já vislumbrava tudo isso quando ouvia estas músicas, sabem. Eu não conseguia entender como as pessoas normalmente encaravam mal coisas simples, como resolviam na porrada coisas que poderiam ser discutidas com retidão e decência; em suma, eu já imaginava que o mundo estava meio que às beiras da insanidade.

Não foi então tão necessário o Tony me CONVENCER de que o mundo era aquilo que ele narrava nesta música simples, suave, tranquila, mas definitiva. Ele começa já com a melodia principal, e a larga poucas vezes. E sinto nela - na melodia - e na música uma melancolia profunda, como se fosse ela (a música) um lamento incontornável, e algo impossível de superar. Não é detalhe que Tony seja negro, sendo tão poucos os guitarristas desse tipo (e como esse tipo de formação) nesse estilo musical e mesmo no quesito meramente instrumental. Claro que hoje existem muitos outros mais. Mas naquela época só havia ele. E notem a capa do LP, os grilhões nas pernas peludas do cara - que é negro. Ou seja, a música tem, ao que parece claramente, algo sumamente biográfico. E me tocava por inteiro. E eu sentia que ali havia UMA VERDADE, uma real verdade, inescapável, que iria me acompanhar pela vida inteira - como acompanhou. É triste, também, mas é verdade. Pois é. Não preciso comentar os solos, que parecem frases literais que invadem nosso consciente com verdades, claro. E que nem bonitos são, nem precisariam ser. São coisas jogadas em nós como pedras, especialmente nos trechos em que os agudos parecem lamentar algo sumamente superior a nós mesmos. Nem preciso me referir então a um trecho, bem no fim, em que tudo realmente parece um coro final, dizendo a moral da história, preciso? Maravilhoso.

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O Corvo

The Raven surge, então, como penúltima música. E remete ao corpo de Poe, é claro, praticamente o texto que me introduziu o português como língua em minha vida. Tá, claro que estou exagerando. Mas é incrível. O Corvo, o poema, trata tão bem de um universo soturno que dominou todo meu panorama desde que eu me conheço por gente! E a música não deixa para trás, quase transmutando em nota o grasnar da ave, e sua simbologia tradicional, de ave mística, que nos leva embora. Pois é.

O LP termina pouco depois, e muitas notas, algumas bem agressivas, com No Place in Time, meio que sugerindo uma discrepância fundamental do Tony com seu tempo, ou quem sabe da ausência de lugares no tempo - algo em que eu geralmente me pego, hoje mesmo. Pois o fato é que, em nossas sensibilidades, muitas vezes consideramos que tudo isso que vivemos não passa de sonho, e talvez até de um pesadelo. A faixa é lírica, suave, tranquila, e não avança muito nem para cima nem para baixo. Fica como uma espécie de referência por ausência de referencial. E tem trechos bárbaros, que meio que nos fazem crer que vivemos num pesadelo sem saída, que nossos dias e nossas noites estão aí para fazer com que realmente nos percamos, e nada mais. É como sinto.

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E como sinto esse LP fundamental, que fez a cabeça de muita gente, e que não se cansa de rodar por aí.

É isso.

Espero que tenham gostado.

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Sobre Rodrigo Contrera

Rodrigo Contrera, 48 anos, separado, é jornalista, estudioso de política, Filosofia, rock e religião, sendo formado em Jornalismo, Filosofia e com pós (sem defesa de tese) em Ciência Política. Nasceu no Chile, viu o golpe de 1973, começou a gostar realmente de rock e de heavy metal com o Iron Maiden, e hoje tem um gosto bastante eclético e mutante. Gosta mais de ouvir do que de falar, mas escreve muito - para se comunicar. A maioria dos seus textos no Whiplash são convites disfarçados para ler as histórias de outros fãs, assim como para ter acesso a viagens internas nesse universo chamado rock. Gosta muito ainda do Iron Maiden, mas suas preferências são o rock instrumental, o Motörhead, e coisas velhas-novas. Tem autorização do filho do Lemmy para "tocar" uma peça com base em sua autobiografia, e está aos poucos levando o projeto adiante.
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