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Therion: a grande ópera Theli

Resenha - Theli - Therion: a grande ópera

Por Rafael Lemos
Postado em 16 de maio de 2016

Nota: 10 starstarstarstarstarstarstarstarstarstar

Após alguns anos de existência, em 1996 o Therion alcançava a fórmula musical perfeita. Inseridos no gênero Heavy Metal Sinfônico, lançava "Theli", impressionando o mundo todo. Esse disco retirou o grupo do underground e os transformou em uma grande banda reconhecida por todos - menos nos EUA, onde Theli não fez o sucesso esperado. Outros grupos surgiram naqueles tempos unindo Metal e música clássica, sendo o Rhapsody e o Nightwish os mais famosos deles. Porém, o Therion intensificou essa união e deu um tom obscuro a sua sonoridade e letras, realizando um trabalho inédito no mundo musical. Diferentemente de hoje, o Therion nao se resumia a dois homens e duas mulheres fazendo as vozes clássicas, mas fazia uso de todo um coral de vozes.

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Elogiado pela imprensa especializada e pelos fãs antigos e novos, Theli completou 20 anos de existência em Março de 2016 e, curiosamente, muitos fãs novos de Metal nunca ouviram falar na banda!

As raízes do Therion remontam ao ano de 1987, na Suécia, quando Christofer Johnsson montou uma banda com influências Thrash Metal chamada Blietzkrieg, que depois mudou o nome para Megatherion e o estilo para Death Metal até  reduzirem o nome para Therion em 1988. As letras também mudaram com o tempo, inicialmente abordando temas como problemas ambientais e sociais para, a partir de 1995, falarem sobre ocultismo, devido ao fato de Christofer ser membro de uma sociedade secreta chamada Dragon Rouge desde 1990 (vale dizer que, de 1996 até atualmente, as letras do Therion são escritas pelo fundador da sociedade, Thomas Karlsson).

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O grupo não fazia o sucesso esperado até que mudaram o estilo do grupo, passando a fazer Heavy Metal com altas doses de orquestrações: Theli seria o trabalho que inauguraria essa fase.

É impossível não se render ao elaborado requinte apresentado neste disco de inegável e inigualável beleza. O grupo usou um coral pesado e intenso (que, futuramente, praticamente viria a substituir o vocal tradicional na maior parte das músicas), de alta intensidade emocional não somente em alguns trechos, mas sim em todos os momentos da música. Tão importante quando o Heavy Metal, são as orquestrações,  também presentes na música toda. Nenhuma banda havia utilizado esses recursos dessa forma, pois elas usavam as partes clássicas somente em alguns trechos das músicas para ressaltar as características do Heavy Metal, não fazendo a total fusão dos estilos, o que tornou o trabalho do Therion exclusivo. E a própria banda se fez uma orquestra aqui, conforme ouvimos ao longo de todo o álbum.

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Existem várias edições diferentes do Theli. A nacional contém somente as gravações cabíveis ao disco. A edição mais interessante saiu em 2014, em comemoração aos 28 anos do seu lançamento, contendo as músicas do disco, três bônus (que estão no ep "A'arab Zaraq lucid dreaming" e já vinham na edição japonesa) e um DVD ao vivo gravado em 2007, com a banda executando o disco Theli na integra. Tenho uma edição argentina muito boa, que tem como bônus as três músicas que fazem parte do ep "Sirens of the woods". O encarte possui uma foto com os três integrantes principais que compunham a banda na época (na verdade, quatro gravaram o disco: Christofer Johnsson nas guitarras, teclado e vocal, Piotr Wawrzeniuk na bateria, Lars Rosenberg no baixo e Jonas Mellberg na outra guitarra) letras e informações técnicas.

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Gravado sob condições adversas, pois o guitarrista Jonas passava por problemas em relação ao alcoolismo e os demais integrantes muitas vezes davam grandes festas após os shows (o que irritava Christofer), tivemos um resultado fonográfico maravilhoso aqui. A curta e tenebrosa introdução abre espaço para aquela que é uma das mais bonitas música do mundo da música, a arrebatadora "To Mega Therion" ("A grande besta"), tão bem harmonizada, composta e executada que tem o poder de arrancar lágrimas do ouvinte. O coral a inicia nocauteadora, seguido de um instrumental cavalgante pra headbanger nenhum botar defeito. Guitarras em duetos, viradas de bateria, teclados sinistros, baixo intenso, orquestrações complexas, a impressionante base instrumental que vem após as vozes se cessarem e outros tantos elementos, compõem esta preciosidade que, sozinha, já vale o álbum. A associação entre o coral harmonioso e pesado e o vocal agressivo de Christofer ficou perfeita. Seu final é de tirar o fôlego, cheio de um clima tenso que se desfaz nos últimos acordes da canção. "To mega Therion" é, sem dúvida, o Magnus opus do grupo, dada sua magnitude, criatividade e originalidade, demonstrando que o grupo chegou com um estilo novo, destinado para ser ouvido por quem entende de música e tem um gosto apurado e refinado.

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Christofer começou a escrever a música "To Mega Therion" em 1993 pois, embora tocasse Death Metal na época, sempre foi aficionado por música clássica e teve Richard Wagner como sua inspiração maior. De fato, os climas envolventes dessa música lembram muito o estilo das peças que Wagner compunha. Imaginou que nunca poderia grava-la, pois os gastos com orquestras e corais eram impossíveis de serem pagos por ele, que chegou até a desistir da música e a esquecer por uns bons anos. Várias outras composições do álbum também foram sendo escritas com o tempo, sendo o disco o resultado de uma formação processual longa e o com uma característica meio que irregular (inclusive, Christofer tentou antigamente montar um projeto paralelo ao Therion chamado Theli, que não deu certo, do qual algumas músicas incluíram aqui). Com o aprofundamento nos ensinamentos da sociedade Dragon Rouge, lentamente voltou a trabalhar na música "To Mega Therion", mudando sua letra com a ajuda de Karlsson, fundador da sociedade. Até que as condições positivas permitiram o seu lançamento em 1996, como primeira faixa do Theli, título em hebraico que, assim como o nome da banda (em grego), também significa "Dragão" - outros álbuns sairiam com o nome "dragão": "vovin", em enochian, linguagem utilizada na magia negra", "deggial", em árabe, onde dragão é associado a falso profeta ou ao anticristo, embora naquela cultura anticristo não se relacione aos valores dados pelo Cristianismo.

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A expressão To Mega Therion, embora seja associada ao místico Aleister Crowley, é antiga e é empregada à besta apocalíptica que anuncia o fim dos tempos e a queda de todos os deuses e de todas as crenças: é o profeta do Novo Eon, a grande besta selvagem.

Mas Theli não tem somente uma música e todas as outras são fabulosas. "Cults of shadows" começa com um baixo marcante e tem uma áurea ainda mais sombria do que a música anterior. O órgão aterrorizante lembra as sonoridades de filmes mudos do Impressionismo alemão do inicio do século XX, como "O gabinete do dr. Caligari" e "Nosferatu", dando um aspecto grotesco e belo à musica. A voz de Christofer está mais agressiva aqui, também.

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"In the desert of Set" tem um coral que lembra as vozes de escravos egípcios antigos, em concordância com as mística de Set, deus egípcio da violência, da traição, do ciúme, da guerra, das forças do deserto, da escuridão, da inveja e dos animais peçonhentos.

Temos a música de passagem, "Interludium" que nos dá acesso a outro ponto alto do disco, "Nightside of Eden" que inicia relativamente lenta e encerra rápida. Ela fala sobre o lado oculto do cérebro, a porção da nossa psique ainda não iluminada pela inteligência (o lado escuro do jardim do Édem), que é uma das místicas ensinadas pela Dragon Rouge, na verdade a sua proposta de atingir o conhecimento.

Outra música de passagem, "Opus eclipse" nos mostra a composição mais pesada do disco, "Invocation of Naamah", com um retorno a voz semi gutural usada em discos anteriores. Naamah é uma referência à besta Na'amah do misticismo judaico, assim como ao mantra "Om Namah Shivaya" do Hinduísmo, em referência à Shiva, entidade da criação e da destruição.

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A belíssima "The sirens of the woods" é calma e lenta, cantada em uma língua que desconheço (deduzo ser enochian). Há um jogo de voz masculina (a de Christofer) e feminina que transmite um ar introspectivo a ela.

O disco encerra com um postludium brilhante, finalizando este disco histórico.

Como dito, a edição argentina vem com três bônus, sendo somente "Babylon" inédita em relação às faixas do disco (pois são as três músicas que compõem o ep "Sirens of the woods"). Não vale a pena pelas faixas bônus, que em nada acrescenta de genial ao disco.

Na capa, temos presente o Deus Set, citado na terceira música e a estrela de onze pontas do misticismo dracomiano, ensinado pela Dragon Rouge, onde cada ponta representa um estágio do conhecimento.

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Os temas expostos no disco são dificeis de explicar, pois envolve o complexo universo draconiano, abordando a formação do conhecimento  segundo a vivencia pessoal, trazida com a iluminação do lado escuro da mente pelo conhecimento antigo, metaforizado mas figuras dos deuses do passado. Esse assunto está presente na maioria dos discos do Therion.

Musicalmente, Theli não é o mais complexo dos álbum do grupo. Mas é, certamente, o mais inovador e, por isso o mais importante disco da carreira da banda, pois definiu o estilo que seria seguido à partir de entao, pois foi quando realizou-se a mudança definitiva (e pra melhor) no estilo feito pela banda. Isso sem contar o pioneirismo na forma como utilizou a música clássica e a fundiu com o Metal, como foi dito, não usando trechos ou pedaços das composições clássicas no Metal para poder ressaltar algum trecho importante da música, mas a  usando de forma tão importante quando as partes de Metal. A beleza do disco e a delicadeza nos detalhes fez de Theli a ferramenta com a qual o Therion construiu a sua ópera.

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Faixas:
01- Preludium"
02- To Mega Therion
03- Cults of the Shadows
04-  In the desert of Set
05- "Interludium"
06- Nightside of Eden
07-  Opus Eclipse
08- Invocation of Naamah
09- The siren of the woods
10-  "Grand Finale / Postludium"

Bônus
Siren of the Woods ep:
11- The siren of the Woods (single version)
12- Cults of shadows (edited version)
13- Babylon

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Sobre Rafael Lemos

Rafael Lemos começou a gostar de Heavy Metal, Hard Rock e Progressivo em 1991, sem influência de ninguém, realizando pesquisas sobre as bandas.
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