Darkology: Peça ímpar no rançoso mercado da música pesada
Resenha - Altered Reflections - Darkology
Por Felipe Resende
Postado em 05 de fevereiro de 2016
Lançado há alguns anos atrás (2009), o debut da banda Darkology denominado 'Altered Reflections' permanece uma peça relativamente ímpar no rançoso mercado da música pesada. Combinando de forma criativa em vários momentos o heavy tradicional com o progressivo, a banda - formada por Kelly Sundown Carpenter, os irmãos Michael e Brian Harris, e Mike Neal - entrega uma sonoridade dificilmente comparável a qualquer outro grupo. Em nossas terras (e acredito que não só aqui), o Darkology (infelizmente) permanece muito pouco conhecido. Uma pena.
Peço, de início, perdão por minha possível falta de familiaridade com termos musicais e afins: não sou músico e pouco conheço de teoria musical. Para que um resenhista de música venha a ter crédito em sua análise, deve no mínimo ter conhecimento em sua área de atuação. As pessoas que se arriscam nesse meio sem a devida formação são diletantes e, por isso, não devem esperar crédito algum. Sou um. Mas todo diletante que se preze deveria tomar cuidado com as expressões que usa mesmo tendo um conhecimento pouco aprofundado e/ou nenhum crédito. Quem utiliza expressões como 'vocais fodões' ou 'guitarras arrepiantes' deveria voltar à sua caverna e nunca mais sair. Ser diletante não significa ser iletrado ou pecar em objetividade. Expressões dessa categoria não contribuem em nada para aguçar o interesse (ou desinteresse) do leitor e guiar uma compreensão concisa do texto. Enfim, comecemos.
No mercado musical, há quem diga que existem artistas que fazem álbuns e há outros que fazem meramente singles. Os segundos simplesmente agregam um enorme conjunto de canções 'tapa buraco' e lançam algo que chamam de álbum (o que, em minha opinião, soa como um desrespeito tanto ao bolso quanto à inteligência de seu ouvinte). Poderíamos questionar na lógica subjacente a esse modus operandi, inclusive, se tais pessoas realmente são artistas ou comerciantes de canções.
Já os primeiros, mesmo não sendo tão originais e/ou sendo altamente comerciais, por ex., demonstram um grande respeito à música e aos seus ouvintes. Nos álbuns – peças sonoras perfeitas ou quase perfeitas -, o deleite da audição dificilmente soçobra para a qualidade 'aborrecimento' no advento daquela faixa indevida. O músico não tenta te enganar e tampouco presta um desserviço à música. Músicos que fazem álbuns buscam objetivar canções com um grande conteúdo de respeito tanto pelo ouvinte quanto pela música.
O Darkology é uma banda que no primeiro minuto da música ('Violent Vertigo') procedente ao tema de abertura ('Microcozm') derrama sobre nós a boa impressão de estar no segundo grupo. Musicalidade vigorosa estruturada sobre a agressividade vocal de Kelly e um instrumental variando entre galopes sincopados (sim, exato) e ritmos quebrados, ambos aliados à passagens intricadas. Destaque para a explosão vocal executada por Kelly antes do solo de guitarra (solo até que simples, mas de bom gosto).
A impressão se torna ainda mais substancial com a faixa seguinte 'I Bleed' (clipe abaixo), a semi-balada do álbum. A canção é carregada em sua maior parte por um ritmo arrastado (beirando o doom) tanto nos instrumentais quanto nos vocais (que são melancólicos). Sublinho o belo harmonize executado entre Kelly e Michael no entremeio do solo de guitarra que, por sinal, considero o melhor do álbum.
Em seguida temos a música mais complexa, obscura e experimental: 'Dark energy'. A experiência que a canção produz (causada principalmente pela incrível expressão vocal de Kelly) é a de estarmos sentados ao redor de uma fogueira no escuro enquanto alguém nos conta uma lenda perturbadora. O solo executado por Michael – que flerta com a atonalidade - inicialmente nos passa a sensação de que algo amedrontador realmente nos ronda; na segunda parte do solo, somos realmente surpreendidos por alguma presença maligna.
Em seguida temos "Nobot", direta e pesada. Tem um dos melhores refrões do álbum. Considero a parte pré-solo (a partir de 1:40 da canção) a melhor do CD: Kelly injeta uma espécie de "loucura selvagem" na canção, reproduzindo perfeitamente a temática crua da letra. Grande candidata ao fator "repeat".
Somos apresentados em seguida a 'Eyes of argus', que é uma mistura de algo mais direto e também absurdamente pesado com alguns pequenos improvisos em um certo momento (parte do solo). Os vocais de Kelly (que narra um experimento científico que culmina em consequências de proporções místicas) utilizam-se de drives potentes para mostrar o estado de loucura do 'espécime' do experimento. 'Aura of Xhad' e 'Alone' trazem um ritmo predominantemente galopante, mais heavy tradicional. São boas faixas, sem experimentalismos e com poucas ou inexistentes variações.
'Revitalize' flerta com o Power Metal através de seu ritmo acelerado. É a faixa 'clichê' do álbum, mas não deixa a qualidade de lado. Por fim, temos a canção mais longa do CD, 'Trance of gorgons'. É uma faixa repleta de instrumentais quebrados e variações, transpassada por uma densa e soturna atmosfera. É nessa faixa que Brian brilha, mostrando toda a sua versatilidade na bateria.
O saldo final é que estamos diante de um álbum bastante original. Em nenhum momento o Darkology afronta nossa inteligência. Dá pra perceber que as músicas foram feitas com esmero, sem preguiça ou intenção de tapar buracos. A produção é de boa qualidade. Em 2015 a banda lançou seu segundo álbum, 'Fated to burn'. Não deixemos de conferir – Kelly Sundown nunca decepciona.
Receba novidades do Whiplash.NetWhatsAppTelegramFacebookInstagramTwitterYouTubeGoogle NewsE-MailApps