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Paradise Lost: Os 20 anos do magnífico "Draconian Times"

Resenha - Draconian Times - Paradise Lost

Por David Torres
Postado em 17 de junho de 2015

Formado em 1988, na Inglaterra, o Paradise Lost foi um dos grupos pioneiros do Death/Doom Metal, ao lado de nomes como Anathema e My Dying Bride. Iniciando a sua carreira musical praticando uma competente, soturna e atmosférica combinação de Doom e Death Metal em seus dois primeiros trabalhos de estúdio, "Lost Paradise" (1990) e "Gothic" (1991), a banda enveredou para um som cada vez mais gótico e diferente de suas raízes. Em 1992 a banda retornou com "Shades Of God" e a sonoridade apresentada já estava mais modificada, ainda trazendo vocais rasgados, entretanto já transitando para passagens cantadas de forma limpa em doses cada vez maiores. Ainda assim, o resultado continuava impecável. O mesmo pode ser dito sobre o trabalho seguinte, "Icon" (1993), que já trazia uma sonoridade muito mais acessível e comercial, agora flertando o Doom com o Gothic Metal.

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Após a turnê de "Icon", o baterista Matthew Archer deixou a banda para se juntar à equipe editorial do programa "Headbangers Ball", da MTV. Lee Morris substituiu o baterista original e eis que em 12 de junho de 1995 o Paradise Lost deu a luz a "Draconian Times", seu estupendo quinto álbum de estúdio. Lançado via Music of Nations e possuindo uma deslumbrante e curiosa ilustração de capa criada por Holly Warburton – que também foi responsável pelas capas dos "singles" do álbum – o registro é descrito pelos próprios integrantes da banda como "um elo perdido entre Metallica e Sisters of Mercy".

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Trata-se de um álbum mais comercial e acessível, dando continuidade a sonoridade executada em "Icon", levando-a a um extremo ainda mais "mainstream", contudo sem deixar a qualidade das composições caírem. É um disco mais melódico e melancólico. O "frontmen" Nick Holmes alega que estava bastante triste quando compôs as letras das músicas presentes no álbum, o que explica tal melancolia. O título do álbum pode ser livremente traduzido como "Tempos Difíceis" e casa perfeitamente com todo o conceito lírico presente no álbum. O vocalista frequentemente refletia "sobre situações de morte iminente". O trágico naufrágio da balsa MS Estônia no Báltico, em 1994 também influenciou Holmes na concepção desse trabalho. Hoje, essa obra completou hoje o seu 20° aniversário e a seguir iremos revisitar o conteúdo que permeia esse vistoso e clássico registro de estúdio.

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Notas sublimes, pacíficas e belíssimas de piano dão início a "Enchantment", a faixa incumbida de começar o trabalho. Não demora muito para que toda a banda entre em ação. Uma atmosfera descomunal toma conta do ambiente e transporta o ouvinte para dentro do álbum a partir daí, fazendo com que ele embarque em uma jornada musical completamente surreal, fantasiosa, atmosférica e única. Arranjos fantásticos e cativantes apresentam ao ouvinte "Hallowed Land", a segunda faixa desse trabalho. Os vocais de Nick Holmes sofrem modificações interessantes ao longo da música e o instrumental concebido pela banda é um tremendo deleite para os ouvidos. O mais genuíno "feeling" é exalado em cada nota e acorde executado e os teclados aliados com as guitarras proporcionam um clima arrebatador e extasiante.

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"The Last Time" é a terceira composição do disco e já se inicia com uma base instrumental harmoniosa e bastante convidativa. Em seguida, "riffs" cadenciados e pegajosos conduzem a versos grudentos e maravilhosos. Nessa canção, também temos um formoso solo de guitarra, agregando mais um atrativo charmoso para o produto final. Essa faixa é um dos "singles" do álbum e ganhou um videoclipe promocional, diga-se de passagem.

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Um curto monólogo proferido pela notória e mundialmente conhecida mente criminosa Charles Manson, extraído do documentário "The Man Who Killed the 60s", é a deixa inicial para "Forever Failure", a quarta faixa do álbum. Assim que o "sample" do monólogo cessa, a voz de Holmes invade novamente os alto-falantes e o ouvinte é novamente levado para uma viagem estereofônica. A letra aborda sobre o consumo de drogas como o haxixe e álcool e como o uso dessas substâncias acaba determinando a vida de determinados seres humanos. Passagens acústicas, melodias tocantes de guitarra, aliadas a todo o desempenho instrumental vocal e lírico, bem como a mais alguns "samples" de monólogos de Charles Manson, criam uma ambientação única, carregada e formidável. O uso dos "samples" de Manson surgiram após Holmes ter assistido a uma reportagem sobre ele na TV, aliás. O guitarrista Gregor Mackintosh chegou a classificar as declarações de Manson como "confuso e triste". Tal qual a composição anterior, é um "single" do trabalho e também foi produzido um videoclipe para essa canção.

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Uma levada mais rápida e vibrante leva o ouvinte à faixa seguinte, "Once Solemn". Nela temos uma "cozinha" de baixo e bateria bem viva e pulsante, bem como "riffs" consistentes, um simétrico solo de guitarra e vocais impecáveis. Outro som irrepreensível! A obra prossegue com "Shadowkings", que é introduzida com harmonias encantadoras e rapidamente entrega ao ouvinte mais uma experiência extremamente prazerosa de se escutar, contando com melodias e passagens instrumentais e vocais marcantes.

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Igualmente fabulosa, "Elusive Cure" abre progressivamente, com notas delicadas e sublimes, crescendo as poucos e revelando mais um primor auditivo. Acordes acústicos iniciam a excepcional "Yearn for Change". Outro grande destaque da obra, recheada de harmonias de guitarra pegajosas, vocais potentes e bem encaixados, além de linhas de bateria e marcação de baixo perfeitas. O conjunto de todos os elementos mencionados resulta numa experiência extremamente prazerosa para o ouvinte.

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Curiosamente batizada com o nome do terceiro álbum da banda, "Shades of God" não deixa a qualidade do álbum decair nem mesmo por uma fração de segundo que seja e brinda a todos com mais um clima surreal e peculiar em cada acorde e arranjo. Tudo é composto, executado e entregue ao ouvinte com uma precisão minuciosa e espantosa, beirando o inacreditável. Baixo e bateria entram em cena, abrindo caminho para a décima composição, "Hands of Reason". Não demora nada e toda a banda retorna com vivacidade e garra nas mãos. "Feeling" e energia transbordam pelos alto-falantes e não há como ficar indiferente a qualidade musical apresentada aqui.

Novamente se iniciando com arranjos sutis e elegantes, "I See Your Face" é a penúltima canção do álbum. Sua letra foi inspirada em uma notícia terrível em que uma mãe foi esfaqueada na frente de seus filhos. A canção mantém o mesmo padrão de qualidade e elementos das composições anteriores, sem jamais pecar ou diluir a intensidade do que se conferiu até agora. Tudo é mantido no mais alto nível, conduzindo ao arrebatador encerramento da obra com "Jaded", outra música que dispensa qualquer ressalva, finalizando esse grandioso feito musical com mais um conjunto de melodias estapafúrdias.

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O lançamento de "Draconian Times" aumentou a popularidade da banda, que figurou pela primeira vez como "headliner" em grandes festivais, como o Dynamo Open Air, seguido de uma turnê extensa, ao lado do Sisters of Mercy. Também é importante mencionar que há uma canção que foi escrita durante a gravação desse trabalho chamada "Another Desire". Ela não foi lançada nesse registro, surgindo apenas no "single" Forever Failure. O álbum recebeu críticas positivas em seu lançamento, mesmo com a banda rumando para uma sonoridade mais comercial. Em suma, "Draconian Times" é de fato um clássico e um trabalho que merece ser escutado incontáveis vezes com bastante atenção. Cada faixa possui um clima divergente, proporcionando reações diversas e interessantes. Uma verdadeira obra prima!

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Escrito por David Torres

01. Enchantment
02. Hallowed Land
03. The Last Time
04. Forever Failure
05. Once Solemn
06. Shadowkings
07. Elusive Cure
08. Yearn for Change
09. Shades of God
10. Hands of Reason
11. I See Your Face
12. Jaded

Nick Holmes (Vocal)
Aaron Aedy (Guitarra Rítmica e Acústica)
Gregor Mackintosh (Guitarra Solo)
Stephen Edmondson (Baixo)
Lee Morris (Bateria)

Músico Convidado:
Andrew Holdsworth (Teclados)

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Sobre David Torres

Formado em Propaganda & Marketing, se autodenomina "Fanfarrão" graças ao seu senso de humor e modo de enxergar o mundo à sua volta. Apaixonado por filmes de terror, quadrinhos e bandas como D.R.I., Faith No More e Napalm Death, escreve também para o blog Blasting Noise Fanzine. Possui muitos sonhos, dentre eles dar início a um projeto de grindcore.
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