Megadeth: "Cryptic Writings", um álbum no mínimo polêmico
Resenha - Cryptic Writings - Megadeth
Por Giales Pontes
Postado em 18 de novembro de 2014
Nota: 7
Com ‘Cryptic Writings’(1997) o Megadeth deixou claro que jamais voltaria a ser aquele Megadeth dos anos oitenta, com o thrash metal sujão, técnico e distorcido que caracterizou seus dois primeiros álbuns. Se com ‘Countdown To Extinction’ eles já mostravam um direcionamento mais acessível de seu trabalho, que veio a ser confirmado no ótimo ‘Youthanasia’, foi com ‘Cryptic’ que eles colocaram um ponto final nessa história, sacramentando a opção pelo ecletismo. Dali em diante todos os álbuns da banda passaram a trazer uma diversidade muito grande de sonoridades. E vejam bem, não estou de forma alguma dizendo que isso foi ruim!
Digamos que dentre todos os álbuns "diferentões" da carreira do Megadeth, este seja um dos mais rejeitados(talvez esse título ainda pertença ao odiado ‘Risk’ de 1999), mas seria leviandade não reconhecer que ele possui bons momentos, até mesmo em faixas que fogem totalmente do estilo até então usual adotado pela banda. ‘Trust’ é, sem dúvida, a música que vale o álbum. Nem muito rápida, nem muito pesada, nem muito distorcida, mas inexplicavelmente cativante. Seja pelos riffs bem sacados, pela levada de bateria insistente e bem marcada, pela bela e curta intervenção de Marty Friedman ao violão na metade da música ou pelo refrão bastante "cantável", ‘Trust’ abre o álbum prometendo muito!
Porém o que se sucede após a primeira faixa seguramente viria a decepcionar muita gente, em especial aqueles fãs "die hard" da fase inicial da carreira da banda. Compreensível. Afinal, ‘Cryptic’ realmente mostrou-se um álbum excessivamente ousado para uma banda que até então havia se notabilizado por um gênero mais extremo dentro do universo metálico.
‘I'll Get Even’ é uma das faixas que provavelmente fez muitos narizes se torcerem involuntariamente. Com suas guitarras limpas e seu refrão "Aah-aah-aah-all get even with you" no melhor estilo pop/rock, distanciava-se anos-luz do peso, da velocidade e da distorção com as quais os fãs já estavam acostumados. ‘Use The Man’ com uma estranha introdução, onde ao fundo ouvimos o que parece ser um rádio tocando uma versão da música ‘Needles And Pins’ tocada pelo grupo britânico sessentista ‘The Searchers’, logo torna-se mais estranha ainda com a entrada dos vocais de Mustaine tendo apenas violões como apoio. As guitarras e a cozinha entram com tudo em uma faixa arrastada e swingada. Bizarro, para dizer o mínimo.
É até complicado citar música por música, pois ‘Cryptic Writings’ é realmente um álbum de sonoridade muito particular. ‘Almost Honest’ tem uma introdução energética, com um ótimo riff distorcido de guitarra, uma levada mid-tempo, vocais meio sussurrados no início, mas que logo se intensificam no refrão. Música estranha, cheia de efeitos bisonhos, mas ainda assim bem interessante. O solo de guitarra mais para o final mostra um Marty Friedman econômico e eficiente, usando seu virtuosismo em favor da música em si, sem aquela masturbação técnica que por vezes cansa o ouvinte. ‘Mastermind’ é uma das mais surpreendentes. Sua introdução distorcida e apressada, desemboca em uma linha de baixo excelente de Ellefson. O riff de guitarra desta faixa é particularmente empolgante e vale a audição da mesma até o final, ainda que as linhas vocais aqui estejam um tanto quanto "apagadas".
‘Sin’ é mais uma das faixas "patinho feio" que embora tenha suas qualidades, dificilmente agradaria um velho fã do "Mega". ‘Have Cool, Will Travel’ parece saída de alguma birosca bluseira de beira de estrada, com uma gaita no melhor estilo "estradeiro" e um bom riff de guitarra. O refrão mostra-se a parte mais interessante, e ao mesmo tempo a mais estranha tambem. Eu particularmente curto essa música, mas sei que sou um dos únicos.
‘A Secret Place’ é outra "coisinha" complicada nesse álbum. Ela inicia com uns riffs de guitarra sintetizada meio melodiosos/distorcidos pra lá de bizarros, e confesso que na época eu abominei essa música. Mas depois de escutá-la algumas vezes, precisei me render à genialidade de Mustaine e seus comparsas! Em que pese os arranjos nitidamente pop, não há como passar ileso pelas belas melodias aqui contidas. ‘Vortex’ é uma música também cativante. Como é comum no trabalho da banda, esta faixa traz riffs técnicos e criativos, o que torna difícil não se empolgar com ela.
O melhor eu acabei deixando propositalmente por último: ‘She-Wolf’ apesar de não trazer o mesmo peso abundante de álbuns anteriores, configura-se uma bela pérola dentre tantas músicas "difíceis de engolir" em ‘Cryptic Writings’, pois os riffs cortantes cavalgados que dão início a faixa, já demonstram a qualidade da mesma. Mas não é só isso: ainda tem o belo refrão, usando de melodia na medida certa. E para fechar a música com chave de ouro, uma daquelas incursões de guitarras dobradas no melhor estilo Iron Maiden. Simplesmente um show de Mr. Mustaine e Mr.Friedman.
‘The Disintegrators’, a mais ‘pauleira’ do álbum, é também a mais ‘old school’ de todas. Aqui em um solo esmerilhante de rápido, Marty Friedman mostra porque ele é....Marty Friedman. Duvido algum fã antigo não ter curtido essa música. E por fim temos a ótima ‘FFF (Fight For Freedom)’ com uma levada meio hardcore, cortesia de Mr. Menza e Mr. Ellefson. Os riffs de guitarra são do tipo arrasa-quarteirão. As linhas vocais são muito boas, o refrão é interessante apesar dos efeitos eletrônicos nas guitarras. A guitarra solando mais para o final é um troço indescritível: chega a ser engraçado, pois Friedman engata uma quarta nos dedilhados do solo, parece que "empurrado" pelo ritmo frenético imposto pelo resto da banda! Mas então a banda pisa um pouco no freio e.....ninguem avisou o Marty? Então ele segue em quarta como um Dragster desgovernado! Muito bom! Um ótimo encerramento para um álbum no mínimo polêmico.
Track-list
1 . Trust
2 . Almost Honest
3 . Use The Man
4 . Mastermind
5 . The Disintegrators
6 . I’ll Get Even
7 . Sin
8 . A Secret Place
9 . Have Cool, Will travel
10. She Wolf
11. Vortex
12. FFF
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