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Whitesnake: O fantástico sucessor de "Slide It In"

Resenha - Whitesnake - Whitesnake

Por Ronaldo Celoto
Postado em 11 de janeiro de 2014

"Sim, minha força está na solidão. Não tenho medo nem de chuvas tempestivas nem das grandes ventanias soltas, pois eu também sou o escuro da noite", já dizia CLARICE LISPECTOR. A noite, como todas as rainhas, é a grande inspiradora dos poetas, músicos, escritores, artistas em geral. Imagine-se, por um momento, numa tempestade de criação obrigatória em meio a uma madrugada que nunca termina; criação esta que deveria suceder um disco mais do que brilhante, chamado "Slide It In". Esta era a tarefa árdua que DAVID COVERDALE tinha em mãos, e, pior, agravada pela sonoridade mais característica e pesada ouvida na metade da década de 80, e, criava uma nova classe de ouvintes e fãs, fazendo com que o líder do WHITESNAKE temesse, de certa forma, que a magistral forma por ele concebida de mesclar rock ao blues de forma fantástica, acabasse por soar datada, e, esquecida, se, de alguma forma, ele e sua trupe não conseguissem inserir certo peso sobre suas canções. Correto ou não, COVERDALE acabou por gerar o embrião de um grandioso trabalho, que atuou como divisor de águas entre a antiga sonoridade e a nova face do grupo, sem perder, evidentemente, a sua essência. Começa aqui, em meio à calada da noite então finalizada, a história do sensacional álbum intitulado "Whitesnake", ou "Serpens Albus" (como ficou conhecido no Japão), ou ainda "1987" (como foi chamado na Europa).

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I – Na Calada da Noite

Renunciar ao passado sem esquecê-lo, mas sim, moderniza-lo de uma forma que não pareça totalmente diferente, mas necessariamente nova. Ingrata missão para alguém do calibre de DAVID COVERDALE, um homem mais acostumado com mudanças. Alguém que não se preocupou em plena era onde o DEEP PURPLE soltava relâmpagos sonoros com "Burn" e "Stormbringer", em fundir o soul, o blues e o rock e lançar "Come Taste The Band", uma mudança rebatida por muitos, mas que mostrou, em todo o momento, que DAVID não tinha medo de nada, e, fazia o que seu coração dizia, dentro do universo ao qual ele se propôs: ser um guerreiro solitário, um cavaleiro romântico a serviço do rock.

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Não foi diferente quando ele criou os primeiros momentos gloriosos da pesadíssima primeira canção, chamada "Still Of The Night". Era como se ele, a exemplo do inesquecível poeta MARIO QUINTANA, quisesse dizer a todos:

"Queria ter a certeza de que,
Apesar de minhas renúncias e loucuras,
Alguém me valoriza pelo que sou e faço".

Sim, ele mudou e disse a todos que a mudança era necessária. Tingiu os cabelos de loiro, exercitou-se e assumiu a imagem de um LANCELOT em meio à Távola Redonda do então mundo do glam-hard e do heavy metal, predominante em quase todas as bandas. É a vitória (sem saber que viria) anunciada por meio de uma palavra: coragem. Coragem para reinventar-se além das calças jeans apertadas e as jaquetas de couro pretas, os tênis "All Star" tingidos e os cabelos pouco tratados. Coragem para não ser apenas mais uma banda com longas madeixas e guitarristas performáticos, mas sim, para dizer, no melhor estilo de um colonizador britânico a viver em plena Califórnia: "We came, we sall, we conquered".

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E eis que, na calada da noite, JOHN SYKES, NEIL MURRAY e AYNSLEY DUNBAR botavam fogo nos instrumentos, antes que COVERDALE enunciasse:

"In the still of the night
I feel my heart beating heavy
Telling me I gotta have more

(...)
In the heat of the day
I hang my head down low
And hide my face from the sun

(...)
In the still of the night
I hear the wolf howl, honey
Sniffing around your door

(...)
Now I just wanna get close to you
An´ taste your love so sweet
And I just wanna make love to you
Feel your body heat
In the still of the night".

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Em meio a esta quase "Slow And Easy" com requintes futuristas e um ritmo diferencial e pesado, a imagem, o calor, o sabor da noite mesclavam-se ao suor e o impacto de um beijo, o instinto felino que descia das longínquas noites regadas a blues e Jack Daniels e assumia o gosto da Tequila, do Dry Martini, da beleza da modelo TAWNY KITAEN (na época, namorada e futuramente, mulher e ex-mulher de COVERDALE), e, por fim, os requintes zeppelinianos certeiros quando, em pouco mais de dois minutos de canção, ela assumia uma pausa de destilações e efeitos, lembrando, por alguns momentos, a épica porção de vinho conduzida por PLANT/PAGE em "Whole Lotta Love".

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Sim, o WHITESNAKE apresentava suas armas, para se tornar o número um das paradas norte-americanas, número um dos vídeos da MTV, e, número um das cartas de amor de fãs obcecadas pela transformação "adônica" de DAVID COVERDALE (foto) em uma espécie de "príncipe maduro de toda uma geração".

E, estamos apenas a falar primeira canção, que teria como sucessora um dos maiores sucessos da banda, seja em comerciais televisivos, seja nos concertos e álbuns ao vivo ou a qualquer momento, a melodia e a letra grudam nos ouvidos e transformam qualquer fã tímido em um potencial admirador de toda e qualquer musa: a estonteante "Give Me All Your Love", a seguir revisitada.

II – Eu Quero Beijar Toda a Essência do Teu Amor

Sabe aqueles momentos em que você caminha pela rua, e, de repente, depara-se com uma pessoa cuja imagem parece ter sido esculpida perfeitamente pelos céus, e, cujo sorriso parece encaixar-se em qualquer sonho que você tenha de felicidade? Não é sempre que vemos pessoas desta maneira, e, não será sempre que teremos a coragem de dizer canções ou palavras a elas.

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Esta canção maravilhosa, rítmica, com uma pegada fantástica e extremamente acessível, seja para o hard, glam, e, até mesmo para o metal da época, funciona como um elixir poderoso e traduz, exatamente, esta vontade de dizer ou cantar todos os sonhos a uma pessoa que acabamos de conhecer, à nossa frente.

Não há como não ouvir "Give Me All Your Love" e não ter vontade de canta-la em qualquer ocasião, no chuveiro, no carro, no quarto, olhos nos olhos ao lado de uma pessoa especial, numa festa entre amigos, numa homenagem ou declaração de surpresa para alguém, enfim, em todo e qualquer momento. A letra diz, de forma simples, tudo.

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"When I first saw you baby
You took my breath away,
I knew your name was Trouble
But, my heart got in the way
I couldn´t stop myself from reaching out,
I could not turn away
I don´t even know your name
An´ I can´t leave you alone,
I´m running round in circles
Like a dog without a bone
I know the game you´re playing
But, baby I just can´t let go
So give me all your love tonight,
Give me all your love tonight
I´ll do anything you want
Just give me all of your loving tonight".

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Um destaque especial desta canção vai para a participação de VIVIAN CAMPBELL no solo de guitarra, quando da versão remixada.

Sim, os deuses EROS e AFRODITE, certamente, se estivessem a acompanhar o que acontecia na música do planeta Terra, naquele momento transformariam esta canção numa ode aos seus desejos e paixões mais íntimas. Afinal, no amor, é sempre bom, diante da cumplicidade de dois corações apaixonados, que, de vez em quando, ambos assumam as suas porções "bad boys" em seus momentos mais delirantes.

E "Bad Boys" é o nome da canção que vem a seguir, um hino obrigatório e uma canção indispensável dentro deste trabalho. Aliás, a trilogia inicial é absolutamente fantástica e não é toa que está presente em todas as coletâneas da banda.

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III – Nós Somos os Bad Boys

Esta é daquelas que, similar a "Guilty Of Love", "Youngblood", "Lap Of Luxury", e, tantos outros hits com aquela pegada direta, com a mais pura essência do bom e verdadeiro ‘rock’, contagiam definitivamente, qualquer fã. Um riff absolutamente matador de JOHN SYKES e uma batida arrasa-quarteirão parecem dizer ao que a banda veio. Em alguns momentos, imagino um cenário onde COVERDALE e seus músicos adentram em um salão de um pub qualquer, a pedirem uma caneca de cerveja "Guinness", e, a olhar nos olhos de todos e simplesmente dizer:

"I know you, you know me
I´m the black sheep of the family,
I´m in an´ out of trouble
I´m the talk of the town
I get wild in the street"

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E, continuamente, ao invés de serem intimidados pelos presentes, ao contrário, todos os que lá estavam começam a partilhar com eles, a essência de ser um "Bad Boy", um fora da lei, essência esta conclamada com o refrão mais do que pulsante:

"Bad boys,
Running undercover of moonlight
Bad, bad boys,
Getting wild in the street,
Wild in the city".

Belíssimo trabalho de JOHN SYKES nesta canção, como, aliás, em todo o álbum.

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Abaixo, a versão mais do que especial gravada em Donington, no ano de 1990, já com STEVE VAI a assumir as guitarras, intermediada com uma pequena frase da ótima "Children of the Night", onde podemos ouvir COVERDALE a perguntar: "Children of the Night... Are You Ready To Rock???".

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E a noite, elemento máximo para caracterizar este álbum do WHITESNAKE, parece neste momento, estar servida da mais bela de todas as luas cheias. E, não por acaso, é hora de os rapazes se despedirem. Afinal, muitos deles precisam falar sobre seus problemas emocionais, suas grandes paixões, abraçar e pedir perdão a quem, de repente, não mais os entende, ou simplesmente chegar em casa e perguntar, sob os curiosos olhares de suas amadas: "Is This Love?".

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IV – Qual Será a Resposta Para o Amor?

Amar uma pessoa talvez signifique, na mais simples das suas definições, querer envelhecer com ela. Mas como traduzir os diferentes caminhos que o amor se propõe a seguir, diante de cada particularidade de um relacionamento, e, principalmente, quando este relacionamento transborda saudade e tudo que queremos é dizer a esta pessoa o quanto a amamos, e, o quanto precisamos estar ao seu lado, dia após dia, noite após noite?

A majestosa "Is This Love" é uma das mais significativas canções românticas já escritas. E, flertou decisivamente com o universo do pop, tornando-se um soft rock, ou, uma power-ballad absolutamente perfeita. Desde o seu início, que parece ricocheteado pelo ressonar dos ventos, teclados e deslizares de bateria, até a voz perfeita de COVERDALE (belíssima interpretação, digna de louvores), o solo melódico de JOHN e o baixo discreto e contundente de NEIL, tudo ressoa e ecoa para voar para além da eternidade dos sentimentos.

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A partir deste simples "querer envelhecer ao lado de alguém", como início acima, o amor, dentro da composição de "Is This Love", transforma-se em algo mais. Emprestarei aqui as palavras do best-seller NICHOLAS SPARKS, para resumir:

"Amar quer dizer que você se importa mais com a felicidade da outra pessoa do que a sua própria, não importa o quão doloroso possam ser as escolhas que você tiver que enfrentar".

Mas, além de todo e qualquer sacrifício, esta canção também tem a mágica capacidade de não apenas significar o amor da entrega, mas também, o amor da cumplicidade, pois, ao ouvi-la, tudo que desejamos é colar nossos corpos e rostos ao lado de alguém por quem valeria a pena dizer: "Eu não posso mudar o mundo. Mas eu posso ser o mundo por você".

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Se eu pudesse encerrar de forma absolutamente poética toda e qualquer promessa regada ao som de "Is This Love", eu diria (em homenagem a todos os casais que neste momento, se beijam ao ouvi-la, e, quem sabe, ao ler esta resenha) sem medo de ser feliz:

"Quando chegares
Sabes o que vai estar a te esperar?
De dia, um amor santo
De noite, um profano
E, depois um amor diferente, cada dia".

Nunca é demais ressaltar que a canção teve diversos singles lançados em todo mundo, entre os quais, apresento-vos duas de suas capas, abaixo.

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A seguir, três versões para a segunda canção romântica que mais resumiu a década de oitenta. Se a bela "Still Loving You" (SCORPIONS) fez milhões de casais se apaixonarem e dançarem ao som de sua melodia, a maravilhosa "Is This Love" ditou todas as regras e os beijos que seriam dados na segunda metade da mesma década. E, merece, por isto, mais do que uma simples homenagem. Acompanhe e siga com a letra.

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"I should have know better than to let you go alone
It´s times like these I can´t make it on my own
Wasted days and sleepless nights
And I can´t wait to see you again
I find I spend my time waiting on your call
How can I tell you baby my back´s against the wall
I need you by my side to tell me it´s all right
´Cause I don´t think I can take it anymore
Is this love that I´m feeling?
Is this the love that I´ve been searching for?
Is this love or am I dreaming?
This must be love
´Cause it´s really got a hold on me
A hold on me
Can´t stop the feeling
I´ve been this way before
But with you I´ve found the key to open any door
I can feel my love for you growing stronger day by day
And I can´t wait to see you again
So I can hold you in my arms
Is this love that I´m feeling?
Is this the love that I´ve been searching for?"

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Versão de estúdio (oficial):

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Versão acústica (Starkes In Tokyo):

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Versão ao vivo (Made In Japan):

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Sim, COVERDALE conseguiu. Um disco absolutamente perfeito em apenas quatro canções. E, ainda temos muito que dizer sobre ele, pois estamos próximos de sua metade, e, agora é chegado o momento de literalmente revisitar o passado (proposta que eu disse ser indispensável e ter sido muito bem cumprida por este ícone da voz) e regravá-lo, não apenas modernizá-lo. Então, "here we go again...once again".

V – Nunca é Demais Repetir o Glorioso Passado

Foi uma agradável surpresa quando DAVID COVERDALE, uma vez mais munido de coragem, regravou uma canção cuja versão original beira o sagrado. Seria impossível, a olhos e ouvidos, repetir tamanha beleza e harmonia. Mas, de olho numa certa modernidade (como dito), sem perder o perfume do passado, ele ousou transformar a já monumentalizada "Here I Go Again" em um novo clássico, com direito a videoclipe, sucesso disparado em todas as emissoras de rádio, e, cenas apaixonadas ao lado da bela namorada, a famosa e já citada TAWNY KITAEN, na época, conhecida por "passear" pelo mundo do estrelato e ser muito disputada pelos músicos. Enfim, o que dizer do amor, senão aplaudi-lo em todos os momentos?

A simples inserção de um teclado (feita por DON AIREY – lembrando que BILL CUOMO também participou em alguns momentos do disco) no lugar do antigo órgão Hammond tocado por JOHN LORD foi responsável para trazer um pouco de luz e fogo na canção, que ficou menos soul e mais "rock", ganhou peso e solos novos, uma pegada mais consistente, e, uma admirável e nova legião de fãs. O solo de guitarra foi cuidado por ADRIAN VANDENBERG. Era como se ela nunca tivesse sido escrita, pois o disco "Saints and Sinners" não fora tão divulgado quanto "Slide It In" em território brasileiro. Pessoalmente, eu prefiro a versão original, mas não posso deixar de exprimir tamanha alegria por esta preciosidade concebida como novidade pela banda.

Sem ousar demais, COVERDALE manteve a melodia que imortalizou a canção, e, evidentemente, manteve-a numa das mais gostosas de serem cantadas por todos os fãs, a qualquer momento. Pois vamos canta-la em duas versões: estúdio e acústica.

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"I don´t know where I´m going
But I sure know where I´ve been
Hanging on the promises in songs of yesterday
And I´ve made up my mind
I ain´t wasting no more time
Here i go again...
Here i go again...
Though I keep searching for an answer
I never seem to find what I´m looking for
Oh Lord I pray you give me strength to carry on
´Cause I know what it means
To walk along the lonely street of dreams
And here I go again on my own
Going down the only road I´ve ever known
Like a drifter I was born to walk alone
But I´ve made up my mind
I ain´t wasting no more time
Just another heart in need of rescue
Waiting on love´s sweet charity
And I´m gonna hold on for the rest of my days
´Cause I know what it means
To walk along the lonely street of dreams".

Saímos então, do passado glorioso e vamos direto para os caminhos do coração. E como tal, para ouvir "Straight For The Heart".

VI – Como São Alegres Os Caminhos do Coração

Pense em "Guilty Of Love" por um momento. Coloque um peso de guitarras mais atual sobre ela, a mesma alegria contagiante, a mesma força apoteótica que o WHITESNAKE consegue trazer a todos os seus fãs, e, por fim, a bela voz de COVERDALE, aqui mais voltada para o falsete. Sim, um falsete apaixonado, cheio de alegria. Era como se ele quisesse dizer: obrigado a todos os anjos e a todos os céus da música, por me permitirem evoluir e ainda assim, manter meus sonhos glorificados num mundo totalmente competitivo como o da música. E, não permita meu Deus, que eu me esqueça, jamais, de que, na minha intimidade, eu continuarei a caminhar, independente de todas as canções que vierem a surgir, na sombra do blues.

Indispensável acrescentar que, realmente, a banda viver uma sincronia mais do que perfeita neste álbum. É um daqueles discos onde você percebe todos a tocarem com prazer, com paixão e alegria.

Vamos ouvir um pouco desta empolgadíssima canção, um verdadeiro hino do hard rock.

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Em meio a toda esta energia positiva, se eu pudesse dizer algumas palavras acompanhadas de melodias, por exemplo, numa celebração em meio a amigos e canções, e, entre eles, estivesse a mulher que eu amo, certamente eu apontaria o dedo para ela, abriria toda e qualquer roda de pessoas e caminharia em sua direção, cantando:

"Stand and deliver in the name of love,
I´m coming after you,
I´ll tell you want I´m gonna do
I´m going straight for the heart,
Gonna drive you crazy".

É uma das mais alegres canções escritas pelo WHITESNAKE, e, merece todas as palmas e menções possíveis, em versos diretos.

E, se alguém não conseguisse satisfazer-se com a oportunidade de declarar-se freneticamente para alguém, por estar ainda, à procura do verdadeiro amor, COVERDALE e sua turma também tinham algo a oferecer sobre isto, senão vejamos.

VII – Em Busca dos Oceanos Nunca Antes Navegados do Amor

"Looking For Love" é uma canção digna dos grandes momentos de COVERDALE como vocalista. Muito do que ele fez no absolutamente perfeito "Into The Light", ele trouxe nesta melódica canção, que ganha requintes épicos e harmoniosos após os primeiros minutos.

Existencial, parte em busca de um oceano chamado amor. Um oceano por muitos, nunca dantes navegado, mas que existe em cada um de nós, e, leva-nos a enfrentar tempestades e sonhos outrora impossíveis, mas que certamente, definem nossa vida.

Belíssimo trabalho de toda a banda, magnífico solo de SYKES, ótimo teclado de AYREY, enfim, estamos a falar de um disco onde a sincronia e harmonia, estiveram em seu auge.

COVERDALE, nesta canção, lança-se como o poeta VIRGÍLIO, revisitado por DANTE ALIGHIERI, nas profundezas do inferno da solidão, em busca da essência da palavra por ele sempre dita em muitas e muitas canções: amor. Sim, como já dito, ele é um cavaleiro solitário, um príncipe das vozes encarnado na condição de grande vocalista.

E, o mais importante é que ele nunca desistiu de procurar o amor, ainda que o encontrasse mais em canções, do que em toda sua vida. Afinal, em sua essência, ele sempre será um bluesman. A solidão e o famoso espírito "take me with you, lady" sempre o acompanharão, e, o romantismo ecoará sussurrante, nas ilíadas de sua alma.

"I´m tired of waiting
An´ closing my eyes
I´m asking myself
Why is it all my horizons
Are so far away.
I look in the mirror
Don´t like what I see,
In my reflection
A stranger is staring at me,
Looking for love
The love of a woman".

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Canção épica. É o mínimo que posso dizer sobre ela. É o mínimo que podem traduzir os ouvintes que, noite após noite, se deliciam com esta melodia.

VIII – Crianças da Noite: Vocês Estão Prontos Para o Rock?

Um belíssimo riff de guitarra introduz "Children of the Night", muito regada ao estilo dos grandes rocks que a banda já fez, como "All Or Nothing", por exemplo.

Canção fantástica, com um belo e pegajoso refrão, grande trabalho musical e uma bateria prá lá de estridente. Não há muito que dizer, a não ser convidar o ouvinte para erguer o som e cantar, juntamente com COVERDALE, toda a essência de sua alma, sem esconder nada ou ter medo de dizer o que realmente bate em seus corações:

"So turn up the music
Make it loud and proud
Let´s see reaction
Let the spotlite hit the crowd
Don´t hide what you feel inside
Don´t let anybody stand in your way
Just let the music take you higher
Now are you ready to rock?
Children of the Night
Are you ready to roll?
Children of the night
You got the power
I feel your fire in my soul
You got the fever
Cos´ you were born to rock an´ roll!"

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Trata-se de mais um hino aberto a toda uma juventude, um chamado para que todos saiam de suas casas e venham celebrar, nas ruas, o direito de cantarem o rock diante de todos os extremos. Uma destas canções que poderíamos ver em cenas de filmes como "Lost Boys" (Os Garotos Perdidos), entre tantos outros, pois carrega de adrenalina o espírito de uma geração que procurava as respostas através da música. A seguir o exemplo de "Bad Boys", esta é uma canção que ascende as chamas de toda e qualquer rebeldia.

IX – É Chegada a Hora de Sacudir os Corações

"You’re Gonna Break My Heart Again" tem o impacto das grandes canções de épocas de "Ready n’ Willing", como "Fool For Your Loving", e, assim como esta, tem uma melodia vocal extremamente bela, até atingir o refrão de forma simples e muito bem encaixada.

É uma música que poderia muito fazer aparecer em qualquer comercial atinente à década de oitenta, e, não passaria despercebida jamais, ao contrário, tem a mesma potência contagiante de "Bad Boys", "Straight For The Heart" e "Children Of The Night", todas aqui presentes. É o WHITESNAKE fazendo o que sabe de melhor: hinos diretos, com riffs fantásticos e refrões fortes, a celebrar o amor, o desprendimento e o arrependimento.

"You´re gonna break my heart again,
You never let me forget it.
You´re gonna break my heart again
But, you´re gonna live to regret it."

Em meio as palavras, uma previsão, quem sabe, sobre o futuro de um relacionamento cuja paixão era extremamente efervescente, mas que o tempo, eterno inimigo de todos os amantes, trataria de esfriar.

Não apenas esfriar, mas, um dia, fazer qualquer guerreiro solitário derramar suas lágrimas. E, neste momento, lágrimas entrecruzavam-se novamente com o passado. Eram lágrimas de alegria, pelo trabalho muito bem feito por COVERDALE em cada uma das canções. E, para ele, nada mais justo do que reinserir uma de suas favoritas, tanto em termos de vocalização, quanto para poder fundir-se novamente ao blues e dizer a si mesmo: eu sou "blue". E todo rapaz "blue" derrama suas lágrimas sobre a chuva.

X – Lágrimas de Chuva

"Crying in the Rain" é uma das mais vorazes interpretações do nosso guerreiro solitário. Originalmente concebida em "Saints and Sinners" (diga-se de passagem, a versão original é absolutamente espetacular), ela também, a exemplo de "Here I Go Again", passou por uma roupagem de guitarras e uma explosão de baterias e solos para ser reapresentada ao mundo como se nunca houvesse existido.

É uma versão plugada, uma versão pesadíssima, em contrapartida à fórmula original. Muito embora eu também, a exemplo do que ocorre com "Here I Go Again", prefira a gravação de 1982, não há como ficar inerte ao esplendor e a fúria de sua interpretação. E, ao vivo, COVERDALE ainda não perdia nenhum compasso, mantinha-se íntegro e absoluto em todas as notas.

Na letra colossal, um rapaz solitário procura respostas em meio às esperanças do amanhã, mas condena-se e perde-se em meio aos arrependimentos, e, mesmo diante da luz do Sol, ele tem a exata certeza de que sempre choverá em seu coração.

"I keep on dreaming dreams of tomorrow
Feel I´m wasting my time
Lighting candles in the wind
Always taking my chances
On the promise of the future
But, a heart full of sorrow
Paints a lonely tapestry
The Sun is shining
Oh, but, it´s raining in my heart
No one understands the heartache
No one feels the pain
No one ever sees the tears
When you´re crying in the rain".

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Após esta versão matadora do vídeo acima (gravado em Donington), com STEVE VAI, ADRIAN VANDENBERG nas guitarras, RUDY SARZO no baixo, e, um brilhante TOMMY ALDRIDGE nas baquetas, é preciso respirar um pouco, pois o disco ainda não acabou, e, continua perfeito em toda a sua execução.

Não por acaso, "Crying in the Rain" é uma das minhas canções favoritas em toda a história da banda. Eu me identifico demais com a letra e a melodia nela contidas. Bem, acho que todos nós, de certa forma, temos um pouco desta melancolia uivante, transformada em blues.

XI – Antes Que a Noite Termine

A última canção chega como um consolo em forma de amor paciente, amor que acalma, ou até mesmo, uma simples "one night stand", mas que transforma o medo em felicidade, e, a incerteza em coragem.

É a vez da banda dizer que está indo embora, mas condicionar a todos um testamento mais do que especial, de modo que ninguém possa se afastar, antes que a noite perfeita, que foi iniciada e acalantada desde o início do disco, possa descansar e anunciar o nascer do Sol.

Diante de uma letra que mais parece um afago dirigido a uma mulher, estendida numa harmonia melódica e com belas passagens de guitarra, COVERDALE responde:

"You say your dreams are burned to ashes
And your smiles have turned to tears,
It seems to me you welcome sanest
As you surrender to your fears
So what´s a man like me supposed to do
When all I want is just to make love to you
Don´t turn away, before the night is over
Don´t turn away, before the night is gone
Don´t turn away, the night may hold the answer
So don´t turn away, before the night,
Before the night is gone".

Assistir vídeo no YouTube

É a última ressonância de um álbum magnífico. Esta edição em especial, foi transformada em resenha a partir da versão de 2007, comemorando 20 anos do lançamento do disco, e, que, como se verifica, tem ordem alternada de canções, que preferi seguir, por entender que contam mais perfeitamente uma história dentro da história do disco. Uma história de reinvenção de si mesmo dentro de uma temática, de coragem e de afirmação de um músico que nunca temeu modismos. Afinal, ele é DAVID COVERDALE.

Como bônus desta edição, ainda há quatro canções "ao vivo" extraídas do disco "Live: In The Shadow Of The Blues" (2006). São elas: "Give Me All Your Love", "Is This Love", "Here I Go Again" e "Still Of The Night", para presentear os fãs mais exigentes, que merecem esta homenagem.

XII – Epílogo: E A Noite Chega Ao Fim

Tudo faz infinitamente mais barulho de madrugada. Principalmente os sentimentos. Sentimentos estes que aproximam os fãs e os permitem eleger este trabalho como um dos melhores da banda, certamente, ao lado de "Lovehunter", "Ready n’ Willing", "Saints And Sinners", "Slide It In", entre outros.

O poeta português FERNANDO PESSOA, em um de seus pseudônimos intrigantes, no caso, ALBERTO CAEIRO, costumava ouvir canções durante as suas madrugadas existenciais. Numa delas, ele um dia disse:

"Nunca sei como é que se pode achar um poente triste. Só se é por um poente não ser uma madrugada".

Talvez esta seja a essência para traduzir o coração e o espírito de DAVID COVERDALE. Ele se dedica à música com fervor e luz, mas é com a noite, com o romantismo do blues e a fusão estabelecida com o ‘rock’, que ele se ergue diante de todos nós, para dizer, uma vez mais, que o amor que todos sentem por sua banda, é o mesmo amor que ele sente por seus fãs.

Afinal, amar, acima de tudo, é compartilhar. E amor é a palavra mais do que presente em todo este excepcional álbum de uma das melhores bandas que já pisaram no solo sagrado deste planeta.

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Sobre Ronaldo Celoto

Natural do Estado de São Paulo, é escritor, professor, poeta e consultor em direito, política e gestão pública. Bacharel em Direito, com Mestrado em Ciência Política, atualmente cursa Doutorado em Direito, Justiça e Cidadania pela Universidade de Coimbra. Além destas atividades, dedica diariamente parte de seu tempo à pesquisa e produção de artigos científicos, contos, romances, matérias jornalísticas, biografias e resenhas. Seus interesses pessoais são: cinema, política, jornalismo, literatura, sociologia das resistências, ética, direitos humanos e música.
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